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segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Venham mais cinco da pop portuguesa

Cinco putos do Porto, no fim dos anos sessenta, fizeram um grupo rock e chamaram-lhe Pop Five Music Incorprated.

Álvaro Azevedo, Tozé Brito, Paulo Godinho , Luís Vareta e Nuno Cameira, a que se seguiram, em substituição, David Ferreira e Miguel Graça Moura, tocavam em bailes, festas e festivais e as músicas eram quase sempre iguais quando não eram alheias.

Sabiam tocar os intrumentos, onde predominava o órgão Hammond de sonoridades envolventes e determinantes, que expelia a maestria contida do músico Graça Moura, ambientado em Conservatório.

Por isso, num mesmo disco, misturavam Ob La di Ob la da com uma arranjada Aria de Bach. Como eram do Porto, cidade ligada a ingleses, então em plena explosão rock, recebiam os discos de lá e plagiavam-nos cá, em versões amanhadas de ouvido, mas atrevidas, de um fulgor de juventude que nem sequer estacava perante um Jimi Hendrix ou evitava a banda sonora de Lalo Schifrin para uma Missão Impossível.

Note-se que o Pop Five, na altura, era um grupo português entre outros. Noutro grupo da época, como o Sindicato, tocavam Rui Cardoso, Jorge Palma, Vítor Mamede, Rão, entre os outros nove músicos que tentavam imitar os Blood Sweat and Tears.

Os anos dos Pop Five terminaram em 1972, quando os putos atingiram a idade de ir à tropa que na altura se fazia no Ultramar.

No ano anterior, juntaram-se aos Sindicato, Psico, Quarteto 1111, Objectivo, Pentágono, Chinchilas, Contacto e Celos, em Vilar de Mouros, para cerca de 20 mil pessoas ouvirem e onde se apresentou aos portugueses Elton John, antes de se tornar o "rocket man".

A apreciação crítica no Mundo da Canção nº 21, pela pena implacável do crítico Jorge Cordeiro, que lá esteve, é expressiva e breve: "música sem grande força e de execução medíocre". A nota positiva de Vilar de Mouros 71, em música rock nacional, foi para os Psico:" "conseguiram a primeira adesão macissa(sic) do público : para tal tiveram que executar um velho rock dos anos 50. O público pôs-se de pé, entrou no balanço e terminou apoteoticamente."
Nesse relato circunstanciado do festival, o crítico abalança-se ao retrato sociológico da juventude do Portugal de então: "Nascia finalmente o Festival? Não. E porquê? Não só pela frieza do nosso público que ainda está imbuido de muitos preconceitos, mas por culpa dos próprios grupos. A música praticada foi toda ela muito igual, muito semelhante mas principalmente porque entre cada actuação queimavam minutos a afinar instrumentos verificar aparelhagem, experimentar microfones, numa minúcia ridícula e cocabichinha, denunciadora de insegurança e até cabotinismo."

Quais são as obras primas dos Pop Five? Duas: Page One de 1970 e Orange de 1971, esta gravada em Inglaterra e que apesar disso decepcionou, por falta de originalidade e nível musical, o crítico do jornal Disco de 1.9.1971, Hélio Sousa Dias que o assimilou abertamente à influência dos Wallace Collection, grupo menor e que chegou a visitar Portugal para tocar "Daydream".

As primeira dessas músicas tem autoria equívoca, atribuída ao grupo, segundo Álvaro Azevedo que assim o escreveu no pequeno livreto de apresentação da colectânea Odisseia, agora lançada e que reune toda a obra gravada do grupo: " o Tozé Brito também colaborou com a sua criação.", nas palavras aí escritas. Contudo, a autoria deverá atribuir-se a Miguel Graça Moura, o qual não só na enjeita essa paternidade como a reivindica.

O tema "Page One", foi adoptado por um radialista da Rádio Renascença para anunciar o seu programa Página Um que preenchia um horário ajantarado, das 19h 30m ás 21h e que constitui, sem qualquer dúvida, um dos melhores programas de rádio de sempre. Pelo formato, pela inovação, pelo gosto musical e pela sobriedade na apresentação. Por aí passaram sucessivamente José Manuel Nunes, Adelino Gomes, Luís Filipe Martins e Artur Albarran.

"Page One" é uma música de marcação funky, onde predomina a secção rítmica baixo-bateria que lhe imprimia uma cadência urgente, na abertura daquele programa de rádio que se prolongou até alguns anos depois do 25 de Abril e que normalmente passava em primeira mão, as novidades discográficas vindas de Londres, por via aérea e contando com a colaboração de portugueses aí emigrados, como era o caso de António Cartaxo, hoje apresentador na Antena 2.
A música mais conhecida dos Pop Five é assim, uma reminiscência de um belíssimo programa de rádio e com uma sonoridade rítmica inicial, tentadoramente copiada e semelhante à sonoridade funky de um Lee Dorsey de Get Out of My Life Woman ou de um Lowell Fulson de Tramp, ambos de 1966 e avoengos do Hip-Hop.



No início de 2003, os Pop Five, minus Graça Moura, ocupado nessa altura noutros assuntos que o afastaram desse convívio revivalista, reuniram no Porto e retocaram algumas cantigas, num espectáculo gravado em DVD e que acompanha a "Odisseia".

Pode ser impressão de copista, mas a versão de To Love Somebody dos Bee Gees, incluida em disco no ano de 1969, tem uma vocalização melhor pelo Tozé Brito actual, no espectáculo de 2003, do que o de antanho. Odisseia, é obra a merecer audição, porque a qualidade técnica da gravação e a recuperação para cd digitalizado a 24 bits também o reclamam. Quanto à música, "memories are made of this". "Who am i to disagree?"


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