Páginas

domingo, março 10, 2013

A história do marcelismo contada às crianças e lembrada ao povo comum

Comprei o livro de Helena Matos "Os filhos do Zip Zip" e folheei várias vezes, vendo as ilustrações a preto e branco e a cores, em algumas páginas escolhidas.
Segundo a autora, "os filhos do zip zip são aqueles para quem a televisão, o que  lá se dizia, via e acontecia se torna no denominador comum das conversas. "
Portanto, temos um programa de tv de meados do ano de 1969 e que se mostrou semanalmente na tv única até ao fim desse ano, como paradigma de uma época e daqueles que então eram crianças, como geração que sucedeu à do Maio de 68. São os que têm agora cinquentas.
O livro está estruturado em seis partes com 23 capítulos e neles se percorre o fadário nacional daqueles anos que começaram com a tomada de posse de Marcello Caetano e acabaram no 25 de Abril de 1974. Meia dúzia de  anos que mudaram a vida que temos e que raramente nos são dados a conhecer pelo lado brilhante deste nosso microcosmos nacional.
Geralmente, a História que os contadores oficiais  nos contam sobre este período é a do lado obscuro desse pequeno universo, o negrume do "fassismo" e do atraso e da miséria neo-realista e do analfabetismo e industrialização condicionada e amparada pelo Estado fascista, com duzentas famílias a mandar no país.
O que poderia ser apenas uma caricatura de um regime, tornou-se pelas artes mágicas de uma Esquerda fóssil na narrativa comum e aceite como oficial nos livros do ensino obrigatório. Ninguém se atreve a mudar ou alterar, um pouco que seja, esta narrativa porque será imediatamente apodado de "fascista", "reaccionário", saudosista" e outros mimos destinados a assassinar socialmente quem se dignar  empreender tal tarefa.
Não sei se o livro de Helena Matos vai ser criticado nessa perspectiva e estou com alguma curiosidade. Porém, o mais certo é ser completamente ignorado e relegado para os artefactos inúteis ao discurso oficial da nossa História contada pelos rosas flunser e outros tavares. Não tendo concedido o imprimatur, o livro será fatalmente proscrito no gotha da torre do tombo, reservada aos pachecos pereiras que contam as aventuras dos pum pum, sem medo do ridículo.

Ainda assim, o livro, despretensioso e que evidentemente merece ser lido ( li em diagonal e posso avançar o parecer) tem algumas partes interessantes, como seja a insistência programada nas publicidades mediáticas da época a produtos caseiros ou de consumo corrente, a par de novidades nos costumes e modos de vida em Portugal, nesses anos, polvilhado por uma miríade de fait-divers e acontecimentos de relevo.
Confessadamente, o livro baseou-se essencialmente em repescagens gráficas de notícias e ilustrações aparecidas em alguns, poucos, órgãos de informação escrita da época, designadamente o Diário Popular e o Século Ilustrado. Na entrevista à Papel, a autora esclareceu que foi uma opção e que "neste livro recorri muito ao Diário Popular e a O Século Ilustrado porque pretendia uma perspectiva sobre o quotidiano das pessoas comuns. As perspectivas mais elitistas mas não menos interessantes  estão lá pouco."

O livro não esgota a temática e antes a amplia e permite imaginar outros livros sobre o assunto que longe de ser apenas revivalismo ou até saudosismo, como os fósseis do costume não se cansarão de denunciar,  permite ter uma visão mais diacrónica dos factos do dia a dia e da vida naquele tempo que nos apresentam sempre como uma época terrível e de obscurantismo semelhante ao também propalado ( pelos mesmos) para a Idade Média.

Assim, mudanças sociais, nos transportes, na habitação, na educação, nas comunicações e costumes são de algum modo escalpelizados em função de notícias de época, curiosidades avulsas e ilustrações a condizer, dos jornais da altura, com profusão de fait-divers que ajudam a enquadrar um tempo e uma época. Quem a viveu recorda-se e situa-se imediatamente num país que reconhece como tendo sido o seu e não aquele que os tais fósseis lhes pretendem impingir. As pessoas que aqui aparecem retratadas no dia a dia não são os costumeiros antifassistas e não é o relato das suas aventuras anti-regime que aparece em destaque, para contrastar com o panorama livreiro dos ensaios dedicados ao tema.
O Ultramar é mesmo isso  e não "Colónias". As pequenas vinhetas do Diário Popular, sobre acontecimentos trágicos ocorridos e não testemunhados, aparecem em ilustrações típicas de "o fotógrafo não estava lá..." e os acontecimentos-chave desses anos são mencionados, ainda que pela rama das notícias de jornal.
Este é um livro que respeita o ar do tempo e lhe empresta um cheirinho de época, para quem se lembrar de anúncios ao Clarim, à Planta ou à "menina pescadinha".

Tem porém um pequeno equívoco: os filhos do zip zip não são aqueles pequenos espectadores de tv que se encantavam com o Carrosel Mágico ou a Pippi das meias altas. São outra loiça...que passo a ilustrar noutro postal que me ocorreu ao folhear o livro.

12 comentários:

  1. a minha experiência de vida conta muito mais que a opinião dos pudins flans rosáceos da esquerda das passeatas de fins de semana.

    sofri na pele todas as maluqueiras de quem destruiu a actividade económica e me deixou deliberadamente no desemprego, me roubou, me insultou, mas a quem nunca me curvei.

    puseram o rectângulo neste estado de penúria que boxexas, sampaios, seguros e 'caudatários' atribuem ao actual governo.

    tenham um pouco de vergonha e reconheçam que politicamente são a merda que se vê e onde continuamente escorregamos

    ResponderEliminar
  2. Ainda bem que diz.

    Vou espreitar o livro.

    Lá no Blasfémias um qualquer disse que a capa era horrível mas nem me parece.

    Quanto aos filhos do zip zip, estou curiosa. Eu já era adolescente mas não havia tv em casa, por pancada do meu pai.

    Via apenas nas férias.

    Também não acho que os filhos do zip zip sejam esses da Pippi- esses são filhos de Abril. Os do zip zip são mais velhos- estão na charneira.

    ResponderEliminar
  3. Na volta são mesmo os que tomaram de Portugal e os que ainda têm memórias mas apagaram-nas, para fazerem update.

    ResponderEliminar
  4. A capa até está bem conseguida. Parece produto de época. Não sendo genial está muito bem.

    ResponderEliminar
  5. A capa até está bem conseguida. Parece produto de época. Não sendo genial está muito bem.

    ResponderEliminar
  6. Engraçado o José achar isso.

    Eu pensei o mesmo e achei palerma quem disse que era horrível.

    ResponderEliminar
  7. Vá lá uma pessoa entender-se entre "artistas"

    AHAHAHAHAHAH

    ResponderEliminar
  8. Mas é capaz de ser do tipo de letra: é Cooper. E nada que tenha Cooper consigo achar mal. Por outro lado é mais sixties do que seventies...

    ResponderEliminar
  9. Se calhar é isso.

    É mais sixties, é.

    ResponderEliminar
  10. Não li o livro, mas suponho que a geração que nele se aborda seja a nascida na década de 1960, isto é, a que cresceu a ver não só a "Pipi" mas também o "Robin dos Bosques" e - esta sim, a sua série mítica - "Os Pequenos Vagabundos". http://www.youtube.com/watch?v=AK2X79mSQaM

    ResponderEliminar
  11. Não li o livro, mas suponho que a geração que nele se aborda seja a nascida na década de 1960, isto é, a que cresceu a ver não só a "Pipi" mas também o "Robin dos Bosques" e - esta sim, a sua série mítica - "Os Pequenos Vagabundos". http://www.youtube.com/watch?v=AK2X79mSQaM

    ResponderEliminar
  12. A única curiosidade que tenho em relação à Helena Matos é ver quando lhe crescerá um bigodinho.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.