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domingo, dezembro 07, 2008

Vão ao Totta!

Segundo a revista Domingo do Correio da Manhã,
" A fortuna de Rendeiro começou nos anos 90 quando vendeu a Gestifundo -um fundo de investimentos para o mercado de capitais, criado em 1986, com Helena Gray de Castro e Raul Marques , que tinha conhecido na sua passagem pela multinacional McKinsey- ao Totta, que era presidido por José Roquette. Tinha investido o equivalente a 25 mil euros e vendeu por 15 milhões, além de que ficou com um bom cargo e bom ordenado no Totta-permaneceu lá cinco anos."
O título da revista é: "O banqueiro destronado pelos mercados".

...beg your pardon?!

Nos anos noventa a privatização do Totta, assumiu contornos rocambolescos, por causa do...Banesto de Mário Conde ( cujo destino é amplamente conhecido , com passagem demorada pelas cadeias espanholas). A questão, originou uma espécie de prè-inquérito parlamentar em que o ministro das Finanças de Cavaco, Jorge Braga de Macedo, tido como um génio precoce, depôs no Parlamento.
Duas passagens desse depoimento:
"A insistência que fiz junto da CMVM deu origem a um relatório que me foi entregue em 23 de Agosto de 1993 e que concluiu que, a eventual ilegalidade das aquisições das participações indirectas, determinando a nulidade dessas aquisições afastaria sempre a obrigatoriedade de uma OPA ."(...)
"Paralelamente, aproveitei uma visita a Madrid, em 25 de Outubro de 1993, para expor ao então meu homólogo espanhol a natureza da solução encontrada e lhe reafirmar a firme determinação do Governo português em fazer cumprir as Leis da República. O Ministro espanhol mostrou-se conhecedor da situação do Banesto e manifestou-me todo o seu apoio para encontrar uma solução que respeitasse os príncipios éticos postos em causa por eventuais simulações.
Em face do desinteresse que julguei existir por parte do Banco de Portugal no prosseguimento de uma actuação autónoma, determinei, em 3 de Dezembro de 1993, o envio do processo BTA/Banesto à Procuradoria-Geral da República, o que veio a ser executado pelo meu sucessor."

Se os jornais em Portugal, fossem outra coisa, talvez a esta hora soubéssemos um pouco mais o que foi a privatização do Totta, os seus actores, os seus desenvolvimentos e as suas consequências, dali a uns anos. E já agora, o que aconteceu ao Inquérito da PGR.

Até porque o Público, dá uma perspectiva diacrónica dos acontecimentos:

Foi ainda em 1989 que se realizou a primeira OPV do Banco Totta e Açores (BTA), o que deu origem a episódios romanescos que envolveram portugueses e espanhóis. Belmiro de Azevedo entrou no banco, mas não ganhou a maioria do capital. Aproveitou logo para dizer que queria comprar para mandar, mas não comprou, e ficou a meio do caminho, encaixando uma interessante mais-valia.

José Roquette permaneceu no Totta, que era presidido por Alípio Dias, mas a conviver mal com o seu parceiro Mário Conde, do Banesto, que entrou com os dois pés na instituição sem avisar.

Em 1991 o Estado avança com a segunda OPV e o negócio descarrila e mete os Governos de Portugal e Espanha ao barulho. Surgiu mais tarde António Champalimaud a garantir que comprava o Totta ao Banesto para ficar. Puro engano - como se constatou, o industrial acabaria por negociar a instituição com o Santander.

Para além do Público, temos ainda o El País, jornal de valores ibéricos e que colocava em notícia, em 1994, o seguinte:

El 25% del Banco Totta y Açores que estaba representado por el abogado portugués Menezes Falçao, contratado por el anterior equipo de Banesto, ya está comprometido con la nueva dirección, lo cual pone en manos de Alfredo Sáenz el 50% del banco portugués. Mientras tanto, los nuevos gestores de la entidad han empezado a desembarcar en las filiales del grupo. Un acta de inspección del Banco de España ya había descubierto en mayo de 1992 que el 25% de los beneficios de Banesto en 1990 y 1991 'procedían de operaciones "dudosas".

E o mesmo El Pais, escrevia ainda que...

El Banco Español de Crédito (Banesto) creó una complicada maraña de sociedades pantalla en las que aparcó las acciones del Banco Totta y Acores (BTA) para ocultar ante las autoridades portuguesas que superaba la participación del 25%, máximo autorizado por la legislación de ese país. (...)
La aparición de un tiburón, inicialmente no identificado, que come todas las acciones del Totta disponibles, agita el mercado financiero portugués. Los bancos no tardan en identificar a Banesto como ordenante final de las compras. La comisión de valores portuguesa, la CMVM, pide explicaciones a Mario Conde, pero éste se muestra evasivo. Finalmente, los responsables portugueses optan por no darse "oficialmente". por enterados.

Los recursos para que estas sociedades puedan adquirir las acciones del Totta proceden de créditos concedidos por Banesto. Aunque formalmente todas tienen nacionalidad y gestores portugueses, la identidad final de los titulares se pierde en muchos casos en paraísos fiscales, como las islas británicas de Jersey

El siguiente callejón de este laberinto es la aportación de, todas las acciones de Valores Ibéricos, donde está presente Roquette, al holding MSF, en el que aparece de nuevo el abogado Menezes Falcáo, como representante de Lusitana de Investimentos. Roquette y sus socios venden sus participaciones con sustanciales plusvalías y el círculo se cierra. Las sociedades de Menezes se agrupan con las de Roquette / Banesto y queda claro que se trata de un único paquete, controlado en última instancia por el banco que entonces presidía Mario Conde. Posteriormente, Roquette dimite de la presidencia del Totta, de Valores Ibéricos y de MSF., En las dos. primeras le sustituye Alipio Dias.

A pesar de ello, se mantienen las formas. Todas las sociedades tenedoras de las acciones del Totta tienen sede y gestores portugueses, aunque operan con fondos de Banesto, cuya participación directa, del 25%, es la única reconocida.

El actual presidente del Totta y de Valores Ibéricos, Alipio Dias, afirma que los accionistas de esta última sociedad, "son portugueses". Se trata del grupo MSF. Y ¿quién es el propietario de MSF?: "Yo no lo sé", responde Dias.

O El Mundo de 1994, também dava uma perspectiva interessante do que se passava com o Banesto, de Mario Conde.

A pergunta que se coloca, em 2008, é apenas esta: valerá a pena recordar todos estes acontecimentos relatados pelos jornais?

Responda quem souber.

Aditamento:

Afinal, a história está toda aqui. Desde 2004 e contada na primeira pessoa, por José Roquette. Pela revista Exame. Assim:

"Regressámos a Portugal em 1981, quando o governo de Mário Soares nos deu a concessão de uma licença bancária", conta.

Oito anos depois, e com uma participação de 13% no grupo Espírito Santo, Roquette acaba por sair. "Sentia que a missão estava cumprida e que a minha experiência estava esgotada. O meu sentido de desinstalação chamava-me para outras coisas e, ao mesmo tempo, já tinha algumas divergências estratégicas com os outros sócios. Eu achava que o grupo tinha de estar presente na privatização do sistema bancário", explica.

A privatização do Banco Totta & Açores, em 1989, foi o mote para a venda da sua participação no grupo, por cerca de 5 milhões de euros. "Não tendo capacidade financeira suficiente, fui buscar gente com quem ainda hoje tenho uma boa relação", afirma. Na altura, criou-se uma holding, a Valores Ibéricos, constituída pela Mague, a Serra & Fortunato, a Moniz da Maia e o já falecido José Domingues, da Barbosa & Almeida. José Roquette passa a liderar o Totta, onde o grupo espanhol Banesto, representado por Mário Conde, era accionista. Roquette fala deste período com agitação: "A relação com Mário Conde começou bem, mas acabou claramente mal." O gestor português descobriu uma misteriosa sociedade, a Títulos Lusitanos, a qual estava a aumentar a sua carteira de acções no Totta. "Percebemos então que Mário Conde queria controlar o banco." Roquette chama a atenção para um facto: "Se as pessoas que levantaram suspeitas relativamente à boa fé e ao empenhamento dos sócios portugueses da Valores Ibéricos pensassem um bocadinho, percebiam que o Mário Conde teve de montar uma estrutura paralela porque sabia que nunca conseguiria entrar na nossa." Nessa altura, os sócios portugueses fizeram uma exposição ao governo de Cavaco Silva dizendo que queriam mudar de sócio. "A dada altura, depois do Verão, surge um projecto liderado pelo JP Morgan, para construir um grande banco ibérico. Pensei que aquilo podia fazer sentido", afirma. As participações accionistas dessa estrutura ibérica previam o Banesto (ainda com Mário Conde), o JP Morgan e os sócios portugueses. "O que nos pareceu estrategicamente válido. Passou-se as ideias para papel, mas Mário Conde não assinava o acordo. Foi então que pensámos que não, aquilo não ia mesmo funcionar, já que não havia uma relação de confiança. Decidimos sair", relembra Roquette, que deixa a presidência do conselho de administração do Totta em Novembro de 1993. O percurso do empresário na banca acaba no Banco Comercial Português (BCP), onde ainda hoje detém ainda uma participação de 0,3 por cento.

Da Plêiade à Sirius

Logo depois da passagem pelo Totta, quando os sócios portugueses saem com a venda da participação da Valores Ibéricos por cerca de 30 a 35 milhões de euros, cria-se outra holding, a Plêiade, com a mesma estrutura accionista. Mas outros negócios. Como a Casa Mantero, em São Tomé, a concessão da antiga Companhia da Zambézia (Moçambique) com uns milhões de hectares de algodão, e cajú e manga na Guiné. A Plêiade tinha participações na Omni, empresa de aviação, e na Inapal, firma de plásticos fornecedora da Autoeuropa. A holding ainda avançou com outros projectos, como a Marina de Lagos, mas, "a dada altura entendemos que seria melhor separar as coisas". José Roquette ficou com a holding e a família Fortunato com a Marina. O empresário não se recorda do valor da aquisição. Diz não ter a certeza dos números, já que o dinheiro e o poder não têm grande significado para si. "Escravizam", remata.

É quando propõe a Manuel Dias Loureiro que tome uma participação de 15% na holding que surge o projecto de Marrocos. Tratou-se de um contrato de concessão de abastecimento e distribuição de água, electricidade e saneamento básico às juntas metropolitanas marroquinas de Rabat, Salé e Skhirat-Temara. Entretanto, e para não contrariar a tendência de desinstalação, José Roquette vende a Plêiade ao Banco Português de Negócios (BPN). O empresário explica que vendeu porque "para se poder vender a participação na holding marroquina era preciso vender a empresa que a detinha, já que não era possível vender directamente, porque as condições da concessão eram essas".

Pronto. Está tudo explicado. Menos o papel da EDP da época. Mas isso não compete a Roquette explicar, pelo que haverá por aí, na net, outras explicações.


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