Paulo Morais, "professor universitário", diz na Sábado de hoje que teve nove processos e "ganhou-os todos". Julgo que terão sido por difamação e se assim foi, parabéns à prima, como se costumava dizer.
Anuncia agora mais um, desta feita instaurado por um angolano que se achou no direito de o processar por algo que não se entende muito bem. Espero que também este lhe corra bem, para voltar a dar os parabéns à prima...porque aquilo que Paulo Morais vai dizendo torna-se um pouco deprimente. Já lá vou...mostrando esta entrevista a propósito de um livro que agora lançou sobre o tema e que conto folhear um dia destes.
Na entrevista começa por dizer que "tenho uma regra: não falar de pessoas que já faleceram". Umas linhas à frente aparece a dizer algo sobre a corrupção que grassava na Câmara do Porto em casos de trafulhice nos avisos de recepção de cartas enviadas. Uma delas terá sido ao "grupo Amorim", no tempo em que o velhote ainda era vivo. Ora bolas!
Este discurso de Paulo Morais contra a corrupção tornou-se um mantra que tende a perder importância na medida em que aquilo que é dito tem pouco rigor, em alguns casos concretos.
Vejamos:
No caso concreto do exemplo apontado ao "grupo Amorim" sobra uma suspeita grave e que é lançada agora sem mais nem menos: quando estava na Câmara do Porto, ou seja há quase vinte anos, detectou um foco de corrupção em processos de urbanização que envolviam tal grupo.
Uma afirmação destas, agora, vale nada de nada porque tudo terá prescrito se eventualmente alguma coisa existiu. Era melhor estar calado porque agora nada se irá investigar e portanto é tiro de pólvora seca.
Outra: tentaram depositar-lhe 30 mil euros numa sua conta, para o comprometer. Descobriu a tempo, senão...enfim, não saberá que a tentativa de corrupção é já um crime em si mesmo?
O que diz sobre a corrupção em Portugal tende a ser uma verdade consensual mas é demasiado pandémica para se tornar em senso comum.
O que diz sobre a EDP ou a GALP tem a dose de verdade adequada a proclamar que existe uma grande promiscuidade entre o poder político e o que vem directamente de grandes empresas que co-optam políticos para integrarem quadros de administração. Mas isso é tudo o que se torna visível. Para afirmar que nesse caso também existe corrupção em virtude de conspiração entre governantes e administradores de empresas que foram lá colocados para condicionar aqueles é preciso mais argumentação e provas de outro tipo. Não basta a mera aparência.
Quanto a José Sócrates tem razão a rodos, mas esvai-se nas generalidades de que "estamos a pagar cinco vezes mais do que devíamos" nos contratos PPP.
O melhor exemplo porém deste desvio atrabiliário é o que atribui a substituição da PGR Joana Marques Vidal a uma conspiração tenebrosa para "branquear os crimes de Sócrates, amigo de Costa e de Salgado, amigo de Marcelo. Os corruptos não são incomodados, nem investigados e raramente acusados".
O que é que a antiga PGR ou quem a substituiu, depois de deduzida a acusação contra o tal Sócrates poderiam fazer? Nada, nem que quisessem.
Que Joana Marques Vidal não foi reconduzida porque era incómoda para o governo que está, parece coisa pacífica. Mas...que ela fizesse uma grande diferença relativamente a investigações que correm ou que irão correr, já se oferece grandes dúvidas.
Que a sucessora escolheu um director do DCIAP que já deu mostras de ser um magistrado submisso a um respeitinho que já não se usa, é verdade. Mas...terá sido para isso que foi negada a recondução da antiga PGR?
Permito-me duvidar. Tal como Paulo Morais diz é preciso estudar os fenómenos e isso dá trabalho. Trabalho e principalmente atenção aos pormenores que é onde se esconde o mal. E é preciso saber. Muitas coisas de muita coisa. E ter muito cuidado com as aparências que iludem.
Paulo Morais parece-me que ainda tem muitas lacunas nesse conhecimento...
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