O Expresso comemorou no Sábado passado os 48 anos com um suplemento especial com esta capa:
Um dos modos de celebrar o acontecimento, neste suplemento foi recolher a opinião de alguns notáveis mediáticos da sociedade portuguesa e perguntar-lhes o que significou o jornal para cada um.
Algumas respostas, após o editorial do actual director:
A redacção actual do Expresso é moderna e é assim:
Porém, começou assado, com a "Gente" de sempre e do costume:
Quanto a mim, tomei conhecimento com o Expresso ainda em 1973 e julgo que terei visto ou lido o primeiro número. Afinal era uma grande novidade naquele tempo.
O primeiro número que guardei e se manteve guardado é este, de 14 de Julho de 1973 e julgo que o comprei por causa do "caso Wiriamu", tratado na página 5 e com um estilo sóbrio dizia que era preciso saber mais sobre o assunto e um inquérito rápido se impunha para "clarificar cabalmente a verdade dos factos". Ou seja, ainda não se sabia muito bem o que acontecera.
O caso Wiriamu era singular e um episódio macabro da nossa guerra no Ultramar. Na notícia fala-se no assunto de modo a citar o "Times" e com a menção a um certo Mário Soares que na altura não conhecia mais gordo do que era e dizia-se que era "secretário-geral do recém-criado Partido Socialista Português" o qual disse que "não tinha conhecimento pessoal do massacre e atacou a política do Governo português em África".
O jornal não mencionava as palavras da futura novi-língua, fascismo, colonialismo e imperialismo, mas o tal Mário Soares usou-as, pela certa...e a censura deve ter cortado. Seja como for, esta notícia passou e quem não sabia passou a saber que havia um novo partido político em Portugal...chefiado pelo tal Soares.
Tal como passou a notícia sobre a "Oposição" em Portugal e as dissensões internas que existiam entre o partido comunista que nem aparece citado e as forças socialistas e social-democratas como se pode ler na primeira página. O embrião do que se passaria em 1975 estava já aqui plenamente exposto e explicado. A linguagem novilinguística ( " monopólios", "liberdades fundamentais") também já se tornava notória e pegou de estaca dali a menos de um ano.
A actual edição comemorativa não é muito rebarbativa no que se refere à Censura do anterior regime, ao contrário de outros números comemorativos de aniversário do jornal, mas evidentemente que existia tal Censura, a cortar notícias que entendia inconvenientes para o regime. Mas não aquelas acimas expostas.
E esta na última página também não e permite ver como era o jornalismo de então: mais próximo da realidade comum do que hoje em dia. É isso algo que falta ao Expresso actual.
O Expresso da época tinha na altura uma revista semanal concorrente que se chamava Observador, aparecida em escaparate no início de 1971.
Para mim é o órgão informativo que melhor retrata a época e a que melhor informava sobre o que se passava não obstante ser um órgão de informação que apoiava o regime, inequivocamente. Mas não de modo acéfalo...
A edição de 13 de Julho desse ano de 1973 dava conta do acontecimento de Londres, assim:
Na edição seguinte a revista dava maior cobertura ao assunto Wiriamu, como mostra o editorial:
E mostrava de modo mais claro que o Expresso o que foi Mário Soares fazer a Londres: dizer mal do país que era a sua pátria por causa do "fassismo" e do "colonialismo" e do...socialismo. A Censura neste caso, não cortou...e ficou a saber-se a realidade dos factos nus e crus.
A diferença entre o Expresso de então e o Observador da época? É simples: o Expresso de então era um órgão de oposição política ao regime e ao governo de Marcello Caetano; o então Observador fazia a mesma figura que o Expresso de hoje faz: apoiava o sistema e o regime, com uma diferença mais e de vulto: com maior qualidade que este jornal de hoje o faz.
Quem melhor definiu o Expresso foi Vasco Pulido Valente numa prosa curta no Público de 2006. O jornal da "classe média" era e continua a ser um recreio de mediocridades.
O Observador de 1971 acabou no início de 1974 e nem chegou ao 25 de Abril. O Expresso mantém-se à tona durante estas décadas por motivos insondáveis mas dou o meu palpite: a sociedade portuguesa, tal como a economia, degradou-se intelectualmente de modo irreparável por obra e graça destes figurões que agora são o regime. É uma tragédia nacional, aliás a verdadeira tragédia nacional e fruto deste gente que aí figura acima, nas páginas do Expresso actual.
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