António, cartunista essencialmente politiqueiro, foi alvo de polémica pelo menos duas vezes e por desenhos iconoclastas acerca de religião, a católica e a judaica.
O primeiro teve a ver com o preservativo no nariz do papa João Paulo II, um exercício de mau gosto grotesco. No segundo, já este ano, meteu-se com a comunidade kosher e retratou o líder judaico como um poodle de outra figurada vítima do cartunismo, um Trump cegueta com kipah na crista.
António Antunes relata nesta entrevista como começou, no Expresso de finais de 1974. Terá sido assim, num número de Dezembro desse ano.
Em 7 de Dezembro de 1974 o desenho que aparecia na página de opinião do jornal era assim, sem menção sequer ao nome do autor, com um duplo A e a data de 10-74. Terá sido o primeiro cartune?
Na semana seguinte, 14 de Dezembro de 1974:
Nesses mesmos números do jornal apareciam desenhos dos maiores cartunistas da época:
Cid, numa publicidade.
E João Abel Manta, numa caricatura de Raul Rego:
Nesse número de 14 de Dezembro um autor voluntariamente anónimo, então com 18 anos, garatujou alguns desenhos de circunstância no papel do jornal.
Este anónimo nunca enviou nenhum desenho deste tipo para a Bélgica ou outro sítio qualquer, como fez o tal António, mas pensando bem talvez tivesse alguma hipótese, na época, ahahaha.
Ah! Mandou um, em 1977, para a revista Música&Som. E ganhou uma viola acústica, da casa Custódio Cardoso Pereira, com umas garatujas de Eric Clapton. Nada mau. O desenho, entenda-se, porque a viola era um traste. Ahahaha.
A evolução dos desenhos de António tomou uma direcção mais estilizada em finais de 1975. Segundo o autor, a série Kafarnaum apareceu em 4 de Dezembro de 1975.
Na edição do Expresso de 5 de Dezembro de 1975 há estes dois desenhos e nenhum deles
é Kafarnaum. Já aparece o nome do desenhador, simplesmente António:
O Kafarnaum apareceu entre esta data e a deste desenho publicado em 17 de Dezembro de 1975:
Portugal é um país pequeno e até nisto se nota. Um António , simplesmente, com sucesso no desenho e cartune, sindicado num único jornal durante mais de quatro décadas. Enfim.
E a mim diverte-me apontar estas pequenas vinhetas de pequenos sinais culturais que marcaram as últimas décadas. Todas de esquerda, como convinha.
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