Porque é que o assunto da ida de José Sócrates para Paris, “estudar filosofia” é um assunto com relevância pública?
Pelo seguinte:
José Sócrates foi primeiro-ministro de Portugal durante vários anos e foi inequivocamente um dos responsáveis políticos directos pelo estado calamitoso que Portugal atingiu nas Finanças públicas. Portugal depende do estrangeiro mais do que devia em grande parte devido a políticas dos seus governos.
José Sócrates continua a ser, por isso mesmo, uma figura pública cujos actos privados podem ainda reflectir o que ocorreu enquanto foi primeiro-ministro e legitimam também por isso mesmo o interesse público naquilo que faz e publicamente proclamou iria fazer, numa vida privada que aliás não se desligou da vida política portuguesa, como ainda há pouco foi notícia.
Por outro lado, não é de afastar a possibilidade real de o mesmo indivíduo entender que merece lugar, novamente, na ribalta política portuguesa e tal reforça a legitimidade em se questionar o que anda a fazer alegadamente em privado estreitamente conexionado com virtudes públicas proclamadas e não suficientemente sindicadas.
O caso do “estudo de filosofia em Paris” foi propalado pelo próprio. Foi o mesmo quem, servindo-se dessa intenção putativo e futura a apresentou como moldura da sua imagem pós-governo, o que legitima de modo ainda mais reforçado, o interesse público em sindicar tal eventualidade.
Portanto, o que António Caldeira faz publicamente no seu blog tem todo o interesse e legitimidade. Mais uma vez procura detectar nos propalados comportamentos públicos do ex-primeiro-ministro português, a coerência entre a realidade e a proclamação de factos apresentados com manifesto interesse e em favor da imagem pública daquele. O mesmo sucedeu com o caso rocambolesco e triste da licenciatura pela Independente.
Agora, quem proclamou o retiro sabático foi o próprio e a razão genuína por que o fez permanece numa obscuridade que só tem paralelo com o curso universitário que realmente frequenta.
Desta vez, o percurso para a inscrição e frequência do curso misterioso na afamada Sciences Po, em Paris, já tem igualmente os ingredientes próprios da esquisitice e da total falta de transparência, para não ir mais longe.
Nada é transparente nesse percurso e por aquilo que se vai sabendo, o modo de inscrição, no qual, malgré lui ou não, se viu envolvido um diplomata, numa escusada e mal esclarecida promiscuidade com alguém que passou à vida privada.
Não é transparente a admissão no respectivo curso, de pós graduação, doutoramento ou outro grau de ensino universitário. Neste aspecto a obscuridade é completa e nem se percebe porquê, na medida em que o cabal esclarecimento só militaria a favor do visado.
Não é transparente o procedimento de admissão através de exames que são exigíveis, para além da documentação afixada publicamente como requisito de admissão.
Não é transparente quem admitiu e ajuizou tecnicamente válida tal admissão.
Isso no que se refere ao dito curso, porque há outras perplexidades que se desenham em perfil ainda mais relevante:
Por exemplo, como é que um indivíduo que foi político de topo, primeiro-ministro, com um poder quase absoluto em algumas áreas muito importantes da política portuguesa durante anos a fio, sem meios económicos declarados, porque é público que não poupou ou ganhou suficientemente para suportar as despesas de uma estadia em Paris como a que se anunciou, aguenta tal estadia, em termos económicos?
Isso não merece esclarecimento cabal? É assunto da vida particular do dito?
Quem responder que sim, tem o dever de demonstrar, argumentando devidamente, que assim é...
Por outro lado já se percebeu que este é um assunto de "margens". Não interessa muito ao mainstream do jornalismo caseiro, o que aprende na escola de uma Fátima Campos Ferreira ou uma Judite de Sousa. É assunto do género descartável, "isso agora não interessa nada" e substituido por outros temas mais interessantes, como sejam a discussão de temas gerais em que nada se apura em concreto por incompetência natural dos comentadores.
Tudo aponta para se tornar assunto maldito, deixado para os anónimos curiosos e à margem do circuito político da esquerda reinante nos media, à semelhança do ataque dos hacker nacionais ao sítio do PS.
Ao jornalismo caseiro do tipo indicado, com os enchidos do costume, estes assuntos não interessam porque um Bloco ou um PC ou outras forças políticas não lhe dão importância e portanto, não aparecem na opinião publicada por esses media.
Além disso, suspeitam ainda que podem ter origem em obscuras manobras de extremistas que não se identificam com as correntes habituais do politicamente correcto. E isso é fatal para o jornalismo do Público. Se fosse o Bloco a agitar o caso, já tinha primeira página garantida. Assim, nem em roda-pé.
Muito bem.
ResponderEliminarE quem devia fazer alguma coisa, eram os jornalistas.
Todos os dias, Sócrates é assunto -
ResponderEliminarFalamos de um homem de visão, não restam dúvidas.
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Não é seu o caso - mas há quem viva com paranóias - o quem que eu posso fazer?
Eu, por mim, antes deitar, rezo 3 Avê Maria e um Padre Nosso
Lica
ResponderEliminarVade retro
Os franciús se compreendessem o verdadeiro valor do homem deviam oferecer-lhe uma cátedra em trafulhice no College de France. Quanto ao Balbino devia explicar melhor aquela situação do Equiparado-Adjunto-Por-Urgente-Conveniência-de-Serviço na Escola de Gestão... hmmmm...de Rio Maior.
ResponderEliminardizem que vive precariamente em 'chambre de bonne' à custa das contas bancárias da família
ResponderEliminarJosé,
ResponderEliminarParece que há novidades, segundo o CM não se encontra a "estudar" Filosofia mas sim Ciência Política ... (no comments)
Já faz conferências com colegas universitários e diz umas graçolas do tipo "Pagar a dívida é ideia de criança"
Palavras para quê ??? é um "artista" sem qualquer dúvida e o que me envergonha é ser um artista português (assim mesmo com p minúsculo)
Notícia Correio da Manhã