Edição de hoje do tal & Qual, artigo de Manuel Catarino para ver se vende mais uns exemplares.
Não sei quantos venderá mas eu já comprei alguns e voltarei a fazê-lo, por causa da variedade de assuntos. O jornalismo parece-me tablóide, seja lá isso o que for e que cheira a imprensa inglesa sem grande exigência de seriedade respeitosa, mesmo para com a verdade. É preciso ler o Tal & Qual com grão de sal de muitas dúvidas e não levar a sério a escrita. Por mim até aprecio o exercício desde que não ofenda a verdade essencial em modo atentatório da inteligência mediana e não se torne manhoso como este artigo que segue parece.
De resto é um jornal eivado dos preconceitos todos vindos do PREC e da gente que o sustentou. Comunistas, socialistas, enfim, a esquerda em geral e por junto. Sempre o mesmo. Até tem lá o fundador de O Jornal, igualmente fundador da primeira versão do jornal Tal & Qual, Joaquim Letria que no outro dia dedicou uma prosa a panegiricar...Che Guevara. É preciso ter lata idiossincrática de esquerda radical, arre!
Quem ler este blog em postais antigos verá que O Jornal é uma das fontes privilegiadas da informação sobre factos e acontecimentos desse tempo e Joaquim Letria esteve lá no começo, em Maio de 1975, politicamente próximo da esquerda do "grupo dos Nove" e passou para a tv do Estado depois disso. É um dos jornalistas que moldou a classe que temos, arreigada à esquerda e extrema-esquerda, desde sempre e por isso um dos esteios do jornalismo que por aí viceja e que vê em André Ventura, por exemplo, o diabo em forma de gente de extrema-direita.
Catarino não aparece na ficha redactorial mas é figura importante no jornal e da mesmíssima escola daquele Letria. É assim uma espécie de improvável repórter x entregue a simplificações de realidades que lhe dão jeito noticiar para captar atenção de incautos e sobreviver na selva mediática. A vida custa a todos...
Na edição de hoje os responsáveis pelo jornal lá entenderam que a figura do juiz Carlos Alexandre venderia papel se viesse junta a uma frase bombástica to tipo "tablóide".
Ora veja-se lá:
"Meio-país na mão" é o mesmo que meio mundo no bolso ou outra expressão qualquer para dizer que o juiz em causa conhece os podres de muita gente do "milieu" político, empresarial e social.
Será assim? Vejamos o artigo ( e que me desculpe o jornal mas não acho que esta publicação possa prejudicar a venda de mais exemplares, antes pelo contrário):
Em 17 anos de funções como JIC, o aludido juiz ouviu gravações telefónicas relacionadas com os processos-crime em que interveio como garante das liberdades fundamentais, ou seja, da correcção legal na realização de tais gravações pelo MºPº. Ou seja ainda quem ouviu também tais gravações foram os magistrados do MºPº que dirigiram tais inquéritos. Vários. Serão também eles detentores do extraordinário poder de "ter meio país na mão"?
Pois, o Catarino não nos elucida acerca de tal coisa. Nem lhe interessa. Para quê se o título que colocou na capa lhe fica tão bem e lhe serve ainda melhor?!
Ora, sabendo que um jornalista destes não será um idiota rematado, o que se dá de barato, porque fez então essa capa com esse título que além de sensacional não tem correspondência com a realidade que o mesmo tem obrigação de perceber? Pois, a única razão para a aldrabice é apenas uma, no meu entender: vender papel! Uma desonestidade deontológica? Enfim, se calhar é. E mais que isso.
Lendo, porém o que vem a seguir deparamos com um "historial" do juiz em causa, o que teria o seu interesse relativo, caso fosse inédito ou até original, o que não é nem uma coisa nem outra. O CM, a Sábado e outros têm feito mais e melhor que isso.
Em primeiro lugar a afirmação gratuita de que o juiz em causa "se vangloria da informação que detém". Onde é que foi buscar a fonte ou razão de ciência da atoarda com destino certo? Algures. E indica até um "juiz desembargador". Os juízes desembargadores sabem tanto disto como qualquer cidadão...acho, mas este é apresentado como fonte idónea e anónima o que vale zero pois tal não dá crédito algum a não ser para os papalvos. Isso dando de barato a acreditação na veracidade da proveniência informativa.
E depois o tremendismo parolo da sensação género CM, versão Tânia Laranjo ( agora com mais outro contributo, o da Felgueirinhas, na Sábado e que faz temer o pior): "os segredos que guarda fariam tremer o regime"!
Enfim, que segredos poderão ser esses potenciadores de tamanhos tremeliques? Obviamente de negociatas, corrupção avulsa e coisas desse género que se terão anichado nas conversas insuspeitas de visados em processos-crime. Só que estão envoltos num celofane processual que o Catarino não vislumbra: as provas legalmente admissíveis e que se puderam aproveitar para tais processos. E outra coisa: para além disso, mesmo as não aproveitáveis processualmente, as conversetas, valem o que valem, em termos de espelho de realidades passadas. E ainda outra: o prazo de validade é curto e já expirou numa boa parte dos casos.
O timing da respectiva validade reflecte-se na perda de relevância, seja a que título for e por isso o regime nunca cairá por causa desses segredos inventados por um jornalista à cata de sensações que lhe salvem o produto que tem para vender.
Então se isto é assim, como será para qualquer inteligência mediana, para quê este artiguelho de quatro páginas? Pois obviamente para servir interesses espúrios de certos entalados e o rabo escondido deste gato felpudo reside na fonte anónima identificada como "um advogado" que se dedica a zurzir em processo intencional no dito juiz. Que queria ser o único juiz do TCIC, por motivos esconsos; que aldrabou a distribuição processual de alguns dos casos mediáticos e por isso a conclusão para este artigo, sem carecer de análise sherlockiana é simples: um frete à defesa dos sócrates todos que andam por aí!
Se assim não fosse e a verdade fosse mais importante, o jornalista Catarino teria o cuidado de ler e perceber o despacho de arquivamento do MºPº relativamente ao assunto da distribuição processual no TCIC em Setembro de 2014 e depois disso, uma vez que teve acesso privilegiado ao "depoimento" do juiz no respectivo inquérito. Tal permitir-lhe-ia concluir pelo seu próprio bestunto que a denúncia apresentada contra o juiz configura a prática do crime de denúncia caluniosa porque quem a fez sabe que é falsa e baseia-se em discrepâncias de pormenor, mormente depoimentos em segunda mão e opinativos, para suscitar suspeitas de maior.
Por isso mesmo este artigo cheira a encomenda e mesmo que o não seja, aproveita a quem gostaria que assim fosse noticiado, tendo para tal ajudado a esta missa negra.
É pena porque este tipo de jornalismo de sensação vive muito de uma certa ingenuidade e até palermice. Neste caso, porém nada disto é evidente. O que se mostra é a tristeza habitual do jornalismo nacional...
Então, qual o valor e importância deste juiz? É simples e no artigo perpassa tal verdade, manipulada e distorcida: quem foi juiz de instrução em tais processos, titulados pelo MºPº, acaba por ter uma visão aprimorada da sociedade portuguesa que exerceu e exerce poder e das várias vicissitudes de certos actos e acontecimentos relacionados com os assuntos de tais processos: no caso BES/GES; no caso Sócrates e nos diversos casos coligados ou conexos, ao longo dos anos.
O importante, neste como noutros juízes, não é o que sabe ou soube, mas o que faz, agora e no futuro. E é isso que preocupa os entalados. Não é o conhecimento de podres passados e alguns já enterrados no olvido das inutilidades.
Mas...isso ainda é segredo para alguém que tenha acompanhado os factos relatados nos media, ao longo dos anos?! Haverá porventura mais do que isso, e que seja mais interessante e importante do que isso?!
Para o jornalista Catarino parece que sim. Deve ter andado muito distraído estes anos todos, não tendo acompanhado os inquéritos parlamentares, nem lido os diversos livros de colegas seus sobre tal assunto e ainda os artigos de publicações periódicas que foram divulgados ao longo dos anos, incluindo transcrições das gravações telefónicas...
Em resumo: um artigo destinado a denegrir mais uma vez um juiz que merecia outro tratamento para além da habitual parolice deste tipo de jornalismo indigente e, sei lá! - se calhar suspeito. E por isso perigoso.
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