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sábado, setembro 11, 2021

O retrato psicológico de Salazar, por Cabral de Moncada

 No outro dia na Feira do Livro comprei este, de memórias do professor de Coimbra, Cabral de Moncada que viveu entre 1888 e 1974, atravessando por isso a transição de Portugal da monarquia para a República e depois acompanhando o Portugal de Salazar, de quem foi aliás colega de universidade, sendo este um pouco mais velho ( Salazar fez parte do júri de doutoramento daquele, em 1919)  

De Salazar, Cabral de Moncada só tem elogios à pessoa e político, embora comedidos, como era timbre do autobiografado. Este, nascido em Lisboa, de "boas famílias", educado pelos jesuítas do Colégio de S. Fiel ( que relata em algumas páginas que fazem lembrar os seminários até aos anos setenta do século que passou) e formado no espírito religioso da Santa Madre Igreja, tomou assento universitário em 1920 em Coimbra, sendo contemporâneo de Carneiro Pacheco, Fezas Vital, Magalhães Colaço, Alberto dos Reis e Guilherme Moreira, entre outros e amigo de Paulo Merêa, também aí professor. 

Cabral de Moncada conheceu e viveu os tempos conturbados da República e o que lhe sucedeu em consequência dos desmandos "democráticos" que levaram Salazar ao poder. 

Sobre a grande figura do século XX português, Cabral de Moncada escreve assim, num retrato aprimorado pelo conhecimento pessoal do dito, o que não é o caso de alguns biógrafos e de alguns detractores que falsificam a história.

O livro foi publicado em Janeiro de 1992 mas escrito vinte anos antes. Cabral de Moncada faleceu em 9 de Abril de 1974 e por isso não viveu o 25 de Abril desse ano. Se tivesse vivido estou certo que conviveria bem com o que veio a seguir, tal como aconteceu nas fases de transição entre o séc. XIX monárquico e o XX republicano. Conheceu pessoalmente Bernardino Machado, Afonso Costa e os malefícios da Maçonaria de então. 

Aparentemente, Cabral de Moncada não se metia muito em "políticas" e ideologicamente era dúctil embora firme em certos princípios, como os religiosos. Ou seja, foi educado como jesuíta e assim ficou, em modo laico. 

Como professor, Cabral de Moncada ensinou essencialmente história do Direito e estudou filosofia do Direito. Tinha sido delegado do procurador da República, primeiro na Graciosa, Açores e depois em Alvaiázere e Soure, durante dois anos, tendo descoberto que não era vocacionado para o rame rame da burocracia de magistrado e candidatou-se a doutoramento, alcançando o lugar de professor num tempo em que estes não atingiam a cátedra ao estilo de um tal Jorge Simões, marido da actual ministra da Saúde. 

O retrato de Salazar, feito por Cabral de Moncada, contextualizado no seu tempo e de acordo com observações particulares parece-me primoroso e denota o que sempre pensei de Salazar: vale a pena conhecer quem foi para saber como fomos. E como perdemos tal identidade em pouco tempo. 












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