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domingo, janeiro 06, 2013

"O país dos gigantones que passeiam a importância e o papelão"

 Visão:

 (...)O problema é que, embora a vida de Artur Baptista "Zelig Chance Bean" da Silva pudesse dar um filme, a sua realidade ultrapassa largamente qualquer ficção. Baptista da Silva passou os últimos meses a vestir a pele de consultor do Banco Mundial, de ex-assessor do Presidente Jorge Sampaio, de professor universitário (na inexistente Milton Wisconsin University) e de coordenador de um ainda mais inexistente Observatório Económico e Social para os Países do Sul da Europa, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Tal como invocou o estatuto de ex-deputado à Constituinte ou secretário de Estado de um dos primeiros governos provisórios... E, depois de uma espiral de conferências na Academia do Bacalhau, no International Club of Portugal, na ONG portuense Espaço T (Congresso da Felicidade) e, cereja no topo do bolo, no Grémio Literário, de que era sócio, o nosso herói acabou a dar entrevistas aos órgãos de referência TSF, Expresso, Diário de Notícias e TVI (esta não chegou a ir para o ar), culminando a sua atuação no programa televisivo da SIC Notícias Expresso da Meia Noite, contracenando com algumas das mais proeminentes figuras do nosso jet set empresarial. 
(...)
Um dos seus três filhos (do primeiro casamento) declarou, esta semana, que "por muito que o pai já nos tenha mentido", ao vê-lo, na TV, também ficou na dúvida "se não seria quadro da ONU". E até um seu antigo colega no Liceu Camões, o advogado Ricardo Sá Fernandes, que nele tinha tropeçado numa acidental visita à cadeia, comentou para com os seus botões: "Ainda bem que este tipo conseguiu dar a volta por cima." A ânsia de políticos e sindicalistas por novas abordagens à política e à economia teve, em Portugal, o mesmo resultado que na ficção de Mr. Chance. Baptista da Silva foi recebido pelos sindicalistas Arménio Carlos e João Proença, avistou-se com o bloquista João Semedo e com o deputado europeu Rui Tavares, privou com Helena Roseta. Fez furor. Leia-se o comentário de José Medeiros Ferreira, professor universitário, antigo ministro do PS e um dos intelectuais mais sábios e experientes da nossa praça, em texto publicado no Correio da Manhã: "O critério da relevância das notícias, e, ainda mais, o da sua retumbância entre comentadores, é deveras intrigante. Não falo do anunciado fim do mundo, que é da ordem do desumano. Falo da quase nula importância atribuída entre nós à notícia da criação, no âmbito da ONU, de um Observatório Económico e Social para os Países do Sul da Europa, entre os quais Portugal. Esse Observatório irá produzir um relatório em 2013, mas sabe-se desde já alguma coisa da sua filosofia, através de uma entrevista desassombrada do seu coordenador, Baptista da Silva, concedida ao suplemento de economia do Expresso."

Esta gente que acreditou neste parlapatão está bem assim porque são uns para os outros. Similis cum similibus, como se diria. Les bons esprits se rencontrent toujours.

Ou para citar o nosso Alexandre O´Neill que desta gente diria:

País purista a prosear bonito,

a versejar tão chique e tão pudico,

enquanto a língua portuguesa se vai rindo,

galhofeira, comigo.

País que me pede livros andejantes

com o dedo, hirto, a correr as estantes.

País engravatado todo o ano

e a assoar-se na gravata por engano.

País onde qualquer palerma diz,

a afastar do busílis o nariz:

-Não, não é para mim este país!

mas quem é que bàquestica sem lavar

o sovaco que lhe dá o ar?

Entrecheiram-se, hostis, os mil narizes

que há neste país.

País do cibinho mastigado

devagarinho.

País amador do rapapé,

do meter butes e do parlapié,

que se espaneja, cobertas as miúdas,

e as desleixa quando já ventrudas.

O incrível país da minha tia,

trémulo de bondade e de aletria.

Moroso país da surda cólera,

de repente que se quer feliz.

Já sabemos, país, que és um homenzinho...

País tunante que diz que passa a vida

a meter entre parêntesis a cedilha.

A damisela passeia

no país da alcateia,

tão exterior a si mesma

que não é senão a fome

com que este país a come.

País do eufemismo, à morte dia a dia

pergunta mesureiro: - Como vai a vida?

País dos gigantones que passeiam

a importância e o papelão,

inaugurando esguichos no engonço

do gesto e do chavão.

E ainda há quem os ouça, quem os leia,

lhes agradeça a fontanária ideia!

5 comentários:

  1. não me admira que o 'grande angular' tenha enfiado o barrete porque parece que o burlão concorreu por 2007 ou 9 às eleições legislativas pelo ps e foi eleito.

    escreveu o citado poeta
    'este país quando se alivia,
    mando-nos à mãe, à irmã e à tia'

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  2. É de registar no reino do anedotário.
    Este país é uma anedota.

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  3. ehehehe

    Esta foi a carapuça mais bem enfiada para tanto patapouf à solta.

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  4. Mas quem é que se pode admirar?Muitos mais enfiaram o barrete aos Portugueses prometendo-lhes "enriquecimento" com centenas de milhar de pobres dos outros.E que nem sequer "comunitários" são...
    Claro que primeiro tivemos que lhes pagar a casa social, educar e tratar da saúde.Agora aguardem sentados a riqueza prometida, mas vão pagando o " a cada um segundo as suas necessidades"...

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  5. O que eu gostava mesmo era de ter lido esta posta (e todas as outras que por aí abundam, a dar caça ao charlatão) antes de lhe ter sido descoberta a careca.
    Também gostaria de ler críticas ao que ele disse, não às suas (inexistentes) credenciais.
    Até porque um charlatão desses até chegou, entre nós, Primeiro Ministro reeleito.
    Quantos aldrabões teremos nós nos mais altos cargos, alguns dos quais bem piores que esse tal Baptista da Silva, cheios de títulos verdadeiros e com currículos de muitas páginas?

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