Observador:
Ainda caso dos créditos concedidos a Joe Berardo — em particular o financiamento até 350 milhões para a compra de ações do BCP — o comendador terá usado cerca de 260 milhões e é o incumprimento deste crédito que suscitou o processo de execução em curso — Santos Ferreira defendeu o racional financeiro da operação ao comendador ao qual se referiu sempre como aquela “pessoa”, sem o identificar. Lembrou os ativos e participações que estavam consolidados nas empresas Metalgeste e Fundação Berardo e que serviriam também como colateral. Apesar de algumas vendas, como a Bragatel, uma lógica que foi desmentida pela realidade, como notou a deputada do Bloco, Mariana Mortágua.
Mas deixou a garantia de que o crédito a Berardo não foi de “favor”. Sobre Sócrates, Santos Ferreira fez uma afirmação singular: “Não quero dizer nada que piore a situação delicada em que ele se encontra”, acrescentando que o ex-primeiro-ministro “nunca foi minha visita de casa”.
O "amigo de 40 anos" de Santos Ferreira, porventura visita de casa, o madeirense Eduardo Paz Ferreira que foi igualmente ouvido no Parlamento a propósito do mesmo assunto, disse assim:
“Paz Ferreira contou aos deputados que a dada altura convocou uma reunião com os serviços da CGD e com um administrador executivo e que o questionou: “Joe Berardo é tratado como qualquer outro cliente na CGD?” “Isso não posso dizer”, respondeu o administrador executivo, que Paz Ferreira não quis nomear, mas que a deputada Mariana Mortágua identificou como sendo José Pedro Cabral dos Santos”. Berardo, disse Paz Ferreira, “um tratamento “especial e à margem das regras da Caixa Geral de Depósitos”.
Segundo indica o Expresso, “o antigo responsável da CGD adiantou que à medida que as ações do BCP iam caindo, ações essas adquiridas por Berardo com dinheiro emprestado pelo banco público, insistiu “sucessivamente para que se executassem” as garantias, tendo a resposta da comissão executiva da Caixa sido que iria estudar a hipótese “juridicamente”.
Em 22.6.2016, um bancário sindicalista, da CGD, deu uma entrevista ao i em que dizia claramente isto: seria impossível à CGD fazer um negócio daqueles sem ter o aval do Governo.
É impressionante a estultícia deste Santos Ferreira. Impressionante.
Quanto aos "lucros fabulosos" da CGD que o mesmo Santos Ferreira alardeou como troféu, vale a pena ler o que um comunista antigo, Eugénio Rosa, escreveu nessa altura em 2008 e aqui foi comentado, em 20.5.2016.
Para saber quem foi e é este Carlos Santos Ferreira é preciso recordar o que diziam os jornais da época de 2005:
[Carlos Santos Ferreira]"é agora o primeiro socialista numa década a presidir ao Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos. Em comunicado, o Ministério das Finanças adianta que “na qualidade de representante do accionista Estado na instituição” decidiu, igualmente, reduzir de onze para nove o número de elementos da Administração da Caixa. Dos nove administradores da nova direcção, quatro são da área socialista.".
Resta dizer que estes génios da gestão bancária costumam pagar-se assim, de acordo com notícia do CM de 2.5.2019:
Não há qualquer funcionário do Estado que ganhe assim. E mesmo em empresas privadas será preciso buscar estes níveis de remuneração nas grandes sonaes e nos cargos de topo. Se é que ganham tanto...
Porém, os erros de gestão, em vez de serem punidos, são recompensados, nestes níveis. O inenarrável Manuel Pinho, entalado no processo Marquês, quando saiu do governo fez boca fina ao cargo de administrador da CGD porque, como disse publicamente, nem era assim tão bem pago, para a sua competência de técnico de gestão.
Evidentemente que isto é outro nível que a maioria dos deputados não frequenta. Daí a arrogância escondida destes salafrários que arruínam a economia de um país e ainda se sentem donos de argumentos patéticos que usam sem pejo algum.
Se há injustiça em Portugal é nestes níveis e com esta canalha. Não há leis para esta gente porque se escondem atrás de mil e uma desculpas de maus pagadores. E safam-se sempre.
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