Compro revistas francesas há dezenas de anos. A primeira Le Nouvel Observateur que comprei é esta com imagem acima, tendo ao lado a L´Express da mesma semana, de Outubro de 1973 ( ao contrário do que alguns pensam e se ensina no Secundário, o regime de Caetano permitia a difusão deste tipo de revistas sem problema de maior e estavam à venda nos escaparates. Estas custaram 25 escudos. A de 1976 em baixo já custava 30 escudos...) e por causa de uma guerra - a guerra do Kippur, por ter sido nesse dia feriado mesmo no período de Ramadão que sírios e egípcios ataram Israel- que então estalou entre israelitas e árabes.
O editorial da Nouvel Obs do director Jean Daniel, , um cripto-judeu que ainda hoje dirige a revista ( e terá influenciado sempre Mário S. no seu ideário político nestas matérias), era todo pró-sionista. Ao editorial, juntavam-se os artigos magníficos de Olivier Todd e Guy Sitbon e ainda Josette Alia. E as fotos da guerra que me fascinavam acima de tudo, porque tinha acabado de fazer 17 anos e estaria prestes a ir à "inspecção militar" e a bater com os costados num dos territórios ultramarinos que tínhamos então e que depois se chamaram "colónias", por efeito mágico da mudança semântica e semiótica dos símbolos e palavras.
A mim, agradava-me então essa posição política porque admirava os judeus, depois da Guerra dos Seis Dias. O ataque fulgurante a da aviação, o homem da pala no olho ( Moshe Dayan) e o espírito guerreiro fascinavam-me. E portanto, em Outubro de 1973 fiquei preocupado com a chamada de capa sobre a eventualidade de Israel perder a guerra...
Ao longo dos anos fui percebendo melhor o contexto e entrecho judaico-palestiniano e hoje não assumo o mesmo fascínio, embora saiba muito bem de que lado da barricada me situaria em caso de guerra séria que por diversas vezes se perfilou, ao longo destes últimos anos.
A L´Express era mais moderada, para um lado liberal e menos de esquerda vincadamente democrática como se afirmam os socialistas depois de meterem o socialismo na gaveta.
Em Janeiro de 1976 a L´Express publicou excertos extensos de um livro de Jean-François Revel, ( La Tentation Totalitaire) editorialista da revista então dirigida por Jean-Jacques Servan Schreiber ( também com origem judaica e...prussiana) e que numa página resume o nosso pais logo a seguir ao 25 de Abril de 74: um país de fantasia como se pode ler no excerto ( com um clique para aumentar a imagem). Uma desgraça anunciada, obviamente. Tal como hoje, com este "socialismo democrático". Revel escreveria coisas muito parecidas sobre nós, se fosse vivo e tivesse conhecimento do que nos aconteceu estes últimos anos. Fantasias, mentiras e...video, perdão, tv. Na altura escreveu: "Confesso não chegar a perceber o que é que estas burrices [ as do PREC ] e as suas consequências têm a ver com o socialismo."...
Em 1974 a Nouvel Observateur enviou cá o seu director Jean Daniel que em 4 de Novembro escreveu na revista uma reportagem alargada a cinco páginas com entrevistas a militares da "Junta de Salvação Nacional" ( Costa Gomes, pelo menos) e políticos como Mário S. ( naturalmente) e Álvaro Cunhal ( que garantia não ser estalinista porque acreditava nos dois blocos e por isso defendia sempre o de Leste, mesmo quando este invadiu a Checoslováquia...é o que lá está na entrevista).
A visão do mundo entre estas duas revistas é semelhante, com estas pequenas excepções. E não há em Portugal nenhum semanário ou revista que se lhes compare intelectualmente. Nem hoje nem nunca houve. Não se entende como é que a intelectualidade lusa, durante estes últimos trinta e sete anos apenas produziu Independentes, Semanários, O Jornal, Visão, Sábado e pouco mais sem relevo algum. Incluindo uma Kapa efémera, divertimento de uns quantos pândegos inconsequentes que agora escrevem crónicas anódinas para ganhar a côdea ( Miguel Esteves Cardoso) em que dizem acreditar num Dominique Strauss-Khan e numa conspiração para o derrubar, mesmo sem conhecer os factos. Apenas porque sim. É essa, parece-me, a nossa pobreza intelectual que nos mirra as escolhas que fazemos em eleições. Um povo ignorante não é apenas um povo que não sabe ler ou escrever, como acontecia há trinta e sete anos com 30% da população. É também um povo que não tem leitores de publicações que informem como deve ser e que não tenham pensadores que vão um pouco mais além do que um Eduardo Lourenço ou um José Gil.A mim, agradava-me então essa posição política porque admirava os judeus, depois da Guerra dos Seis Dias. O ataque fulgurante a da aviação, o homem da pala no olho ( Moshe Dayan) e o espírito guerreiro fascinavam-me. E portanto, em Outubro de 1973 fiquei preocupado com a chamada de capa sobre a eventualidade de Israel perder a guerra...
Ao longo dos anos fui percebendo melhor o contexto e entrecho judaico-palestiniano e hoje não assumo o mesmo fascínio, embora saiba muito bem de que lado da barricada me situaria em caso de guerra séria que por diversas vezes se perfilou, ao longo destes últimos anos.
A L´Express era mais moderada, para um lado liberal e menos de esquerda vincadamente democrática como se afirmam os socialistas depois de meterem o socialismo na gaveta.
Em Janeiro de 1976 a L´Express publicou excertos extensos de um livro de Jean-François Revel, ( La Tentation Totalitaire) editorialista da revista então dirigida por Jean-Jacques Servan Schreiber ( também com origem judaica e...prussiana) e que numa página resume o nosso pais logo a seguir ao 25 de Abril de 74: um país de fantasia como se pode ler no excerto ( com um clique para aumentar a imagem). Uma desgraça anunciada, obviamente. Tal como hoje, com este "socialismo democrático". Revel escreveria coisas muito parecidas sobre nós, se fosse vivo e tivesse conhecimento do que nos aconteceu estes últimos anos. Fantasias, mentiras e...video, perdão, tv. Na altura escreveu: "Confesso não chegar a perceber o que é que estas burrices [ as do PREC ] e as suas consequências têm a ver com o socialismo."...
Em 1974 a Nouvel Observateur enviou cá o seu director Jean Daniel que em 4 de Novembro escreveu na revista uma reportagem alargada a cinco páginas com entrevistas a militares da "Junta de Salvação Nacional" ( Costa Gomes, pelo menos) e políticos como Mário S. ( naturalmente) e Álvaro Cunhal ( que garantia não ser estalinista porque acreditava nos dois blocos e por isso defendia sempre o de Leste, mesmo quando este invadiu a Checoslováquia...é o que lá está na entrevista).
Um povo que tem como cronistas e comentadores residentes de tv, personagens do calibre intelectual de um Miguel Sousa Tavares ou mesmo um Marcelo Rebelo de Sousa que é venerado como "O Professor" é um povo que estiolou; que se perdeu em insignificâncias; que se atirou à ignorância e ao prazer de não cumprir um dever, como diria Pessoa em paráfrase.
Por isso mesmo resta-nos, como sempre, os estrangeiros. Actualmente, os franceses estão em baixa porque a cultura francófona, também por causa daquele fenómeno, foi perdendo influência e quase ninguém os lê. Mas fazem mal.
Por exemplo, este intelectual de Esquerda, Jacques Julliard, sobre o caso Strauss-Khan, escreve o artigo definitivo, mostrado aí em baixo. Jacques Julliard escreve actualmente na Marianne depois de ter passado mais de trinta anos a escrever na...Le Nouvel Observateur. A edição desta semana do Nouvel Obs tem vinte páginas sobre o assunto Strauss-Khan e está tão bem feita que apetece mandar a todos os media portugueses para lerem e porem ali os olhos sobre o modo como se aborda ( francesismo oblige) um assunto destes. Vinte páginas de factos rigorosamente descritos, de opiniões diversas e fundamentadas em modo sempre interessante. Um pequeno artigo notável sobre os advogados de defesa do acusado. La boucle est bouclée.
Trés bien José.
ResponderEliminarMas Julliard é um historiador e esses têm mais lucidez.
Sugiro que passe os olhos sobre a Nouvelle Revue d'Histoire tb. Muito interessane.
ResponderEliminarD. Liberal:
ResponderEliminarObrigado pela sugestão. De vez em quando deito uma vista de olhos no quiosque ( Tema ou assim). Acho até que cheguei a comprar um número. Mas costumo ler a Histoire de vez em quando e principalmente os números especiais. Costumo comprar outras espanholas como a Historia e a Clio. Há vários anos.
em 1971 em Paris comprava o 'Rouge' da 3ª inter. no regresso passei a recebe-lo. enviaram-me pelo correio 'Le Portugal' do boxexas apenas com uma cinta estreita à volta.
ResponderEliminarnunca ninguém me aborreceu.
este fascismo é muito pior
As revisas portuguesas são mázinhas, infelizmente.
ResponderEliminarA revista Atlântico prometia ser "diferente", mas quando o BCP mudou de mãos, a revista ficou de mão estendida.
Enfim...
Em Portugal nem sequer há público para uma revista de História digna desse nome.
ResponderEliminarHavia uma das edições O Jornal que não se aguentou.
Em Espanha há três ou quatro de grande qualidade.
Em Portugal há historiadores? Há. Claro que há e muitos. Mas não há público para tal.
Quem diz História diz Filosofia. EM França há uma nova revista de Filosofia, Phylosophie que é uma pequena maravilha.
Por cá...nicles.
O panorama é aterrador. Depois da Revista de História Económica e da Ler História nunca mais se fez nada de jeito. Ainvestigação também não propicia uma revista de grande público. Vão surgindo alguns números da Análise Social dedicados à história. Nada mais.
ResponderEliminarHá uns livros. No outro dia comprei um que ainda não li todo, sobre...1974. É uma tentativa de explicar a transição do Estado Novo para a democracia que veio com o 25 de Abril, escrito por um professor de História de Coimbra.
ResponderEliminarPareceu-me minimamente isento, mas já não tenho a certeza.
Excelente, José.
ResponderEliminarDiga-me uma coisa: o José compra a Marianne em papel ou tem assinatura online?
Em papel. Em Lisboa há em vários sítios: no Vasco da Gama, no Colombo e numa ou noutra lojeca que há pelas ruas.
ResponderEliminarCusta €3,5
Fernando Catroga ou Luis Reis Torgal?
ResponderEliminarRui Cunha Martins
ResponderEliminarRui Cunha Martins.
ResponderEliminaraqui
Ok. O problema é falta de espaço.
ResponderEliminarPor isso é que pensei que talvez valesse a pena assinatura online.
Ainda não li. Mas essa malta da FLUC é jacobinagem pura e dura.
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