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sábado, dezembro 15, 2012

A Esquerda que nos domina ideologicamente

Entrevista de Jaime Nogueira Pinto ao jornal i de hoje.  JNP é um dos poucos que fala sobre o nosso passado histórico, anterior a 25 de Abril de 1974 de um ponto de vista crítico da visão que a Esquerda nos deu ao longo de décadas.
Na entrevista, aliás, repete uma ideia que tenho procurado passar por aqui, no que escrevo: "no fim do Estado Novo a batalha cultural já estava ganha pela esquerda, toda esta gente já era resistente há muito tempo, parecia que tinha o poder."

 Imagem da revista Cinéfilo de 6.4.1974

Exactamente. Imediatamente antes de 25 de Abril de 1974 houve um concerto no Coliseu que juntou alguns  lídimos esquerdistas da canção popular portuguesa, os então chamados "baladeiros", como Manuel Freire e os comunistas encartados já nessa altura, misturados com os syrizas avant la lettre, como um José Afonso e Fausto. Só faltou um outro, José Mário Branco , fugido em Paris e mais outro, Sérgio Godinho, mas mesma situação. Meses depois cantavam já o poder popular...

Quase já em cima de 25 de Abril de 1974 a Esquerda já dominava efectivamente o palco das ideias gerais. O que se passou a seguir, nos meses e anos que vieram, foi apenas a consolidação da ideologia difusa da igualdade, da luta política ideologicamente marcada pela Esquerda, com a aceitação geral de ideia de democracia que admite uma extrema-esquerda totalitária e simultaneamente a rejeição figadal de uma extrema-direita, diabolizada e proscrita.
Esse fenómeno é o exemplo mais relevante dessa ideia particular de democracia que hoje subsiste e é exclusivamente uma contribuição da Esquerda, tal como o foi a promessa constitucional que vigorou durante mais de dez anos de que éramos um país a caminho de uma sociedade sem classes.
A Esquerda conseguiu de tal modo dominar o discurso vigente que passamos a designar como "colónias" o que dantes era apenas conhecido como "províncias ultramarinas" e "guerra colonial" o que era apresentado naturalmente, na única tv, como "guerra do ultramar". Foram essas algumas das expressões que conseguiram permanecer incólumes até ao 25 de Abril, porém logo mudadas no dia seguinte, por influência dessa mesma Esquerda vencedora.
 Não obstante, em Janeiro de 1974 as pessoas em geral sabiam bem o que havia para saber e já desconfiavam abertamente que o que a imprensa e media em geral lhes dizia sobre a situação interna em Portugal devia ser visto, ouvido  e lido com reservas. Os portugueses não são estúpidos mas foram terrivelmente ingénuos com as ideias de Esquerda que nos desgraçaram durante as últimas décadas e com promessas firmes de continuarem na mesma senda.


A entrevista de JNP dá conta disse e de muito mais e vale a pena ler.


Nacionalista convicto, Jaime Nogueira Pinto aparece preocupado com os destinos do país. A perda de soberania começou a incomodá-lo logo em 75, com o fim do império, mas hoje em dia continua a sofrer com a “desnacionalização política e até empresarial”. Professor, investigador, escritor, advogado de formação e empresário com negócios em África, Jaime Nogueira Pinto recebe o i no seu escritório na Baixa de Lisboa, sobretudo para falar do seu novo livro, “Novembro”. O primeiro romance do escritor que nem assim consegue fugir à análise da história. O mês é o de 75, que Nogueira Pinto acredita ter sido decisivo até para o Portugal que hoje conhecemos. “Desapareceram dois projectos em menos de duas semanas”, diz. O seu cunho pessoal corre o livro através dos protagonistas.
Esta sua primeira ficção acaba por ser uma autobiografia romanceada?
Também não é bem assim. Quer dizer, num certo sentido... Nos primeiros escritos não há ninguém que não meta um bocado de si na ficção, como é normal. É a nossa experiência do mundo, directa ou indirecta, mas depois usamos os mecanismos dos personagens. Mas há ali situações históricas, familiares e até psicológicas que são próximas ou paralelas. Mas isso é a massa de que se faz a ficção.
Mas aquela decepção com o fim do império era a sua.
Há uma parte histórica que é geracional. É mais do que eu, é a minha geração política e intelectual. Todo aquele grupo dos miúdos do bunker é uma repetição de grupos que existiam em Coimbra, Lisboa e Porto. É o outro lado da medalha, com que muitas pessoas ficaram surpreendidas porque não sabiam que existia, e passaram por eles milhares de pessoas entre os anos 60 e 74. Aquilo que chamávamos “nacionalismo revolucionário” e que outros, ou os próprios, chamavam “fascismo” ou “neofascismo”. Mas era relativamente pouco conhecido, porque é uma metade da história que não foi contada.
Por que razão não se ouviu tanto a versão do outro lado da luta?
Porque perdeu. Durante algum tempo fica a cozer a derrota, a lamber as feridas. Mas, mais do que isso, depois psicologicamente há um sentido de culpa nos vencidos que é muito curioso. Os vencedores transmitem aos vencidos esse sentimento. A linguagem para tratar determinadas coisas. Por exemplo, há três forma de dizer guerra de África: guerra do Ultramar, colonial ou guerra de África. Há amigos meus, dessa geração, que dizem guerra colonial e depois corrigem... são vencidos... E em Portugal ainda mais.
Porquê?
Pelo facto de o poder ter ciclos de longa duração (a Primeira República durou 16 anos, o Estado Novo 48 e este vai em 38). Por exemplo, no fim do Estado Novo a batalha cultural já estava ganha pela esquerda, toda esta gente já era resistente há muito tempo, parecia que tinha o poder. Bom, mas não sei. Podia ter havido mais gente a escrever, mas não. Olhe, escrevi eu, paciência.
De certa maneira até nesse lado houve ali a assunção de que alguma coisa tinha de mudar?
Havia. No livro, o Henrique é uma espécie de pós-consciência e tem a noção disso. Diz uma coisa que eu sempre achei: que o regime tal como estava funcionava com Salazar e não podia funcionar com mais ninguém, tinha instituições mas eram personalizadas.
No final, outro personagem, o Eduardo, diz que perderam a todos.
De facto perdemos, se fizermos um rapport à actualidade...
Mas um dos lados ganhou claramente e impôs uma ideologia.
Houve uns que ganharam e tomaram conta disto estes anos todos, são os antifascistas. A cultura política portuguesa vive muito do anti. A força da Primeira República era serem contra uma coisa que as pessoas também já achavam fragilizada (sobretudo perante a questão dos ingleses e o Ultimato). Os republicanos dominam, de facto, e o Afonso Costa faz uma lei eleitoral à medida, tirou o voto aos analfabetos e as cidades dominaram o resto. Depois fizeram tantas ou tão poucas que veio o 28 de Maio. E depois veio o Salazar, que era bastante popular no princípio.
Como?
É uma coisa curiosa que vale a pena lembrar nesta altura por causa das medidas financeiras. Salazar a governar em ditadura apoiado pelo exército explicava tudo o que estava a fazer.
Isso hoje não acontece?
Hoje não vejo explicar muito. Quer dizer... ele explicava tudo e dava contas para que serve, ao que se deve, ao que está, ao que vai custar. É uma coisa interessante.
Mas nessa altura a informação era escassa. Agora essa prestação de contas continua a impor-se da mesma forma?
Claro que sim. Portugal é uma nação muito antiga. Às vezes parece um melting pot de gente primitiva, mas não. É uma nação muito antiga, em que as pessoas têm consciência da razoabilidade das coisas conhecidas a tempo e horas. Se lhes forem explicadas as razões, as pessoas reagem de outra forma, em vez de serem tratadas como uma espécie de spoiled children, em que as coisas sérias não lhe são ditas.
Informadas ou não, o que é certo é que há uma reacção de pessoas na rua.
As pessoas estão revoltadas e com uma certa razão, porque foi tudo feito num clima em que lhes foi prometido que era sempre tudo melhor. O problema do descontentamento é o gap entre as expectativas e as realidades. Se não fosse assim, as sociedades tradicionais tinham-se revoltado muito mais cedo. Os que faziam pirâmides para os faraós não eram tão estúpidos como isso, mas não tinham mais expectativa que aquilo.
Mas hoje a expectativa é simplesmente negativa. Só mais austeridade.
Mas eles não tinham nenhuma. A revolta surge quando as pessoas ganham consciência de uma situação real ou imaginária de injustiça ou iniquidade. Mas depois tem de haver um grupo político, se não a indignação não serve para nada. E há outra coisa: as pessoas estão revoltadas, mas depois vão para que lado? Para o PS outra vez? Ou para o Bloco de Esquerda?
Mas tem de continuar a ser pela via dos partidos?
Em democracia pode ser através de quê? Os movimentos cívicos são modelos de rebeldia. São os rebeldes. Estão autonomizados da revolução, que tinha uma consciência alternativa, um comando político e uma ideia de sociedade futura. Os rebeldes revoltam-se contra o que está. Não têm plano alternativo. E também já temos consciência histórica disto: tiramos estes de lá para quê? Para pôr o Seguro? Ou pôr movimentos inspirados por figuras da República já na reforma? É essa perplexidade que as nossas sociedades vivem.
Há um bloqueio então?
A indignação leva a algum lado, mas também ninguém quer a indignação dos tipos que queimam caixotes do lixo... Há uma retórica anti-sistema que hoje é um bocadinho patética porque não é nova. Já vimos os 68 todos, os surrealistas todos. Há, de facto, um bloqueio. Mas há um problema mais vasto, de profunda decadência da Europa. Portugal tem a dupla: a decadência da Europa e a sua própria decadência. Mas a mensagem oficial nunca foi essa, nem aqui nem na Europa.
Mas já assistiu a algum bloqueio assim na história?
Nós em Portugal temos sempre uma coisa que é a síndrome de ter tido uma história de muito protagonismo e termos deixado de ter. Andámos sempre às voltas a tentar saber porque é que foi assim. Tivemos dificuldade em recuperar e depois falamos sempre das coisas piores. A única descolonização que fizemos sem pressão foi a do Brasil, e correu bem. Portanto tudo isso é um bocado traumático. A história actual também traumatizou muito. O facto de termos tido um regime autoritário fora de época também deu à esquerda uma ideia de permanente vitimização que também lhe dava legitimidade para dominar cultural e ideologicamente. É isso que as personagens do “Novembro” rejeitam, não queriam aceitar essa legitimidade.
Esse mês em 75 foi decisivo para a história actual?
Foi. Embora aquilo [refere-se ao livro “Novembro”] seja um romance e o que interessa são os destinos das pessoas, mas essas pessoas interiorizaram o fim do império, como na esquerda se interiorizou o fim da revolução. Em pouco mais de duas semanas desapareceram dois projectos diferentes mas alternativos ao que está, e isso foi importante.
A história devia ter sido outra?
Sei lá... What if? E se Napoleão tivesse morrido cedo? E se não houvesse revolução bolchevique, como seria a história do século xx? E se Hitler em 1923, em Munique, tivesse levado um tiro na cabeça?
Mas em 75 foi muito radical e disse logo “Portugal acabou”...
Pois disse. Um certo Portugal acabou naquele dia e eu estava convicto disso. Hoje há outro que é o que está aqui.
Melhor?
Não! Isso não é. É outro.
Ainda sofre com a perda de soberania nacional?
Não. Se sofresse era um doente crónico. As pessoas que mais sofreram com o fim do império foram as que voltaram lá de outra maneira e com respeito e consequência. É evidente que foi uma grande perda, mas todos os povos europeus passaram por isso.
Era inevitável?
A esta distância racionalizamos sempre o acontecido. Quem não o faz corre um risco humana e politicamente relevante. A maneira de continuarmos a viver é dizermos que era inevitável.
Mas manter colónias era contra o correr do jogo. Já estávamos isolados.
A partir do momento em que nenhum Estado europeu tinha territórios ultramarinos, a partir do momento em que tínhamos um modelo exótico, era uma questão de tempo sermos vencidos e bastava existir uma alteração brusca da situação para tudo desaparecer como desapareceu rapidamente. Mas podia ter acontecido de outra maneira. Os partidos eram totalmente indiferentes ao que se passava lá, tirando o Partido Comunista, que queria que fosse um partido com as suas afinidades a ganhar o poder. Os militares não tinham ordens. Os antifascistas tiveram responsabilidades humanas pelo que se passou. Tinham a mania que era uma coisa do Salazar. Mais tarde essa gente ficou muito contente e descobriu a lusofonia, mas na época era isso.
Eu quando lhe perguntava se ainda sofre com a perda de soberania era a pensar nos dias de hoje e no tal directório europeu.
Ai isso sofro! Isso é uma causa como a do 1.o de Dezembro. Mas nós não vamos perder porque nada disso se vai fazer, não vai haver qualquer espécie de entendimento na Europa.
Porque tem essa convicção?
A indiferença perante a soberania política aparece muito do lado da Alemanha. O único país que tem escolha entre uma Europa federal e uma Europa desfeita é a Alemanha. Os estados que têm formação histórica de estado nacional não querem perder soberania. Para os que não têm essa forma, como a Bélgica ou até Espanha, a questão da soberania não se põe nesse termos. Nas classes políticas dominantes há uma preponderância dos federalistas e europeístas, mas muito maior que nas populações. A soberania e a independência nacional são a coisa mais importante que há.
Mas está garantida, tendo em conta a oposição das populações?
Não, está dificílima. Há uma desnacionalização enorme das classes políticas e também das empresariais. Por exemplo, a forma leviana e tonta como se acabou com o 1.o de Dezembro como feriado, um dia fundacional, que acabou na página de um decreto sobre legislação do trabalho, não lembra a ninguém. Dá um sinal de grande inconsciência política e é assustador.
Mas até aí seguimos uma directriz externa...
Mas podiam ter escolhido outro e, dos feriados civis, o último a acabar era este. Sem o 1.o de Dezembro não havia nenhum dos outros, é uma questão de lógica aristotélica.
E com esta carteira de privatizações, algumas já em curso, também se põe em risco a soberania?
Claro. Aqui fez-se uma destruição sistemática de tudo. Esta gente... poder ou oposição, evoca o factor nacional quando lhe dá jeito, mas depois não tem noção do que é a perda de poder. Na esquerda houve a ideia de que para ser nacional tinha de ser público, e com isso fez se aquele equívoco nas nacionalizações de 75. Foi pura estratégia revolucionária dos partidos comunistas que os outros partidos seguiriam. São os tais azares históricos, começámos a trazer para aqui um regime do tipo soviético, ou a tentativa dele, dez anos antes de Gorbachov começar a desmantelar o comunismo na União Soviética. Agora é evidente que com esse modelo espoliámos as classes nacionais e o país descapitalizou. Já num modelo económico capitalista, não gostámos dos nossos capitalistas, que melhor ou pior eram portugueses, e fomos entregar tudo a capital anónimo.
Anónimo como?
É internacional, são directórios. Somos nós os colonizados.
Há aqui uma fina ironia. A palavra “colonizado” quando um dos principais investidores é uma ex-colónia.
Apesar de tudo talvez esse seja aquele capital que é menos estrangeiro, porque em alguma coisa histórica tem a ver connosco. Mas, por exemplo, os asiáticos já são anónimos. Os próprios grandes conglomerados financeiros já são eles próprios anónimos. Há o problema da inveja, que é muito complicado. Destruímos a classe empresarial para irmos parar às mãos de outras que não sabemos bem quem são nem de onde vêm.
Também se junta às vozes preocupadas com a entrada de capital angolano no país?
Não vi, até agora, que esse investimento tenha tido consequências danosas ou se tenha metido na direcção do país mais ou menos do que quaisquer outras criaturas.
Mas a experiência não está feita: de repente ex-colónias a “sustentarem” os antigos colonizadores. Prevê as consequências disso?
A percentagem do investimento angolana na economia portuguesa é de 4% ou 5% e sobretudo não vejo que haja um comando, não vejo que seja parte de um master plan. Até agora não vi que houvesse uma direcção estratégica no sentido de dominar a política portuguesa.
Na privatização da RTP, por exemplo, trata-se de mover influências?
Não sei, nem sei como vai ser. Mas há uma coisa que hoje se sabe: um órgão de comunicação que seja telecomandado não serve para nada, não serve para esses interesses, só serve enquanto é oculto. Um meio de comunicação que seja essencialmente visto como um instrumento para uma coisa deixa de se valer para essa coisa.
Parece uma perspectiva optimista da comunicação social.
É esquisita vinda de mim, não é? Bom, mas agora a questão é se o resto serve para muito. É a outra parte da frase.
É um motivo de preocupação em Portugal, a liberdade de imprensa?
Não vejo. Acho mais importante a perda progressiva da maior parte dos centros de decisão e acho horrível a indiferença com que se vê isso acontecer. Acho que há uma profunda desnacionalização das pessoas e das consciências. Isto foi tudo feito em nome da economia e as pessoas ainda não viram sequer que, mesmo do ponto de vista económico, se perderem a identidade e a independência nacional vão ser uma espécie de trabalhadores por conta de outrem, de escravos, e não sabem de quem. E fizeram isto tudo alegremente em nome da liberdade, da democracia e da igualdade, sem perceberem que o país vai estar cada vez mais dependente e vai ser cada vez menos importante. Nos anos 60 podia ser mal visto, mas era um país importante.
O nacionalismo morreu? Se há essa carência porque não aparece?
Apesar de tudo, o regime com essas pessoas que se identificavam acabou há menos tempo do que no resto da Europa e houve uma demonização tremenda destes grupos. E as pessoas que o podiam ter feito não fizeram, fizeram outras coisa.
O quê?
Escreveram livros sobre isso [risos].
Mas não há quem os substitua?
Não sei.
É descrente em relação à nova geração?
Não. Há gente nova que estuda, tem cabeça e consciência nacional: não tenho nada essa ideia apocalíptica.
Mas onde estão? Nos partidos?
Não, isso não. A escrever nos jornais, na comunicação social.
Mas se é dos partidos que tem de partir a mudança...
Pois, mas têm de ser eles a fazê-lo porque ninguém se salva por procuração. Por acaso no cristianismo é o contrário, nós salvamo-nos pelos méritos de Cristo. Mas politicamente ninguém se salva por procuração. As gerações têm de tratar delas mesmas.
Mas há falta de cultura política?
A nossa geração, e mesmo à esquerda, tinha cultura política, e hoje não. Mas isso não sei se é culpa das “Casas dos Segredos” ou da televisão. Naturalmente é dos liceus, que deixaram de os pôr a ler. Mas há gente nova que pensa e debate, talvez a política não lhes interesse tanto como nos interessava a nós, mas também a política já não é assim tão importante. Há uma frase que é uma treta que é “nas democracias há sempre soluções”, mas é um bocadinho verdade, ela passa para o colectivo a responsabilidade das coisas.
Estamos em fim de ciclo?
É capaz. Aliás, eu diria mesmo que Deus queira que seja. Se não acaba o ciclo, acaba o país.
E o que vem a seguir?
Não sei.
Em Novembro de 75 sabia.
Intuíamos.
Mas agora nem isso. Não é preocupante?
Sim, mas agora também temos esta ideia da paz, a paz perpétua. No caso português... bom, os brandos costumes foram uma expressão de Salazar, antes Portugal era muito violento. A grande violência do pós-25 de Abril foi passada para o espaço colonial. Mas hoje temos muita violência social, basta ler com atenção os jornais mais populares. A violência privada em Portugal é muito forte. A ideia de que o português é pacífico e ordeiro não é tanto assim.
Mas pode surgir na rua?
Não, porque a violência política tem de ser organizada e não há nenhum grupo neste momento. Os grupos esquerdistas têm uma linguagem muito incendiária. O país também perdeu a independência de ter soluções próprias até nesse sentido. Essas soluções de ruptura, para os pequenos países, estão cortadas.
Vai cair outra vez no radicalismo de dizer que o país acabou?
Não... mas eu hoje já sei que os países não acabam assim tão facilmente. E o tempo dá outra perspectiva das coisas e talvez tire alguma radicalidade, que também era boa... mas agora deixei-a para os livros.

24 comentários:

  1. a iragem à esquerda começa em 49 com o MUD juvenil.

    a Igreja ataca através das diversas juventudes. a universitária tinha em Coimbra o CADC a que pertencera a Geração de Salazar. os beatos do meu tempo tiveram ainda um jornal. nunca conseguiram impor-se. lembro-me dos falecidos Jasmim e Abecassis. Sedas Nunes, João Salgueiro, Rogério Martins e outros foram simplesmente varridos.

    a Opus Dei resistiu e vive numa semi-clandestinidade que desconheço quando desapareceu o Mário Pacheco e o Doutor Francisco Martinez.

    da MP saiu gente como Otelo, Vitinho do BCE, Albero Martins.

    o assalto combinado em 72 em Paris teve o resultado desejado
    porque só a esquerda e direita estavam organizadas.

    assisti à tentativa de criar um partido ligado ao gol e à criação do PPD de que fui o militante 29 (o gol pretendia colocar gente em todos os partidos, antes da invasão da rataria).

    um iberista como eu considera que
    a esquerda acabou definitivamente com o rectângulo. qualquer outra solução levará 2 ou 3 séculos

    finita la rigolada

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  2. Falta um aspecto importantíssimo nessa descrição: o que aconteceu cá aconteceu por todo o mundo ocidental, com a diferença de que no nosso caso a vitória cultural da esquerda acontece com 10-15 anos de atraso numa ditadura e durante a última guerra colonial. Sim, a designação colonial está correcta e não é de esquerda nem de direita, é ajustada aos factos. O nosso drama vem do isolamento e do atraso. O regime republicano, nunca legitimado, durante a I república como durante a II, na verdade, duas ditaduras, sempre buscou fora a sua legitimação: a primeira forçando os aliados a aceitar a participação na I Gerra mundial, já a pretexto da defesa do Ultramar, a segunda obrigando a nação a defender o indefensável, o 'Portugal pluricontinental'. Infelizmente os anões mandam no país desde 1910. Antes também mandavam, mas menos.

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  3. Amigo
    um conselho: sábado 22 no 'viático' deve ler 'free radicals'


    sempre ouvi e li colónias, províncias só depois da guerra de África

    em 1950 quando entrei para a Fac Ciências de Lisboa havia ao lado a Escola Superior Colonial. Para os estudantes Africanos havia a Casa dos Estudantes do Império.

    por essa altura conheci o António, 1º presidente de Angola, por ser amigo dum amigo meu.

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  4. O estatuto de províncias ultramarinas foi um truque do Salazar para contornar os tipos da ONU que já andavam a ser pressionados pela URSS por causa de Portugal.


    Quanto à entrevista, tem mesmo piada como ele confirma o que o José há muito anda a dizer.

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  5. A repristinação, pela Esquerda, do termo "colónias" não é inocente. De facto existia esse termo, naturalmente usado no tempo de Salazar.
    Mas depois disso modificou-se e não foi só por cosmética porque a política ultramarina não entendia a relação de Portugal com os territórios que tinha descoberto no séc. XV como se de colónias se tratasse com a semântica que à palavra foi dada pelo internacionalismo proletário e colectivismo comunista.

    A ideia de "colónia" para um comunista não é a mesma que Salazar tinha e por isso, a mudança semântica está inquinada por esse facto.

    Província Ultramarina era a designação correcta segundo o entendimento do Estado anterior ao 25 de Abril. Depois disso o entendimento pautou-se pelo do comunismo vigente à época que entendia como colonial a relação entre Portugal e os territórios africanos mas não entendia do mesmo modo que Cuba fosse uma espécie de colónia do comunismo soviético.

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  6. Se eu me referir aos nossos estados africanos- sim , porque eram mesmo nossos que os descobrimos e povoamos e catequisamos e desenvolvemos- no tempo de Salazar, direi colónias com toda a naturalidade mas referindo o conceito vigente na época e que diferia do conceito comunista.
    Se me refiro a esses territórios no tempo de Caetano direi províncias ultramarinas porque era assim que os entendíamis, mau grado o comunismo queira fazer-nos crer o contrário.

    O comunismo é uma doutrina perversa que só trouxe resultados catastróficos nos países onde vigorou. Uma tragédia.

    O que me admira é que ainda haja pessoas com inteligência que acreditam naquelas balelas perigosas.

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  7. Tem toda a razão, José. O termo foi uma mudança institucional mas a escardalhada usa a palavra colónia por quererem equiparar descobertas de territórios semi-ocupados e outros sem gente, com colónias modernas, a países já existentes e ocupadas no séc. XIX e XX.

    E nós, por arrasto do "black Power" e do comunismo passámos por iguais aos outros que até viviam nas boas das democracias e ainda hoje vivem e colonizam nas calmas sem apanharem com o epíteto de "fascistas".

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  8. Mas foi ainda com Salazar que a mudança aconteceu e teve mesmo a finalidade de controlar directivas da ONU acerca do colonialismo.

    O estatuto dos habitantes de África ou Indonésia passou a ser igual ao de qualquer português.

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  9. Foi em 46. O Dragão disponibilizou este estudo:
    http://run.unl.pt/handle/10362/5585

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  10. «Desde 1946 que a URSS vetava a entrada de Portugal na ONU. Quando em 1955 Portugal passou a ser membro da ONU, o Governo de Oliveira Salazar insistiu numa política de reforço da autoridade portuguesa sobre os espaços ultramarinos e numa recusa, constante, de qualquer tipo de negociação que pudesse pôr em causa essa mesma autoridade. Para Portugal estava completamente fora de questão qualquer cedência perante as crescentes pressões internacionais. A questão ganhava ainda mais pertinência perante a habilidade de Salazar em transformar colónias em províncias para não ter que se submeter às disposições da Carta das Nações Unidas no que concerne aos territórios não autónomos.
    É neste contexto, logo após a admissão portuguesa, que o Secretário-Geral da ONU enviou uma nota ao governo português questionando se, nos termos do artigo 73.º da Carta, Portugal administrava territórios em que se aplicava aquele princípio. Aplicando a regra fixada por ele próprio, Salazar sentiu-se à vontade para responder o seguinte: “Portugal não administra territórios que possam ser incluídos na categoria indicada pelo artigo 73.
    »

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  11. «
    146 Cit. por. ANTUNES, Kennedy e Salazar, p. 39.

    Recorrendo à explicação do historiador Fernando Martins, podemos compreender na perfeição, a posição do Governo português. Esta baseava-se na defesa do princípio
    segundo o qual, o Estado soberano designado por Portugal, não deveria ser confundido com o território europeu também com aquela designação. Isto porque a extensão territorial portuguesa remontavam, pela história e pelo direito, a 1612. Na legislação produzida sob o domínio filipino, podia-se ler que Portugal e as suas províncias não europeias, não distintas ou separadas do reino não lhe pertencem por união, mas fazem parte integrante desse mesmo reino. Portanto, sob o ponto vista do Estado português, e já no século XVII, aquele que tivesse nascido em GOA ou em Angola, era tão Português como aquele que tivesse nascido em Lisboa
    »

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  12. É verdade isso, e terá sido mais que um artifício porque durante muitos anos o sentimento em Portugal ( e eu sentia isso mesmo nunca tendo ido lá- mas o meu pai foi durante 18 meses, no final dos anos cinquenta) era o de que "Angola é nossa, é Portugal". Nós por cá, não víamos os territórios de África como colónias na acepção que os comunistas lhe dão. Víamos mesmo como autêntica extensão do país. E havia até movimentos para deslocar a capital para Luanda, por exemplo.

    Foi o comunismo, mais que tudo que acirrou os ânimos das populações nativas ( era assim que lhes chamavam o que origina depois o argumento sobre o conceito de colónia) para a independência.

    A modernidade da segunda metade do séc. XX trouxe a inevitabilidade da separação: as tais populações "nativas" eram maioritárias demograficamente e eram...pretos. Se fossem brancos estou convencido que não havia essa vontade de separação.
    A não ser que se verificasse o que ocorreu em Timor: a Indonésia também queria essa "colónia"...

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  13. Ou, já agora o que acontece na Catalunha. Ou na antiga URSS que se desmembrou em nacionalismo vários.

    Portanto, a independência não terá tanto a ver com o conceito de colónia ou o de província ultramarina mal sucedido, como terá a ver com natural tendência de um povo com certas características querer mesmo ser independente. E isso devia ter sido percebido pelo Marcelo Caetano.

    Aliás isso é tanto assim que depois da independência em Angola se gerou uma guerra civil rácica. Os pretos de Savimbi não são a mesma coisa que os pretos de Agostinho Neto e não se suportavam tribalmente.

    Por isso mesmo, a independência tem muito que se lhe diga. Será que os pretos de Savimbi e tribos dessa mesma raça aceitam bem a convivência com a outra?

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  14. E agora quem é que coloniza quem, no conceito comunista?

    Quem manda actualmente em Angola aceitará que passe a mandar alguém da outra tribo?

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  15. Nem existia qualquer "povo" nem países.

    Era tribalismo rival e foram os do Norte de Angola que iniciaram os massacres e mataram milhares de negros.

    Tudo com instrumentalização americana e comunista.

    E quem definiu a nacionalidade, identidade e fronteiras desses países que agora são autónomos, fomos nós.

    Isto nada tem a ver com uma colonização da Argélia ou de Marrocos.

    Nada de nada. Foram descobertas, tal como o mundo foi sendo descoberto e colonizado desde os primórdios.

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  16. Pela lógica dos pascácios comunas até Portugal era uma colónia dos romanos, suevos, visigodos e berberes que nunca teve direito à dita "auto-determinação".

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  17. Portanto, é mentira e está errado dizer-se que foi uma "guerra colonial".

    Não foi. E nunca houve um movimento popular contra os brancos.

    O que houve foram militâncias comunistas a instrumentalizar mercenários de tribos rivais e armá-los para serem eles a colonizar.

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  18. Agora é democracia de família de soba e os escravos que vivem nos porões na baía de Luanda são chineses.

    Não há crise. acabou-se o horror do colonialismo facista

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  19. A Esquerda portuguesa nada disto quer reconhecer porque têm outros parâmetros de análise.

    Pensa tudo com chavões e assim deseduca.

    Colonialismo, fassismo, imperialismo, racismo etc etc.

    Ideias feitas para conceitos rígidos.

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  20. E o jornalismo caseiro foi educado neste ambiente. Desde o 25 de Abril que é dominante e antes disso já o era.

    É essa uma das razões práticas da nossa desgraça colectiva: a ignorância e a desinformação decorrente.

    Quem ouve ou lê o compadre do banqueiro Salgado, Sousa Tavares e apelido nem se apercebe como é que tipo ainda comenta nas tv´s. Mas percebe-se muito bem com esse conhecimento e testando o tema das suas crónicas cujo assunto nunca varia: zurzir naqueles que põem em causa os interesses da "classe".

    É ler e analisar para se ver se não é assim...

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  21. Eu conheci bem as Lundas e o Moxico e sei como foram colonizadas de Vila Luso (Luena) a Teixeira de Sousa (Luau) e de Henrique de carvalho (Saurimo) ao Dilolo (sim, no Katanga). Houve colonização e não foi à maneira dos antigos gregos. O colonialismo português começa no séc. XIX, como no resto da Europa. É ler A ilustre casa de Ramires.

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  22. Muito boa ideia essa de reler a Ilustre casa de Ramires.
    Há pelo menos vinte e cinco anos que não lhe toco.

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  23. Pois é mesmo outra boa ideia de leitura.

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  24. Publiquei:

    http://historiamaximus.blogspot.pt/2013/11/a-esquerda-que-nos-domina.html

    Contacto: historiamaximus@hotmail.com

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