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segunda-feira, julho 05, 2021

Requisitório inacabado e falta de pudor de Isabel do Carmo

 A esquerdista de sempre Isabel do Carmo, habitual articulista no Público, acrescentou mais um contributo para a ignomínia habitual contra o regime que antecedeu o do 25 de Abril.


O que Isabel do Carmo escreve sobre o regime anterior é o requisitório habitual: "[no Tarrafal]Houve cerca de 29 500 detidos entre 1933 e 1974. Relembro os professores universitários expulsos do ensino. Tivemos, pois, um regime de repressão bem pesada. Não será fascismo? É verdade que lhe faltava a pena de morte. Mas essa podiam executá-la extrajudicialmente, como fizeram com o general Humberto Delgado.

Eram proibidas greves, concentrações, manifestações e assembleias. Os jornais diários só eram impressos depois de passarem pela Comissão de Censura, o que levava inevitavelmente a uma censura interna. Os textos das peça de teatro eram censurados previamente. Os filmes eram proibidos. As tipografias e as livrarias eram assaltadas e retirados os livros. Quem era o editor que se atrevia? As mulheres de todas as classes sociais eram oprimidas (...) o analfabetismo dos adultos chegou ao 25 de Abril com 40% e era maior nas mulheres. Para a saúde havia as "caixas" e só não pagavam os hospitais os que tivessem "atestados de pobreza". "

Isabel do Carmo escreve isto em 2021 como se tivesse  sido sempre uma defensora nata dos direitos, liberdades e garantias burguesas que a democracia ocidental proclama.

Poderia aqui elencar-se e mostrar-se como estas democracias em países que então serviam de modelo para tais liberdades, como por exemplo a Inglaterra ou a França não eram muito diferentes nas práticas censórias, por exemplo em costumes, abrangendo expressões artísticas como a música, o teatro ou o cinema. Eram de facto diferentes na tolerância política para com outros totalitarismos, de esquerda ou de direita, mas não é essa a questão que aqui importa reter. 

O importante, aqui, para mostrar a hipocrisia desta Isabel do Carmo e a incoerência que a assola é mais simples de expôr.

Em 19 de Dezembro de 1974 a revista Vida Mundial publicou algumas páginas com os programas partidário das forças políticas da altura e que se preparavam para as primeiras eleições que abrangeram as forças comunistas, ao contrário do que até então sucedia, no regime anterior. Em 1973, as eleições foram abertas à participação de uma oposição democrática que abrangia por exemplo o que então se poderia dizer que era já o PS em embrião. Desistiram por dificuldades várias, algumas delas impostas pelo regime, mas não foram proibidos de participar.

 



Quanto ao comunismo é preciso dizer que tais forças  abrangiam o PCP, ainda estalinista bem como toda a extrema-esquerda revolucionária de que Isabel do Carmo fazia parte e cujo programa está assim bem explicadinho para quem quiser ler: "A luta dos trabalhadores pela revolução socialista, hoje como ontem, terá de ser uma luta violenta porque o inimigo de classe, a burguesia, jamais se deixará desapossar pacificamente". 

Era isto que Isabel do Carmo defendia quando lutava contra o "fassismo". Era a substituição de um regime que não sendo democrático participava em muitos dos princípios democráticos, limitando porém o acesso político a ideologias que defendiam o que fica exposto. 

Aliás a violência assim defendida era posta em prática através de atentados terroristas, antes e depois do 25 de Abril, bem depois dos anos setenta e pelos quais a mesma Isabel do Carmo foi julgada, já em democracia, por pertencer a tais forças revolucionárias e terroristas. Foi absolvida dos crimes do PRP mas esteve presa quatro anos, certamente por ir várias vezes à missa. Nada se provou sobre o conhecimento da mesma acerca do terrorismo do PRP...

O regime democrático, quanto a isso, não se distinguiu do anterior. E não se distinguiu nem distinguiria em certos aspectos que prenunciavam o que viria a ser tal regime no caso de as forças políticas que Isabel do Carmo apoiava tivessem vencido a contenda em 25 de Novembro de 1975. Foram derrotadas mas Isabel do Carmo, no PRP não desistiu de tentar reverter a derrota e é bem possível que mesmo hoje ainda acredite em tais soluções políticas para resolver os problemas. 

O ideário comunista que Isabel do Carmo propunha e que defendia, em vez do regime de Marcello Caetano era simplesmente totalitário, não democrático e com feição revolucionária. 

Em Agosto de 1975 não podia ser mais clara, na entrevista que concedeu à Flama


E quem critica a ausência de representatividade eleitoral antes de 25 de Abril como pôde defender isto que se mostra aqui, neste cartaz, depois do 25 de Abril? Que sentido ou coerência podem ter uma coisa destas?


Não se compreende que uma pessoa assim defenda tal regime e fique indignada ou escandalizada com o regime anterior ao 25 de Abril que nem por sombras se assemelhava sequer ao que a mesma propunha para Portugal.   

Será isto tão difícil de entender pelo jornalismo caseiro que continua a dar guarida a pessoas assim claramente anti-democratas? 

Em algumas caricaturas ( no caso de outro comunista, João Abel Manta, num livro de recolha de trabalhos seus)  se sintetiza o que seria o regime que Isabel do Carmo defendia...e só um regime de néscios pode aceitar que Isabel do Carmo seja afinal uma democrata de sempre, defensora das liberdades burguesas cuja ausência criticava ao anterior regime.

Maior hipocrisia é difícil de encontrar...e maior falta de pudor, também.










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