Segundo se noticia por aí, morreu um desenhador que nem gostava que lhe chamassem cartoonista. Assinava Vasco e os obituários são resumidos, omissivos e desinformativos porque se escusam a contar a história toda do desenhador. Não percebo bem porquê mas desconfio: Vasco era um dos desenhadores mais radicais e comunistas da extrema-esquerda que despontou em Portugal logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, como centopeias saídas debaixo das pedras onde se escondiam com medo do fassismo. E muitos dos que mandam nos actuais expressos e observadores foram compagnons dos vascos, gonçalves e outros, como este que era de Castro.
Não obstante, este Vasco era um bom desenhador embora tributário, no estilo, de um inglês que assina Ralph Steadman e que tem um talento a que o nosso Vasco nem chegava aos calcanhares.
Conheci este Vasco agora falecido, não no Público ou no Diário de Notícias mas muito antes, no jornal Sempre Fixe, um título muito antigo e que recomeçara a sair outra vez pouco tempo antes de 25 de Abril de 1974, em 6 de Abril desse ano.
A ficha técnica vinha na última página do suplemento que era a cores e uma novidade mesmo em 1974. O Diário de Lisboa, aliás, tinha já suplementos com cores em quadricomia, o que era uma evolução que se perderia na voragem das bancarrotas que se seguiram. Só em 1978 voltei a ver quadricomia nos jornais semanários e primeiro nas publicidades a isqueiros e coisas assim. Enfim, as maravilhas do 25 de Abril no campo económico.
Aliás, para se poder ver melhor como é que foi, logo em 1974, o mesmo jornal publicou na edição de 31 de Agosto uma espécie de entrevista com um tal Vítor Constâncio, já designado secretário de Estado do Planeamento Económico (!!!) em que o mesmo dizia coisas espantosas a propósito da queda abrupta da produtividade e do défice da balança de pagamentos portuguesa, então já no vermelho do alarme mais premente. A bancarrota seguiria dali a pouco tempo, nem sequer dois anos. Porém, o bravo governante, inteligente como poucos e habituado a suar estopinhas pintadas no Parlamento, garantia que estávamos a salvo de qualquer desgraça. Afinal, para além das divisas que os emigrantes poderiam mandar, mas deixaram de o fazer por motivos estranhos, certamente, tínhamos muito ouro guardado no cofre...o qual como se sabe era proveniente da "pesada herança" que foi sempre um fardo para estes antifassistas.
Nessa altura o jornal semanário, já dirigido por um dos maiores sectários comunistas que houve na imprensa portuguesa A. Ruella Ramos( e que também dirigia o Diário de Lisboa durante o PREC) ainda não tinha o desenhador Vasco ao serviço, eventualmente por estar ausente do país, por não gostar e ter horror ao fassismo.
Porém, em Agosto de 1974 e até 1975, altura em que o jornal acabou por falta de combustível revolucionário, desviado para outras paragens, já por lá andava afadigado a "malhar na direita". Assim:
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