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domingo, março 23, 2014

Ups, jornalismo do Público


O jornal Público de hoje prometia na primeira página, em atenção ao número de páginas consagradas ao tema, nada menos do que sete, com uma página inteira de publicidade do BES que pretende recuperar a "esperança",  e mais o editorial, elucidar o leitor sobre o caso das "prescrições do BCP" . Comprei o jornal fiado na promessa virtual e...enganei-me. Fui ludibriado.

O jornal comprometeu cinco jornalistas no tema e nada de novo surgiu no relato dos factos do caso. Valha a verdade que o tema das sete páginas não se cingia ao caso concreto mas alargava-se para o tema das "prescrições", confundindo prescrições penais com administrativas e misturando tudo numa amálgama de confusão que nem o depoimento de vários especialistas ( Costa Andrade, Paulo Sà e Cunha, Barradas Leitão, Albertina Pedroso, para além de outros não identificados, eventualmente magistrados) salva da irrelevância informativa.
Temos por isso um pastelão noticioso e informativo que omite factos essenciais e necessários ao entendimento banal do assunto.
 



















Repare-se como é relatado o facto das prescrições do BCP, com um título que promete: "como o BCP escapou à supervisão durante sete anos".  Em duas páginas escreve-se o que o Diário de Notícias já tinha noticiado, com uma citação do advogado Magalhães e Silva que merece destaque: " O BdP auxiliou José Sócrates a tomar de assalto o BCP". Esta afirmação, de uma gravidade extrema, baseia-se em factos directos e indícios indirecto que entram pelos olhos dentro, mas ninguém se mexe, a nível penal para averiguar o que se passou e que é crime de catalogo. O que faz o MºPº? Assobia para o lado. O anterior PGR nem queria ouvir falar em coisas assim, como se demonstra no caso Face Oculta. A actual ignora o vespeiro.  O que faz a opinião publicada? Nada, a não ser reconhecer que o antigo PM tinha "visão". Pois tinha, ó se tinha!

Quanto ao resto e à infografia do jornal sobre o caso, é chover no molhado informativo e nada de novo adianta ao que já se sabia.

Faltam factos e elementos essenciais no artigo e relativamente simples de apurar se houvera quem soubesse.
Bastaria colocar as perguntas certas a quem soubesse responder com saber ( e não a magistrada anónima que segundo o jornal disse que o RGCO é "labiríntico"...) e por exemplo informar o seguinte relativamente a factos e não opiniões:

1. Qual o prazo de prescrição concreto ( não se diz tal coisa uma única vez no artigo de  sete páginas, para além de se referir genericamente e sem explicar como, que é de oito anos, sem sequer se referir onde vem indicado tal prazo).
2. Quando começou a contagem do prazo ( e neste aspecto o assunto pode mesmo ser labiríntico porque difícil de decidir concretamente, mas deve explicar-se porquê e o jurisprudência que já por aqui citei ajuda muito) e se as autoridades administrativas e judiciais se pronunciaram em concreto no processo sobre tal assunto.
3. Se houve interrupções na contagem de tal prazo ou se o mesmo se suspendeu alguma vez, quando, como e porquê.
4.  Com base nas respostas, reportar as leis aplicáveis, sem confusões jornalísticas e apresentadas em modo simples para toda a gente entender.

Isto fazia-se numa página e evitava o editorial "Ups, prescreveu" que me escuso de apodar porque seria feio.
Glosando um esquerdista intelectual ( Eduardo Lourenço) este modo de fazer jornalismo é mesmo um  labirinto da saudade do jornalismo de antanho em que os factos eram os reis das notícias e as opiniões ficavam em casa dos jornalistas e dos editoriais que não eram tão incompet...ups!

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