O Público de hoje anuncia um projecto-farol: Público Mais ( um título tão auspicioso faz prever o pior pela falta de imaginação) que revelará aos leitores durante dois anos o resultado do "investimento" na "Reportagem, Ciência/Ambiente, Cultura e Multimédia, áreas em que o jornal é líder" ( bem gostaria de saber como concluíram tal coisa).
Para tal, a direcção do jornal que acha estar a "fazer uma travessia do deserto" porque vende 30 mil exemplares e não vê maneira de melhorar a receita, recorreu à "filantropia" de seis beneméritos bem conhecidos: EDP, Mota-Engil, REN, Banco Santander Totta, Vodafone e Galp. São os mesmos, sensivelmente, que costumam apoiar os cursos de pós-graduação de Vital Moreira na Universidade de Coimbra.
Interessante é a declaração do antigo patrão do PS que num ápice virou administrador da maior construtora civil das obras públicas do país, sem dano de maior na imagem mediatizada:
"Nos tempos conturbados que se vivem hoje, é muito importante que os órgãos de comunicação social tenham condições para investigar, para poder fazer um jornalismo profundo que informe as pessoas". António Mexia, da EDP diz o mesmo. José António Cerejo deve estar a rir deste cinismo à outrance.
Vejamos.
O Público é um jornal privado, pertença da...pois...quem quiser saber tem de procurar porque o jornal não o anuncia em lado algum. Para ética jornalística estamos bem conversados. O leitor desprevenido não sabe a quem pertence o jornal de "referência". E não devia saber?
Esse jornal privado que sabemos pertencer a uma empresa do grupo Sonae, recorre a seis empresas portuguesas , das maiores, sendo que em algumas delas o Estado não anda longe, para financiar um projecto editorial de fôlego que durará dois anos ( o jornal aguentará tanto tempo?).
A Sonae, proprietária do jornal, não é vista nem achada e pelos vistos sente-se bem. É lá com ele(s). Paulo Azevedo lá saberá as linhas com que se anda a coser economica e culturalmente.
Porém, o essencial é outra coisa: alguém acredita que o jornal vai manter a independência e isenção, exigíveis a um jornal de referência, nos tais projectos, sempre que os mesmos possam colidir com os interesses particulares desses beneméritos do mecenato jornalístico? Eu não acredito porque não posso nem ninguém pode acreditar. Tal independência e isenção só se garantem com distância dos poderes económicos e estes são os maiores de Portugal, com ramificações em tudo o que é poder. São das maiores empresas na indústria ( GALP, EDP, REN e Mota-Engil), e serviços ( Vodafone e Santander- só falta a PT, mas isso seria demais e a imagem da firma anda um pouco ao deus-dará...) e por isso para além dos almoços que servem não serem grátis, apenas cobrarão os fretes de imagem. Desde que...
O Público com esta iniciativa jacobina, porque o é na medida em que se esquecem facilmente princípios antigos e solidificados em prol de aventuras com novos princípios reciclados no politicamente correcto apresentado como norma vigente e corrente, enterra-se mais uma vez nas profundezas da irrelevância cultural.
Comovedor é o editorial da directora, nesse sentido em que acredita que tal significa um "gesto de cidadania" ( sempre esta estúpida palavra, jacobina até mais não, inventada como artifício novilinguístico): "estas seis empresas mostram deste modo o seu perfil filantrópico ( ahahaha) e acreditam (ahahahahh) como nós, na importância do jornalismo de qualidade".
O jornalismo de qualidade não se faz com mecenato de potentados económicos, mesmo à nossa escala. Faz-se com rigor e procura da verdade das coisas correntes e dos negócios, com atenção à política, sempre distanciado dos partidos e ideologicamente neutro ou pelo menos assumido.
Faz-se com o respeito pelo leitor que não deve ser enganado nos propósitos escondidos e de agenda jacobina de destruição paulatina de tradições e costumes, em prol de novidades culturais que são velhas como o mundo mas se alcandoram a novidades absolutas e de norma a impor. Faz-se com a atitude de "escrutinador do poder", sem cair na tentação de esconder o que nos desagrada ideologicamente sempre que o poder que está nos apetece proteger.
O antigo director e fundador da revista Marianne, Jean-François Kahn, recentemente ( finais de Maio deste ano) a propósito do escândalo DSK, em que por ser amigo do dito e da sua mulher caiu na tentação de dizer que o assunto era de uma depenagem de criada ( troussage de domestique) saiu de cronista da revista e contou no artigo de despedida que durante o tempo em que foi redactor e director nunca aceitou convites para almoços com a gente do poder, nomeadamente no Eliseu.
Por cá esta ética não existe, antes pelo contrário. Os antigos almoços no PABE com os directores do Expresso e a gente do poder conferiu poder...aos jornalistas que lá foram. Hoje estão por aí, alguns precisamente nos corredores do poder. E outros, variadíssimos, casos existem. Basta fazer uma pausa e pensar um pouco.
O patrocínio, sob a forma de mecenato filantrópico ( enfim, que outra coisa haveriam de dizer?) para financiar projectos jornalísticos de referência, a mim, soam-me tão bem como os patrocínios das agências de viagem para ir a ressorts tão procurados como os da Baleares. São grátis, para o jornal?
São, são...
PS: Por causa deste "jornalismo de referência" ter escrutinado tão bem o poder que esteve e está, nos estamos como estamos. O problema é que vão ser vítimas dessa falta de escrutínio.
Para tal, a direcção do jornal que acha estar a "fazer uma travessia do deserto" porque vende 30 mil exemplares e não vê maneira de melhorar a receita, recorreu à "filantropia" de seis beneméritos bem conhecidos: EDP, Mota-Engil, REN, Banco Santander Totta, Vodafone e Galp. São os mesmos, sensivelmente, que costumam apoiar os cursos de pós-graduação de Vital Moreira na Universidade de Coimbra.
Interessante é a declaração do antigo patrão do PS que num ápice virou administrador da maior construtora civil das obras públicas do país, sem dano de maior na imagem mediatizada:
"Nos tempos conturbados que se vivem hoje, é muito importante que os órgãos de comunicação social tenham condições para investigar, para poder fazer um jornalismo profundo que informe as pessoas". António Mexia, da EDP diz o mesmo. José António Cerejo deve estar a rir deste cinismo à outrance.
Vejamos.
O Público é um jornal privado, pertença da...pois...quem quiser saber tem de procurar porque o jornal não o anuncia em lado algum. Para ética jornalística estamos bem conversados. O leitor desprevenido não sabe a quem pertence o jornal de "referência". E não devia saber?
Esse jornal privado que sabemos pertencer a uma empresa do grupo Sonae, recorre a seis empresas portuguesas , das maiores, sendo que em algumas delas o Estado não anda longe, para financiar um projecto editorial de fôlego que durará dois anos ( o jornal aguentará tanto tempo?).
A Sonae, proprietária do jornal, não é vista nem achada e pelos vistos sente-se bem. É lá com ele(s). Paulo Azevedo lá saberá as linhas com que se anda a coser economica e culturalmente.
Porém, o essencial é outra coisa: alguém acredita que o jornal vai manter a independência e isenção, exigíveis a um jornal de referência, nos tais projectos, sempre que os mesmos possam colidir com os interesses particulares desses beneméritos do mecenato jornalístico? Eu não acredito porque não posso nem ninguém pode acreditar. Tal independência e isenção só se garantem com distância dos poderes económicos e estes são os maiores de Portugal, com ramificações em tudo o que é poder. São das maiores empresas na indústria ( GALP, EDP, REN e Mota-Engil), e serviços ( Vodafone e Santander- só falta a PT, mas isso seria demais e a imagem da firma anda um pouco ao deus-dará...) e por isso para além dos almoços que servem não serem grátis, apenas cobrarão os fretes de imagem. Desde que...
O Público com esta iniciativa jacobina, porque o é na medida em que se esquecem facilmente princípios antigos e solidificados em prol de aventuras com novos princípios reciclados no politicamente correcto apresentado como norma vigente e corrente, enterra-se mais uma vez nas profundezas da irrelevância cultural.
Comovedor é o editorial da directora, nesse sentido em que acredita que tal significa um "gesto de cidadania" ( sempre esta estúpida palavra, jacobina até mais não, inventada como artifício novilinguístico): "estas seis empresas mostram deste modo o seu perfil filantrópico ( ahahaha) e acreditam (ahahahahh) como nós, na importância do jornalismo de qualidade".
O jornalismo de qualidade não se faz com mecenato de potentados económicos, mesmo à nossa escala. Faz-se com rigor e procura da verdade das coisas correntes e dos negócios, com atenção à política, sempre distanciado dos partidos e ideologicamente neutro ou pelo menos assumido.
Faz-se com o respeito pelo leitor que não deve ser enganado nos propósitos escondidos e de agenda jacobina de destruição paulatina de tradições e costumes, em prol de novidades culturais que são velhas como o mundo mas se alcandoram a novidades absolutas e de norma a impor. Faz-se com a atitude de "escrutinador do poder", sem cair na tentação de esconder o que nos desagrada ideologicamente sempre que o poder que está nos apetece proteger.
O antigo director e fundador da revista Marianne, Jean-François Kahn, recentemente ( finais de Maio deste ano) a propósito do escândalo DSK, em que por ser amigo do dito e da sua mulher caiu na tentação de dizer que o assunto era de uma depenagem de criada ( troussage de domestique) saiu de cronista da revista e contou no artigo de despedida que durante o tempo em que foi redactor e director nunca aceitou convites para almoços com a gente do poder, nomeadamente no Eliseu.
Por cá esta ética não existe, antes pelo contrário. Os antigos almoços no PABE com os directores do Expresso e a gente do poder conferiu poder...aos jornalistas que lá foram. Hoje estão por aí, alguns precisamente nos corredores do poder. E outros, variadíssimos, casos existem. Basta fazer uma pausa e pensar um pouco.
O patrocínio, sob a forma de mecenato filantrópico ( enfim, que outra coisa haveriam de dizer?) para financiar projectos jornalísticos de referência, a mim, soam-me tão bem como os patrocínios das agências de viagem para ir a ressorts tão procurados como os da Baleares. São grátis, para o jornal?
São, são...
PS: Por causa deste "jornalismo de referência" ter escrutinado tão bem o poder que esteve e está, nos estamos como estamos. O problema é que vão ser vítimas dessa falta de escrutínio.
...porra, ainda MAIS!?
ResponderEliminar"São os mesmos, sensivelmente, que costumam apoiar os cursos de pós-graduação de Vital Moreira na Universidade de Coimbra"
ResponderEliminarahahahahahaha
O texto da coisa é uma pérola: Diz que o jornalismo para ser independente necessita de estrutura, LOL!! Diz também que o bom jornalismo é um bem público, a piscar o olho a uma possível PPP. E termina a lamentar-se da concorrência dos miseráveis tablóides (que em Portugal não existem).
ResponderEliminarEstão a tentar aproveitar a "embalagem" do Google+ ? :D
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