Alguém imagina no Portugal de hoje uma revista de grande divulgação com uma imagem como esta, por exemplo?
Mais: quem é que sabe, em Portugal que Nuno Álvares Pereira foi canonizado por Bento XVI, em 2009, sendo hoje S. Nuno de Santa Maria?
Melhor: quem é que se importa com isto, hoje em dia? O que é que S. Nuno nos dirá nos dias de hoje, sobre quem somos, como portugueses? Sobre a nossa Igreja e sobre a nossa História?
Nas madrassas habituais do país, amplamente beneficiadas pelo orçamento de todos nós, do Estado, os ISCTES e Institutos Sociais, de Lisboa e Coimbra ( o do inefável professor Bonaventura, de Barcouço) não há imagens ou estudos sobre estas figuras. É assunto que não lhes interessa.
Por isso os doutores que de lá saem para as redacções mediáticas não querem saber disto para nada e depois é o que se vê e lê nos jornais que temos.
Como é que isto chegou até aqui? Que sinais temos para nos guiar na pesquisa? Recorro a um dos possíveis.
No início dos anos sessenta a Fundação Gulbenkian, instituída por um milionário arménio que veio cá parar, muitos anos antes, fugido a instabilidades políticas e apoiado pelo poder político de então, dedicou-se a divulgação cultural em larga escala e massificada.
A criação de bibliotecas itinerantes destinadas a jovens leitores, convocados junto a escolas públicas, foi uma das realizações culturais da Fundação.
A iniciativa partiu de Branquinho da Fonseca, indivíduo ligado ao "modernismo" português e que já tinha experimentado a ideia no museu Castro Guimarães em Cascais.
Essa forma prática de levar a cultura livresca aos jovens de escola primária deu os seus frutos e tal divulgação, isenta de ideologismos, era acompanhada por um pequeno boletim impresso e regular, distribuído gratuitamente com os livros emprestados durante um mês.
Por aqui se podem ver alguns exemplares desse boletim, designadamente o primeiro, publicado em 1960.
O nº 8, de 1963, dedicado à História, trazia este pequeno apontamento sobre o "sentido da História": o marxismo cultural não andava longe...
O nº 7 trazia um pequeno estudo sobre "a literatura de viagens" compilando os relatos escritos das grandes viagens dos portugueses entre os séculos XV e XVII.
Esta primeira série durou até ao ano seguinte, começando então a II Série do Boletim que durou o resto dos anos sessenta, até ao número 29/30 de meados de 1974, altura do falecimento daquele Branquinho da Fonseca.
Em 1968 um pequeno ensaio sobre Portugal e um modo de escrever diferente do que hoje se vê por aí.
Em 1969 o nº 17 , versava sobre temas históricos- as revoluções do sec. XVIII e XIX- e dava conta da inauguração da sede da Gulbenkian. Num artigo dava-se conta do que foi o colonialismo branco, na África dos pretos. Nas primeiras décadas do sec. XIX Portugal era o único país europeu que ocupava parcelas de África, na costa e no interior.
Em 1970 o nº 18 dava conta do que era e significava a "cultura portuguesa" e quais eram as suas instituições: a Universidade, a Igreja e a Academia. Hoje são as madrassas dos professores Bonaventura e pouco mais. Não há espaço para mais ninguém nem subsídios do Estado para mais ninguém.
Apesar de se atestar então que " a cultura portuguesa não é simples", hoje em dia tudo se simplificou: há o fassismo e o antifassismo e é tudo. Salazar é fassismo. Cunhal e Soares é antifassismo. Está tudo dito, só faltando a conclusão: fassismo nunca mais!
A complexidade cultural e diversidade temática continuou até meados de 1974. Em 1973 ainda se procurava saber qual seria o "pensamento português". Escrevia-se que "tem muita remota origem o pensamento português" e mais: "Portugal descobriu o mundo...e não tem pensamento"?
Tinha, claro que tinha mas ainda não tinha sido descoberto em toda a plenitude. No início de 1974 ainda se tentava saber qual era, com cuidado e alguns nomes, estando ausentes os verdadeiros pensadores do nosso tempo, que em breve seriam descobertos:
Tal aconteceu a partir de 1974 e com a morte de Branquinho da Fonseca tudo se alterou, incluindo a Série II do Boletim que passou a chamar-se Boletim das Bibliotecas Itinerantes e Fixas, caindo o apêndice informativo. Passou a ser "formativo" por inerência e com cheiro a cravo do MFA, num número ( 29/30) todo consagrado ao "modernismo português".
Foi mais ou menos por essa altura, depois do 25 de Novembro de 1975 que se descobriu então esse portento do pensamento português chamado Eduardo Lourenço ou outros mestres como um tal José Gil, para não falar num Fernando Rosas...
O Eduardo Lourenço que descobriu o fascismo português através da proclamação da sua não existência, primeiro num artigo do Jornal Novo em Janeiro de 1976 e depois em livro. Ou seria a sua não inscrição? Whatever.
Porém tudo se precipitou em 1975, com uma dinamização cultural a vapor e chaimite. O comunismo tomou conta do Boletim e a revolução chegou à Gulbenkian, com o consentimento cúmplice dos sabidolas, perdigões sem pena que lá mandavam e recebiam estipêndio chorudo.
Em Maio de 1977 nova mudança de rumo. O Boletim deixou cair todos os apêndices e normalizou-se na tendência maçónica, como a republiqueta em que nos tornamos, com a disneylândia sempre à espreita em cada esquina de coca-cola " the real thing".
Julgo que é por essas razões que esta figura desapareceu do espaço mediático...mesmo académico.
Não há espaço para esta cultura...porque outra cultura se alevantou, como mostra o nº de Março de 1978: é a cultura dos ISCTES qur viriam a seguir...
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