Páginas
▼
domingo, abril 02, 2017
Raul Brandão, por consenso, será mais actual que VPV
Vasco Pulido Valente regressa ao convívio do Observador com mais um artigo sobre um fenómeno que repesca uma ideia batida, antiga e perversa: a do consenso político que engloba um centrão de interesses convergentes. Para elucidar os leitores traça um paralelo com os consensos obtidos no séc. XIX que degeneraram sempre em conflitos resolvidos pelos não consensuais, com destaque para Salazar, anos mais tarde e que não ia nessa cantiga.
Vasco Pulido Valente não viveu o séc. XIX e vale-se por isso dos escritos de quem o viveu e descreveu. Oliveira Martins, por exemplo, é um dos autores mais citados, mas não me lembro de o ver a citar Raul Brandão que tem memórias actuais e contemporâneas dos acontecimentos dessa época que VPV apresenta frequentemente como exemplo de um passado que se teima em repetir, às vezes como farsa ou como exemplo do que sucederá se repetirmos os mesmos erros.
O Expresso desta semana, para além de uma entrevista com Maria Antónia Palla, mãe "do Costa" que está no governo traz este artigo assinado por Diogo Ramada Curto sobre a efeméride do nascimento de Raul Brandão há 150 anos.
O resumo da obra e as considerações escritas afiguram-se-me em estilo esterilizado de relato de folheto explicador de remédio em frasco.
Agora compare-se esse estilo e conteúdo com um outro artigo que apareceu na revista Vida Mundial de 8.10.1971. O artigo não é assinado mas a revista tinha então como director Carlos Ferrão.
Nele se resume a obra de Raul Brandão com excertos largos das Memórias, então publicadas em volumes separados e que abrangem um período histórico essencial para percebermos quem somos e a natureza da geringonça que nos governa.
O estilo de escrita não se confunde com o actual, esterilizado e algo académico num mau sentido da expressão e de algum modo asséptico, por isso mesmo. Nada jornalístico e maçador.
Este da Vida Mundial é nada disso e tem muito interesse a sua leitura. Foi publicado num tempo em que havia censura prévia mas é melhor que o actual, sem aparente censura que não seja a que capa o bestunto.
Raul Brandão foi contemporâneo de algumas figuras do virar do séc. XIX, nas letras, artes e política. A elite portuguesa de então é retratada nas páginas dessas memórias agora reeditadas pela Quetzal, reunindo num volume os três tomos originais.
Este artigo remete para o volume agora publicado das Memórias de Raul Brandão, pela Quetzal.
Aqui fica um excerto que relata um acontecimento muito interessante, o do ascenso do bolchevismo ( assim se chamava então) na Rússia então czarista e a propósito de uma figura que foi colega de quarto de Eça de Queirós, chamado Batalha Reis. O pequeno artigo dfoi escrito em Janeiro de 1926 e vale a pena ler.
Aqui se dá conta do papel importante dos alemães do tempo do Kaiser na aparição do comunismo soviético. Raul Brandão acha mesmo que o responsável pelo assassinato da família real russa, os Romanov, foi realmente o Kaiser.
Ou seja, os alemães, no século XX são responsáveis pelas maiores tragédias da Humanidade contemporânea.
Agora, nos últimos 50 anos, são responsáveis, na Europa e a par dos franceses, pela actual União Europeia, pelos belíssimos carros e tecnologia que possuem e vendem e já eram responsáveis por algumas ideias filosóficas que nos governam.
Mas serão as mais importantes?
Quem é que manda ideologicamente na segunda metade do século XX? Serão os alemães?
há sempre um judeu escondido
ResponderEliminarO Raúl Brandão pode achar muita coisa… Os alemães são culpados de tudo, menos de não terem lutado contra o comunismo. E sendo o comunismo uma das maiores tragédias da humanidade personificada pela URSS, não estou a ver como é que os alemães também são culpados nisso — a menos que a culpa esteja em não terem chegado a Moscovo. Ou em terem bons filósofos — mas sobre isso ouvi uma vez alguém dizer que o próprio idioma é propício à filosofia.
ResponderEliminarRespondendo à pergunta, quem manda ideologicamente são os americanos. A globalização, a anti-cultura instalada, a brutificação, a "democracia" a qualquer preço, o mercado, o dinheiro como fim, a anti-ciência, tudo isso é ideologicamente americano, com a ajuda dos inefáveis ingleses e de uma Europa que faz o papel de idiota útil.
Jã agora podia também ter-nos contado a história do milagre de Fátima que foi mais ou menos por essa altura
ResponderEliminarJá foi contado e testemunhado por milhares de pessoas que lá estiveram em 13 de Outubro de 1917.
ResponderEliminarE não há explicação para o facto observador por tantas pessoas.
A mim parece-me que na segunda metade do séc xx a Europa viveu o socialismo previsto no nacional socialismo, como terreno para se chegar a este reino dum liberalismo de campo de concentração. Penso que Bruno Betteilhem tinha razão quando escreve que os campos eram laboratórios de comportamento humano e de comportamento de massas. Os usa não se tornaram no pós guerra o alter ego da Alemanha?
ResponderEliminarTam
Que mravilha de artigo, o da Vida Mundial.
ResponderEliminarMuito obrigada, José.
Estou com o Floribundus.
ResponderEliminarJá me cheirava. Quando há uns 15 dias ouvia a vereadora vimaranense das bibliotecas em entrevista à maçónica T.S.F., apregoando a reedição das Memórias de Raul Brandão, porque já fazia falta, fiquei cá desconfiado. Então a Relógio d'Água não tem as Memórias no catálogo, em edição recente? Não parece que esteja esgotada. Nem o preço é proibitivo. Mas bem: era preciso enfiar a cacografia do governo também no Raul Brandão.
ResponderEliminarEnfim!...
Quem se dê bem com a leitura electrónica pode achar pelo menos o 1.º vol. na ed. da Renascença Portuguesa de 1925 em archive.org . Pelo menos não terá de aturar «conceçoes» ou «Egitos».
O 1.º vol. na ed. da Renascença Portuguesa de 1919, digo.
ResponderEliminarhttp://www.gutenberg.org/ebooks/35762
Dizem muito bem do Húmus, mas não consegui avançar nele. Há uma edição baratinha da colecção das Mil Folhas, do Público. Capa dura.
As Memórias são muito boas de ler.
Cumpts.
Mas afinal onde está o judeu?
ResponderEliminarRamada Curto?
Ramada Curto é um jacobino escardalho que tentou agora boicotar a exposição do MNAA. Disse que era mais uma "patrioteirice" e que o colonialismo estava de volta e já era moda em Inglaterra.
ResponderEliminarO velho Ramada Curto era maçónico. Enfim, a velha guarda está de volta. Houve um interregno de 48 anos e foi tudo.
ResponderEliminarEstamos outra vez a tentar replicar 1910, com outro savoir-faire.
José. Aproveitei-me das suas páginas desta desgraçada nova edição da Quetzal. Deus queira que me não leve mal o abuso.
ResponderEliminarObrigado.