José Pacheco Pereira confessa hoje no Público como faz para se manter informado diariamente: lê quase toda a imprensa escrita e colecciona recortes e jornais seleccionados. Alguém castiga depois o scanner e fica tudo arquivado.
Só falta agora dizer que jornais e revistas estrangeiras lê, guarda e recorta, uma vez que adopta o mote da estranja sobre sermos aquilo que arquivamos...
Este postal é de simpatia para este guardador de papel impresso com o qual me identifico na tarefa. Também guardo e do mesmo modo, há muitos e muitos anos. Não tanto, não com tanta proficiência, mas com o mesmo objectivo: guardar memórias que podem servir para alguma coisa em alguma altura. É mais que um hobby: é uma loucura mansa, como lhe chama Pacheco. Mas não é uma ambição holística, como também diz. É mais uma preservação de um momento psicológico. Pacheco escreve que guarda os artigos de que mais discorda para depois escrever sobre eles e quase nunca o faz. Conheço muito bem a sensação e agora atalho muitas vezes para evitar esse efeito. Logo que leio, escrevo, rápido, e arquivo. Estive para escrever sobre umo artigo desta semana, de João Miguel Tavares, a propósito da dama de Formentera, mas passou o tempo e já não o farei. O tempo escasseia mas sempre ouvi dizer que temos sempre tempo para aquilo que queremos. Basta organizá-lo e aprimorar o uso.
Um jornal ou revista e seus recortes arquivam na memória o momento em que foram lidos e funcionam como uma foto do tempo e das sensações que provocaram. Os computadores, agora, facilitam ainda mais a tarefa que aliás pode prescindir deles na medida em que tal não dependa do registo virtual e exija o suporte físico documental.Se for arquivado em memória virtual, fica duplicado em back-up, com esse resguardo estratégico e de mais fácil acesso.
A revisitação de matéria impressa e ideias correntes das letras e imagens proporciona o mesmo efeito que uma foto, mas com incidências mais interessantes, ao permitir pensar outra vez sobre o assunto.
E os assuntos não são assim tão inesgotáveis, bem como as ideias, repetidas e sempre em palimpsesto como escrevia Jorge Luís Borges.
Porém, de vez em quando surge uma ideia nova, um vislumbre de descoberta que outros certamente já experimentaram mas cujo efeito não é replicável e aproveita apenas ao próprio.
Devo confessar que é um hobby magnífico, fonte de bem estar espiritual e divertimento permanente. Deve ser a melhor aproximação aos actos de criação artística, que contêm em si a essência do bem estar. Escrever um romance deve ser um pouco isto, com a procura permanente de soluções narrativas.
O bónus disto tudo? Desenvolver o raciocínio dentro dos limites de cada um, ginasticar a escrita e partilhar ideias ou assuntos se tal se fizer em público, como acontece num blog.
Sobre o assunto de Pacheco importa realçar que também lê o Diabo que classifica como "uma janela sobre uma direita muito especial, a dos "nacionalistas revolucionários" mais jovens e a dos nostálgicos do salazarismo".
Curiosamente a seguir diz que lê o Avante que classifica como fonte de história do PCP e da oposição. Nada de "revolucionários" ou de nostálgicos do estalinismo...
Enfim, como escrevi acima, este hobby permite apenas estender o raciocínio aos limites do que cada um tem como próprio. E nada mais.
É um bom hobby, pois e nós é que temos de agradecer.
ResponderEliminaro Kamarada pacheco
ResponderEliminardevia escrever no avante
o grande intelectual
ResponderEliminaranda aos papéis