O PCP anda a comemorar efemérides e a juntar nostálgicos do regime que prometia amanhãs a cantar. Tudo lhe serve para a função, mesmo funerais.
Hoje, num tribunal antigo, comemorou um julgamento célebre: o de Álvaro Cunhal por delitos políticos e não só, contra o regime de Salazar, o regime constitucionalmente instituído na época.
E publicaram fac-similes de notas histórias do antigo líder, enquanto esteve preso, por ocasião da comemoração desse julgamento na Boa-Hora, no qual, segundo Jerónimo de Sousa, Cunhal "passou de acusado a acusador do regime de Salazar".
Bravo!
É por isso que trago aqui um artigo publicado na revista americana Wired, na edição inglesa deste mês.
É um artigo sobre a STASI, a polícia política da antiga RDA e cujos métodos e actuação concreta, sobre o povo alemão de Leste, deixam a PIDE de Salazar a milhas náuticas dos resultados alcançados: mortos sem conta possível. Desaparecidos, presos e uma repressão política permanente e de tal modo eficaz que deixam a PIDE de Salazar com uma imagem pálida de um corpo de escutismo de seminário.
A revista menciona o facto de A STASI ter ao seu serviço cerca de 90 mil oficiais e 180 mil agentes, num rácio de um espião para 63 cidadãos. Isso numa população de cerca do dobro da portuguesa de então.
Os factos que se podem ler no artigo e já publicados em livros e artigos avulsos são de tal modo aterradores que por mero reflexo de pudor, um partido comunista como o PCP que tão perto se colou ideologica e pragmaticamente ao partido comunista da RDA, onde aquele Cunhal esteve acolhido, devia pura e simplesmente guardar um voto de silêncio, constante, permanente, pelos mortos do regime comunista da RDA e pela repressão absurda que fizeram abater sobre todo um povo que sacudiu essa ditadura mais cruel do que a de Salazar alguma vez foi.
A ironia deste destino trágico dos comunistas portugueses é o seu exacerbado romantismo, de prometidos amanhãs a cantar e sempre levantado do chão nestas efemérides avulsas, ao mesmo tempo que reprimem na inteligência, o horror que deviam conhecer sobre aqueles que infligiram ao seu próprio povo, as piores torturas da repressão política, da morte física e da ditadura mais feroz que jamais o salazarismo conseguiu ser.
O PCP queria para Portugal um regime idêntico e de igual violência na repressão aos "reaccionários" e "fascistas". Ainda hoje o defendem, embora o escondam cautelosamente mudando conceitos, trocando noções e enganando o povo e os próprios militantes, pessoas simples e de bom fundo que acreditam em boa-fé nas premissas do comunismo.
Os verdadeiros salafrários do comunismo há muito abandonaram esse barco porque o poder que pretendiam não passava nesses portos esquecidos da maioria. E transferiram-se de armas ideológicas disfarçadas e tralha pragmática reciclada para outros partidos do "arco do poder". Vital, para esses ditadores sempre dispostos à repressão dos outros.
Aqui fica a maior parte do artigo da Wired, ( que se pode ler com um clique na imagem) com imagens dos cerca de 9000 sacos de papel armazenados em Magdburgo, à espera da composição dos milhares de papelinhos rasgados por uma apressada STASI, logo que o muro ruiu. São apenas uma pequena parte dos documentos que destruiram para apagar as marcas do terror.
Estão à espera de tratamento informático de composição digitalizada e constituem um testemunho contra os que ainda se aninham em instituições públicas e privadas da Alemanha, escondidos dessas revelações do seu papel no sistema repressivo da antiga RDA, exemplo máximo para o PCP de Portugal.
Para esses comunistas encantados com as propostas do partido dos trabalhadores e da classe operária, um texto como este que escrevo, é um insulto à memória dos reprimidos pelo Salazarismo. Uma afronta aos trabalhadores que defendem e outras enormidades no mesmo tom.
Esquecem que é apenas a lembrança do que poderia ser o nosso regime, no caso de o PCP ter tomado as rédeas do poder político efectivo, em 1975. Não seria muito diferente a repressão política. Não seria muito diferente a censura real. Não seria nada diferente a limitação da liberdade de associação e reunião e de qualquer modo muito mais rígida do que a de Salazar alguma vez foi. Não seria muito diferente a miséria prática em que mergulharíamos em poucos meses.
Mudaria apenas uma coisa: a linguagem. Essa seria a arma principal da mudança. A Censura tomaria outro nome, não muito diferente de "Exame Prévio" com os intelectuais do costume a aplaudir a medida contra os contra-revolucionários. A limitação prática e efectiva da liberdade lograria convencer o povo que seria uma avanço revolucionário sobre as liberdades burguesas tão nocivas ao povo e toda a novilíngua experimentada na RDA se adaptaria à morfologia do nosso pequeno país.
Era isso que nos estava prometido e é essa nostalgia que Jerónimo de Sousa e os seus acólitos celebram hoje e amanhã. Com hinos, tipo "Camaradas, lutemos unidos, porque é nossa a vitória final".
Viu-se.
Hoje, num tribunal antigo, comemorou um julgamento célebre: o de Álvaro Cunhal por delitos políticos e não só, contra o regime de Salazar, o regime constitucionalmente instituído na época.
E publicaram fac-similes de notas histórias do antigo líder, enquanto esteve preso, por ocasião da comemoração desse julgamento na Boa-Hora, no qual, segundo Jerónimo de Sousa, Cunhal "passou de acusado a acusador do regime de Salazar".
Bravo!
É por isso que trago aqui um artigo publicado na revista americana Wired, na edição inglesa deste mês.
É um artigo sobre a STASI, a polícia política da antiga RDA e cujos métodos e actuação concreta, sobre o povo alemão de Leste, deixam a PIDE de Salazar a milhas náuticas dos resultados alcançados: mortos sem conta possível. Desaparecidos, presos e uma repressão política permanente e de tal modo eficaz que deixam a PIDE de Salazar com uma imagem pálida de um corpo de escutismo de seminário.
A revista menciona o facto de A STASI ter ao seu serviço cerca de 90 mil oficiais e 180 mil agentes, num rácio de um espião para 63 cidadãos. Isso numa população de cerca do dobro da portuguesa de então.
Os factos que se podem ler no artigo e já publicados em livros e artigos avulsos são de tal modo aterradores que por mero reflexo de pudor, um partido comunista como o PCP que tão perto se colou ideologica e pragmaticamente ao partido comunista da RDA, onde aquele Cunhal esteve acolhido, devia pura e simplesmente guardar um voto de silêncio, constante, permanente, pelos mortos do regime comunista da RDA e pela repressão absurda que fizeram abater sobre todo um povo que sacudiu essa ditadura mais cruel do que a de Salazar alguma vez foi.
A ironia deste destino trágico dos comunistas portugueses é o seu exacerbado romantismo, de prometidos amanhãs a cantar e sempre levantado do chão nestas efemérides avulsas, ao mesmo tempo que reprimem na inteligência, o horror que deviam conhecer sobre aqueles que infligiram ao seu próprio povo, as piores torturas da repressão política, da morte física e da ditadura mais feroz que jamais o salazarismo conseguiu ser.
O PCP queria para Portugal um regime idêntico e de igual violência na repressão aos "reaccionários" e "fascistas". Ainda hoje o defendem, embora o escondam cautelosamente mudando conceitos, trocando noções e enganando o povo e os próprios militantes, pessoas simples e de bom fundo que acreditam em boa-fé nas premissas do comunismo.
Os verdadeiros salafrários do comunismo há muito abandonaram esse barco porque o poder que pretendiam não passava nesses portos esquecidos da maioria. E transferiram-se de armas ideológicas disfarçadas e tralha pragmática reciclada para outros partidos do "arco do poder". Vital, para esses ditadores sempre dispostos à repressão dos outros.
Aqui fica a maior parte do artigo da Wired, ( que se pode ler com um clique na imagem) com imagens dos cerca de 9000 sacos de papel armazenados em Magdburgo, à espera da composição dos milhares de papelinhos rasgados por uma apressada STASI, logo que o muro ruiu. São apenas uma pequena parte dos documentos que destruiram para apagar as marcas do terror.
Estão à espera de tratamento informático de composição digitalizada e constituem um testemunho contra os que ainda se aninham em instituições públicas e privadas da Alemanha, escondidos dessas revelações do seu papel no sistema repressivo da antiga RDA, exemplo máximo para o PCP de Portugal.
Para esses comunistas encantados com as propostas do partido dos trabalhadores e da classe operária, um texto como este que escrevo, é um insulto à memória dos reprimidos pelo Salazarismo. Uma afronta aos trabalhadores que defendem e outras enormidades no mesmo tom.
Esquecem que é apenas a lembrança do que poderia ser o nosso regime, no caso de o PCP ter tomado as rédeas do poder político efectivo, em 1975. Não seria muito diferente a repressão política. Não seria muito diferente a censura real. Não seria nada diferente a limitação da liberdade de associação e reunião e de qualquer modo muito mais rígida do que a de Salazar alguma vez foi. Não seria muito diferente a miséria prática em que mergulharíamos em poucos meses.
Mudaria apenas uma coisa: a linguagem. Essa seria a arma principal da mudança. A Censura tomaria outro nome, não muito diferente de "Exame Prévio" com os intelectuais do costume a aplaudir a medida contra os contra-revolucionários. A limitação prática e efectiva da liberdade lograria convencer o povo que seria uma avanço revolucionário sobre as liberdades burguesas tão nocivas ao povo e toda a novilíngua experimentada na RDA se adaptaria à morfologia do nosso pequeno país.
Era isso que nos estava prometido e é essa nostalgia que Jerónimo de Sousa e os seus acólitos celebram hoje e amanhã. Com hinos, tipo "Camaradas, lutemos unidos, porque é nossa a vitória final".
Viu-se.
Bom texto.
ResponderEliminarEu considero admirável há muitos anos o modo como o PCP gere a imagem e ultrapassa estes "pequenos detalhes" da história. Sempre com a inefável colaboração dos poderes, dos maneis alegres da política e dos jornais. Vai ser um caso de estudo para o futuro.
"essa ditadura mais cruel do que a de Salazar alguma vez foi"
Não concordo com isto. Alguma vez o Estado Novo foi cruel? Na minha opinião, não tem sentido estar na mesma frase que os comunistas. Era um estado autoritário, tinha que dar uns abanões de vez em quando. -- JRF
Atenção! O Estado Novo tinha o Tarrafal e algumas pessoas passaram lá muitos anos. Presos e sem liberdade apenas por serem comunistas.
ResponderEliminarSim, não digo menos disso. Mas o regime era cruel? Sendo tragédias em si mesmo, um dia disseram na TV quantos presos faleceram no Tarrafal. Meia-dúzia. Isso faz parte do mesmo Mundo dos regimes comunistas e outras ditaturas sangrentas? Nem no mesmo Universo está.
ResponderEliminarQuanto a apenas serem comunistas, não sei qual a atitude adequada para quem era contra Portugal e desejava a dissolução no país na cortina de ferro. E trabalhava activamente para isso. E conseguiu, com resultados conhecidos nas províncias ultramarinas. Estou certo, ou estou errado?
Aliás o regime era tão mole nesse aspecto, que o próprio Álvaro Cunhal fugia da cadeia regularmente. NA RDA, não fugia de certeza. Tinham-lhe limpo o sarampo, antes que se fizesse tarde. -- JRF
Estou de acordo, essencialmente. A crueldade do regime de Salazar não merece esse nome, nem sequer por aproximação a da RDA que Cunhal admirava e pretendia impor cá dentro, se pudesse.
ResponderEliminarJerónimo não pensa noutra coisa desde sempre.
Confiado que seria diferente e que conseguiria fugir da repressão, como se houvesse um único regime comunista em que esse factor não fosse determinante e sempre mais violento que o do Estado Novo.
Em Cuba, actualmente poderemos comparar o regime com o do nosso Estado Novo? Nem isso, sequer.
Ainda assim é preciso não esquecer que havia tortura nas prisões da PIDE. E no Tarrafal algumas pessoas passaram lá mais de uma dúzia de anos.
ResponderEliminarFoi o que sucedeu com o pai de um amigo meu- 17 anos de reclusão com os filhos sem os ver e isso tudo...
Eu acho que não se deve branquear. É uma pena esse Álvaro Cunhal e os amigos terem mandado os arquivos da PIDE para a URSS. Pode ser que um dia voltem. Ouvi dizer que o Cunhal fugia regularmente porque era amigão e denunciava outros forte e feio... que nos arquivos faz fraca figura...
ResponderEliminarE é muito bom que esse arquivo que resta da Stasi venha a ser disponibilizado de uma forma que provavelmente jamais possa voltar a ser escondido — na rede. Que para se saber. Para que os comunas saibam que se sabe.
E para não haver palhaçada do género do zé povinho a santificar o Cunhal e Saramago, "no céu junto de Deus e dos pastorinhos". Não suporto isso. -- JRF
Ninguém diz nada!!!!
ResponderEliminarFINALMENTE O HOMEM FOI APANHADO:
Deu entrada na Comissão de Ética da Assembleia da República um pedido de levantamento da imunidade do primeiro-ministro, apurou o DN junto de várias fontes parlamentares. Em causa está um processo judicial em que José Sócrates é arguido, aberto por Manuela Moura Guedes.
A legislação obriga a que a comissão de Ética levante a imunidade parlamentar do Chefe de Governo para que este possa ser julgado pelos tribunais, na qualidade de arguido. Mas esse pedido por ser recusado, até mesmo pelo próprio Sócrates.
Neste caso, o processo deverá estar relacionado com a queixa por difamação, interposta pela jornalista contra o chefe de Governo, depois de este a ter acusado de fazer "jornalismo travestido" na TVI.
Só fumaça- Crime particular, coisa mixuruca, provavelmente absolvição segundo os critérios actuais do TEDH.
ResponderEliminarÉ o meu prognóstico.
A coisa a sério virá depois da demissão ou da saída do governo. Porque virá mesmo e quem apoiou institucionalmente este inenarrável mentiroso terá que ser chamado à responsabilidade inerente.
Conto muito com o processo de Rui.Pedro.Soares para tal tarefa.
O inteligente ex-dministrador da PT tem-se revelado o melhor amigo da verdade para descobrir na face oculta.
"Conto muito com o processo de Rui.Pedro.Soares para tal tarefa.
ResponderEliminarO inteligente ex-dministrador da PT tem-se revelado o melhor amigo da verdade para descobrir na face oculta."
A ver vamos, como dizia o ceguinho :) . -- JRF
O Alvaro Cunhal, formou-se em direito,enquanto preso em Peniche, ia a Lisboa, fazer os exames, pintava na cela, era porque lhe forneciam, telas, pinceis, tintas. Creio que foi assim. Bastante diferente da RDA.
ResponderEliminarUm livro, que fala destes tempos, e do grupo de Argel, é o " Misérias do Exílio", De Patricia Pinheiro, é um livro incómodo, fala do passado da esquerda, que por aí anda, que faz desse passado, tabú, é como os arquivos da pide, eles existem, onde???