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segunda-feira, setembro 26, 2016

A farsa do novo prec: Marx acabou de sair do edifício...

Dois excelentes artigos no Observador sobre a vulgata marxista, agora enunciada em modo de farsa pelos geringonços que andam por aí.
Primeiro a filha do pirata e agora o primeiro-ministro himself, numa demonstração sólida da cultura de vão de escada rolante que pelos vistos alardeia sem grande cerimónia.

O primeiro artigo foi publicado há dias por Fátima Bonifácio e sendo extenso merece leitura porque é uma resposta erudita à vulgata daquela.
Este é de agora, e de um ex-marxista reconvertido ao liberalismo, João Carlos Espada.

"Na semana passada, Portugal experimentou um invulgar e muito saudável sobressalto contra as inacreditáveis declarações autoritárias de Mariana Mortágua contra a liberdade e a propriedade privada — declarações particularmente graves por terem sido proferidas numa iniciativa do Partido Socialista.

Entre os inúmeros excelentes artigos que alertaram para a gravidade dessas declarações, não posso deixar de destacar o da historiadora Fátima Bonifácio neste jornal. A autora certeiramente recordou o ódio contra a liberdade que se encontra na raiz do fanatismo igualitário. E certeiramente apontou a origem moderna desse ódio em Rousseau e, a seguir, nos seus discípulos da ala mais extrema da revolução francesa de 1789.

Mas, ainda esta saudável polémica estava em curso, ocorreu uma outra declaração política da maior gravidade. O Primeiro-Ministro terá definido no Parlamento “uma sociedade decente” da mesma forma que Karl Marx descreveu a sociedade comunista: “é uma sociedade onde cada um contribui para o bem comum de acordo com as suas capacidades, e cada um recebe de acordo com as suas necessidades”. A frase terá sido enfatizada com a expressão “Foi esta sociedade que eu aprendi na minha casa a acreditar”.

É difícil exagerar a gravidade destas declarações. Não quero crer que o Primeiro-Ministro tenha querido dizer o que a frase de Marx realmente quer dizer.

A frase de Karl Marx resume de forma dramática o erro fatal do comunismo e as consequências totalitárias que dele advieram. Mais do que isso: como explicou detalhadamente Karl Popper nos dois volumes de A Sociedade Aberta e os seus Inimigos, de 1945 [Edições 70, 2012], aquela concepção de Marx era de facto herdeira de uma longa tradição anti-ocidental que remonta à oposição do colectivismo autoritário de Esparta contra a liberdade de Atenas, no século V a.C. Como Popper também argumentou, essa mesma concepção colectivista esteve presente no nacional-socialismo e no fascismo do século XX, gémeos inimigos do comunismo soviético.

Observemos a frase de Karl Marx. Se as pessoas devem contribuir de acordo com as suas capacidades e receber de acordo com as suas necessidades, isso implica que alguém terá de deter o poder para determinar as capacidades de cada um e o poder para determinar as necessidades de cada um.

Sabemos qual foi a resposta prática fornecida pelo comunismo e pelo nacional-socialismo a esta questão: esse alguém é o Estado. Mas, este não é sequer o problema mais fundo. Podia, por hipótese, não ser o Estado. Podia ser o “colectivo” — que era em rigor o que Marx tinha em mente naquela frase. E, também em bom rigor, o poder absoluto que o nazismo e o comunismo deram ao Estado foi dado em nome do “colectivo” — a “Nação”, no caso do nazismo, o “proletariado”, no caso do marxismo (o Terceiro Estado, no caso da revolução francesa).

Só que, observou Karl Popper, os colectivos não existem independentemente das pessoas que os compõem. O “colectivo” não sente prazer nem dor, e não tem identidade moral separada das pessoas que o compõem. Também não age nem fala autonomamente das pessoas.

Por esta razão, só há duas maneiras de “ouvir o colectivo”: uma, que praticamos no Ocidente, é deixar as pessoas falarem e prosseguirem os seus próprios propósitos sob regras gerais de boa conduta; a outra, que se pratica nos outros sítios, é pôr alguém a falar em nome do “colectivo”: pode ser o líder, o partido, o ayatollah ou o chefe da tribo. Mas será sempre um poder central ilimitado — que vai dar ordens às pessoas, em nome do “todo”.

Como, ainda por cima, o objectivo do “todo” na frase de Marx é determinar as capacidades e as necessidades de cada um, esse poder central ilimitado não poderá ser regido e limitado por regras gerais de boa conduta — a que, no Ocidente, chamamos leis. Ele vai ter de emitir comandos específicos para determinar os “resultados” que cada um deve obter.

Isto resulta do seguinte facto: a alocação de resultados específicos a cada um (por contraste com uma rede de segurança que impeça apenas alguns resultados abaixo dessa rede) não é compatível com o governo de regras gerais. As regras gerais podem excluir alguns resultados particulares, mas não conseguem predeterminar todos os resultados particulares.

Por esta razão, na ordem política do Estado (por contraste com a ordem civil das associações voluntárias ou empresariais, de onde as pessoas podem entrar ou sair voluntariamente) o “todo” colectivista será necessariamente autoritário, ou mesmo totalitário. Em vez de se submeter a leis gerais, iguais para todos, não retroactivas e independentes de propósitos particulares, o “todo” agirá segundo o capricho da vontade dos líderes, ditando ordens específicas a cada um. Não é por isso compatível com o princípio ocidental da igualdade perante a lei — como muito bem observaram todas as famílias democráticas, incluindo a socialista não comunista.

Acresce que aquele sistema colectivista não pode funcionar duradouramente sem produzir pobreza extrema. Ele rouba às pessoas o seu sentido de responsabilidade pessoal; anula por essa via os incentivos para que as pessoas tentem ir mais longe e tentem explorar o desconhecido. Além disso, nenhuma autoridade central conseguirá processar um volume de informação minimamente comparável ao incalculável volume de informação processado descentralizadamente pelas pessoas, famílias e instituições livres. (Por esta razão ainda, as necessidades das pessoas — por contraste com algumas necessidades básicas — não são susceptíveis de ser conhecidas centralmente à priori).

Eis a razão pela qual o colectivismo conduz inexoravelmente à pobreza e ao poder arbitrário do Estado — em nome do “todo” — sobre as pessoas e à margem das leis. Winston Churchill costumava aliás exprimir este magno problema com o talento comunicador que sempre o distinguiu: “É o Governo que é dono das pessoas, ou são as pessoas que são donas do Governo?
”."

Uma das coisas que me impressionaram ao longo destas décadas após o PREC de 1974-75 foi a condescendência com que as entidades da época viram o que se passava em Portugal perante os olhos de todos.
O país caminhava a passos largos para um regime comunista mas os que o diziam claramente eram reaccionários e porventura fassistas. Os jornais da época não davam nenhum destaque ao fenómeno deslizante que deveria impregnar-se no senso comum mas não existia esse senso comum.

O que existia era uma deriva esquerdista com tal amplitude que hoje a geringonça que governa e até o PCP se apresenta agora em modo de farsa perante aquela tragédia que se desenrolou à vista de todos.

Os primeiros sinais da alteração do status quo vigente até então deram-se na praça pública, com as manifestações, greves em catadupa, paredes pintadas em siglas vermelhas, com foices e martelos a esmo e palavras de ordem conhecidas de outras paragens.

A paisagem urbana modificou-se atingindo mesmo o interior das pequenas aldeias e vilas do Portugal de antanho.
Mesmo assim ninguém em Portugal tinha esta ideia clara manifesta pela revista Time em Agosto de 1975.  Esta imagem parecia estranha nos escaparates e longe da realidade que vivíamos. A proximidade à mesma não permitia ver o que de longe era evidente...


Tudo tinha começado com o golpe de 25 de Abril e não tardaram a surgir os primeiros sinais de alarme, com as denúncias típicas da esquerda. Em 12 de Julho de 1974, um académico da economia, Pereira de Moura, cripo-comunista do MDP denunciava os "sabotadores", tal como actualmente acontece com a Venezuela madura:



Portugal transformara-se numa coisa nunca vista...como estes cartoons do comunista João Abel Manta, desse tempo de PREC real ( publicados no O Jornal e depois em livro editado pelo mesmo O Jornal, em 1978 que actualmente é uma raridade), denotam muito bem, poupando muitas palavras.

A mudança foi meteórica, literalmente da noite para o dia...








O que se passa actualmente com o BE, o PCP e este A. Costa, filho da esquerdista Palla, que lhe ensinou em casa a soletrar o marxismo básico e que por isso ainda o debita, como se viu, é apenas uma farsa. Mas perigosa, como mostra este insuspeito Miguel Sousa Tavares que aparentemente tem agora medo que lhe vão ao bolso...e por isso já não anda a dar vivas à cristina como na altura em que tinha 20 anos...



O título do postal reporta-se a uma frase usado no final dos concertos de Elvis Presley para anunciar que não haveria mais "encores" porque Elvis, enfim...é também o título de uma magnífica canção de Frank Zappa, dos seus últimos trabalhos musicais.

Marx acabou de sair do edifício, folks! O espectáculo acabou!

12 comentários:

  1. É mais um encore, pois. O neo-PREC está em marcha.

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  2. Pois já se percebeu que querem o encore, mas Marx já saiu do edifício...não há mais.

    Podem pedir e encenar a farsa, mas não vão ter show.

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  3. Pois não há mas consegue-se sempre espatifar no vazio.

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  4. Agora vivem com as bandeirinhas de papel. Dantes andavam de estandartes desfraldados.

    E têm saudades. Oh se têm!

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  5. Pois têm. Isto é uma cena de saudade do que nunca se realizou.
    ehehehe

    Junta a senilidade fossilizada e a precoce.

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  6. Mas andam para aí todos excitados. Quando me provocam costumo perguntar-lhes se agora estão e pensar em se ocuparem uns aos outros.
    Calam-se logo.
    ":O))))

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  7. Não estou a ver bem onde é que está a excelência dos artigos...

    O primeiro começa mal e acaba pior. Então a Revolução francesa foi um ror de mortes e terrorismo mas não se pode duvidar da sinceridade dos princípios humanistas dos que a apoiaram!?

    Portanto, também não devemos duvidar da sinceridade dos princípios humanistas dos comissários políticos soviéticos, ou dos judeus revolucionários da Tcheka, presumo.

    Depois, o fim: então a civilização burguesa (ignorava que, de classe, se já tinha alcandorado a civilização) foi a primeira a dignificar o esforço e o trabalho?...

    Nem sabia quem era a pessoa, mas disse logo para com os meus botões: outra esquerdalha re-recauchutada em conservadora... da carteira, certamente. Nem precisei de passar da página do motor de busca: "politizei-me em grupos de extrema-esquerda em Genebra".

    Pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita.

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  8. Disse logo para os meus botões, era o que devia ter escrito.

    O segundo artigo, espalha-se onde por norma se espalham todos: a liberdade.

    Se o paleio da liberdade tivesse alguma eficácia contra a esquerdalhada, a esquerdalhada não existia.

    Querem ensinar a missa ao padre...

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  9. Talvez tenha razão nesses comentários, mas a excelência dos artigos reside na lembrança de factos históricos cuja interpretação pode ser diversa.

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  10. "... mas disse logo para com os meus botões"

    Muja, esta sua frase está correctíssima. Tanto a pode escrever tal como o fez ou como a rectificou mais abaixo. A frase incial está talvez até mais correcta porque grafològicamente/gramaticalmente contém todos os elementos de que necessita. Por consequência a preposição "com" completa-a de forma perfeita. Se escrevesse a frase (como eu às vezes faço) assim: "disse cá com os meus botões", estaria igualmente bem.

    E Muja, não se preocupe lá muito porque escreve impecàvelmente a nossa língua.

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  11. Muja, a preposição "para" pode estar (ou não) incluída na sua frase incial, tal como a grafou. Se não estiver, também não faz lá falta. Esqueci-me desta:) Sorry!

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