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domingo, outubro 20, 2013

Portugal em 1971, segundo o Observador

A revista Observador, semanário dirigido por Artur Anselmo e José Martins, em Janeiro de 1971 dedicou todo um número especial à análise da economia portuguesa da época.
 Se nos fiarmos naquilo que a Esquerda escreveu sobre esse tempo, particularmente João Martins Pereira e o Bloco de Esquerda no livro Os donos de Portugal, poucas semelhanças encontraremos.

No entanto, o que temos disponível é essa análise, marxista e esquerdizante do que era então a nossa economia.
Para equilibrar e contrastar um pouco, deixo aqui uma série de páginas, cerca de 30, que dão uma ideia do que éramos nessa altura e dali a 4 anos deixamos de ser.
Evidentemente que um estudo jornalístico não pode ter grandes pretensões científicas mas isto também não é nenhuma tese de mestrado, mesmo sobre uma improvável tortura para quem não gosta do tema.

Vai às pinguinhas, para já.



30 comentários:

  1. Nasci nos anos 80.

    A minha cidade natal tinha moagem, adega cooperativa e lagar. Nos anos 80 já estava tudo a ser abandonado. Já só havia uma única fábrica de conservas. No início dos 90 encerrou tudo. Quando Cavaco entrou no Governo a agricultura já estava há muito abandonada. Nos anos Cavaco foram dadas as machadadas finais. Do outro lado da fronteira, nesses mesmos anos Lepe tornou-se no maior centro produtor de morango da Europa, Valência ficou rainha das laranjas, Almeria ficou um mar de estufas. As províncias de Jaén e Córdoba tornaram-se um mar de olivais de produção intensiva. E por cá? Nada.

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  2. Por cá era necessário desmantelar rapidamente a economia rural, fonte do conservadorismo político, contrário aos interesses dos "progressistas" que iriam conduzir Portugal na senda do bem estar económico e social para todos. Não foi assim?

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  3. Ela desmantelou-se por si: 800 mil emigrantes para a Europa e Américas, vindos das zonas rurais.

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  4. Causas de desmantelamento?

    1) PREC.
    2) Muitos propriedades tinham reduzida dimensão. Na Andaluzia as propriedades agrícolas, em regra, são muito maiores que as herdades alentejanas.
    3) Subsídios da CEE=pérolas deitas a porcos.
    4) A principal causa: construção civil e explosão do sector dos serviços: centros comerciais, hotéis, lojas, cafés, restaurantes... dava dinheiro com poucas «dores de cabeça».

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  5. E claro, o discurso do poder político. Iríamos todos viver do turismo e dos serviços. Agricultura, montado, silvicultura, pecuária e indústria eram coisas do passado...

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  6. A última fábrica de conserva fechou por causa da Câmara. Tinha uma cota, e achou que o futuro da terra era outro. Depois o centro da indústria conserveira passou para Ayamonte e Isla Cristina. Hoje têm o maior complexo da Península. Uma das industriais de Ayamonte chegou a ter 1 milhão de contos num banco de Vila Real de Santo António. Não sei se ainda confia na Banca portuguesa, mas há uns dez anos ainda confiava.

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  7. Os andaluzes têm 30% de desemprego mas também têm 500 000 imigrantes. A estrutura económica é outra e não há comparação possível com o Alentejo, Algarve e Setúbal. Eles produzem muitos mais que nós, e importam menos. Os impostos são mais baixos, os salários mais altos, e o custo de vida mais baixo.

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  8. As terriolas andaluzas têm verdadeiras fábricas, matadouros, armazéns agrícolas... cá nas zonas industriais há stands e postos de venda de materiais de construção ou de móveis e outros produtos para o lar.

    Não há comparação possível.

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  9. Os espanhóis só fizeram a auto-estrada de Huelva até à fronteira quase 15 anos depois da A22 ser inaugurada. Os grande beneficiários com a ponte durante anos foram os andaluzes, que na província de Huelva desenvolveram o turismo à custa do Aeroporto de Faro. Mas nós somos muito espertos...

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  10. Os espanhóis plantam sobreiros. Nós plantamos pinheiros e eucaliptos.

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  11. Pelo artigo parece que os espanhóis e os gregos já estavam então à nossa frente.

    Por vezes penso que os gregos ainda nos vão passar a perna e ficar no euro. E nós não.

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  12. 1971 vivi em Massy e na cité. estudava e trabalhava duro.

    dediquei-me:
    à cultura da oliveira com 20.000 litros/ano
    à agro-pecuária: tive anualmente 100 porcos, dezenas de vacas e sempre 500 ovelhas
    tive vinha
    tive sobreiral

    abandonei tudo por falta de mão-de-obra que veio morrer muito pior na região da grande Lisboa

    continuei pobre.
    depois de 24.iv roubaram-me, mataram o gado à fome
    quiseram matar-me por ser 'latifundilhário' e fascista

    plantei sobreiros, pinheiros, eucaliptos porque o retorno do investimento se faz a médio e longo prazo
    arranquei a vinha quando morreu o último bêbado que tratava dela

    passou-se pela moda dos serviços: todos a vender

    o rectângulo tem morte assegurada a médio prazo

    venha um protectorado qualquer:
    Angola, por exemplo

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  13. hoje vivo da minha oscilante e precária reforma

    a europa beneficiaria se aceitasse Putin em lugar dos falidos eua

    a queda da urss foi um erro trágico que pagaremos caro
    apesar da contenção de Putin

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  14. Subsídios da CEE=pérolas deitas a porcos.

    Não concordo com esta afirmação. O dinheiro não veio sem condições. E estas passaram por, na práctica, condicionar, constranger e mesmo desmantelar indústrias importantes.
    Ora, a partir desse momento, a melhor aplicação para o dinheiro seria recriar o que se desmantelou.
    Um absurdo.

    Não foi do interesse de Portugal aderir ao Mercado Comum. Os interesses nacionais eram muito melhor prosseguidos reservando a liberdade total de produção e comércio internacional. Já em 1970 isto era evidente para alguns. Hoje está demonstrado.

    O ditado que melhor se aplica é antes: com papas e bolos se enganam os tolos.

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  15. a europa beneficiaria se aceitasse Putin em lugar dos falidos eua

    Concordo.

    a queda da urss foi um erro trágico que pagaremos caro

    Uma coisa é certa, se ainda hoje existisse a URSS, o nosso problema de dívida desapareceria. Aparecia dinheiro de todo o lado...

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  16. Em 1971, segundo os escritos que agora vou publicar, já se falava na adesão à CEE e nos problemas jurídicos por causa do Ultramar.

    Mas o destino estava traçado.

    Imagino o que seria o dinheiro todo que veio da CEE nas mãos de um governo como o de Marcello Caetano.

    Certamente não se iriam gastar cerca de 26 mil milhões de euros, como se gastou, em formação profissional.

    E a Mota-Engil não iria ser como é.

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  17. A solução para a agricultura e para o ordenamento do território devia ter passado por uma simples deslocação de populações, à maneira de Estaline. Os minhotos iam todos dançar o vira para o Alentejo e os alentejanos iam bater uma sorna à sombra das latadas de Ponte de Lima. Nem o Minho se tinha estragado com tanta casota tipo maison, ou tipo revista, com tanta fábrica e fabriqueta, nem o Alentejo teria de esperar 50 anos para se desenvolver com holandeses e alemães. O latifundiário absentista à espera do subsídio, o comuna à espera da pensão ou do subsídio foram a desgraça do Alentejo. Isso e o marquês e a república, mais do que o 25 do 4. Afinal os da CAP recuperaram as terras das UCPs para vinte anos depois as venderem a estrangeiros... Tudo isto é fado e o fado é a nossa desgraça. Raisparta o fado, cantiga de gente vaga e inútil.

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  18. desculpem o abuso:

    os 3 milhões de árvores que plantei a crédito depois de 1980
    arderam na totalidade em 2005

    o dinheiro que me sobrou da venda do terreno a um com provinciano
    permitiu-me almoçar na Concavada, terra natal do poeta António Botto, que morreu na miséria num hospital do Rio de Janeiro

    'dias porra!' dizia uma amiga (caso é caso) a quem emprestei dinheiro para emigrar depois de 24.iv com destino à Venezuela

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  19. Os subsídios foram claramente mal aplicados. Nos anos 90 ia a Jaén e a Cordóba com o meu pai, à caça. Estava a entrar na adolescência e apercebi-me das diferenças. Olivais a perder de vista e mega plantações de sobreiros. O meu pai contava que eram projectos financiados e que a fiscalização em Espanha era muitíssimo apertada.

    No Baixo Alentejo havia mares de estevas. Um fulano com uma herdade no concelho de Almodôvar pôs um projecto de pinheiro-manso em solo de xisto-grauvaque, o que é algo que me faz confusão. Os pinheiros ficaram todos colados, dizem que há uma justificação técnica para isso mas em boa verdade o subsídio em Portugal era dado por árvore e creio que em Espanha era dado por hectare. O tal indivíduo comprou um jipe, fez uma boa moradia, virou novo-rico e abandonou os pinhais. Passaram quase 20 anos e os pinheiros lá estão, raquíticos.

    Em Espanha em idênticas condições meteram olivais de regadio que ao fim de 4 a 5 anos já estão a dar lucro.

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  20. A serra algarvia como referi é um mar de estevas.

    A serra de Aracena (Huelva) e em geral a serra Morena é outro mundo. Montados bem desenvolvidos, soutos bem estimados, uma grande produção de carne de porco ibérico. Huelva tem a maior produção de presunto do mundo. Há ainda termas e muito mais turismo que nas serras algarvios e no Baixo Alentejo.

    Por cá, como referi, é um mar de estevas.

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  21. O PIB per capita da Galiza superior ao do Norte de Portugal. Consta que há umas décadas a Galiza era mais pobre. Deram a volta e passaram-nos à frente.

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  22. «Não concordo com esta afirmação. O dinheiro não veio sem condições. E estas passaram por, na práctica, condicionar, constranger e mesmo desmantelar indústrias importantes.
    Ora, a partir desse momento, a melhor aplicação para o dinheiro seria recriar o que se desmantelou.
    Um absurdo.»

    O dinheiro deveria ter servido para modernizar o que havia.

    Na minha cidade:

    - Modernizar o lagar e plantar olivais de regadio;

    - Recuperar as vinhas e modernizar a adega;

    - Recuperar os pomares de laranja, introduzindo novas técnicas de rega e novas variedades;

    - Recuperar a indústria conserveira;

    - Modernizar a moagem.

    Demoliram a moagem e o lagar para dar lugar a urbanizações. A adega cooperativa está a cair de podre.

    Parte dos melhores solos serviram para urbanizações que agora estão às moscas.

    As quintas de maiores dimensões foram abandonadas. Viriam milionários árabes e russos comprar tudo para dar lugar a campos de golfe.

    Os políticos incentivaram o desastre, especialmente alguns autarcas do PS.

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  23. Nem tudo foi mau.A malta dos avanços pode ir tomar no cu muito mais cedo do que os franceses e depois da entrega de tudo o que tinha preto agora governam vários impérios cá dentro, embora por nossa conta...
    Acima de tudo o que conta é a salvação do planeta.O resto são minudências...

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  24. Quanto ao Putin ele só tem uma boa acção a fazer ao país que recebeu a Academia das Ciências da ex-URSS:entregar a múmia do Lenine para o Costa dar mais brilho à casa dos bicos...

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  25. Os minhotos a dançarem o vira no Alentejo

    AHAHAHAHAHAH

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  26. Quanto aos dinheiros vindos a rodos sabe-se que serviram para "modernizar" a agricultura, a indústria, as pescas e o comércio.Pá agora falta?Lixam-se os gajos que nunca receberam:os funcionários públicos!
    Não que não existam a mais.Montes deles.Mas como estes são ex-boys e girls é uma chatice...pelo que o melhor é "cortar" em todos sendo que os queridos têm sempre o seu vencimento decretado conforme as necessidades...

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  27. Recuperar a indústria conserveira

    E como, se lhe limitam as pescas?

    Modernizar a agricultura? Deitando toneladas de fruta e legumes fora?

    É um absurdo, mantenho.

    A indústria portuguesa era altamente protegida. E bem porque necessitava dessa protecção. Apenas um deslumbrado, para dizer o mínimo, poderia achar que estava em condições de competir num mercado comum em igualdade com uma França e um Alemanha. E isto para não falar com o resto do mundo.

    Portugal teria toda a vantagem em negociar livremente acordos comerciais com qualquer país. Estava em posição privilegiada em relação à CEE e à EFTA, na altura. A nossa presença ultramarina punha-nos, por sua vez, em posição privilegiada com a China e os países asiáticos.
    Isto sem referir o Ultramar.

    Poderíamos ter tratado com estes países tendo como base o que fosse vantajosos para nós e eles apenas. E não o que fosse vantajoso para a Alemanha ou a França.
    Não perceber isto e depois culpar agora a Alemanha de cuidar dos seus próprios interesses é uma parvoíce. É mentalidade típica do pós-25: descuidar o interesse nacional e culparem-se os outros por o não fazerem por nós.

    Ninguém dá nada neste Mundo, e muito menos a Portugal. O dinheiro da CEE teve graves contrapartidas que estamos a sofrer agora. O mais que se poderia ter feito, houvesse para isso arte, seria minimizá-las.

    O José diz que imagina o seria todo o dinheiro nas mãos de Caetano. Pois eu não. Primeiro, nunca se aceitariam as contrapartidas envolvidas. Segundo, Portugal tinha disponível todo o crédito que quisesse e mais algum.

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  28. Quanto aos 26000 milhões "investidos" em formação profissional, normalmente sempre nas mesmas pessoas eu estou à espera que dê frutos.Principalmente em Barrancos onde uma ex-ceifeira estava a tirar um curso de mecânica de computadores...depois de outros.Um novo tipo de pólvora é de esperar a todo o momento.Principalmente com tantos "investigadores" na área das ciências sociais e nas "migrações" sempre em nome do pagamento das nossa pensões...

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  29. Este regime bolivariano qualquer dia vai inventar a "sabotagem" quer ao socialismo, quer principalmente ao homem novo e mulato...

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  30. Mecânica de computadores, eheheh

    Era para encorajar o "empreendorismo" , com certeza. Muito à frente esses tipos...

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