A galinha sem penas do Público escreveu esta crónica, hoje, no jornal, apelando ao sentido de Estado de alguns kamaradas para se nacioinalizarem orgãos de informação falidos, como é o caso do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF.
Aqui d´el rei!, que vai gente para o desemprego e por isso é necessário garantir postos de trabalho para os trabalhadores desses media, devendo o Estado tomar conta da falência e mediocridade dos mesmos para tal efeito.
Argumentos? Dois: salvar empregos e garantir o pluralismo da informação. Se o primeiro é atendível, terá que cacarejar também em defesa de todas as empresas que se tornaram insolventes, nos últimos tempos e deixaram pessoas no desemprego. Afinal, não pode haver discriminações e por isso, a consequência é a nacionalização de toda a economia deficitária e falida que temos por aí. Notável argumento!
O outro ainda é mais impressionante: o DN, JN e a TSF são "títulos históricos" e esteios do pluralismo informativo e isso nota-se ao longo dos anos, no caso do DN que foi sempre um jornal afecto ao poder do momento, para os fretes do costume. A TSF, formada em cooperativa após as rádios pirata dos anos oitenta, começou com três dúzias de jornalistas, não se aguentou na concorrência e o antigo co-fundador Fernando Alves, inchado das suas crónicas habituais em prol da esquerda dominante, diz ao Público que se reformou porque se fartou, pois "a TSF foi tomado por um grupo de gente que não é fiável.". Sobre um certo João Paulo Fafe é explícito: "é pessoa com quem nunca falei, não conheço". Cá para mim, até talvez nem saiba quem seja, apesar de ser fácil perguntar a colegas e amigos de profissão...mas enfim, não se compromete porque lá está, não conhece.
Diz ainda que há e houve muito bons jornalistas e técnicos por lá e cita alguns nomes, como Maria São José ou Manuel Acácio. Um deles, João Almeida está agora na Antena Dois e merece o que ganha, pelo trabalho que aí desenvolve, descontando a tal costela esquerdista de que todos padecem, no meioe no fundo é a razão profunda deste "pluralismo" a fazer de conta e esta mediocridade exposta.
Para entender estes fenómenos vale a pena regressar a 1975 e ao PREC, antes ainda destes indivíduos tomarem o poder mediático e que os alcandourou a professores nas madrassas da Comunicação Social que agora conferem licenciaturas e doutoramentos a estes jornalistas fantásticos que pululam por aí.
À semelhança de agora, havia então um grupo mediático importante- a Sociedade Portuguesa de Tipografia, S.A.R.L. que abrangia o jornal O Século, tão ou mais relevante que o Diário de Notícias, o Diário Popular, a Vida Mundial e o Século Ilustrado, para além de outras publicações, como o Cinéfilo num período efémero de finais de 1973 a pouco tempo depois do golpe do 25 de Abril, e que se findou tristemente em querelas ideológicas entre o comunismo do PCP e o esquerdismo da extrema-esquerda que hoje se acoita no Bloco.
A sociedade e alguns dos títulos vicejaram durante todo o tempo de fassismo, com um jornalismo sujeito a censura e repressão política contra a propaganda de ideias subversivas como o comunismo e a extrema-esquerda. Era outra a sociedade? Talvez mas de 1974 para 1976 só mudou uma coisa e é fácil de perceber: a economia passou para as mãos do Estado, incluindo estes jornais. Nem isso lhes faz reflectir sobre o fenómeno perverso...
Em 1975, com a nacionalização dos bancos, praticamente toda a imprensa de jornal se tornou pública, do Estado, pois apenas o República, ligado ao PS e um feudo da maçonaria e do esquerdismo assolapado e o Jornal Novo, fundado em Junho de 1974 por Artur Portela Filho, também ligado ao PS e à esquerda, mas que lutava contra o comunismo apoiando o grupo dos nove militares que não queriam entregar o poder ao PCP de Álvaro Cunhal e a Moscovo.
Ainda assim, em 1976 os jornais Diário de Notícias e A Capital, tal como os demais, eram um sorvedouro de dinheiro público, devido à nacionalização dos bancos. Empréstimos sem fim, dívidas acumuladas e mediocridade habitual, tal como hoje.
Foi para obviar à delapidação de recursos públicos que surgiram em Junho desse ano duas empresas estatais, públicas- a EPNC e a EPJSP, abrangendo O Século, o Diário Popular e as revistas Século Ilustrado e Vida Mundial.
Foi este praticamente o viveiro desta gente que agora se esfarrapa por causa da Global Media, porque se habituaram desde sempre a que o Estado os subsidiasse de algum modo, trabalhando provavelmente o mínimo possível, como a tal do Público e ganhando o estipêndio da praxe.
O diploma que criou tais empresas públicas, fugindo ao buraco financeiro deixado atrás, a cargo da banca nacionalizada, e gerida de modo como só o PCP e o PS sabiam, assegurou o seguinte:
Art. 8.º - 1. A fim de dotar as empresas públicas agora criadas com a liquidez necessária à prossecução das suas actividades, o Estado poderá efectuar, em relação a cada uma delas, novas dotações em dinheiro, após estudo a efectuar nos termos do Decreto-Lei 490/76, de 23 de Junho, as quais, de harmonia com o disposto no artigo 17.º do Decreto-Lei 260/76, de 8 de Abril, serão integradas no respectivo capital estatutário.
2. Quer os aumentos de capital previstos no n.º 1, quer eventuais reduções do mesmo capital, serão efectuados por despacho conjunto do Ministro da Tutela e do Ministro das Finanças.
Art. 9.º Os actos de fusão e os consequentes actos de transmissão previstos neste diploma ficam isentos do pagamento de impostos, incluindo o do selo, taxas e emolumentos.
Art. 10.º Os trabalhadores das sociedades fundidas transitam para as empresas resultantes da sua fusão, independentemente de quaisquer formalidades, com todos os seus direitos e obrigações.
Passaram a ser empresas públicas, com carta de alforria para gerir do modo como sabem e sempre souberam: mediocridade, má gestão e enviesamento ideológico à esquerda. Sempre, em todos esses títulos e sem excepção. Tal como agora acontece.
É escusado dizer que O Século foi logo suspenso em 1977, bancarrota oblige. A Século Ilustrado que deu guarida a jornalistas da craveira de Maria Antónia Palla, uma referência no jornalismo universal da esquerda portuguesa, mãe do actual primeiro-manhoso que ainda governa, durou até 1989.
A Capital durou até 1988 na esfera pública e findou-se alguns anos depois na dependência de Pinto Balsemão e uns espanhóis quaisquer que o liquidaram. Em 2005 deu o peido mestre.
A revista Vida Mundial merece um pouco mais de atenção porque é um fenómeno interessante.
Em 1975 a revista adoptou um tom agressivo e acutilante relativamente ao PREC que defendeu com todos os seus redactores que então eram estes:
Eram estes indivíduos que lançavam este isco na capa desse número, com uma ideia genial que nenhum país europeu da época se atreveu a seguir, antes ou depois disso. O resultado da campanha ideológica deu no actual BES e nas bancarrotas sucessivas da responsabilidade exclusiva da esquerda portuguesa, com grande destaque e bandeira para o PS.
Nesse mesmo número o intelectual António José Saraiva advertia para os evidentes perigos de tal aventura, mas adiantou nada de nada, o aviso:
Portanto em Março de 1975 foi o grande happening!
E a defesa patética da aventura que abrangeu uma miríade de empresas, incluindo as de transportes mais significativas e mais de 60% da economia nacional, era assim:
A Vida Mundial aguentou esta linha heróica, marxista-leninista, até 1976. Depois aburguesou-se um pouco com Natália Correia, num período dos mais medíocres da história da revista.
Acabou em 1979 no olvido da mediocridade em que se deixou instalar, tal como hoje os jornais em causa. Ninguém se lembrou de reclamar a nacionalização...porque além de já estar nacionalizada não tinha remédio algum, como aqui se nota oficialmente.
Quanto à imprensa na época, os problemas evidentemente não se resolveram com a nacionalização dos títulos e a carga suplementar sobre a bolsa de todos os portugueses, como agora pretende a referida galinha sem penas do Público.
Em 30 de Maio de 1975 a revista Flama que pertencia a entidade privada organizou uma "mesa redonda" sobre o tema candente, integrando Piteira Santos, um dos refugiados do fassismo em Argel, bem como jornalistas e intelectuais da escrita como Natália Correia.
Há uma solução, a meu ver para o desemprego em massa resultante dos despedimentos desta imprensa falida: integrem os trabalhados na empresa nacionalizada da RTP/RDP. Afinal, nem se notaria nos números e é o povo que desde sempre paga as aventuras dos adelinos farias, émulo digno das galinhas depenadas que andam por aí...
Piteira Santos, no artigo em causa, define assim os jornalistas, com uma noção que ainda hoje é válida em cerda medida e que explica a mediocridade em causa:
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