Há uns dias escrevi aqui sobre um artigo de uma antiga directora do Público no qual esta desvalorizava os fenómenos de corrupção, através de um cepticismo suspeito.
Na edição de hoje do CM, o director da Sábado responde-lhe assim, sem a mencionar, o que me parece deveras estulto e escusado e o recado estende-se a outros cépticos a propósito dos fenómenos de corrupção vera, no Portugal contemporâneo, já que o passado é um lugar muito mal frequentado por tal gente.
A edição de hoje do mesmo CM é ainda instrutiva sobre o seguinte que reflecte o mesmíssimo fenómeno.
No fim da página há uma referência ao antigo presidente do STJ, o conhecido juiz Noronha Nascimento por causa de um escrito deste na revista política O Referencial ( uma revista da Associação 25 de Abril...).
Quanto ao artigo torna-se interessante ler o que o antigo pSTJ entende sobre os casos polémicos que protagonizou.
Noronha Nascimento desvalorizou então as escutas ao ex-44, José Sócrates, outorgando-lhe uma vida política mais alargada desde 2009 até ao momento da bancarrota que surgiu quando se esgotou o cardápio de fantasias que nos custou couro e cabelo e uma intervenção da "troika" mais a "austeridade".
Noronha continua ainda hoje a defender o indefensável, assim:
Primeira infâmia: a associação de certas investigações do MºPº em Portugal aos processos de Lula da Silva, nomeadamente no Lava-Jato e também a junção a este do famigerado Vaza-jato que mais não é do que o aproveitamento de escutas ilegais, inadmissíveis em processo penal português, como prova seja do que for ( como é o caso recente no caso Rui Pinto), para se provar que os investigadores do Lava-jato estavam conluiados numa trama política contra o tal presidente Lula.
A infâmia é tanto maior quando se apresenta o mesmo como "inocente" ou em que toda a argumentação aponta para tal, olvidando que escutas desse teor se fossem realizadas e divulgadas no âmbito das actividades do próprio Noronha enquando pSTJ, ao tempo do Face Oculta deveriam revelar o bom e o bonito...
Passando sobre essa infâmia, surge a segunda, precisamente com a justificação serôdia e sem contraditório algum da desvalorização das escutas recolhidas em conversas de José Sócrates com Armando Vara, um condenado em pena de prisão efectiva no âmbito desse processo.
No artigo, Noronha analisa agora a essência da escuta fatal que determinou a decisão de vários magistrados nesse processo ( procurador, juiz de instrução e superior hierárquico desse procurador) no sentido de se averiguar em sede de inquérito a conduta eventualmente criminosa do então primeiro-ministro e assim desvalorizada por este iluminado que se arroga um saber jurídico-criminal superior aos demais.
Ele que sempre foi juiz do cível e que se gabava de tal, que segundo se diz pediu ajuda a um colega do STJ ( Henriques Gaspar, futuro pSTJ) para resolver o assunto, depois de ter deixado passar todos os prazos processuais para tal, ele mesmo, o Noronha, vem agora escrever assim algumas infâmias contra o MºPº e o poder judicial de que ainda faz parte ( é jubilado e o processo Face Oculta que ainda não acabou relativamente a alguns arguidos o que o deveria avisar de que está sob reserva e portanto estatutariamente deveria estar calado sobre estes assuntos):
Há dez anos o ambiente que se vivia entre a Justiça e a política era conturbado, sendo notícia a alegada instrumentalização dos serviços secretos - com várias ligações à maçonaria - por parte do governo, com o objetivo de manter os atores da justiça debaixo de olho.
Entre 2009 e 2011 era o juiz Antero Luís que dirigia a secreta interna - ou seja, o cargo que agora Vara diz agora que Carlos Alexandre queria ocupar. E a confiança do executivo liderado por José Sócrates em Antero Luís era tanta que em 2011 o mesmo foi nomeado para secretário-geral da Segurança Interna. Anos mais tarde Antero Luís viria a ser notícia por ter sido apanhado em escutas num dos processos referidos por Vara na TVI, os Vistos Gold - tendo, nessa sequência, feito queixa do juiz Carlos Alexandre e da procuradora que tinha o caso em mãos, segundo o DN noticiou, pela forma como o seu nome foi mencionado."
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