No sábado, o juiz de instrução do caso colocou em prisão preventiva uma das jovens, com 16 anos, que agrediu a adolescente de 13 anos, bem como o alegado autor do vídeo que circulou na Internet, com 18 anos.
"Foi aplicada a medida de coação mais grave, visto que as demais não acautelavam os perigos de continuação da actividade criminosa (...) o jovem arguido encontra-se também indiciado noutros processos pela prática de crimes de roubo", segundo uma nota da procuradoria-geral distrital de Lisboa.
No sábado, o bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto criticou a aplicação da prisão preventiva aos dois jovens, considerando tratar-se de uma medida de um sistema judicial "da Idade Média".
"Estou estupefacto. É terrível", disse Marinho Pinto.
Comentário: o caso em causa mereceu a atenção dos media. Provavelmente no mesmo dia terão acontecido pelo país fora, outros casos do género ( agressões físicas praticadas por mais de duas ou três pessoas) e com gravidade porventura superior. Provavelmente a polícia tomou conhecimento dos mesmos através de queixa e faltarão exames médico-legais para avaliar as ofensas. Provavelmente, os inquéritos não tiveram nem vão ter a intervenção imediata e com buscas domiciliárias como este. Provavelmente não irá haver detidos nem primeiro interrogatório judicial para aplicação de medidas de coacção, tal como a prisão preventiva, aplicada neste caso.
Provavelmente tudo isso será verdade. Mas se todos os casos tivessem este desenvolvimento e esta eficácia, ninguém poderia dizer mal da justiça penal. Inicialmente até eu me senti admirado do alvitre da "Felgueirinhas" no jornal das 10 na RTP2. Mas afinal, acertou no palpite.
Só o Marinho e Pinto se mostra "estupefacto" com isto, porque estaria à espera do que é "normal", "usual" e corriqueiro nestes casos: darem em nada. Foi por um triz que este também não deu em nada. Bastou que os media pegassem no assunto e o elevassem à categoria de fait-divers nacional e urgente, para que o DIAP actuasse imediatamente e porventura bem.
Resta saber é se o vai fazer nos demais casos que não foram alvo de atenção mediática. E como provavelmente não o fará por falta de recursos e meios, resta perguntar de quem é a responsabilidade por tal suceder.
E outra coisa ainda que me causa alguma estranheza: será que isto representa uma nova abordagem dos casos penais que aparecem no DIAP? Se for, só há que aplaudir.
Aditamento em 30.5.2011:
O Comentador "Basófias" na caixa de comentários deste postal lamenta que tenha sentido regozijo por esta decisão de um JIC.
Na verdade, não é bem regozijo mas antes uma surpresa misturada com uma aceitação. Não é costume ver aplicada pena de prisão preventiva em casos destes e noutros bem piores. Se neste caso foi aplicada tal medida de coacção extrema, devo aceitar que o JIC que tomou a decisão o fez com a ponderação do costume. E se aplicou tal medida fê-lo também porque achou que se encontravam preenchidos os requisitos processuais para tal. Designadamente o alarme social, perante o que se passou de um certo histerismo mediático que se verifica pontual e selectivamente quando calha um caso destes e o tempo dos media está para aí virado. Estas são as duas bases da aceitação. A surpresa advém do modo como todo o caso se desenrolou.
Os media em Portugal marcam muitas agendas políticas e também, por vezes, judiciais. Determinam, influenciando abertamente, decisões que não seriam tomadas caso os assuntos fossem privados de exposição pública. Será isto bom ou mau? Não sei dizer e duvido que alguém saiba. Por vezes é bom; outras vezes é mau. Desta vez foi mau? Não me parece, embora possa assumir posição contrária com toda a facilidade do argumento reversível.
Desta vez, o caso transbordou o mero fait-divers e transformou-se num exemplo. Tudo o que o acompanhou é estranho à normalidade do acontecer nestas coisas: agressões entre adolescentes, por vezes violentas, é mato como se costuma dizer e acontecem todos os dias. Agressões que são filmadas e o resultado posto a circular no YouTube também acontecem e não geram ondas de indignação mediática como esta gerou. Fenómenos judiciários tais como a autuação do caso de modo célere pelo DIAP, com participação directa da sua directora, segundo se conta e com uso de instrumentos processualmente válidos e com eficácia, acontecem mas é mais raro porque a rotina e o costume imperam e substituem o cumprimento da lei com esmero e brio. Buscas domiciliárias para recolha de elementos de prática do crime ainda antes de exames médicos à ofendida também não se apresenta com a vulgaridade do lineu juriciário. Detenção com mandados emitidos por uma autoridade judiciária que demoram muito tempo a elaborar, exigem factos concretos e precisos e justificações de medidas de coacção, também não é o comum neste tipo de crimes.
Então porquê esta actuação? É essa a pergunta que coloquei no postal e precisa de ser respondida por quem de direito, designadamente o DIAP. Nesta vez nada disse e quem disse foi a PGD de Lisboa, numa actuação também ela interessante e singular. Normalmente é o PGR quem fala em público e à saída de um sítio qualquer para ir para outro, com microfones postos em riste. Desta vez, não. E não houve comentários avulsos.
Aqui há umas semanas, os media deram conta de uma incursão do mesmo DIAP nas instalações do Ministério da Justiça para fazer buscas, o que é simplesmente algo extraordinário e que julgo nunca aconteceu. E o motivo teria sido um hipotético abuso de poder do ministro ou de alguém do ministério por causa do suplemento remuneratório à mulher daquele. Confesso que essa me deixou estupefacto. Nem sequer surpreso mas simplesmente estupefacto. Mas...aplaudi com reservas que situo apenas no plano das oportunidades e prioridades.
Então não haverá crimes desse género por aí, em barda, em certos ministérios que lidam com obras públicas e concessões em parcerias? E cadê as buscas? E cadê os mandados de detenção? E cadê as imputações de factos eventualmente criminosos?
É por isto que fiquei surpreso com a decisão neste caso. E que aceitei de bom grado por via de uma coisa muito simples: parece-me que isto pode mudar.
"Isto" é simplesmente a atitude em acabar com o laxismo judiciário e passar a vias de facto em relação a coisas gravíssimas que se passam debaixo dos nossos olhos e narizes. E cheiram muito mal.
Pudera que os farejadores tenham olfacto bem apurado porque este fait-divers, para mim, é apenas um sinal. E Justiça se fará se os agora presos preventivamente não merecerem punição privativa da liberdade.
Não sendo as medidas de coacção uma antecipação de penas, nem podendo ser, podem no entanto aproximar-se a esse efeito sempre que está em causa o alarme social que estes factos podem causar. E quem causou o alarme social?
Ora...os MEDIA! E acho que alguns terão aprendido algo com isto: porque de repente se calaram nas críticas ao poder judicial. Apenas o Marinho e Pinto anda por aí a vociferar em modo boquejeiro, como habitualmente e sem que o seu estatuto lho permita sequer. Mas permite-se ele, ora então!
O sr. Pinto conhecerá o sistema penal da Idade Média?
ResponderEliminarMeter as pessoas na cadeia é uma ideia iluminista, quando a liberdade individual foi erigida valor supremo da civilização: passaram a meter os seres humanos em gaiolas...
Na Idade Média eram mais sábios a lidar com criminosos: atá-los num pelourinho, darem-lhe chicotadas, cortarem-lhes as mãos...
Acabei de ouvir. Acho que ele pertence ao "país dos contrários" e deve achar que a agredida é que devia estar presa.
ResponderEliminar"Abençoado" Juiz!
Com "animais" ferozes é preciso tomar medidas drásticas, ou qualquer dia seremos engolidos por eles.
A minha única estranheza nisto tudo é a ideia transmitida pela comunicação social de que apenas existe o juiz Carlos Alexandre neste país. Ele é Freeport, submarinos, sobreiros e agora este caso da canalha do secundário. Bizarro...
ResponderEliminarTambém não percebi porque é que neste caso dos puxões de cabelos entre a canalhada o processo foi parar às mãos do "super-juiz".
ResponderEliminarO Carlos Alexandre não é Juiz apenas para os mega-processos?
ao ouvir o 'matarruano'
ResponderEliminarpensei que Bin Laden tinha ressuscitado
Outra estupefacção http://www.publico.pt/Sociedade/rapariga-de-14-anos-esfaqueada-17-vezes-por-causa-de-um-telemovel_1496525
ResponderEliminarO Dr. MArinho Pinto é que nos deixa estupefactos com tais declarações... Eu que até sempre o admirei, agora só posso achar que está a ficar caduco.
ResponderEliminarCaro José, ao longo dos anos que levo de o ler, foram mais as vezes em que as suas crónicas me mereceram aplauso do que aquelas em que de si discordei. Hoje, infelizmente, mais do que discordância, o seu escrito suscitou-me um lamento e um desânimo imenso. Sabendo-o magistrado do Ministério Público, tenho uma enorme dificuldade em compreender o seu regozijo pelo que se passou no TIC de Lisboa. Começo por notar o facto de certas detenções, invariávelmente as mais mediáticas, coincidirem com o turno do juiz Carlos Alexandre. Estaremos, de facto, apenas perante meras coincidências, ou, pelo contrário, perante verdadeiros "arranjinhos" entre a polícia, o Ministério Público e o super-JIC, em descarada violação do princípio do juiz natural? Mas, mais grave do que esta possibilidade (diria mesmo, probabilidade), é a decisão em si mesma, gritantemente violadora dos princípio da necessidade, adequação e proporcionalidade que devem presidir à aplicação de qualquer, repito, de qualquer medida de coacção. É que nem a obrigação de permanência na habitação serviu para estes senhores, que, deste modo, revelaram ter mais de carrascos do que de magistrados.E nem é necessário invocar muitos outros casos, com a intervenção dos mesmíssimos personagens, em que os pesos e as medidas foram completamente diferentes, numa relação directa com a publicidade do crime e com a importância de autores e/ou vítimas. E daqui tenho de concluir que, podendo ainda haver juízes em Berlim, já não os hverá em Lisboa e, pelos vistos, também já não em Viana do Castelo. Até sempre
ResponderEliminarNa TVI 24, num forum, o sr. Pinto levou uma tareia tão grande do público como a desgraçada da rapariga do video. No que respeito ao dito, só se perderam as que caíram no chão!...
ResponderEliminarCaro Basófias:
ResponderEliminarConvém estar atento aos sinais. Parece-me que estão aí, à vista.
E por isso mesmo não me pronuncio contra. Mas apenas com reservas que explico no aditamento que coloquei.
A moda chique da indiferença pelas vítimas, em nome dos direitos e doutras tretas igualmente doutas dos criminosos, já deveria ter passado à história. Neste caso, parece que um deles, maior, até já tinha outros processos. Não faltam casos de pessoas que continuam a viver aterrorizadas porque as medidinhas aplicadas acabam por ser permissivas para não fazer sofrer os prevaricadores. Abençoado juiz. Que nunca lhe doam as mãos.
ResponderEliminarJosé:
ResponderEliminarPara não haver confusões, fica esclarecido que o meu comentário está assinado com j pequeno.
Peço, desculpa, mas não consegui usar outro nome. Também não me lembrei de assinar no fim.
ResponderEliminarJosé R.
Tendo presente que a investigação criminal não tem meios para ocorrer a todas as situações com celeridade...desde há muito que se fala na afloração do p. da oportunidade, ou seja, dar prioridade a certos crimes. Naturalmente que crimes deste tipo são muito importantes para restaurar a confiança no sistema judicial...é pena que outro tipo de crimes não sigam o exemplo...
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