Sobre os tribunais plenários do tempo do regime de Salazar/ Caetano muita coisa se diz e se escreve, geralmente por indivíduos de esquerda que sempre olharam para esses tribunais como símbolos de ignomínia e negação de justiça, porque julgavam delitos políticos como sejam os de propaganda contra o regime e actividades entendidas então como subversivas pelo próprio regime na legalidade que lhe era própria.
Normalmente as críticas aos julgamentos nos Plenários partem do pressuposto que os réus eram inocentes dos factos que lhes eram atribuidos, porque... eram democratas e lutadores contra o regime. Quase nunca equacionam a legalidade do regime de ditadura que contestam por isso mesmo. O facto se se oporem à ditadura é a prova irrefutável da inocência e a contestação dos motivos da acusação partem do pressuposto que as proibições do antigo regime eram celeradas e por isso a lógica do raciocínio parte desse elemento de facto: a contestação pura e simples do regime é efectuada desde logo pelo princípio da legitimidade. O regime anterior não tinha legitimidade, logo qualquer julgamento deste teor seria arbitrário e iníquo.
Não fogem desta lógica, mas se lhes apontam o paralelismo dos julgamentos nas democracias populares, precisamente pelo mesmo raciocínio, invertem a lógica para afirmar a legitimidade de um regime do povo e para o povo...
Talvez por isso valha a pena mostrar os relatos de jornais de época em que se escrevia sobre tais julgamentos, com os nomes dos réus ( na altura a palavra arguido não era do léxico do penal) postos em público e com o relato do corpo de delito, papel da defesa, testemunhas, advogados e sentença aplicada.
Os relatos que coloco dizem respeito aos anos de 1971, 72 e 73 e foram publicados no Diário Popular, um vespertino que saía em Lisboa.
Um deles, o mais extenso diz respeito aos factos que levaram a Plenário o padre Felicidade Alves, em 1973, devido a publicação e distribuição de propaganda subversiva, censurada.
Basta clicar nas imagens para ler.
Normalmente as críticas aos julgamentos nos Plenários partem do pressuposto que os réus eram inocentes dos factos que lhes eram atribuidos, porque... eram democratas e lutadores contra o regime. Quase nunca equacionam a legalidade do regime de ditadura que contestam por isso mesmo. O facto se se oporem à ditadura é a prova irrefutável da inocência e a contestação dos motivos da acusação partem do pressuposto que as proibições do antigo regime eram celeradas e por isso a lógica do raciocínio parte desse elemento de facto: a contestação pura e simples do regime é efectuada desde logo pelo princípio da legitimidade. O regime anterior não tinha legitimidade, logo qualquer julgamento deste teor seria arbitrário e iníquo.
Não fogem desta lógica, mas se lhes apontam o paralelismo dos julgamentos nas democracias populares, precisamente pelo mesmo raciocínio, invertem a lógica para afirmar a legitimidade de um regime do povo e para o povo...
Talvez por isso valha a pena mostrar os relatos de jornais de época em que se escrevia sobre tais julgamentos, com os nomes dos réus ( na altura a palavra arguido não era do léxico do penal) postos em público e com o relato do corpo de delito, papel da defesa, testemunhas, advogados e sentença aplicada.
Os relatos que coloco dizem respeito aos anos de 1971, 72 e 73 e foram publicados no Diário Popular, um vespertino que saía em Lisboa.
Um deles, o mais extenso diz respeito aos factos que levaram a Plenário o padre Felicidade Alves, em 1973, devido a publicação e distribuição de propaganda subversiva, censurada.
Basta clicar nas imagens para ler.
Caro José: Agradeço a boa vontade demonstrada com o post e que reforça o meu apreço pelo seu blogue.
ResponderEliminarQuanto à questão da legitimidade gostaria de lhe colocar a seguinte questão: Será que os magistrados da Alemanha nazi foram erradamente julgados e condenados em Nuremberga?
Já não posso colocar infelizmente a mesma questão para magistrados soviéticos pois parece que ainda estão em funções infelizmente...
Pois muito obrigado. Destes recortes não apanha em lado algum, a não ser na hemeroteca e mesmo assim com carimbos da instituição.
ResponderEliminarOs nomes dos advogados vieram a ser conhecidos depois. Até um certo Narana Coissoró...
Caro José, este post é de uma valia histórico-documental sem preço ou comparação.
ResponderEliminarMuitas pessoas não acederam nunca a este tipo de documento, nem viveram a época ou conhecem a respectiva imprensa.
O valor histórico dos documentos que generosamente partilhou, além do mais, é por isso muito relevante.
Obrigada pois pela generosidade do seu gesto.
Ainda hoje existem no nosso Código Penal vigente tipos de crime salvaguardando a dignidade de Estado e respectivas instituições.
O problema coloca-se sempre no modo como qualquer tipo de norma é interpretado, aplicado e executado.
Quantas vezes um simples acto que teoricamente pode ser "encaixando" nos pressupostos abstractos de uma norma é tratado de formas tão diversas e tão injustas conforme a pessoa visada e as circunstâncias dela em concreto, por parte de que interpreta, aplica e executa a norma ...
Nada há de tão perfeito na sua concepção nada que não possa ser pervertido na sua aplicação.
Por isso é preciso inscrever a justiça e a bondade no próprio coração dos homens, mais do que nas leis que eles aplicam.
Naturalmente, não concordo com os julgamentos que aqui publicitou nos termos em que eram feitos.
Mas ... essa, é outra questão ...
Estes posts são isso mesmo- umas preciosidades históricas oferecidas pelo José.
ResponderEliminarMas, há aspectos que me espantam. Ele guardou estes recortes ainda em 1971.
Ou seja- havia um garoto que já tinha a noção da importância destes testemunhos.
E isto é que fenómeno.
;O)
Aproveito para rectificar um lapso de escrita do meu anterior comentário, já que quis dizer não como ali disse, mas "encaixado" .
ResponderEliminarSimultaneamente, também, cumprimentar a Zazie, observadora de mão cheia e rara perspicácia...
Tem toda a razão, a verdade é que quando nos interessamos por certos temas e gostamos de conservar "a história", nossa e a dos que nos rodeiam, começamo-lo a fazer na infância.
Eu própria tenho guardados documentais inacreditáveis, como a primeira informação escrita que aos nove anos de idade uma professora mandou de mim ao meu encarregado de educação por me ter levantado da cadeira e me interpor entre ela e uma colega a quem ia dar umas reguadas, alegando que ela não detinha qualquer sentimento de justiça cristã( a prof era freira).
Escuso de contar a reacção lá em casa e a humilhação da limpeza da capela por castigo nas três semanas que lhe seguiram...
Um beijinho amigo
:-)
Zazie:
ResponderEliminarEstes jornais foram recolhidos de uma forma e modo mais prosaico:
O meu avô tinha uma mercearia na aldeia e recebia estes jornais aos montes e empacotados para fazer embrulhos.
O que me interessava na época eram outras coisas que não os julgamentos no Plenário que nem conhecia nem me incomodava a mim ou a alguém que conhecesse.
Por exemplo, os temas culturais que o jornal publicava à terça e quinta-feiras, com artigos escritos de um modo que hoje não leio nos jornais. Por exemplo, por Manuel Poppe.
Também me interessava política internacional como era o caso das guerra no Médio Oriente ( tenho um dossier específico sobre as guerras dessa altura, incluindo as dos seis dias e a de 73) e também a do Vietnam, com a história dos papéis do Pentágono publicados pelo Washington Post e que o DP também publicitou.
O facto de ser o Diário Popular é aleatório porque nos maços de jornais que o meu avô recebia havia um pouco de tudo, como os jornais do Norte ( Jornal de Notícias e Primeiro de janeiro). O Jornal de Notícias trazia um acrescente de interesse: as bandas desenhadas em tiras a preto e branco, dos americanos que ainda hoje procuro, como Alex Raymond e Al Williamson, que desenhava as aventuras de Corrigan e do agente secreto X-9 ( os desenhos são magníficos e ando sempre á procura deles na net. Há pouca coisa).
Portanto, os jornais que recolhia fui guardando sendo certo que em 73 e 74 já comprava um ou outro de vez em quando, incluindo a Capital e o Sempre Fixe.
Nunca os detei fora e guardei-os no sótão da caso dos meus pais, quando me casei. Depois, de vez em quando vou lá ver o que há...
Desta vez descobri que o Diário Popular publicava os relatos dos julgamentos no Plenário e foi assim.
Além disso acabei por trazer outras coisas interessantes, como certas entrevistas antigas com Vítor Constâncio e Helena Roseta e os perfis jornalísticos dos mesmos, nos anos setenta e oitenta.
Pode ser que me dê interesse publicar...
E ando fascinado com a história da viagem á lua em 1969.
ResponderEliminarComo me lembro bem disso, comprei as revistas estrangeiras que nesta efeméride dos 40 anos falam do assunto.
E tenho revistas de época como o Paris Match, com fotos de grande dimensão e cores brilhantes.
Da próxima vez que for aos arquivos do sótão vai ser para procurar os jornais Semanário que o Marcelo Rebelo de Sousa chegou a dirigir nos anos oitenta.
Tenho uma boa colecção com dezenas de números.
E este ainda é o ano que perfazem 40 anos sobre o festival de Woodstock e os assassínios do bando de Charles Manson, um acontecimento que me chocou na época.
ResponderEliminarE este ainda é o ano que perfazem 40 anos sobre o festival de Woodstock e os assassínios do bando de Charles Manson, um acontecimento que me chocou na época. - José
ResponderEliminarPor falar em eventos datados, ando a ler sobre grupos terroristas de extrema-esquerda, em particular, o grupo Baader-Meinhof, responsável por cerca de 30 mortes nos anos 70 e 80. Depois de ter visto o filme intitulado Baader-Meinhof Komplex, que aconselho porque é bastante interessante como documentário de época, pus-me a ler o livro no qual o filme foi baseado. E aqui é que se torna interessante notar que os membros do grupo - que, aliás, teve várias gerações - foram quase todos julgados e condenados. Houve polémica da grossa aquando do julgamento principal, até porque os principais membros do grupo se suicidaram em condições misteriosas e houve acusações de assassinato político de Estado, mas antes disso e depois disso todos os casos foram investigados, havendo, na maioria deles condenações.
Já em Portugal, as 17 vítimas das FP-25 nunca viram justiça. Dos 17 assassinatos só em 1 houve condenações e, ainda assim, depois aconteceram as famosas amnistias do presidente Soares.
Há também um livro sobre o assunto escrito pelo inspector que investigou o grupo terrorista e que hei-de ler e que supostamente estabelece uma relação entre o caso Casa Pia e a dita amnistia.
Mas curiosamente na Internet sobre as FP-25, nada. Não há absolutamente informação nenhuma. Ao contrário da gigantesca fonte de informação que existe sobre os Baader-Meinhof. É o país que temos.
Beijinho Maria.
ResponderEliminar---------------
eheheh José. Eu também achei que era uma visão de tal precocidade que me atarantou.
De qualquer forma, mesmo pelo resto mostra que aprendeu a "ler o mundo" muito cedo.
Ao contrário do que a Maria julga, a mim passava-me ao lado, grande parte e até mais tarde.
E nunca guardei nada. Quem tinha assim uns arquivos espantosos era o meu irmão mas, vá-se lá saber o motivo, perdeu ou deitou fora tudo.
As FP 25 imbricam com tudo o que é politicamente correcto na esquerda que temos.
ResponderEliminarO PS teve elementos dessa extrema esquerda ( Palma Inácio, por exemplo) e os cantores de protesto, desde Sérgio Godinho a Fausto, passando por José Mário Branco e José Afonso, eram todos dessa extrema-esquerda.
ALiás, José Mário Branco ainda é.
No outro dia vi a antiga extremista do PRP Isabel do Carmo na tv, como médica do Sº Maria e chefe de serviço que é o topo da carreira dos médicos públicos.
O fenómeno das FP25 e os processos que originaram foram uma das causas do Código de Processo Penal de 1987, por causa de uma coisa simples: a junção ou apensação de processos e a competência territorial.
O antigo código, de 1929 não deixava apensar com facilidade e por isso os processos andavam espalhados de Barcelos a Setúbal, passando por Aveiro e relativos aos mesmos factos.
A amnistia parcial tornou-se completa com a omissão do MP ( Maria José Morgado) em recorrer para fixar jurisprudência acerca das prescrições de alguns factos, salvo o erro.
É de facto curioso como não se escreve sobre as FP 25. Tal como é muitissimo curioso que não se escreva sobre a Casa Pia e os envolvidos.
Dá a impressão que há um pacto de silêncio, tácito sobre isso.
Não dá a impressão: existe mesmo. Ninguém pega no assunto porque é demasiado escabroso e a sociedade prefere esconder essas coisas.
É pena que os envolvidos continuem a andar por aí...desavergonhados que são.
No Ballet Rose calaram-se e recolheram-se a penates.
Agora, são eleitoos para os mais altos cargos.
Isto é a maior vergonha que um país pode suportar.
Esses tipos não têm o direito de andar por aí, assim, como quem não quer a coisa e só andam porque o partido socialista os apoia e suporta.
Aliás, se não suportasse, desfazia-se como partido.
Phónix! danado do musaranho que me tinha sacado o teclado.
ResponderEliminarEra eu, beijinhos
Acerca das FP 25 Abril é que hei-de morrer com uma grande dúvida.
ResponderEliminarPara certo descanso contei-a há muito tempo a quem poderia percebê-la.
Mas é uma dúvida macaca acerca de quem liderava aquilo.
Por acaso nunca li esse livro, JB. Mas ainda hei-de procurar uns indícios onde vinha lista de gente com ligações a empresas em África.
musaranho:
ResponderEliminarO meu mundo começou com 12-13 anos. Não sei porquê, comecei a ler a Bíblia em livros condensados. Tenho pena de não ter guardado o primeiro deles todos que era uma maravilha.
Pode ser que o Barbosa se lembre, porque leu na mesma altura que eu ( éramos da mesma turma).
Depois, logo em 1969, começou com o interesse pela Segunda Guerra Mundial. Tudo me interessava. Até a história do Martin Bormann na América do Sul.
Foi aí que comecei a comprar revistas. Brasileiras, como a Realidade e as Selecções que me davam a visão americana das coisas do mundo, mas ainda assim temperada por outras.
Nessa altura, em Junho de 1969, ainda tinha 12 anos mas foi exactamente nessa altura que se me pegou o vício da leitura desses assuntos.
Com as Brigadas Vermelhas também houve assim uma dupla à Dr Jeckyll e Mr Hyde a liderar.
ResponderEliminarÉ isso, 12 anos é mesmo muito cedo, incluindo para época.
ResponderEliminarHoje em dia seria impensável. Mas, mesmo na altura é grande precocidade.
Eu acho isso admirável.
O fenómeno das FP25 atravessa toda a nossa intelligentsia de esquerda, com destaque especial para os artistas da música.
ResponderEliminarNão era preciso um líder, porque todos lideravam e sabiam apoiar os operacionais que ajudavam a desbravar caminho à semelhança do que se fazia lá fora.
Os operacionais eram operários politizados e de casta.
Eram uns desgraçados que depois disto tudo abandonaram os ideiais terroristas. Os intelectuais, esses, não abandonaram.
José Mário Branco continua o mesmíssimo.
Tal como Louçã.
Mas escondem-se no armário das conveniências e enganam muita gente.
É verdade, isso. Mas não se fala. É assunto que ficou mais esquecido que estas coisas dos "tribunais plenários".
ResponderEliminarNo entanto não sei se toda a gente que fazia parte da cúpula foi mesmo acusada.
Que se tenham escapado os acusados, sabemos.
Mas que tenha passado impune bicharada mais alta é que não sei, ainda que me lembre de ler, numa lista de ligações, outros nomes, com qualquer empresa em África.
Pois... mas há coisas que não costumam ser habituais nem assobiadas antes da polícia os caçar ou precisamente quando a ordem de caçada foi dada e uns dias depois vem o resultado no jornal.
ResponderEliminarE até sei que quem fez parte da judiciária era pessoa limpa e não foi por aí.
Mas esses "intelectuais" não servem para liderar coisas mais complicadas que precisam de conhecimentos de outra ordem.
ResponderEliminarPor isso é que também não eram esses "artistas" quem, na volta, estava à frente das Brigadas Vermelhas.
Sabe porque começou aos 12-13 anos?
ResponderEliminarPor causa do ensino. Nessa altura já tinha dois anos de latim e francês e um estudo com um ritmo impressionante para os dias de hoje.
Conhecia revistas como a Brotéria e passava os olhos pelas enciclopédias da Verbo que me fascinavam.
Nenhuma criança com 12 anos, hoje, estuda o que dantes se estudava, com os ritmos e intensidade.
E brincávamos como hoje se brinca, ou ainda mais: futebol, veto, jogos sociais, etc.
Uma das razões pelas quais defendo a intensidade do ensino logo no básico é essa: as crianças têm capacidade de aprender mais e melhor nessa altura e deve ser aproveitada também nessa altura.
ResponderEliminarCom disciplina e rigor. Que não há hoje em dia e isso é o pior que pode acontecer.
Latim aos 12 anos só podia ser num seminário.
ResponderEliminarA vocação era também precoce?
ResponderEliminarqua tale.
ResponderEliminarqua tale ibidem
ResponderEliminarTem toda a razão. É um tremendo desperdício desaproveitar-se essa capacidade de aprendizagem que se tem em muito novo.
ResponderEliminarAgora latim aos 12 é quem nem pensar. Só tive 2 anos de latim e grego mas foi no final do liceu.
A facto ad jus non datur consequentia.
ResponderEliminarAs enciclopédias da Verbo eram muito boas.
ResponderEliminarLembro-me que foi por aí que estudei a física do átomo e outras coisas que nem se davam na escola.
E a vocação até parecia ser essa- toda Física e Matemática. Mas, na volta, há maluqueiras que falam mais alto.
A vocação era uma coisa sentida desde novo, com oito, nove anos.
ResponderEliminarHavia uns amigos de infância, com três ou quatro anos mais e que lá andavam e eram tipos excepcionais em conhecimentos de música, teatro, saber concreto de coisas abstractas.
Ficava fascinado com aquilo.
A minha mãe era e é religiosa e isso influencia uma criança. O meu pai lá andaou também e tentava demover-me por tudo para não ir lá parar, mas respeitou sempre as minhas opções. Só me avisava: olha que aquilo é assim e assado. Tens a certeza que queres ir?
Tenho, dizia, ma minha constância em frequentar um lugar que não conhecia mas que produzia conhecimento, saber e arte que via naqueles meus vizinhos e amigos.
Lá fui. Logo nos exames de admissão, em Julho de 67, durante uma semana, a dúvida instalou-se: se calhar não vou gostar disto...pensei. Mas não desisti do propósito e em Outubro lá estava de bagagens ( duas malas, uma grande e outra pequena).
Como ia muito bem preparado da primária fui sempre bom aluno nesses anos ( o melhor era o Barbosa...).
Mas sempre afirmei a vocação e passei por uma breve experiência mística aos 12 anos, por causa do Pe jesuita Fernando Leite, animador da revista Cruzada. Um anticomunista como nunca mais vi e que fazia homilias em modo inflamado. Talvez venha daí a minha consciência política contra o comunismo porque tal nunca me passou e simentei razões posteriormente. Mas a base vem daí, não tenho dúvida alguma.
Portanto, a vocação durou aí três anos até aos 13. A partir daí, comecei a olhar e ouvir outras coisas e lembro-me de reparar numas freiras novinhas que estavam no coro da igreja onde ouvíamos missa com coro de algumas centenas de rapazes.
Percebi que não tinha feitio para o celibato...mas conseguiria renunciar, se quisesse mesmo.
Foi essa a luta interior: devo ou não devo abandonar?
Durante meses hesitei, mas houve uma coisa que me determinou: a disciplina do seminário era irrazoável e havia padres que abusavam, cortando a liberdade de modo inadmissível para mim.
Essa revolta interior facilitou a decisão. Em 1971 deixei o lugar, mas não fiquei a abominar o sítio. Ainda hoje gosto de falar com pessoas que por lá passaram e tiveram as mesmas experiências.
Foi um período de vida muito marcante e de algum modo agradável.
Este é o único link que encontrei sobre as FP 25, pesquisando no google português. Trata-se de uma entrevista com José Barra da Costa, um dos investigadores da rede terrorista e autor do livro ‘O Terrorismo e as FP 25 anos depois’, que tenciono ler. Podem ver a entrevista aqui:
ResponderEliminarhttp://admiravelmundonovo-1984.blogspot.com/2006/10/o-terrorismo-e-as-fp-25-anos-depois.html
Quanto ao resto: não tenho a mínima dúvida de que este, como outros casos bem conhecidos, foram abafados, porque não eram politicamente convenientes. Mas não é só a acção da polícia e do ministério público que estão em causa. Para além do encobrimento político por parte do PS, há todo um silêncio, digamos, cultural, que, esse sim, choca. Não há historiadores, sociólogos, juristas que escrevam sobre a coisa? Não há jornais que façam reportagens sobre o assunto ou que o tenham feito no passado e cujos trabalhos sejam transpostos para a net? É isso que é mais penoso e não tanto as tentativas de encobrimento que seriam naturais em qualquer país (não que fossem bem sucedidas, como o exemplo alemão bem demonstra). É nisto que outros povos são radicalmente diferentes.
E fiquei com uma óptima impressão do sistema de ensino. Para mim, exemplar.
ResponderEliminarSeria impensável fazer na escola de hoje, uma coisa assim:
Levantar pelas 7 da matina. Missa, rezar, tomar pequeno almoço e aulas até ao meio dia e meia.
De tarde recreio até às 2 e meia e a seguir, todos os dias da semana, estudo intenso até às cinco. Lanche, pequeno intervalo de recreio e estudo até às 7 e meia para aí. Jantar, recreio e oração da noite. Dormir e no dia seguinte tudo de novo outra vez.
Portanto em estudo diário, daria para aí umas 4 horas certas. Todos os dias.
Qual é a criança prè-adolescente que faz isto hoje em dia?
JB: há entrevistas e pequenos artigos de jornais e os factos conhecidos.
ResponderEliminarGuardei e recolhi agora uma entrevista com o Otelo publicada em 27.5.1989 pelo Expresso em que ele fala dessas coisas.
É por aí que será preciso ir para estudar o fenómeno.
Mas os intelectuais portugueses não estão para aí virados.
Por uma razão: sabem muito bem o que sucedeu porque foram coniventes.
E é por isso que não escrevem sobre o assunto. Incomoda-os confrontarem-se com os crimes e as mortes a que deram assentimento tácito.
Pois essa formação deve ter sido excepcional, José.
ResponderEliminarE prova que há factores aleatórios que não se explicam por A+B.
Lembra-se do Fernando Venâncio contar que teve a mesma formação e como acabou ateu à conta dela?
É estranho. São mundos que desconheço.
Mas não me importava de ter beneficiado deles a nível de teórico.
Obrigada JB.
ResponderEliminarVem por lá dois detalhes que eu sabia, como a tal ligação a Moçambique e mais um que fica entre cá e lá.
Ingenuamente quando contei a coincidência que tinha tido- sem nada ter a ver com política e muito menos com terrorismo- pura coincidência privada- estava à espera que essas pessoas me chamassem malquinha.
Mas não. Para meu espanto até acharam possível.
O que significa o que o José acaba de dizer- havia demasiado conluio ideológico à volta disto tudo.
Mas, como é óbvio, aqueles financiamentos e ligações e tratos mais técnicos não podiam ser feitos por cançonetistas.
ResponderEliminarO que significa o que o José acaba de dizer- havia demasiado conluio ideológico à volta disto tudo. - Zazie
ResponderEliminarSim, mas fora do conluio é que não se percebe que não houvesse uma espécie de Manuela Moura Guedes, isto é, alguém que tomasse as dores das vítimas e que falasse por elas. Encobrimento há sempre, mas esse é apenas um dos termos da equação: tem de haver alguém a puxar do outro lado, como, houve, aliás, ainda que mitigadamente e sem grandes desenvolvimentos, no caso Camarate.
O curioso da entrevista que linquei é o inspector dizer que as FP 25 foram financiadas e armadas pela CIA, interessada em desmantelar o regime (?!).
E também a questão da Casa Pia e a sua eventual relevância para a amnistia (bastante verosímil).
Mas geralmente acontece em Portugal as questões são abordadas por meias palavras e insinuações, pelo que o interesse da entrevista é muito reduzido para quem queira perceber o assunto. O livro não deve ser muito diferente.
Guardei e recolhi agora uma entrevista com o Otelo publicada em 27.5.1989 pelo Expresso em que ele fala dessas coisas - José
Gostava de ver isso.
Boa noite.:)
A entrevista de Otelo?
ResponderEliminarNão custa muito: só alguns scannings. Fica para depois que agora tenho outras coisas.
Mas vai.
Otelo na referida entrevista, a dado ponto a à pergunta "Porque é que como dirigente da FUP nunca condenou as acções das FP-25?", respondeu assim:
ResponderEliminar" Quando as FP-25 apareceram, em 1980, antes duma reunião da direcção da FUP ( consituida por vários grupos-MES,PRP,OUT,UDP,PCP(R), etc.) entraram diversos elementos com um papel na mão exigindo uma tomada de posição muito firme relativamente ás duas acções que essa nova organização tinha realizado. A moção acabou por sair e era extremamente violenta contra as FP-25."
Portugal, em 1980 e nos anos a seguir ( praticamente só dez anos depois, com a revisão constitucional passou a uma democracia de tipo ocidental em que não se afirmava preto no branco o desiderato do caminho para uma sociedade sem classes ( era essa a expressão exacta na Constituição do Vital Moreira, em 1976), ainda estava debaixo da alçada completa da Esquerda em gera.
Até o MES de Sampaio, Caldas e Associados estava nessa Esquerda militante...
UDP, PRP e outros que depois acabaram nesta mescla que é o Bloco de Esquerda é quem mandava no politicamente correcto. O PCP detinha o poder em numerosas instituições, com destaque para as judiciais e sindicatos.
Não é de admirar que não haja quem escreva sobre as FP-25. Todos os que o poderiam fazer sabem de ginjeira a história e tem vergonha dela, alguns.
Preferem que não se saibai bem ao certo como foi e que o mito perdure.
O Bloco de Esquerda então, nem pesar nisso: seria o hara-kiri.
Enquanto essa história não foi contada como deve ser, o seguro do BE continua e esperam alcançar uns votos para a percentagem ideal que é a de recuperarem os 15% que essa esquerda já teve em expressão eleitoral.
É uma táctica inteligente e só passível de ser desmontada pela denúncia destas coisas.
Lembro-me de em 87 ou 88 ter ido ao Teatro da Cornucópia ver já não sei que peça. O Luís Miguel Cintra convidou a filha do Otelo para, antes da peça propriamente dita, falar da repressão (!) de que o seu pai era vítima. Toda a sala menos eu e a minha futura mulher aplaudiu (e muitos fizeram-no algo constrangidos, via-se bem na sua expressão). Isto diz muito das conivências da intelectualidade tuga com a extrema-esquerda e a hipocrisia perante os seus crimes de sangue.
ResponderEliminarMuito se pode contar sobre os tempos do PREC, as prisões, as agressões as perseguições etc. No entanto essa gentalha continua muito bem sentada nas cadeiras do poder e pouco ou nada se faz para daí os tirar.
ResponderEliminarTemos de perder o medo e vergonha, nos blogues, na rua, nos jornais, começar a denunciar esses tratantes e os tratantes que outrora perseguidos por eles hoje lhes dão cobertura.
O problema é que já tinha passado mais de uma década do PREC.
ResponderEliminarO nosso PREC do pacto do silêncio dura há 35 anos.
Pela minha parte tanto denuncio estes como outra espécie sem coluna que anda por aí a cometer outros crimes de morte lenta, em nome de ideologia ímpia e darwinista.
ResponderEliminarIsto precisa de ser denunciado por outro motivo.
ResponderEliminarPara destapar a gigantesca trafulhice com que se vendem votos embrulhados em laçarotes de palavras de conquistas e liberdade e democracia, quando na volta o que está lá dentro é mentira e anda ao mesmo que os inimigos ideológicos.
O BE é uma mentira que precisava de ser desmontada.
Do mesmo modo que, pela minha parte, ando cada vez menos interessada nos engrominanços dos ciganos neo-liberais.
E, a verdade, é que a ciganice de todas as bandas se encontra sempre no mesmo- na poltranice, na intrujice e na falta de vergonha na cara.
ResponderEliminarPorque não existe nem ninguém lhes pede honra e honestidade no serviço público.
E muito menos exige.
ResponderEliminarE é por isso que este Sócrates precisa de ser corrido
Porque só tem contribuído para deseducar a população- para ter um povo de aldrabões à boleia do exemplo de cima.
Os partidos do sistema são todos iguais.
ResponderEliminarDa esquerda à direita nada se aproveita.
Não custa muito: só alguns scannings. Fica para depois que agora tenho outras coisas.
ResponderEliminarMas vai. - José
Caro José,
Obrigado.