No Sol de hoje, as crónicas de Dinis de Abreu e Filipe Pinhal mostram bem onde se acoita a corrupção instalada no Estado: na inoperância de certas instituições, protegidas por legislação jacobina.
Que não haja qualquer dúvida: esta é a corrupção mais séria e mais perniciosa ao povo português porque é aquela que se pratica em seu nome e com sufrágio eleitoral.
A corrupção na Administração Pública que Joana Marques Vidal referiu tem um sentido provavelmente mais amplo do que a mesma lhe atribuiu.
Essa corrupção que grassa endemicamente nas estruturas político-partidárias de poder instalado, tem as suas redes de legisladores de influenciadores; de decisões e de personagens venais em todos os sectores, mormente no judiciário.
Personagens venais são aquelas que põem de lado os princípios em nome de razões de Estado ou de temor reverencial para com certas figuras do Estado. Sabem que se actuarem em função de princípios e do dever podem ser prejudicados nas carreiras ou nos interesses pessoais e não o fazem por isso. Há magistrados assim e são bastantes, no meu entender. São todos aqueles que prevaricam de dois modos: os que não investigam quem deveriam investigar e os que acusam quem provavelmente não deveriam acusar, seguindo critérios em que a objectividade fica sempre a perder.
Portanto, a menção de Joana Marques Vidal vai muito mais longe do que a mesma poderia supor e entra pela casa dentro, na própria PGR e no poder judicial administrativo do CSM.
A inacção ou prevaricação das instâncias de controlo, como a PGR ou o BdP e outras entidades da Administração Pública, têm um efeito deletério na corrupção dos agentes políticos tout court.
A pandemia denunciada por Ramalho Eanes também ultrapassará as suas próprias intenções.
As redes de influência e sistema de contactos entre os detentores de poderes, variados, nomeadamente o de nomear, indicar, escolher pessoas para cargos concretos são um antro de corrupção, nesse aspecto, e impossível de erradicar.
Quando se escolhe alguém para um cargo, obliterando os princípios e deveres, optando pelo amiguismo ou pela conveniência política ou pessoal, está-se a cometer um acto de corrupção. E estes actos são praticamente insindicáveis e certamente nem era a esses que se referiam aqueles dois improváveis whistleblowers . E no entanto é este o coração do mal.
É aí nesse nicho de oportunidades alargadas aos diversos poderes que germina muita da acção corrupta que se desenvolve depois nas instituições.
Resta dizer que o sentimento dessas classes de poderes relativamente a estes fenómenos é de pura anomia, de insensibilidade a tal perversão e a impunidade neste campo é geral e abstracta, como as leis deveriam ser.
A corrupção em Portugal diminuirá drasticamente quando as pessoas que integram a classe política de topo forem outras e se reconhecer que são pessoas de honestidade e probidade a toda a prova.
Tal como o peixe apodrece pela cabeça assim a corrupção começa no topo da pirâmide de poder.
Senão leia-se este artigo, no CM de hoje, de Rui Pereira o estimável maçónico que foi ministro da Administração Interna ( o pelouro que controla os serviços secretos...) de José Sócrates que sabe muito bem que o processo Casa Pia não foi cabala alguma contra o PS; que conheceu certamente alguns dos esquemas do seu primeiro-ministro, mormente no Freeport e que pouco ou nada fez para se deslindarem esses casos e outros assuntos que nunca serão estranhos a um militante socialista de topo que foi ministro daquela pasta.
Coisa mais deletéria que esta é difícil de encontrar. A corrupção, afinal é um fenómeno social e de educação de mentalidades. O combate "exige a elevação dos níveis de civismo e participação democrática", escreve o estimável maçónico que sabe muito bem o poder de corrupção das lojas que frequenta, precisamente nesse aspecto do tráfico de influências, precisamente nos serviços que tutelou.
É preciso ter lata!
Esta converseta, como dizem os brasileiros é "para boi dormir", perdão, "boys dormirem", embalados no adormecimento de normas como o atentado ao Estado de Direito.
A propósito da menção de Dinis de Abreu a uma publicidade que o Expresso mostrou há uns anos, prè-crise de bancarrota, em que apareciam notáveis como- imagine-se!- um Pacheco Pereira a gabar os méritos do dinheiro, mostra-se um desses anúncios.
Precisamente o que tem como protagonista Proença de Carvalho, o patrão da GlobalMedia falida e que já nem paga os salários a tempo e horas...
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