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sábado, outubro 03, 2009

Uma esquerda hipócrita

Vale a pena transcrever esta pequena crónica de Luciano Amaral, no jornal i de hoje:

Ainda [não] vi o filme. Apenas posso comentar as informações que vão saindo e as declarações de Moore. O filme denuncia a promiscuidade entre Wall Street e Washington (o "complexo político-financeiro") e acaba ao som da "Internacional", depois de Moore tentar envolver Wall Street com fita amarela policial. É giro. E o "complexo político- -financeiro" é grave. Só que nada disto é muito sério: a sociedade ocidental não precisa de bufões que denunciem inevitáveis injustiças. Sobretudo quando são hipócritas, como Moore. Para Moore, o "capitalismo é o Mal", e "o Mal não se reforma, erradica-se". Por isso tem de ser "substituído pela democracia".
Será que Moore dirige os seus filmes de forma "democrática"? Quantos colaboradores já despediu? Será que a Paramount, que distribui o filme, é uma democracia?
A oposição capitalismo-democracia é absurda. De facto, as empresas (como a família ou a escola) não são democráticas. Mas a oposição legítima é entre capitalismo e socialismo (que o toque da "Internacional" precisamente sugere). Ora no socialismo as empresas eram geridas de forma ainda mais autoritária. Já quanto ao "complexo político-financeiro", Moore tem razão. Mas é a negação do capitalismo, pelo menos na sua versão liberal.
O "complexo" até é bastante democrático, envolvendo políticos democraticamente eleitos. E mesmo um pouco socialista. Moore é um típico produto capitalista: escolhe temas de choque e faz fortunas com isso.
Vive tão bem do capitalismo que de certeza não o quer destruir. Um hipócrita, portanto.

Adapte-se este escrito mutantis nutandis, ao tipo de discurso do Bloco de Esquerda e temos a receita da hipocrisia.

9 comentários:

  1. Caro José, só para lhe dizer que deixei uma resposta a um comentário antigo aqui, em sequência a outro comentário seu que só li hoje:

    http://portadaloja.blogspot.com/2009/09/os-foguetes-do-bloco.html

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  2. criticar um filme sem o ver não será um pouco hipócrita também?todo o raciocinio se baseia em algo q ainda n se viu...o q é q se passa com estes cronistas hj em dia?

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  3. Ktrina:

    Gostei muito do seu comentário e se tiver tempo, logo comento-o com destaque de postal.
    Porque me parece importante e há uma perspectiva que não abordou e me parece essencial.

    Mas, como escreveu, pode ser que seja apenas obnóxia, como parece achar alguns dos meus escritos. No entanto, sobre "Ciências Sociais", todos poderemos dar um pequeno contributo porque de ciência tem muito pouco e sobre o social todos podem acrescentar algo, nem que seja a contar a própria experiência.

    Portanto, aqui fica o seu segundo comentário que- repito- muito apreciei:

    "Mas pronto, deixo algumas pistas. Como disse o comentar Diogo, "Os velhos chavões já nada significam". A somar a isso, temos o fenómeno de que os partidos extremistas portugueses sempre foram também extremamente idiossincráticos. Daí o fenómeno dos comunistas católicos. O meu pai era comunista, verdadeiramente comunista, e ateu, e gozava muito com isso. Onde é que no mundo, tirando os países de Leste com todas aquelas lavagens cerebrais a que foram sujeitos, encontra comunistas crentes?... Dá que pensar.
    E a nossa direita também nunca foi muito dura. Só recentemente apareceu um partido hardcore, o PNR, e esses sim, são meninos para levar a sério e sem brincadeiras.
    Aliás, toda esta idiossincrasia nos partidos pós-25 de Abril radica culturalmente no nosso ditado dos brandos costumes, um laisser faire à portuguesa. Nem a nossa ditadura fascista foi tão dura como o fascismo europeu.
    Depois do debate "nacionaliza-se tudo"/"privatiza-se tudo" vão todos à tasca beber um copo juntos. Os argumentos radicais não são para levar a sério. Afinal, Louçã teve um PPR. Quer mais idiossincrasia que esta, e os comunistas católicos?
    Havia mais, mas um comentário quer-se curto.
    Deixo, todavia, uma pergunta que a mim muito mais intriga. A mim faz-me espécie porque é que em Portugal existe o voto clubístico: "Voto neste porque é o meu partido". Como se fosse o Sporting ou o Benfica. Ou menos, porque geralmente quem diz isto presta mais atenção ao campeonato do que à política. Contaminação do fenómeno futebolístico? Não me admiraria nada mas gostava de ver um estudo fundamentado sobre isto.
    Perturba-me também que a maioria das pessoas acredite que só existem dois partidos em Portugal, mas felizmente que esta perspectiva está a mudar e já existe o voto estratégico das minorias, que é um fenómeno, aliás, amplamente difundido nos países mais avançados. Por exemplo, nos Estados Unidos, veja-se a força dos lobbbies. Aqui é mais lobos em pele de cordeiro. :)
    Mas tudo isto que eu disse não é por demais evidente?!"

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  4. E já agora o primeiro que não aprecio menos:

    "Caro José, os motivos porque as pessoas votam nos partidos extremistas (incluo todos), estão amplamente explicadas e documentadas em Ciência Política. Não é nenhum graal, nem o ovo de Colombo. Só agora é que começou a pensar nisto? Já agora, não lhe parece também sociologicamnete muito estranho que os comunistas portugueses (alentejanos) sejam ao mesmo tempo católicos? :)
    Não gosto de ser tão... "incisiva" para quem me merece tanta consideração, mas lamento parecer-me desta vez mal informado.
    Eu sou licenciada, literada (até percebo o que escreve, repare...), e voto nos extremos. Ambos, para sua maior perplexidade! E sinto-me um pouco ofendida com a atitude superior que parece demonstrar.
    Mas acabo por compreendê-lo porque eu, efectivamente, sou de Ciências Sociais, e compreendo, pelo que leio aqui frequentemente, e com todo o gosto, que o seu universo está tão longe do país real que não se consegue resumir-lhe a resposta num comentário.
    Procure temas de Ciência Política sobre o assunto, como pano de fundo, para umas noções mais alargadas. Mas cá espero pela sua tese, com todo o interesse, nem que pareça vir de outro planeta. Quando a nossa língua se começar a aproximar, poderei enfim responder.
    Mais uma vez, lamento se este comentário o melindra, mas olhe que o seu também me melindrou, logo, ficamos quites."

    A minha resposta já começou com este pequeno postal de transcrição da crónica de Luciano Amaral ( soa-me a alguém de quem já ouvo falar mas não sei quem é).

    O texto é certeiro naquilo que procuro dizer e há muito mais para dizer, claro está.

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  5. É verdade que são hipócritas e que não existe alternativa ao capitalismo, a não ser a que proporcionou milhares de mortos.

    Mas, também é verdade que a finança não é o capitalismo e, antes pelo contrário, uma fantasia ainda maior.

    Se não se separar isto estamos a cair na dicotomia básica de quem não é a favor do simulacro financeiro é comunista.

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  6. De qualquer forma não vejo o Moore e também não leio o Luciano Amaral

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  7. Já vi dois filmes do Michael Moore e acho que é inteligente, apresenta os assuntos entre o populismo e o show biz, mistura algum humor e a figura de bonacheirão e tem clientela. Mas ultimamente, parece-me meio xoné. Vi-o falar na CNN e pareceu-me um xoné...
    Não percebi os votos nos extremos da Katrina... Dois extremos... BE e PCP? Ou é no PNR, o tal que é para levar a sério? Parece um "voto" para justificar uma tese.

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  8. Nunca vi um filme dele. É um bocado parvo mas é verdade. Vi as apresentações e achei que já chegava para adivinhar o resto. Pareceu-me coisa de tv.

    Mas não sei, pode ser pancada minha. Na altura do primeiro até andei a rever o Fog of the War do Errol Morris por ser um excelente documentarista.

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  9. Do mesmo modo também embirro com este Luciano Amaral. Parece-me um papagaio tonto- só dizbanalidades.

    Mas o outro, o pencudo do homem a dias, é pior.

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