Entrevista do juiz Manuel Soares, presidente do sindicato dos juízes ao CM de hoje, com um título que exprime um conceito: "cara do juiz não pode ser mais importante que a sentença".
De acordo com esta máxima o juiz Manuel Soares deveria reservar a imagem ao contrário do que acontece de há anos a esta parte, em que aparece polifotografado em várias poses de "revista" e algo esquisitas depois de tanta exposição. Mesmo esquisito e a merecer análise psicológica.
Aparentemente e segundo diz e escreve, o que incomodou o juiz Manuel Soares, no caso do TCIC foi o protagonismo dos dois titulares, particularmente um deles, Carlos Alexandre. Não há que fugir a tal evidência, tantas foram as vezes em que explicitamente assim o declarou e repete: " a fulanização existe e tornou-se irrazoável". Irrazoável?! Porquê, numa sociedade mediatizada pela tendência Cofina extensível às tvi´s e sic´s? Não será esse o problema, a causa? E depois para aclimatar a explicação incompreensível: " Duvido que tenha sido voluntária. Naquele tribunal podia acontecer qualquer coisa parecida com outros juízes".
Vejamos: o que é que verdadeiramente incomoda o juiz Manuel Soares? É a fulanização mediática dos correios da manhã deste pobre país ou a essência das decisões desses fulanos que sendo juízes aí exercem e estão encarregados de processos inevitavelmente mediatizados? O mesmo responde: é a fulanização! E no caso, promovida pela Cofina, Impresa e tutti quanti e não pelos juízes em causa, ao contrário do que sucede com o próprio Manuel Soares que se expõe mediaticamente, voluntariamente, em palavras e imagens que se tornam já estranhamente profusas. No entanto, ao ouvir e ler Manuel Soares quase se entende que acusa esses juizes de protagonismo voluntário e de que afinal são vítimas involuntárias, protagonistas de o pretenderem ser e por isso a sugestão, seguida avidamente pelo poder político, de difusão de tal protagonismo por mais meia dúzia. Foi esse o remédio encontrado e o resto é-lhe indiferente, porque assume que qualquer juiz pode desempenhar o papel dos fulanos em causa. Mas engana-se e a prova está à vista nos processos respectivos durante estes anos todos que já somam quase vinte.
O juiz Manuel Soares exprime a sua opinião sobre o assunto, com graves consequências na decisão política tomada pelo poder respectivo a quem agradou sobremaneira tal opinião e por este motivo muito a propósito, explanado no JN de 28.3.2021:
Qual é o problema do juiz Carlos Alexandre ser considerado pelos correios da manhã das tânias laranjo deste pobre país, como "super-juiz" ou ser acaparado pelos media da Cofina de modo interesseiro como efectivamente o tem sido, apenas por motivos comerciais? Acaso no caso da operação do "cartão vermelho", em que o juiz em causa é protagonista de instrução, o seu nome foi amplificado com efeito de fulanização recortada no sentido pejorativo que o juiz Manuel Soares teme e estranhamente repele? Não foi, uma vez que outros interesses maiores se alevantaram, designadamente a sobreposição de vários protagonistas ligados ao fenómeno desportivo que atirou o juiz em causa para o quase anonimato preferido pelo estranho Manuel Soares.
Nos casos singulares dos salafrários ligados à corrupção política e empresarial dos últimos anos, com o os expoentes máximos em Ricardo Salgado e José Sócrates, o foco da atenção foi apontado aos juízes Carlos Alexandre e Ivo Rosa por serem os titulares dos respectivos processos. E daí? O que interesssa verdadeiramente é o nome, a exposição ou o protagonismo dos juízes ou a essência das suas decisões? Porque é que Manuel Soares nunca se afere a esse nível, o único que interessa para os casos? Estranho, mais uma vez que prefira destacar algo espúrio e que o incomoda, verdadeiramente incomoda e tal é notório e preocupante.
Por isto que passo a expor: aqui há uns tempos Manuel Soares foi ele mesmo protagonista involuntário de algo que foi mediaticamente designado como o processo da "sedução mútua". O que significa tal coisa? Que sendo conhecido como é, teve o relevo que teve como "asa" de um colectivo que proferiu uma "sentença" mediaticamente criticável? Claro que foi. E daí?!
E que dizer do caso Neto de Moura? O que é que o protagonismo deste juiz teve a ver com a sua nula exposição mediática antes da decisão que proferiu? E porque é que os colegas de profissão, tal como o próprio Manuel Soares se acobardaram ou, pior, aliaram aos detractores, relativamente a uma decisão que deveria ser explicada e desmontada relativamente ao feminismo avassalador que tomou conta do assunto, num tempo mediaticamente propício? A Justiça é isso?!
Os juízes, pela função que exercem, não podem ser apenas autores anónimos de sentenças e merecem ser conhecidos das pessoas em nome das quais aplicam a justiça, tal como sucedeu com Neto de Moura e sucederá com outros. Isso incomoda o juiz Manuel Soares, com medo atávico do "protagonismo"? A justiça não é como um condomínio sem administrador, porque o administrador é mesmo o juiz que a aplica em nome de todos os que legislaram e firmaram o Direito. E o juiz tem personalidade, não sendo um robot.
Portanto, o que continua a incomodar o juiz Manuel Soares é mesmo o protagonismo? Ou será outra coisa, mais fluida, manhosa e estranha? O que dizer das incontáveis entrevistas de Manuel Soares, em directo e diferido e em profusão estonteante, sempre com o mesmo discurso que enquistou ideias que me parecem erradas mas que serviram de isco para o poder político legislar num certo sentido? Vidè o exemplo da entrevista ao JN de 28.3.2021:
E se for apenas "Manuel Soares juiz" o resultado é este:
Este protagonismo de visual é normal, segundo o entendimento idiossincrático do próprio Manuel Soares? As poses são o quê? Apenas um sinal de narcisismo que se apresenta já estranhamente exacerbado, como se evidencia e um par do juiz- Mourão- já o tinha topado há uns anos?
Na altura não me ocorreu, mas o juiz Mourão era bem capaz de ter razão...o que aliás explicaria a estranha obsessão com um protagonismo que afinal acabou por servir muito bem a quem se estava mesmo a c. para o assunto. E sabe-se bem quem foi e a quem aproveitam os efeitos produzidos: ao poder político que está e eventualmente virá. Isso não faz reflectir o juiz Manuel Soares?
Para entender a estranheza deste assunto, digite-se "Carlos Alexandre juiz" no mesmo Google e o resultado é este:
Apesar de o número de imagens icónicas ser superior a verdade é que são diferentes, mais antigas e denotam uma ausência de protagonismo visual, ao contrário daquele.
É evidente que há algo estranho na estranha obsessão com a preocupação do tal protagonismo e sintetizado na frase fatal do CM de hoje: "cara do juiz não pode ser mais importante que a sentença".
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