Certamente como muitos da minha geração, só descobri e me interessei pela música popular no dealbar dos anos setenta.
Como tal, uma boa parte das obras-primas publicadas antes, particularmente na segunda metade dos sessenta ficaram por conhecer, até mais tarde.
E havia muito para conhecer dessa época: os discos mais importantes de Bob Dylan, dos Beatles, dos Beach Boys, Byrds, Creedence Clearwater Revival, The Doors, Jimi Hendrix, Simon & Garfunkel, Procol Harum, só para mencionar os mais notórios.
À míngua de reedições que aliás se faziam relativamente aos mais vendidos, o conhecimento de tais obras era esporádico e à mercê de programas de rádio ou de discos aparecidos de conhecidos e amigos.
Por isso havia muito conhecimento que vinha apenas da leitura de publicações especializadas e mesmo os livros dedicados ao assunto da música popular eram raros.
Porém, tudo isso se modificou nas décadas posteriores, particularmente a partir dos anos noventa.
Antes disso, o conhecimento do que estava para trás fazia-se através dessas publicações, todas estrangeiras porque em Portugal copiava-se tudo. Como agora, aliás.
A primeira revista que me lembro de ser uma ajuda preciosa para entender o que eram as obras de certos artistas e grupos foi a francesa Rock & Folk que comecei a comprar no Outono de 1974, nessa altura para ver e acompanhar o que ia surgindo de novo e não o que ficara para trás.
No entanto, ironicamente tudo começou por causa do que já tinha sido publicado anos antes, com o grupo Crosby Stills Nash & Young que no Verão desse ano tinham dado um concerto em Londres, em Wembley e tal coincidira com a descoberta do seu disco ao vivo, de 1971, Four Way Street e da parte acústica de tal disco que passara no rádio e me impressionara particularmente no tema Right Between the Eyes e G. Nash e Cowgirl in the sand, de Neil Young.
A Rock & Folk trazia uma menção aos CSN&Y na capa, referindo-se no interior ao concerto do Verão de 1974 em Wembley e que aliás acabou por ser publicado em cd e blu ray, com video do concerto, em 2014, numa edição comemorativa especial, mas cuja qualidade técnica e de execução musical do grupo nem sequer se aproxima da revelada naquele disco ao vivo, de 1971, tornando-se mesmo fastidioso assistir a quase duas horas de prestação sofrível do grupo, nada comparável à impecável excelência manifestada na gravação de 1971.
Sendo escassíssima a informação que então tinha acerca do grupo, aproveitei para saber mais um pouco sobre o mesmo e os seus elementos, cuja música me agradava muitíssimo na época e continua, aliás, a agradar.
A revista tinha publicado anos antes, em Janeiro de 1972, numa página inteira, os discos do grupo e dos membros, individualmente, porém não tinha visto tal edição e desconhecia alguns discos. Na verdade, deles todos só conhecia o Déja Vu porque o tinha visto mais ou menos por essa altura na casa de um amigo.
Por outro lado a mesma revista trazia em todos os números uma página - Érudit Rock- na qual respondia a questões de leitores acerca de discografias e pormenores técnicos e outras particularidades da música popular e que se revelava uma fonte de informação preciosa para quem não tinha nenhuma.
Um exemplo do nº de Outubro de 1974:
Deve ter sido a primeira vez que vi escrito o nome dos Flying Burrito Brothers, mas na próxima em que tal sucedeu já me soava a déja vu, com curiosidade aumentada.
Durante alguns números foi essa a fonte de informação acerca de discografias e outros pormenores até que em Fevereiro de 1976 apareceu isto, um artigo extenso sobre a discografia dos Velvet Underground e Lou Reed, nessa altura já muito conhecido por causa do disco ao vivo Rock n roll animal que passava muitas vezes no rádio ( Sweet Jane depois da longa introdução) e de Transformer, de anos anteriores:
Em Março, foi a discografia dos The Who, com capa dedicada e número especial:
Em Abril a de Neil Young:
Em Junho número especial dedicado aos Rolling Stones e a capa com foto tirada do álbum Black & Blue do ano anterior e da autoria do japonês Hiro:
E em Novembro a discografia dos Beatles que vi pela primeira vez a cores:
E em Março de 1977 a dos Pink Floyd:
E os Genesis, algum tempo depois, em Julho de 1977.
Com isto e a informação dos eruditos da Rock & Folk já estava convenientemente ilustrado sobre esta matéria. Mas continuavam a faltar os discos.
Quanto aos Stones e Beatles no rádio de vez em quando lá passavam temas antigos mas era esporádico e incerto. Em 1976 ou 77, num programa de rádio, possivelmente no Rádio Comercial e com Jaime Fernandes passaram uma série de canções dos Rolling Stones que gravei em cassete e cuja compilação desconheço até hoje se consta de algum álbum do grupo. Idem para Bob Dylan, nas mesmas circunstâncias.
Durante dez anos foi este o panorama da informação sobre estes temas. Foram saindo entretanto livros de documentação e biografias do rock, poucos e quase nada publicado por cá.
Daí a vantagem de quem tinha acesso a publicações estrangeiras, como jornais, revistas ou mesmo livros, como este, dos anos setenta e com reedições posteriores. A minha foi adquirida em 1986 e trazia as discografias completas, até tal data, dos grupos e artistas mais conhecidos da música popular, com fotos das capas dos discos. Muitos deles foi por aqui que os fiquei a conhecer:
Por essa altura, já quase nos finais dos oitenta, a revista americana Rolling Stone começou também a publicar números especiais sobre o passado da música rock, sendo certo que já em meados dos setenta tinha publicado uma "enciclopédia", aliás resumida e concisa de tal género musical e que nunca cheguei a ter, por isso mesmo e ter lido alguns verbetes na revista quando a mesma foi publicada.
O primeiro surgiu em Agosto de 1987 e depois no início dos anos noventa seguiram-se outros números de antologia:
Os americanos mais práticos e sóbrios nestas andanças, começaram a publicar números especiais sobre estas matérias, como na Guitar Player em janeiro de 1987, uma edição das mais cuidadas e completas que me foi dado ler:
Quanto aos ingleses também foi por meados dos oitenta que o panorama se modificou para começarem a organizar antologias e números especiais acerca de grupos e artistas do rock.
Em 1986 surgiu uma revista mensal importante neste domínio e que se acrescentou aos jornais semanais de sempre que no Reino Unido eram vários e de qualidade, como o NME ou o Melody Maker, Sounds ou Disc and Music Echo, para além do Zig Zag.
Esta revista, simplesmente intitulada Q surgiu e depois dela apareceram outras ainda mais interessantes e importantes, como a Vox, a Mojo e a Uncut. Estas duas últimas, tal como a Record Collector, mais antiga, de finais dos setenta, ainda existem.
A Vox surgiu em finais de 1990 e foi a primeira pedra no charco do imobilismo em que os semanários tinham caído.
E com uma entrevista a Jimmy Page, organizada pelo mentor de outras reportagens sobre o grupo, no NME, Nick Kent:
Um artigo sobre desenhos de capas de discos feitos pelos próprios artistas. Alguns tinham jeito. Mas não era o caso da maioria, como John Entwistle dos The Who:
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