No Público de hoje, jornal que continuo a comprar regularmente devido a perigoso desvio masoquista de que ando a tratar-me, dá conta deste desabafo sem grande propósito de um jornalista do jornal, provavelmente um dos formados nas madrassas do costume ( escolas de comunicação social do sistema).
Queixa-se o virtual plumitivo de correio hostil que recebe por mor de escritos enviesados do jornal e sempre a favor de certos personagens e protagonistas políticos e não só.
Mais à frente no escrito declara uma afeição pela interacção entre leitores e jornalistas, mas excluindo o correio hostil de tal exercício. Lamenta que alguns jornalistas se deixem influenciar por tal fenómeno ao ponto de se autocensurarem.
E portanto defende uma ampla liberdade do jornalista para expôr os seus estados de alma e opções políticas e idiossincráticas no que escreve porque assim "se defende a liberdade de imprensa e a própria democracia".
O motto: "um jornalista não deve sentir-se limitado por ninguém". Bonito, não é? E quem será o alguém que deverá ser ninguém? Muita gente e infelizmente gente que limita o que o jornalista escreve, edita e publica.
Desde logo os patrões que lhe pagam o ordenado esperam que o jornalista não cuspa na sopa, ou seja, um jornalista do Público não vai escrever algo que ofenda o patrão, no caso a SONAE, porque é certo e sabido que eticamente é estúpido, fazê-lo. E por isso nem precisa que lho recomendem.
Depois o chefe que escolhe quem escreve o quê. Um Manuel Carvalho ou uma Ana Sá Lopes ou David Pontes escolhem quem escreve no jornal e fazem-no segundo critérios que não explicam a ninguém nem têm que explicar. Por exemplo, as xaropadas do Pacheco Pereira, que ninguém lê são artigos de página que enche papel e nada mais, mas são intocáveis. Raro é o artigo em que não diz mal e porcamente do Trump, Bolsonaro, ou "populistas" à maneira da pena que o pariu.
Logo, tais escolhas definem uma maneira de organizar um jornal. Limitam um jornal.
A seguir a escolha dos títulos e das próprias notícias definem quem os escreve e destaca. Colocar o Trump sempre a descer na consideração do jornal, com setinhas para baixo é um método de limitar o jornalismo.
Entrevistar pela enésima vez um qualquer Buonaventura do CES ou destacar estudos do ISCTE e lugares similares, tidos como olimpos académicos, ouvir especialistas formados nas madrassas, escolas de formação em humanidades marxistas é um modo de limitar o jornalismo a tais áreas ideológicas.
Relatar acontecimentos em que se dá relevo a opiniões do próprio jornalista que as escreve é uma estupidez dirigida a imbecis que não descodificam o truque rasteiro. Pretender que tal seja entendido como "jornalismo responsável", é limitar o jornalismo.
Aconselhar o respeitinho das instituições em épocas de crise, sem que alguém lhes tenha sequer encomendado o recado, demitindo-se da função básica de as sindicar, é pura e simplesmente obsceno e censório, o cúmulo do anti-jornalismo.
De tudo isto o Público é réu, todos os dias em todos os números. Todos os dias dou de caras com tais manifestações de jornalismo limitadíssimo a tal visão idiossincrática da sociedade e do poder.
Uma miséria. Uma lástima e uma desgraça em forma de órgão noticioso.
Quem isto não entende nem sequer sabe o que significa ser jornalista, apesar de exercer profissão atestada por carteira da associação.
Vejamos com o exemplo que Eduardo Cintra Torres mostra no CM de hoje e como o jornalismo nacional se demitiu de ser o que deveria ser: um modo de esclarecer o público em geral acerca do que se passa, na realidade, para além das aparências e do que pretendem seja mostrado por quem lidera e tem o poder:
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