A capa do disco agora repescado é feiosa e o lettering lembra o de um disco de Ry Cooder ( Get Rythm, de 1987).
O disco que saiu em 1975 tinha outra beleza estética e esta é a capa original da primeira versão americana, com a cor purpurínea e imagem granulada:
Toda a informação que segue foi extraída da leitura de jornais, revistas e livros que se publicaram sobre Bob Dylan ao longo destes mais de 44 anos e que gosto de lembrar e principalmente reler. Na década de setenta eram escassos e reduzidos à Rock&Folk, Rolling Stone, New Musical Express e pouco mais. Em Portugal a informação reproduzida nos poucos meios de imprensa musical ( Mundo da Canção, Disco, música e moda e depois Música&Som, já nos setentas) era toda feita de releituras daqueles.
O rádio ( alguns, poucos, programas) era a fonte privilegiada de audição dos discos e sem televisão ou internet poucas imagens havia de Dylan ou da sua obra.
Havia um filme- Don´t look back, realizado por um adepto do "cinema-verité", de câmara na mão, D. A Pennebaker, de 1967) e que mostrava imagens do Dylan de 1965 a interpelar repórteres e a desconcertar respostas a perguntas fora de tempo. Desse filme a preto e branco viam- se por vezes na tv imagens num ou noutro programa dedicado à música popular ( Disco&Daquilo, por exemplo). Era um maná quando tal acontecia.
Por isso a informação disponível era muito escassa o que contribuía para aumentar a curiosidade e o mito.
A publicação, a partir de 1991, da série de discos "bootlegs", quase todos em cd e que já vai no 14º volume, ajudou muitíssimo a conhecer a obra musical de Bob Dylan, anterior aos anos setenta.
A reedição em sacd em 2003 de cerca de 15 discos de Bob Dylan, contribuiu também muito para o conhecimento de alguns discos fundamentais de Bob Dylan em condições sonoras muitíssimo melhores que as que apareciam nos cds vulgares. O sacd é a expressão máxima do suporte de som depois do vinil. Tenho os discos lp´s originais e alguns sacd.
As revistas e livros sobre Dylan também se multiplicaram ao longo dos anos, mas em 1975 ainda não existia tanta documentação e as revistas traziam um ou outro artigo, para além da recensão dos discos.
Nos anos noventa e dois mil começaram a aparecer números especiais e artigos esparsos sobre a figura, com maior assiduidade e permitiram conhecer o artista retroactivamente.
Tudo isto é posterior aos anos setenta, com excepção do Illustrated Record que a Harmony Books publicou em 1978 e traz toda a discografia do artista até essa data com reproduções das capas dos discos em tamanho e cor naturais.
Entre Setembro de 1974 e Outubro de 1975, auge da minha descoberta e interesse pela música do artista, por causa daqueles dois discos- Before the Flood e Blood on the tracks- não encontrei nada de especial nas revistas que lia, particularmente a Rock&Folk; para além da simples recensão ao disco Blood on the tracks, nada de nada. Nem uma foto.
Assim, quando em Novembro de 1975 vi pela primeira vez nos quiosques a revista Rolling Stone de que andava afanosamente à procura desde o Verão, comecei logo com uma imagem icónica do Dylan que ainda não conhecia bem.
Logo no primeiro número apareceu esta foto e notícia sobre Bob Dylan que me fascinou pelo cenário e pelo significado. Era a primeira vez que via o artista no seu ambiente musical.
Em primeiro plano um dos responsáveis pela carreira de Bob Dylan, no começo dos anos sessenta, John Hammond.
A imagem tinha uma força expressiva rara e esse número da revista conferia um ar americano a algo que o era e não estava habituado a ver impresso. A paixão pela revista reforçava-se nos textos, imagens e publicidades, tudo misturado e relativo à música popular e até outros assuntos.
A imagem reporta-se a uma presença de Bob Dylan num programa especial de tv para homenagear John Hammond e mal eu sabia que décadas depois poderia ver as imagens do programa e dessa fotografia através do You Tube...
Assim, quando Blood on the tracks saiu por cá, em importação e nos primeiros meses de 1975 não eram muitas as lojas de discos que o tinham. A cor da capa só a vi um ano depois, num disco trazido de França e por cá ainda não havia prensagem nacional, suponho. Bob Dylan não era assim muito popular, por aqui, em 1975.
A primeira versão do disco tinha uma contra-capa com um texto de Peter Hamil, impresso a preto sobre o bordeaux, pouco legível por isso. A terceira versão, um ano depois, já tinha o texto em branco e depois desapareceu o texto e ficou uma ilustração. Foi esta versão a primeira que comprei e ouvi, em edição espanhola, como se mostra abaixo. Depois a que tem letras brancas no fundo, com prensagem americana da Terre Haute e de 1976 em 3ª prensagem e por fim a original, a melhor e mais perfeita.
O disco que se chamou Blood on the tracks foi gravado inicialmente em Setembro de 1974, num estúdio de Nova Iorque.
Segundo agora se conta nas revistas da especialidade, o disco estava pronto mas um irmão de Dylan sugeriu novos arranjos num estúdio de Minnesotta, em Minneapolis, o Studio 80 e assim aconteceu durante os últimos dias do mês de Dezembro desse ano.
O disco, segundo esta última versão foi lançado no início de 1975 e por cá o programa de rádio Página Um, animado por Luís Filipe Paixão Martins passou alguns temas ( Idiot Wind, principalmente), a primeira vez em 18 de Fevereiro de 1975, com a colaboração de um correspondente em Londres, Fernando Tenente. Lembro-me porque ouvi essa emissão e apontei a data. Nos dias seguintes era disco que passava sempre e Idiot Wind já chateava de tanto passar. Preferia ouvir Lily Rosemary and the Jack of Hearts.
O disco era um espanto musical e em 1975 estava preparado para ouvir Dylan de novo e essa foi a melhor oportunidade.
O resto de uma longa história que conto para mim próprio, continua aqui, para quem estiver interessado.
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