Ontem o Público deu quatro páginas e mais referência de capa ao assunto da efeméride dos trinta anos da emissão do primeiro canal de tv privada nacional, no caso a SIC.
A articulista Joana Amaral Cardoso deve ter andado dias e dias numa fona para reunir depoimentos dos habituais "especialistas" no assunto para redigir as páginas ilustradas com fotos generosas a preencher espaço, a maior pare delas a preto e branco, numa bizarria anacrónica.
Enfim, o habitual jornalismo investigativo destes assuntos que metem sempre sociólogos, psicólogos, técnicos disto e daquilo para a jornalista alinhavar o textosinho, a apresentar a quem de direito, com tais apêndices de citações avulsas de quem se esforça muito para entender o assunto em pouco tempo, não percebendo patavina sobre o que escreve e assim pergunta por perguntar, julgando que é assim que se deve fazer.
Normalmente sai borrada a cheirar a artigos para professor universitário ( não) ler. Foi assim que aprenderam, é assim que fazem e não sabem fazer doutra maneira. Recebem os parabéns redactoriais de quem provavelmente nem leu, mas acha muito bom e ficará assim.
Ontem foi assado:
O que nos diz essencialmente o artigo? O aparecimento da SIC abriu as portas que Abril abrira! Foi com isso que Portugal passou a ser "real" num espelho convexo em vez da concavidade antiga da janela da RTP. Foi como se "o advento da cor se repetisse"!, escreve a articulista.
Ora como é que na altura se julgou criticamente tal coisa, por quem sabia um pouco mais do assunto? Foi assim, como nos mostra o número especial de fim de ano, do Expresso de então, 24 de Dezembro de 1992:
Portanto, parece que não foi nada do happening relatado no Público pela jornalista certamente informada pelos "especialistas" ouvidos...e afinal as regras tinham sido impostas há muito pela...RTP.
E como é que era a RTP antes disso? O Independente de 17 de Janeiro de 1992 deu-nos o panorama nove meses antes do nascimento...
E quanto à cornucópia de canais "por cabo" que segundo o artigo do Público, a SIC e depois a TVI abriram caminho, tal sucedeu em 1994, segundo o jornal, com 26 canais a juntarem-se aos quatro generalistas ( RTP, SIC e TVI).
Foi mesmo?
Em 30 de Janeiro de 1998 o mesmo Independente dava o panorama de tal navegação nocturna e nada tinha a ver com a SIC ou TVI ou RTP.
Para se poder ver o rigor de artigos como aquele do Público, basta esta página do Sete de 28 de Dezembro de 1989 para o demonstrar...e a programação sobre a tv por via Satélite, aliás nessa altura já há tempo disponível em Portugal. Por isso se viam muitos telhados pejados de pratos enormes e depois mais pequenos, quando apareceu o satélite Astra.
Porém, tal não começou em 1994 e a seguir ao aparecimento das tv´s privadas em Portugal...
E algo que já me escapava mas que tem muita importância histórica, neste contexto: praticamente desde os anos setenta que a televisão portuguesa da RTP era complementada nos locais de fronteira com Espanha com a TVE. Foi aliás a estação espanhola de tv que começou primeiro a transmitir a cores, ainda nos anos setenta. E era efetivamente muito vista nesses sítios onde era possível captar a mesma com as antenas vulgares.
De tal modo que o Sete de 5.2. 1986 até trazia a programação...
Enfim, para se aquilatar o valor da televisão, na perspectiva de uma estudiosa como a tal Felisbela Lopes que escreveu o "
Vinte anos de tv privada em Portugal" e onde a autora do artigo se inspirou, vale a pena ler parte desta entrevista concedida ao Expresso, ao mesmo João Lopes, de 15 de Junho de 1991, por Godard, o cineasta que ainda há dias ocupou a primeira página do jornal Público, embora por diferentes razões das que aqui expõem...
"A televisão conforta, faz crer às pessoas que o mundo existe", dizia Godard.
Pelos vistos assim é, para o Público.
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