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sábado, abril 25, 2015

Os marinheiros reais da grandeza mítica

Como é que começou o "esplendor de Portugal"?  Foi com as Descobertas ou vinha de antes, do tempo da Fundação e Conquista?

A História que se conta pode ser manipulada e por isso reproduzo uma versão, a de Castelo de Morais que se publicou em 1940 na edição especial do O Século, sobre os centenários. Opto por esta versão uma vez que é a oficial, do Estado Novo de Salazar e a que merecia o olhar de propaganda do regime de então.
Eivada de um nacionalismo exacerbado e impante de grandiosidade mitificadora serve para perceber, desse ponto de vista, o tal "esplendor de Portugal".





Como se pode ler, tudo começou com o fim da conquista e reconquista do nosso território de raiz. Em 1373 os ingleses e portugueses fizeram uma Aliança que ainda perdura. A Casa de Aviz e um dos seus membros, D. João I, casou com uma inglesa, Filipa de Lencastre, no Porto, em 1387.  As raizes da aliança, porém, já viriam de trás, do tempo da batalha de Aljubarrota.

Os filhos do "Mestre de Aviz" integraram o que Camões chamou de "ínclita geração", incluindo D. Henrique, "a alma" dos Descobrimentos.

Cem anos depois, com o desenvolvimento cultural atingido, os portugueses conseguiram um feito notável: descobriram terras no Oriente usando o caminho do mar e fixaram-se nelas, utilizando forçosamente um poder militar.
O pioneiro da grande descoberta, completando o caminho marítimo até à Índia, foi Vasco da Gama.

Em 1998, a revista Oceanos, comemorativa do feito dos Descobrimentos, publicou estas páginas sobre a vida do marinheiro da nossa grandeza mítica, a Viagem que fez e o que veio depois.
Vasco da Gama partiu em 8 de Julho de 1497 com cerca de 150 a 170 homens. Mais de metade morreu na viagem.
Chegaram à Índia em 18 de Maio de 1498.



De volta a Lisboa, toda a gente ficou contente pelo feito.

Por causa desta "gesta", deste empreendimento fantástico, um poeta da época, Luís de Camões, escreveu  Os Lusíadas, poucos anos depois ( conta-se que a obra tenha sido escrita até 1556, sendo publicada em 1572).
Camões era versado em latim, espanhol e muita mitologia greco-romana. Os versos que compôs têm um herói colectivo, os lusos, ou seja, os que antes de nós foram nossos ascendentes.

É o nosso Livro por excelência e relata a tal "grandiosidade mítica".  Se Camões não tivesse existido restariam as crónicas das viagens marítimas, mormente as de Fernão Mendes Pinto que não tratam essa mítica grandiosidade fantástica, mas apenas o realismo puro e duro das viagens.

Assim, arrostamos há séculos com essa poesia épica como se tal fosse a realidade fantástica do que se passou.

Porém, o génio de Camões não se ficou pela epopeia grandiosa e encomiástica. Há umas tantas estrofes que foram metidas lá no meio que nos mostram o que se deve fazer para entender a realidade: olhá-la "de um lado, do outro e de frente" .

Aqui ficam as estrofes, rapinadas daqui:

94
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
97
- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Os Lusíadas, Canto IV, 94-976

Sabe-se como findou a nossa Epopeia. Assim, como se relata naquela obra de 1940. E foi por causa disto que apareceu a "Casa de Bragança".

O ouro da Mina toldou os espíritos e as especiarias inebriaram demais os comerciantes. Tudo acabou com uma bancarrota...pelo que é altura de repensar os ditos do "velho do Restelo", não só para os replicar ou aplaudir mas para ajudar a repensar esses mitos e lendas que alguns querem repristinar, porque só vêem o lado "venturoso" e esquecem a decadência subsequente.

Por outro lado, Camões, soube representar por escrito, o espírito crítico dos que pensam diferente ou até dos que se ocupam em olhar os problemas de outros lados que não os mais esplendorosos e míticos. 
Camões, ao mesmo tempo que dava asas ao realismo fantástico, tinha os pés bem assentes na terra que era nossa, por ser dos nossos antepassados. Os "Novos mundos ao Mundo" são o fruto do mito. Os mundos interiores que então havia merecem ser melhor explorados.

74 comentários:

  1. São bem pertinentes estas repescagens.

    O neomanuelino também aparece com esse sentido mítico e em momento de perda do Brasil.

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  2. Pois, mas isto não interessa para nada aos realistas fantásticos.

    Qurem o Mito e tal lhes chega.

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  3. ehehe

    O Dragão chateou-se mesmo.

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  4. Em boa verdade, também me parece que deste lado se não lê grande coisa por lá...

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  5. E eu não percebo e talvez esteja na altura de se dizer preto no branco: afinal qual era o mito?

    Porque não consta que ninguém prometesse reinos nem minas de ouro. Nem famas nem glórias. Prometeu-se sangue, suór e lágrimas. E, eventualmente, se Deus quisesse e a mereçêssemos, a vitória.

    Se houve promessas foi de quem queria "pactuar", aí sim, havia promessas de minas de ouro e glória e fama. Mil milhões, os "interesses" e o brilharete no palco mundial como anti-colonialistas pródigos!

    Afinal, quem é que acreditava em mitos? Quem é que prometia o que não sabia se podia dar?

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  6. "afinal qual era o mito?"

    muja: se não sabe, não vale a pena perguntar.

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  7. E eu acho mesmo que tem esse problema: sabe de que Mito andamos a falar?

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  8. Um problema interessante para resolver, nada mais que isso.

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  9. Pode estar a brincar. Com ele nunca se sabe

    ":O))))))

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  10. Não se calhar não sei.

    Mas desconfio é que Vs. também não sabem.

    Acho que Vs., que acusam o Salazar de nunca ter lá posto os pés, também nunca os lá puseram.

    E portanto, aquilo nunca vos deixou de ser mito. Mito que se confundia por cinco séculos. Em que o hotel Presidencial se confundia com as caravelas...

    Mas acontece que havia e há quem os lá tenha posto. E para esses aquilo não era mito, era realidade, pura e dura. E esses eram tão portugueses quanto os nascido no Minho ou na Beira Alta.

    Salazar, o pacóvio do Vimieiro, percebia isso parece-me Percebia que o que nos parece mito, a outros pode ser a dura realidade.

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  11. O muja não sabe. Acho que nem sabe o que significa mito.

    Mas o Dragão sabe e disfarça bem

    ":O)))))

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  12. Cientoinice dá nisso.

    Não sabe do que se fala e inventa por verificação experimental

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  13. Mas o muja só ganha em saber o que realmente significa o Mito.

    O Dragãozito é outra louça. É coisa de fé. esperança e caridade. A última é bónus que dou de barato.

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  14. Já li o Dragãozito: não tem capacidade de encaixe e resposta.

    Só se diminui a insultar os outros.

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  15. Antes cientóino que tóina.

    Se o Dragão é esperança e fé, então também eu sou. Porque precisamos disso mais do que pão para a boca...

    Ou ainda não se deram conta? Se calhar para Vs. é fácil, "já cá não vão estar para ver". Então até em governantes de poltrona se armam. E vendem lugares mitológicos e invocam velhos do Restelo. E reclamam a sabedoria dos mitos.

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  16. Quem não concorda com aquelas peregrinas ideias só pode ser um qualquer nematelminto.

    Pena.

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  17. E caridade também, muja. Principalmente isso.

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  18. Há uma metalinguagem que V. não entende e gostaria que entendesse, de verdade porque é afinal disso que andamos aqui a tratar, também.

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  19. O Dragãozito julga-se num espaço sideral inatingível e nem vislumbra a trave que encontra pela frente, quando se põe a insultar desalmadamente quem o não ofendeu.

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  20. Eu não me melindro com palermices as pessoas tiveram a noção disso.

    Se se levarem a sério, desligo simplesmente. Ficam a falar sozinhas.

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  21. Deve-se começar, então, a cumprir o Quinto Império.
    Quando? Padre António Vieira, já perguntava, assim como Fernando Pessoa.
    Está escrito, nos livros do tempo

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  22. É melhor perguntar ao budista da av de Roma:

    http://www.cocanha.com/o-imperio-da-bicharada/

    Por agora, na prática, a coisa ainda vai no casório e BI de passagem para imigração para Inglaterra.

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  23. Também tem variante enlatada, como pode confirmar aqui:

    http://www.cocanha.com/muita-frente/

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  24. «Deve-se começar, então, a cumprir o Quinto Império.
    Quando? Padre António Vieira, já perguntava, assim como Fernando Pessoa.
    Está escrito, nos livros do tempo».

    O mesmo Padre António Vieira que atribui aos portugueses uma séria de defeitos que não são dignos de um povo tido como «superior» e digno de liderar esse tal Quinto Império.

    Mas em idêntica profecia acreditam os judeus, e bem esses talvez sejam mais dignos de tamanha façanha pois não há povo que concentra tão elevada percentagem de genialidade na Ciência, Artes ou Filosofia.

    Os americanos também acham que irão liderar um Império global e que são a Nova Atlântida, e não faltam textos ao nível da «História do Futuro» do Padre A. Vieira a predizer e a justificar esse tal Império americano.

    Pelos vistos há quem continue a perseguir mitos e aventuras.

    Se nem nos governamos nem conseguimos manter uma economia saudável, uma Governação minimamente limpa do ponto de vista moral e uns indicadores sociais e económicos ao nível dos nossos parceiros da Europa Ocidental, inseridos em culturas católicas e protestantes, como poderemos liderar seja o que for à escala global quando não faltam povos com provas dadas que têm mais capacidade para tal?

    «Conhece-te a ti próprio», estava, se a memória não me falha, à porta do Santuário de Delfos.

    Continuem lá com sonhos de grandeza enquanto o país segue alegremente o caminho da pobreza e da miséria moral.

    Haja paciência!

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  25. Paciência, sim.

    E tolerância para a infantilidade travestida de argúcia e superioridade.

    Que lástima!

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  26. Então o vosso famoso mito é o Quinto Império?

    Sou ignorante, mas nem tanto que o desconhecesse. Mas fui buscar quem sabe. E quem sabe diz que, afinal, as colónias não eram precisas para o cumprimento do tal mito... Eram vantagem, não necessidade.

    Portanto, não pode ter sido pelos mitos que os "realistas fantásticos" têm a opinião que têm...

    Portanto, meus caros, na realidade fantástica viveis vós, que pondes na categoria de mitos o que nunca deixou de ser realidade.

    http://ultramar.github.io/o-imperio-segundo-pessoa.html#titulo

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  27. Está lá tudo o que ainda repetem:

    «Há só uma espécie de propaganda com que se pode levantar o moral de uma nação — a construção ou renovação e a difusão consequente e multímoda de um grande mito nacional. (...)

    Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos que criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, por cada um de nós independentemente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem.
    »

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  28. Mito por mito, se os mitológicos da democracia tivessem metido o Ultramar a referendo lá se lhes ia o mito. Com que mito ficávamos, afinal?

    Mitos há muitos.

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  29. Fernando Pessoa diz o que é preciso: navegar, navegar sempre nas águas da mentira, do Mito que é essencial à existência de um país "grande".

    E nós, portugueses, até temos uma vantagem sobre outros: já temos um Mito pronto a usar que é o do sebastianismo.

    Olha se fôssemos ingleses com aquela historieta do Merlin e dos cavaleiros da mesa redonda...

    Enfim, cada um entretem-se com os mitos que entende.

    Por mim são apenas a fantasia poética de um nada.

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  30. E Fernando Pessoa, sobre Salazar? Não querem saber o que dizia dele o grande poeta do Mito?

    Pois não era nada agradável...

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  31. E também merece destaque esta passagem isenta de realismo fantástico:

    "Sim ou não Portugal, amputado das suas colónias, perderá toda a razão de ser como povo independente no concerto europeu?

    Para o destino que presumo que será o de Portugal, as Colónias não são precisas. A perda delas, porém, também não é precisa para esse destino. E, por certo, sem Colónias ficaria Portugal diminuído ante o mundo e perante si mesmo, material como moralmente. As Colónias, portanto, não sendo uma necessidade, são contudo uma vantagem."


    Fernando Pessoa não era tosco...

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  32. Quem considera as antigas Províncias como integrantes do Portugal integralista e essenciais ao Mito são os salazaristas mais salazaristas de Salazar.

    Franco Nogueira à frente e depois a cohorte de pequeninos lusitos que transportam o mitinho na sacola.

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  33. o mito português tem longa estória
    milagre de Ourique
    D.Fuas
    cabo Bojador
    nau catrineta

    Camões acrescentou
    Adamastor
    velho do Restelo

    depois o sebastianismo

    o V Império

    o quinto dos Infernos para onde já tentaram enviar-me

    o mito esconde a verdadeira face das pessoas como verdadeira máscara

    integra o culto da personalidade

    misérias da condição humana

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  34. Quem considera as antigas Províncias como integrantes do Portugal integralista e essenciais ao Mito são os salazaristas mais salazaristas de Salazar.

    Franco Nogueira à frente e depois a cohorte de pequeninos lusitos que transportam o mitinho na sacola.


    Engana-se. Quem trouxe o mito à baila foi o José.

    E para o quê, desafio-o a encontrar no Franco Nogueira ou mesmo no Salazar essa justificação mitológica. Antes pelo contrário, a deles assenta em duas coisas: a ombridade e a realpolitik.

    A ombridade e a rectidão de se não vender aquilo que nos não pertence - a Pátria - pois é preciso não esquecer que Angola era tão pátria para portugueses como o era o Minho; e a realpolitik de perceber que o único interesse dos americanos era despachar-nos de lá para melhor pilharem o que lá havia, e que não tinham a menor intenção de cumprir fosse o que fosse.

    De resto, a justificação nem podia ser mitológica pois o próprio Pessoa diz que as colónias não são necessárias ao mito.

    Logo, o vosso argumento é sem consequência. Ou melhor, são vocês que projectam na realidade o que para vós nunca passou de mito.

    Ah! E nem o Dragão recorreu a esse mito. Mas ele pode defender-se melhor que eu seria capaz de o fazer.

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  35. « pois é preciso não esquecer que Angola era tão pátria para portugueses como o era o Minho»

    Nesse caso v. discorda do texto do Pessoa que colocou no seu blogue.

    Ele não diz isso e chama colónias, sem as quais até podíamos continuar a ter esplendor.

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  36. A dita realpolitik é que foi mítica como o tempo se encarregou de provar.

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  37. E podia discordar, mas nem é esse o caso.

    A minha frase é mal construída.

    O que eu queria dizer é que há portugueses para quem Angola é pátria tanto como para outros o é o Minho.

    E nesse sentido, ambas as províncias são equivalentes.

    Eu pus o texto do Pessoa para mostrar como não tem razão de ser fundamentar o apoio da estratégia portuguesa no mito do V Império. Pois as "colónias" - i.e. parcelas de território de soberania portuguesa além-mar - não são necessárias para se cumprir o mito, que tão pouco é de natureza geográfica no sentido de territorial.

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  38. O Mito de Pessoa é assunto poético.

    E assim devia continuar.

    Pessoa andou com Aleister Crowley...o que não abona muito da sua racionalidade política ou outra que não a poética.

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  39. Apropriar esse Mito transmutando-o numa realidade fantástica ao alcance prático das nossas ambições é coisa que não entendo.

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  40. Hmm, pois. Já calculava que viesse esse argumento. Mas então o melhor é já assentarmos quem é a autoridade no V Império e porquê, não fiquem Vs. isolados com um mito que é apenas vosso.

    Naturalmente não são aceitáveis como argumentos mitos feitos por medida...

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  41. Acho que não está a entender. Pode explicar melhor para ver se sou eu que não entendo?

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  42. Posso.

    O José argumenta que a razão pela qual quem defende a estratégia portuguesa no Ultramar - os salazaristas descabelados -, o faz com base no mito do V Império.

    Portanto, confrontados com a interpretação de Pessoa desse mito, das duas uma: ou a aceitamos e somos forçados a concluir que não pode ser esse o fundamento pois o mito não requer as "colónias" para se cumprir; ou não aceitamos e ficamos com dois problemas para resolver: explicar porque não aceitamos e arranjar uma interpretação aceitável. E nessa interpretação teremos que procurar novamente se se justifica como sustento para os descabelados.

    No meio disto é preciso ter cuidado para não cair na tentação de invocar uma interpretação própria, feita à medida dos descabelados...

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  43. A primeira frase saiu trapalhada, mas percebe-se...

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  44. Percebe...mas a essência ainda não.

    O Mito de que falo são vários mitos. Mitinhos.

    Pessoa arranjou um mundo ideal em imagens. "Quinto Império", "Sebastianismo", "Mar sem Fim", em que projecta algo a realizar pelos lusos.

    Quem não alcança tais estratosféricas realidades míticas é relegado para a ralé das parábolas bíblicas ( "quem tem olhos que veja; quem tem ouvidos que ouça").

    Tal é sublimado num dito fantástico que se resume assim:

    "Portugal, és nevoeiro. É a hora!"

    E os crentes ajoelham e imaginam um Além que é só nosso.

    Os outros que disto duvidam e relegam para a mera poesia, são apenas nefelibatas paralelos porque as nuvens já têm dono.

    São os incréus que ao realismo fantástico fazem um manguito e não acreditam de todo nesta "Mensagem" transportada em segredo ao longo dos séculos.

    Umberto Eco tem um livro excelente sobre isto: O Pêndulo de Foucault.

    E que bem que gostaria de acreditar nesta fantasia...mas não posso.

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  45. E, porém, o facto insofismável é que a fantasia era realidade.

    E nada tinha de mitológico: tinha contornos bem definidos num mapa.

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  46. Mal definidos.

    Os contornos foram mudando ao longo dos séculos, desde a Expansão.

    Só essa ideia de que tivemos sempre o mesmo Império, da mesmíssima forma e com as mesmas fronteiras é mais outro mito.

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  47. Mas a essência da fantasia não tem nada a ver com realidade alguma...

    "Portugal, és nevoeiro. É hora!"

    Que realidade é esta? Isto não tem a ver com mapa nenhum.

    Tem a ver com o misticismo tipo Dan Brown

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  48. Tipo Dan Brown

    ":O)))))))))))

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  49. Ou o "Imenso Portugal" à Chico Buarque

    ":O))))))))

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  50. Essa do "imenso Portugal" tem a ver com o desejo de o Brasil mudar...de políticos. Os militares na altura chagueavam o chiquinho comunista...

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  51. «Sabe-se como findou a nossa Epopeia.»

    O problema era a Epopeia ou o conjunto de erros dos que acabaram com ela?

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  52. “Cientoinice dá nisso.

    Não sabe do que se fala e inventa por verificação experimental” [Zazie]

    Está confusa, e descontextualizada da primeira, esta última frase.
    Quem “inventa” não o faz por “verificação experimental”, pelo contrário, a ciência verifica experimentalmente, se a “invenção” pode ser real ou não.

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  53. Não percebeu a frase.

    Ele inventou e atribuiu à invenção um sentido de "verificação experimental"

    Capito?

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  54. "O problema era a Epopeia ou o conjunto de erros dos que acabaram com ela?"

    Quanto a mim nem uma coisa nem outra.

    A Epopeia não acabou enquanto sonho mítico. É disso que a poesia se alimenta e nós temos esse background, tal como a Inglaterra tem o mito do graal e dos da mesa redonda e ainda outros.

    É bom que um povo tenha os seus mitos, mas que os entenda como tal.

    Não para andar a fazer de conta que acredita nessa realidade fantástica como se fosse qualquer coisa de comer e se bata por isso até à morte exigindo-se que os demais façamo mesmo.

    "É pelo sonho que vamos", mas com os pés bem assentes na terra.

    A fronteira entre a realidade e o mito não deve ultrapassar-se porque nem é possível. Ou seja, quando se tenta, entra-se na fantasia.







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  55. O conjunto de erros que se cometeram também é atribuível a quem acredita no Mito.
    Por causa disso, cometeram-se asneiras, a meu ver.

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  56. Exacerbando-se a Epopeia e a ideia fantástica do Nevoeiro que está às portas e "é a hora!" criam-se fantasias perigosas se postas em experiência ideológica.

    O episódio de Ourique - in hoc signo vinces- é bem exemplar do que quero dizer:

    Ligando-nos à Cruz que era a nossa Religião da época, vivida de uma maneira que não é a de agora ( e era tudo em latim...)nós vencemos com esse ideal Cristão.
    Acreditar que apareceu uma cruz no céu com esses dizeres escritos e visíveis é a dimensão do mito.

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  57. O realismo fantástico é Maravilhos e apelativo. Mas é uma fantasia, a meu ver.

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  58. Então e eu inventei o quê, só assim por acaso?

    Não foram mitos. Que esses de um vindo da vossas cabecinhas já teve que se fragmentar em vários. Divide et impera...

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  59. V. não inventou nada, mas era bom que reconhecesse que alguém os inventou antes de nós.

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  60. A Igreja que ai está em cima, em imagem que é a da Batalha é em honra de Santa Maria, mãe de Jesus.

    Essa Fé que a ergueu era medieval no melhor sentido: uma ligação mais estreita e permanente ao Transcendente.

    E isso para muitos é também um Mito.

    Para mim é a Religião em que acredito e é a dimensão que aceito como transcendente e apenas essa.

    Não preciso de manhãs de nevoeiro ou de horas certas.

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  61. É à Zazie que cabe dizer, pois ela é que diz que eu inventei não sei o quê à laia de verificação experimental.

    Eu reconheço tudo José. Só não reconheço é esses mitos que surgiram da sua cabeça nesta história - não quer dizer que não existissem, não é isso; não existiam era no problema que estávamos tratando - não os reconheço, dizia, na política seguida no consulado de Salazar e Nogueira.

    Essa política, no que respeita aos americanos está resumida neste texto que o Dragão pôs:

    http://dragoscopio.blogspot.co.uk/2015/04/prognografia-reposicao-de-um-postal-de.html

    É a isto que se torna preciso responder - com mitos ou sem eles - se se questiona a política seguida. O resto, há-de perdoar, é o mito... dos mitos.

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  62. Eu vou responder na altura certa e no sítio certo.

    O que não suporto muito bem são supostas superioridades intelectuais arvoradas a eito ou insultos a esmo que deixam de ser retóricos a partir do momento em que não são a brincar.

    Isso não suporto.

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  63. Essa questão não me diz respeito.

    E quando falava em responder, era ao Salazar.

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  64. E tanto quanto penso, essa questão dos americanos e da nossa submissão putativa é assunto maior e de interesse relevante.

    Mistura o Velho do Restelo com a sensatez e a desconfiança com a inovação.

    Os ingleses foram mais espertos que nós mas nós não somos mais estúpidos.

    Então, o que é que terá sucedido?

    É outra pergunta que precisa de muitos estudos que não tenho.

    Vou fazer por isso, quando arranjar tempo para tal, mesmo em modo diletante.

    De resto começo a perceber que quem tem mais estudos também pouco mais sabe.

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  65. A resposta não é só ao salazar. É também aos salazaristas que são mais salazaristas que o próprio.

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  66. E há outra coisa que descobri agora:

    responder à questão do forte e do fraco, em política ou em relação de forças de estados.

    Há estudos sobre isso? Haver há, mas é nos romances.

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  67. Muja:

    Para si e para o Apache há logo uma questão que me parece que não entendem.

    Quando se fala no Mito- em maiúsculas- está-se a falar de O Mito- num sentido universal e não num aspecto particular que pode ser testado e comprovado na prática.

    O Mito, de facto, é composto de muitos mitos.

    Como v. ainda não entendeu isto, agarra-se a uns mitos em particular- o caso do V Império, para depois dizer que se pode comprovar na prática que não era mito, porque o Império existiu e teve concretização territorial.

    Foi a este detalhe que me referi como "verficação experimental" do Mito.

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  68. Ah bom, assim já se entende melhor, mas não faz muito pelo argumento.

    Eu não questiono nem O Mito nem os mitos.

    Questiono que isso estivesse na base da política e consequente estratégia portuguesa.

    E ainda não vi argumento decente que suporte o contrário. Vi apenas uma comparação derrogativa e nada rigorosa, um pouco como os progressistas se agarram à censura e ao anti-partidarismo para invocarem um fascismo que não existiu. Neste caso a aparente inflexibilidade de Salazar e Nogueira fazem de censura e anti-partidarismo, e o mito faz de fascismo...

    Ou, mais perto da questão, como há pessoas que peroram insistentemente que se devia ter negociado com os terroristas, ignorando que houve sempre tentativas de negociação mas que estariam sempre destinadas ao insucesso enquanto não pudéssemos impor as nossas condições, porque era isso mesmo que eles tentavam fazer pela violência.

    Ora, com os americanos é a mesma coisa. Ou não estivessem eles por detrás dos ditos terroristas como, aliás, dão a entender e o próprio Salazar aponta ao sugerirem que negociando com eles (os americanos) poderíamos travar a violência...

    Está tudo naquela conversa do Salazar. E não vão lá com mitos ou com O Mito. Porque aquilo é tudo do domínio do real e objectivo.

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  69. "Questiono que isso estivesse na base da política e consequente estratégia portuguesa."

    Mas V. leu o que Salazar escreveu ou não?

    A ideia de Pátria de Salazar ( e de Marcello Caetano) radica aí...

    Não é só na língua de Camões.

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  70. «Não percebeu a frase.»
    De facto.

    «Ele inventou e atribuiu à invenção um sentido de "verificação experimental"»
    Não foi essa a minha interpretação.

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  71. “A Epopeia não acabou enquanto sonho mítico.”

    A conversa oscila entre “alhos” e “bugalhos”.
    Espero pelo próximo post.

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  72. “O episódio de Ourique - in hoc signo vinces- é bem exemplar do que quero dizer:”

    Em termos religiosos, salvaguardando as épocas e os temas, não vejo diferença significativa entre Ourique e Fátima.

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