Francisco Louçã entrevistado por Nuno Rogeiro e revisitado pela Sábado de hoje, numa repescagem de entrevista de há mais de 4 anos ( 28.1.2005), conduzida nessa altura por Miguel Esteves Cardoso.
Que diz Louçã, hoje? Coisas extraordinárias.
Sobre o que interessa e é apenas a identidade do Bloco de Esquerda, diz algo diverso do que dizia,, ainda há quatro anos atrás. Agora é mais suave, mais aggiornato aos tempos que correm de feição eleitoralmente propícia a apanhar incautos.
Nuno Rogeiro cai no mesmo erro epistemológico que MEC, ao perguntar a Louçã pela "bases da identidade" do BE. A resposta é a politicamente correcta, porque induzida por uma pergunta incorrecta, mas substancialmente perversa até dizer não.
Diz assim Louçâ, sobre a essência ideológica do BE, depois da pergunta "Em que é que o BE acredita?":
"Numa esquerda socialista. (...) Para nós o socialismo é a rejeição de um modelo assente na desigualdade social e na exploração, e é ao mesmo tempo uma rejeição do que foi o modelo da União Soviética ou é o modelo da China. Não podemos aceitar que um projecto socialista seja menos democrático que a "democracia burguesa" ou rejeite o sistema pluripartidário. Não pode haver socialismo com um partido político único, não pode haver socialismo com uma polícia política, não pode haver socialismo com censura. O que se passa na China, desse ponto de vista, é assustador para a esquerda. (...) Agora, a "esquerda socialista" refere-se mais à história da confrontação, ou de alternativa ao capitalismo existente. Por isso o socialismo é, para nós, uma contra-afirmação de um projecto distinto. Mas, nesse sentido, só pode ser uma estrutura democrática."
O que dizia Louçã em 2005 a este propósito? Isto:
"O BE é um movimento socialista ( diferenciado da noção social-democrata, entenda-se-nota minha) e desse ponto de vista pretende uma revolução profunda na sociedade portuguesa. O socialismo é uma crítica profunda que pretende substituir o capitalismo por uma forma de democracia social. A diferença é que o socialismo foi visto, por causa da experiência soviética, como a estatização de todas as relações sociais. E isso é inaceitável. Uma é que os meios de produção fundamentais e de regulação da vida económica sejam democratizados ( atenção que o termo não tem equivalente semântico no ocidente e significa colectivização-nota minha) em igualdade de oportunidade pelas pessoas. Outra é que a arte, a cultura e as escolhas de vida possam ser impostas por um Estado ( é esta a denúncia mais grave contra as posições ideológicas do PCP). (...) É preciso partir muita pedra e em Portugal é difícil. Custa mas temos de o fazer com convicção."
Quem comparar os discursos percebe imediatamente a aldrabice inerente: a um discurso radical de alteração das estruturas sociais vigentes e a substituição de um modelo de produção que implica uma autêntica revolução e um PREC, Louçã apresenta hoje um discurso edulcorado e mistificador cuja essência se entende melhor quando Rogeiro lhe pergunta o que é o "modelo económico" do BE. Repare-se na (não) resposta:
"Queremos fazer grandes correcções ( já não quer a tal revolução profunda?), que contribuam para a justiça na economia ( afinal já desistiu de substituir o capitalismo por "uma forma de democracia social"?). E é tudo o que diz sobre o tal modelo alternativo. Sem que Rogeiro adiante nada mais...
Ora isto é um grande embuste de Francisco Louçã. Tal como Jerónimo de Sousa, o verdadeiro esquerdista português, dizia em Janeiro de 2008: o Bloco de Esquerda "é um partido social-democratizante disfarçado por um radicalismo verbal esquerdizante, caindo muitas vezes no anti-comunismo".
O discurso de Louçã, hoje em dia, leva à letra uma táctica trotskista conhecida de gingeira: a integração de outras realidades práticas e contextuais, no interior de uma força política atenta ao fenómeno e com habilidade política suficiente para passar por muito natural e integrado, o que representa uma revolução social com custos incalculáveis. Nada de grandes proclamações revolucionárias. Isso fica para depois, quando os tansos votarem e se aperceberem, tarde demais, do logro em que caíram. E não haja dúvidas que é nisso que Louçã aposta forte: "Não teremos [votos para ganhar]nestas eleições, mas chegará o dia em que havemos de os obter". É assim, a falta completa de vergonha no embuste. E não se vê muita gente a denunciar este aldrabão político. Apenas Vasco Pulido Valente e mais um ou outro.
Mas...atenção! Este gajo é perigoso. Muito perigoso, para a democracia. Porque utiliza o discurso aparentemente democrático para convencer papalvos. E papalvos não faltam.
Mas...atenção! Este gajo é perigoso. Muito perigoso, para a democracia. Porque utiliza o discurso aparentemente democrático para convencer papalvos. E papalvos não faltam.
O discurso de Louçã, hoje, não se distingue uma vírgula que seja do discurso social-democrata deste PS adepto, também ele, de um "socialismo democrático".
Então o que distingue essencialmente o discurso político BE ,do do PS? Para mim, uma simples realidade: o grau de aldrabice política, no BE, é muito superior ao do PS. Com a subtileza de que o discurso do BE é completamente falso. O do PS apenas mistificador de uma realidade que nunca praticaram: o socialismo.
Agora, uma foto da revista Flama, de 7.6.1974, sobre o "ensino popular". Um tal Francisco ( na foto, sentado de frente, clicar para ver melhor), dizia já, aos 17 anos que "havia poucos professores progressistas", no ensino médio. Ora bem, passados mais de trinta anos, o número aumentou, dr. Francisco, entretanto formado em "Económicas"?
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Agora, uma foto da revista Flama, de 7.6.1974, sobre o "ensino popular". Um tal Francisco ( na foto, sentado de frente, clicar para ver melhor), dizia já, aos 17 anos que "havia poucos professores progressistas", no ensino médio. Ora bem, passados mais de trinta anos, o número aumentou, dr. Francisco, entretanto formado em "Económicas"?
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Excelente José. É isso mesmo e vai passando até com a tontice dos entrevistadores.
ResponderEliminarVocê afirma que Mário S. lhe provoca um profundo nojo. E este Louçã não é do mesmo calibre? Os dois oportunistas sem escrúpulos para quem a verdade e a honra não tem qualquer significado, com uma absoluta fome de protagonismo, ambos um vómito.
ResponderEliminarLamento pelos cordeirinhos enganados que lhes dão o voto, mas não merecem mais que o nosso desprezo.
Você afirma que Mário S. lhe provoca um profundo nojo. E este Louçã não é do mesmo calibre? Os dois oportunistas sem escrúpulos para quem a verdade e a honra não tem qualquer significado, com uma absoluta fome de protagonismo, ambos um vómito.
ResponderEliminarLamento pelos cordeirinhos enganados que lhes dão o voto, mas não merecem mais que o nosso desprezo.
O nojo que sinto não é do tal Mário S.- é ainda mais profundo do que isso: é um nojo da sua mistificação política, de sempre.
ResponderEliminarDe Louçã não sinto a mesma nojeira porque não manda ainda directamente. Manda apenas indirectamente e por vezes tem razão.
Mas isso não invalida que pretenda apenas uma coisa: o poder. E assim que o tiver vai mostrar o que é o tal "socialismo de esquerda", se lho permitirem. Como não irão, vai ficar zangado e baralhado.
Mas, se alguma vez tiver o poder é porque algo mais de errado existe em Portugal que apenas papalvos a acreditarem em propaganda ou mitos.
ResponderEliminarQual é o país da Europa que poderia ter no poder um barnabeico com a história deste?
ResponderEliminarSe chegássemos a esse ponto era porque já se vivia num país a mentir e meio comunista.
Mas, a falar a sério, não consigo compreender quem vota nisto.
ResponderEliminarE conheço várias pessoas que o fazem e que parecem normais e sem nada a ver com a utopia desta treta.
Não os entendo. E muitos até têm idade para ter juízo e não não têm vidas folclóricas.
Será pelas verdades que ele até diz de vez em quando?
ResponderEliminarÉ um facto que todas as sociedades precisam de contra-ponto ao que se torna oficioso. E, por cá, falta esse arejamento sem ter de ser empenhado em banha-da-cobra esquerdalha.
É fácil dizer certas verdades que são aceitáveis no contexto de corrupção existente e que ocorrem no seio do poder político.
ResponderEliminarO BE pode e deve denunciar escândalos como o do BPN e do BPP porque isso concorre para um melhor conhecimento da realidade.
Mas fá-lo apenas por uma questão que não contende com a identidade do BE.
E por causa disso, alguns aceitam a imposturice do resto.
Pois é. Mas o problema é que os outros não o fazem.
ResponderEliminarO problema é não existirem "os outros".
ResponderEliminarMas eu não posso falar. Se há treta em que me enganei redondamente foi no peso do BE.
ResponderEliminarAinda me lembro de disparatar com o Manel da GL por achar que era paranóia dele.
Aliás, mesmo numa retrospectiva, era improvável que o Louçã viesse a ter papel na política ao ponto de chegar à partilha de poder.
ResponderEliminarEle era uma espécie de alucinado teórico a que ninguém ligava- nem os próprios. E depois fica à frente da esquerdalhada que já engole a tarimba do PCP.
Eles tiveram olhinhos com coisas que apareceram e a quem mais ninguém deitou a mão -as ONFGs, por exemplo.
ONGs. E tudo isso tem rede internacional e consegue o fenómeno de moda, que está longe das velhas preocupações políticas.
ResponderEliminarSão essas aldrabices soft de catálogo que condizem com sociedades assim, também plastificadas e onde a classe média vive encostada ao Estado.
Em França há um fenómeno semelhante e com personagem improvável: Daniel Cohn Bendit. Limpou as europeias a tipos muito melhor apetrechados intelectualmente, como o antigo director da Marianne Jean-François Khan.
ResponderEliminarPor cá, o BE so pode se desmascarado com perguntas concretas que os entalem a uma política que dizem execrar mas que no discurso prátido defendem e que é a social-democracia.
Se o BE passa a ser reconhecido como mais um partido social-democrata surge a inevitável cisão e a derrocada.
E deveria ser denunciado como tal pelo discurso que não pela base programática e de princípios.
Assim, o BE é um mistério e um paradoxo democrático.
Como ganhou o gosto pelo poder, aposta forte agora, no embuste.
Mas nunca fiar...
A questão é saber até que ponto o BE vai continuar a enganar ou os eleitores potenciais ou os militantes típicos.
ResponderEliminarPorque uma parte desses apoiantes, anda a enganar de certeza.
É um facto .A vida dá voltas estranhas e não existe memória colectiva. A voracidade da moda é tramada.
ResponderEliminarEnganar, engana e enganará tanto mais, quanto também parece afastado da História qualquer coisa que se tornou passado.
ResponderEliminarNo resto são demasiado presente, com megafones poderosíssimos e partilha de catálogo que até a novela é capaz de vender.
As pessoas têm a cabeça feita com essas tretas que começaram por ONGs e já vão em imposições da UE.
E depois, continua viva e a reproduzir-se a diabolização da "direita" e coisas assim.
ResponderEliminarO que era suposto ter-se normalizado, continua fora da dita democracia e o que nem é, como o José bem referiu, a propósito da colectivização, muda de nome e passa a ser exemplo de característica democrática.
Este discurso político é o verdadeiro pós-moderno.
ResponderEliminarO Jerónimo topa-o bem porque é um ortodoxo sem emenda e para ele - e bem, no meu entender- esquerda é colectivização e partido dos trabalhadores e censura e comité central e luta pelos amanhãs a cantar que ainda não chegaram mas hão-de vir. Para tal só um caminho encontram: apear o capitalismo tal como existe, através da desapropriação do privado e a distribuição centralizada da riqueza produzida pelo público todo unido num partido.
Essa esquerda que está falida em todo o lado, alimenta todo o ideário do PCP e também o do BE. Mas este não pode nem pretende mostrar essa bandeira porque seria imediatamente assimilado ao PCP e o trotskismo não é bem o leninismo.
Portanto, a contradição do BE advém de pretender eliminar o capitalismo e por força, todas as estruturas que o apoiam ( isso é essencial na teoria marxista-leninista-tortskista) e ao mesmo tempo proclamar agora a sua fé inabalável na democracia burguesa.
Isso é uma contradição insustentável.
Ao menos o PCP não embarca nesse género de embustes.
Um velho trotskista ficaria sempre à porta, mesmo se hábil e oportuno. Um velho trotskista acolitado por dezenas de ex-católicos da Juc e do Mce, entre comunas paleolíticos e socialistas lobotomizados, estava condenado ao sucesso, sobretudo quando pode dispor de centenas de analfabrutos nas televisões e jornais. A tal 'identidade' do BE não vem do PSR, nem da UDP, mas do radicalismo dito católico. Não é por acaso que Louçã, ele mesmo, apesar de isso lhe custar, evoca a propósito e despropósito, e de forma muito ambígua, a sua prisão na Capela do Rato. O protótipo bloquista é o Zé Pureza e nunca o Teixeira Lopes ou o Fazenda. Aqueles que andaram anos a comer nas manjedoiras eclesiásticas são os que fizerem a multiplicação dos peixes bloquistas.
ResponderEliminarO Zé Pureza foi meu colega de Direito em Coimbra. Escusado será dizer que não fiz amizade porque o tipo tinha a mania. Mania de quê?
ResponderEliminarA que se vê.
José, o BE é uma mescla meia mal amanhada e a minha grande esperança é que mais cedo ou mais tarde aquilo colapse em contradições. Em cada congresso ou lá que é que chamam, há mais uma cisãozinha... E depois há os petulantes da onda Joana Dias que não sei bem onde encaixam...
ResponderEliminarEu creio que no poder o BE não sobrevivia. Mas, nunca fiando. Se tal acontecesse o melhor era estar preparado para uma resistência um nadinha musculada... -- JRF
O BE tem um núcleo duro em Coimbra no feudo do Boaventura. O Zé Pureza é de lá. A Amaral Dias, filha do CAD ( muito gozado foi na blogosfera há uns anos...) também.
ResponderEliminarO feudo de Lisboa será diferente. Tenho uma foto do Louçã aí com 17 anos e vou procurar e publicar. Acho que é o Louçã...
Zazie, as ONGs podem ser traduzidas por todo o tipo de causas, algumas das quais muito importantes para muitas pessoas. O BE, aproveita o que lhe deixam. Os outros partidos, tirando a causa do coçar para dentro, demitiram-se de tudo.
ResponderEliminarE chegados a este ponto, blasfemos, insurgentes, etc, como não pensam lá muito, reagem a tudo por pancada ideológica. Nunca repararam que a "área" deles é que se demitiu... As únicas causas são o "mundo moderno", a "globalização" e... "coçar para dentro". O resto deve ser de esquerda. -- JRF
É, mas os blasfemos não existem, a não ser na fantasia virtual, conhecida por meia dúzia de pessoas.
ResponderEliminarEles agarram as causas fracturantes e as ONGs estavam feitas para isso.
Do que não me lembrava nada era do passado Capela do Rato do Louçã.
E será mesmo isso- o apoio dos católicos progressistas?
Nunca me passou pela cabeça.
Mas é verdade que a liderança dele não acontece por ser ml, como os outros- essas coisas todas, tipo UDP, fundiram-se naquilo.
conhecida por meia dúzia de pessoas
ResponderEliminarIsso é verdade.
Não sei o que são os católicos progressistas... Será algo tipo os judeus reconstrutivistas? Também não sabia que exiastiam. Tive um casal a jantar em minha casa (americanos claro)... Foram casados por uma rabi lésbica. Gostava de ter visto a minha cara... -- JRF
Uma rabi lésbica
ResponderEliminarahahahahahaha
Eu pagava para ver isso
E como é que se notava que era lésbica?
":O)))))
Encontrei a foto do Louçã com 17 anos, enquanto estudante de "Económicas". Segue já.
ResponderEliminarEstava de camisa aos quadrados, aposto
ResponderEliminarehhe
Ele ganhou um prémio de melhor aluno, quando ainda andava no liceu. E acho que ainda usa os mesmos óculos e a mesma camisa.
Sei lá... Eu não vi. Mas a minha cara só de contarem a cena, deve ter sido linda...
ResponderEliminarPareceu-me entender que os pais deles (ainda na onda do "povo eleito", que se apressaram a classificar como "silly") não foram. -- JRF
ehehe
ResponderEliminarO Francisco afinal falhou os quadrados... Eu gosto de camisas aos quadrados (parece que a minha mulher se queixa disso), mas não gosto do Francisco.
ResponderEliminarGosto de andar de camisa de flanela aos quadrados no meio das árvores. É uma coisa que combina. Hehe. -- JRF
Pois é. E ainda não usava óculos.
ResponderEliminarQuanto às camisas aos quadrados também gosto. Ainda agora comprei uma lindinha.