Entretanto VPV já leu o livro de Raquel Varela sobre a história da Europa. Estava à espera da sua opinião para dar uma espreitadela ao livro mas já desisti: diz que é um abismo de ignorância e que nunca viu tanta junta. Ignorância, entenda-se. Fico esclarecido, mas o melhor é ler a entrevista.
Sobre a figura de Mário Soares já escrevi aqui tanto e tanto que me basta compilar alguns escritos. O que farei com todo o gosto para tentar demonstrar que VPV deve estar lelé da cuca. Só pode estar, porque a afirmação é de rir até às lágrimas.
Vejamos então a prestação pública do maior português de sempre, desde as invasões francesas, Mário Soares himself.
Era Mários Soares um predestinado a tal olimpo improvável e inesperado?
Mário Soares, fundamentalmente é isto:
Nascido nos anos vinte do século passado, foi educado no regime do Estado Novo, mas sempre do contra, como era a família.
Até ao final dos anos sessenta que mereceu Mário Soares para se considerar a tal figura de proa da portugalidade? Nada, a não ser estudos medíocres, advocacia medíocre e ligação ainda mais medíocre ao PCP. Imagine-se! A família de VPV, aliás, navegava nas mesmas águas turvas da oposição e do jacobinismo.
Essas famílias sentiam nostalgia dos tempos do republicanismo laico e maçónico e agora acrescentavam-lhe o socialismo. Será isso marca de distinção de alguém que mereça aquele epíteto de maior figura da história moderna? Só se for para rir. E de resto nesse aspecto há mais e melhor.
Mário Soares, em 1969 nas eleições que o regime permitiu, nem existiu, mesmo sendo cabeça de lista da CEUD. Esteve preso, por actividades subversivas, até chegar Marcello Caetano ao poder, há 50 anos. Mas esteve preso pouco tempo. Isso fá-lo herói ipso facto? Se passar férias em S. Tomé, sítio sem hipótese de conspiração possível, o conseguir...
Em 1973 repetiu-se o acto eleitoral. Mário Soares apareceu? Não. Apareceu a mulher. Seria a mulher maior figura que aquele?!
Nessa altura Mário Soares fundou as bases do Partido Socialista, um partido ainda marxista e jacobino.
Leia-se o programa da maior figura da história contemporânea:
Para além disto que não é pouco, Mário Soares, em 1973 andava nestas figuras patrióticas de dizer mal de Portugal junto da pérfida Albion. Assim:
Quem no seu perfeito juízo poderá dizer, sem se rir, que este programa exibe a grandeza intelectual e de princípios de um destino nacional prometido a grandes futuros? Pois era nisto que Mário Soares acreditava. Nestas balelas, nestas asneiras, nestas enormidades que só poderiam trazer desgraça, ruína e infelicidade a qualquer povo, como se vê na actualidade da Venezuela.
É isto a grande figura da história nacional em 1973? Não pode ser. E é preciso dizer que esta triste figura durou bem mais do que as primeiras semanas da revolução de 25 de Abril, para a qual Mário Soares não meteu prego nem estopa? Admite-se que uma figura destas não tenha sido vista nem achada numa revolução como o 25 de Abril de 1974?
Ao chegar aqui deve fazer-se uma pausa. Para respirar fundo. E medir muito bem qual foi a figura de Mário Soares na Revolução de 74-75 e qual o seu verdadeiro papel de fazedor da democracia portuguesa. VPV diz que é por isso que Mário Soares é o maior: "fez a democracia portuguesa" não só durante o PREC como depois, afastando esse anti-democrata que foi Ramalho Eanes...
É de rir, outra vez? Não tanto porque começa a apetecer chorar, ler esta palermice de Vasco Pulido Valente.
Já em tempos tentei perceber e mostrar porque não compro a teoria do pai da democracia ser o tal Mário Soares.
Não vou repetir-me e apenas mostrar uma imagem que Vasco Pulido Valente não compreende: afinal, fora do círculo do Gambrinus não deve conhecer bem o país que somos. Este, por exemplo, em 1975, publicado pela Paris Match e que VPV não deve ter visto na altura:
Não vale a pena entrar muito mais em discussões sobre a capacidade governativa de Mário Soares, as suas opções estratégicas quanto às nacionalizações dos sectores económicos mais produtivos, da sua influência governativa nas bancarrotas que tivemos ao longo dos anos. Não vale a pena porque é deprimente e VPV não deve estar bom da cuca, de facto, para dizer o que disse.
Que goste de Mário Soares que o conhecia desde petiz e que lhe dava uns cachaços metafóricos de desprezo selectivo, ainda vá e ninguém tem nada a ver com tal condescendência masoquista. Agora alcandorá-lo a figura mais digna do Panteão político nacional dos últimos duzentos anos, já soa a anedota. E das boas...
Que goste de Mário Soares que o conhecia desde petiz e que lhe dava uns cachaços metafóricos de desprezo selectivo, ainda vá e ninguém tem nada a ver com tal condescendência masoquista. Agora alcandorá-lo a figura mais digna do Panteão político nacional dos últimos duzentos anos, já soa a anedota. E das boas...
Remato assim, como já escrevi em tempos:
A grande condescendência para com o nosso Kerenski ( deixou efectivamente a esquerda comunista fazer o que nunca deveria fazer, logo na Constituição de 1976) atingiu já as raias do inimaginável com um unanimismo que atinge o actual presidente da República que esqueceu tudo quanto ouviu de Marcello Caetano quando já tinha idade de entender. Sobre o que o pai, ministro de Salazar, lhe ensinou nem vale a pena falar.
Marcelo Rebelo de Sousa é o símbolo actual da nossa maior decadência: a de apostatar o que de melhor tivemos no século XX, com o Estado Novo e o Estado Social que se lhe seguiu.
Não foi a Liberdade aparente que se recuperou em 25 de Abril de 1974 que constituiu a maior dádiva, como agora é proclamado, mas o perdimento de uma realidade que era importante para qualquer povo que se preze: o da independência e aprumo moral e respeito por nós próprios enquanto povo e pelo nosso passado secular.
Isso, temo bem, perdeu-se e Mário Soares foi um dos obreiros principais de tal tragédia, porque tal nunca lhe disse nada. Filho de padre apóstata, republicano jacobino, activista político no tempo da desordem republicana que originou o 28 de Maio de 1926, saiu bem à geração que o criou, oposta em tudo à geração que criou Salazar. Mário Soares é um filho bastardo da pátria que foi a nossa durante séculos e não merecia ter sido o que foi, a não ser por inversão dos valores que entretanto se operou. Mário Soares é filho do anticlericalismo, do jacobinismo e de um esquerdismo incipiente que sempre se opôs à tradição nacional e ao conservadorismo que tivemos. Isso basta para que nunca o tivesse gramado e é suficiente para muitos o hagiografarem como um improvável Vasco Pulido Valente, nascido num meio parecido que nos denega a nossa natureza de país católico, tradicional e conservador, por eles tomado como "atrasado", em função sabe-se lá bem de quê...
A grande condescendência para com o nosso Kerenski ( deixou efectivamente a esquerda comunista fazer o que nunca deveria fazer, logo na Constituição de 1976) atingiu já as raias do inimaginável com um unanimismo que atinge o actual presidente da República que esqueceu tudo quanto ouviu de Marcello Caetano quando já tinha idade de entender. Sobre o que o pai, ministro de Salazar, lhe ensinou nem vale a pena falar.
Marcelo Rebelo de Sousa é o símbolo actual da nossa maior decadência: a de apostatar o que de melhor tivemos no século XX, com o Estado Novo e o Estado Social que se lhe seguiu.
Não foi a Liberdade aparente que se recuperou em 25 de Abril de 1974 que constituiu a maior dádiva, como agora é proclamado, mas o perdimento de uma realidade que era importante para qualquer povo que se preze: o da independência e aprumo moral e respeito por nós próprios enquanto povo e pelo nosso passado secular.
Isso, temo bem, perdeu-se e Mário Soares foi um dos obreiros principais de tal tragédia, porque tal nunca lhe disse nada. Filho de padre apóstata, republicano jacobino, activista político no tempo da desordem republicana que originou o 28 de Maio de 1926, saiu bem à geração que o criou, oposta em tudo à geração que criou Salazar. Mário Soares é um filho bastardo da pátria que foi a nossa durante séculos e não merecia ter sido o que foi, a não ser por inversão dos valores que entretanto se operou. Mário Soares é filho do anticlericalismo, do jacobinismo e de um esquerdismo incipiente que sempre se opôs à tradição nacional e ao conservadorismo que tivemos. Isso basta para que nunca o tivesse gramado e é suficiente para muitos o hagiografarem como um improvável Vasco Pulido Valente, nascido num meio parecido que nos denega a nossa natureza de país católico, tradicional e conservador, por eles tomado como "atrasado", em função sabe-se lá bem de quê...
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