O Público, para comemorar os seus 20 anos, convidou quatro estudantes de comunicação social ( num curso superior de Ciências da Comunicação, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova). O jornal pediu a esses alunos que escolhessem três temas que o jornal deveria tratar na edição comemorativa.
Torna-se interessante ler o que escolheram estes jovens com cerca de 20 anos e que nasceram quando o Público surgiu. Podiam ser meus filhos e neles revejo a educação que a minha geração e as anteriores lhes deram e dão.
A Andreia gostava de ver tratado o "trabalho das associações" que apoiam os mais pobres e compreender as motivações dos que nelas trabalham. Ainda gostaria de ver "mostrado" o lado menos convencional de um outro ensino, o profissional e finalmente, um artigo sobre os grafittis e graffiteurs.
O Tiago, gostaria de ler sobre as dificuldades dos recém-licenciados que estagiam sem receber. Ainda sobre as "novas abordagens artísticas e culturais" e finalmente sobre a Holanda e o regresso da xenofobia em paralelo com o português.
O Pedro gostaria de saber como a música estrangeira chega até nós e escreve uma pequena incorrecção histórica: "até meados da década de 70, o acesso à música feita lá fora encontrava-se bastante condicionado." Depois, sobre as associações que combatem a discriminação e finalmente, um artigo sobre alguns jornalistas que "arriscaram as próprias vidas" citando Carlos Fino, Luís Castro e José Rodrigues dos Santos.
A Maria, uma rtigo sobre o aquecimento global, outro sobre os automóveis que dominam a paisagem urbana e por fim, um artigo sobre os que fazem o Público.
Este leque de opções, revela algo que o novo provedor do jornal, provavelmente nunca teria como preocupações, quando começou no jornalismo.
José Queirós, traça o seu auto-retrato, dizendo que pertenceu ao núcleo fundador do Público e que antes trabalhara no Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias e Expresso a meias com o Público.
Que diz Queirós sobre o jornalismo? Em primeiro lugar que não tem qualificações académicas específicas ( na época não havia cursos desses) e que "sempre teimei em exercer a profissão", fazendo-o e recolhendo agora trinta anos de experiência. Tal como os que cita como anteriores provedores- Jorge Wemans, Joaquim Fidalgo. Joaquim Furtado, Rui Araújo e Joaquim Vieira.
Que significa essa experiência, para Queirós? Em poucas linhas define um perfil:
" Falo da definição de prioridades de agenda, da escolha do que é ou não notícia, do que deve ou não exigir mais investigação antes de ser publicado. Falo da ponderação do interesse público face a outros valores que podem ser conflituantes, ou dos dilemas que põem em confronto a utilidade de uma informação e o respeito devido à dignidade das pessoas. Falo das escolhas que é preciso fazer numa redacção, fora da vista dos que irão ler os textos produzidos, para garantir o equilíbrio, a clareza, a honesta verificação de factos a que devem obrigar o respeito pelos leitores e pelas boas práticas do ofício."
E depois escreve uma verdade terrível para os alunos dos cursos de comunicação social: " A tão torpedeada deontologia do jornalismo, sendo um quadro de referência indispensável, está longe de ser uma ciência exacta. E mesmo as normas mais detalhadas a que este jornal se obriga nos seus documentos orientadores, não fornecem soluções mágicas que dispensem todas as escolhas.
Por isso só o treino adquirido na longa convivência com as pequenas e grandes discussões que se escondem por trás de tantas notícias publicadas (...)"o levaram a aceitar o cargo.
Por este escrito de José Queirós, tenho a certeza que nos seus vinte anos não formularia o mesmo tipo de questões que na época gostaria de ver tratados em jornais diários. Seria interessante saber que questões formularia e sou capaz de adivinhar algumas, ligadas à liberdade de expressão...
Todas os assuntos que aqueles jovens aspirantes a jornalistas, indicaram, dependem de conhecimentos de sociologia, ciências naturais ou história. Nessa altura, não havia sociologia que merecesse esse nome, em Portugal, e os artigos sobre assuntos específicos ficavam circunscritos aos suplementos que os havia e muito bons. Mas...será por isso que se fazia jornalismo pior?
Não, nem pensar. O jornalismo do Jornal de Notícias ou do Primeiro de Janeiro de então, assentava em notícias sobre factos e acontecimentos. Notícias puras sobre quem ganhou a etapa da Volta a Portugal em bicicleta e que peripécias houve na subida à Torre. E notícias sobre as cheias que ocorreram nas lezírias do Tejo e sobre os transportes públicos em falta nas zonas periféricas e coisas assim, como as construções de dormitórios nos arrabaldes de Lisboa, na Lapinha ou em Santo António de Cavaleiros pelo J. Pimenta, pois, pois.
E havia suplementos com artigos das agências internacionais, de especialistas reconhecidos e não apenas sociólogos de pacotilha como agora.
Mas admitindo que um jornal de hoje se pronuncie sobre os fenómenos que preocupam aqueles jovens, como é que devem ser tratados, segundo os métodos jornalísticos enunciados pela experiência de José Queirós?
Que conhecimentos específicos têm os jornalistas de hoje que trabalham em redacções, para abordarem com um mínimo de qualidade e interesse esses assuntos?
Vejo na foto que enquadra os jovens, um jornalista que assina Miguel Gaspar. Por vezes lia o que escrevia em crónicas e perguntava-me muitas vezes que raio de conhecimentos específicos teria esse indivíduo para escrever sobre aquilo que escrevia. Irritava-me e irrita-me tanta pesporrência escrita, porque adivinho um poço de ignorância por trás daquele tipo de escrita. Ignorância que presumo ao ler escritos sobre assuntos que conheço melhor e que por isso me autorizam a presunção sobre os outros que desconheço.
É isto o modelo de jornalismo de hoje que desvaloriza a qualidade da notícia sobre factos, para lhe introduzir opinião suibreptícia e muitas vezes perversa?
Há um assunto exemplar para lidar com este: o modo como foi noticiado todo o desenrolar do processo Casa Pia. É exemplar porque demonstra a capacidade e virtude do jornalismo ao mesmo tempo que lhe descobre a careca das insuficiências e perversões mais ignóbeis.
E é sobre isso que vou escrever a seguir: o modo como entendo que o jornalismo, neste e noutros casos semelhantes, falhou o essencial: a objectividade e isenção e o relato dos factos, porque escassos e por isso justificador inadmissível de notícias enviezadas.
Torna-se interessante ler o que escolheram estes jovens com cerca de 20 anos e que nasceram quando o Público surgiu. Podiam ser meus filhos e neles revejo a educação que a minha geração e as anteriores lhes deram e dão.
A Andreia gostava de ver tratado o "trabalho das associações" que apoiam os mais pobres e compreender as motivações dos que nelas trabalham. Ainda gostaria de ver "mostrado" o lado menos convencional de um outro ensino, o profissional e finalmente, um artigo sobre os grafittis e graffiteurs.
O Tiago, gostaria de ler sobre as dificuldades dos recém-licenciados que estagiam sem receber. Ainda sobre as "novas abordagens artísticas e culturais" e finalmente sobre a Holanda e o regresso da xenofobia em paralelo com o português.
O Pedro gostaria de saber como a música estrangeira chega até nós e escreve uma pequena incorrecção histórica: "até meados da década de 70, o acesso à música feita lá fora encontrava-se bastante condicionado." Depois, sobre as associações que combatem a discriminação e finalmente, um artigo sobre alguns jornalistas que "arriscaram as próprias vidas" citando Carlos Fino, Luís Castro e José Rodrigues dos Santos.
A Maria, uma rtigo sobre o aquecimento global, outro sobre os automóveis que dominam a paisagem urbana e por fim, um artigo sobre os que fazem o Público.
Este leque de opções, revela algo que o novo provedor do jornal, provavelmente nunca teria como preocupações, quando começou no jornalismo.
José Queirós, traça o seu auto-retrato, dizendo que pertenceu ao núcleo fundador do Público e que antes trabalhara no Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias e Expresso a meias com o Público.
Que diz Queirós sobre o jornalismo? Em primeiro lugar que não tem qualificações académicas específicas ( na época não havia cursos desses) e que "sempre teimei em exercer a profissão", fazendo-o e recolhendo agora trinta anos de experiência. Tal como os que cita como anteriores provedores- Jorge Wemans, Joaquim Fidalgo. Joaquim Furtado, Rui Araújo e Joaquim Vieira.
Que significa essa experiência, para Queirós? Em poucas linhas define um perfil:
" Falo da definição de prioridades de agenda, da escolha do que é ou não notícia, do que deve ou não exigir mais investigação antes de ser publicado. Falo da ponderação do interesse público face a outros valores que podem ser conflituantes, ou dos dilemas que põem em confronto a utilidade de uma informação e o respeito devido à dignidade das pessoas. Falo das escolhas que é preciso fazer numa redacção, fora da vista dos que irão ler os textos produzidos, para garantir o equilíbrio, a clareza, a honesta verificação de factos a que devem obrigar o respeito pelos leitores e pelas boas práticas do ofício."
E depois escreve uma verdade terrível para os alunos dos cursos de comunicação social: " A tão torpedeada deontologia do jornalismo, sendo um quadro de referência indispensável, está longe de ser uma ciência exacta. E mesmo as normas mais detalhadas a que este jornal se obriga nos seus documentos orientadores, não fornecem soluções mágicas que dispensem todas as escolhas.
Por isso só o treino adquirido na longa convivência com as pequenas e grandes discussões que se escondem por trás de tantas notícias publicadas (...)"o levaram a aceitar o cargo.
Por este escrito de José Queirós, tenho a certeza que nos seus vinte anos não formularia o mesmo tipo de questões que na época gostaria de ver tratados em jornais diários. Seria interessante saber que questões formularia e sou capaz de adivinhar algumas, ligadas à liberdade de expressão...
Todas os assuntos que aqueles jovens aspirantes a jornalistas, indicaram, dependem de conhecimentos de sociologia, ciências naturais ou história. Nessa altura, não havia sociologia que merecesse esse nome, em Portugal, e os artigos sobre assuntos específicos ficavam circunscritos aos suplementos que os havia e muito bons. Mas...será por isso que se fazia jornalismo pior?
Não, nem pensar. O jornalismo do Jornal de Notícias ou do Primeiro de Janeiro de então, assentava em notícias sobre factos e acontecimentos. Notícias puras sobre quem ganhou a etapa da Volta a Portugal em bicicleta e que peripécias houve na subida à Torre. E notícias sobre as cheias que ocorreram nas lezírias do Tejo e sobre os transportes públicos em falta nas zonas periféricas e coisas assim, como as construções de dormitórios nos arrabaldes de Lisboa, na Lapinha ou em Santo António de Cavaleiros pelo J. Pimenta, pois, pois.
E havia suplementos com artigos das agências internacionais, de especialistas reconhecidos e não apenas sociólogos de pacotilha como agora.
Mas admitindo que um jornal de hoje se pronuncie sobre os fenómenos que preocupam aqueles jovens, como é que devem ser tratados, segundo os métodos jornalísticos enunciados pela experiência de José Queirós?
Que conhecimentos específicos têm os jornalistas de hoje que trabalham em redacções, para abordarem com um mínimo de qualidade e interesse esses assuntos?
Vejo na foto que enquadra os jovens, um jornalista que assina Miguel Gaspar. Por vezes lia o que escrevia em crónicas e perguntava-me muitas vezes que raio de conhecimentos específicos teria esse indivíduo para escrever sobre aquilo que escrevia. Irritava-me e irrita-me tanta pesporrência escrita, porque adivinho um poço de ignorância por trás daquele tipo de escrita. Ignorância que presumo ao ler escritos sobre assuntos que conheço melhor e que por isso me autorizam a presunção sobre os outros que desconheço.
É isto o modelo de jornalismo de hoje que desvaloriza a qualidade da notícia sobre factos, para lhe introduzir opinião suibreptícia e muitas vezes perversa?
Há um assunto exemplar para lidar com este: o modo como foi noticiado todo o desenrolar do processo Casa Pia. É exemplar porque demonstra a capacidade e virtude do jornalismo ao mesmo tempo que lhe descobre a careca das insuficiências e perversões mais ignóbeis.
E é sobre isso que vou escrever a seguir: o modo como entendo que o jornalismo, neste e noutros casos semelhantes, falhou o essencial: a objectividade e isenção e o relato dos factos, porque escassos e por isso justificador inadmissível de notícias enviezadas.
Tirando a praga dos automóveis, tudo o resto é produto de cabeça feita com as causas da moda.
ResponderEliminarIsto está bem pior do que se pensa.
Jornalista hoje em dia é uma espécie de pregador.Não relata a realidade mas aquilo que deveria ser na sua cabeçinha formatada.Nada de apresentarem vantagens e inconvenientes nem a sacrossanta resposta ao Quem,Quê, Quando, Onde, Como , Porquê e para Quê.
ResponderEliminarO irrealismo internacionalista em que são formados de tanto ser repetido convence-os.E governam com esses princípios.Com os resultados à vista.
Quanto à xenofobia eu pergunto se toda a África pode vir acolher-se a este melhor acolhimento do mundo, viver da solidariadade do "contribuinte" sem restrições e reciprocidades até esgotar o filão(que vai esgotar...)
O desfazer duma nação é como se tem visto um trabalho muito fácil...mas tem um nome muito chato:traição...
Por acaso reparou que o provedor dos leitores -não tinha essa ideia dele - à boa maneira soviética "retira" da galeria dos directores José Manuel Fernandes.
ResponderEliminarMau começo.
Acho que apenas se referiu apenas aos provedores do leitor...
ResponderEliminarO artigo no JN de J.M. Nobre-Correia é exemplar, penso eu, sobre a forma de olhar o jornalismo português hoje.
ResponderEliminarHoje? Vou procurar.
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