" Sobretudo nos alvores havia uma adesão ao regime de uma parcela significativa da população". Ou seja, o tal conformismo, afinal era mesmo feito de uma adesão convicta a Salazar que o historiador do guisado entende desmistificar. E fá-lo assim:
"Vemos a encenação da Exposição do Mundo Português. Não havia nada igual. Já imaginou o que era ver aquilo naquela época? As pessoas vinham a Lisboa e diziam: "Que império que somos...! As pessoas estavam seduzidas por aquela mística colonialista que aliás vem da I República".
Portanto, a tal Exposição foi apenas um artifício propagandístico do regime para consolidar o "conformismo" e épater le bourgeois.
Ora vejamos se assim terá sido.
Qual é o nosso maior feito histórico? Qualquer araújo de escola primária o sabe: demos "Novos mundos ao Mundo!"
Em 1940 perfaziam centenários entre os oito séculos da nossa nacionalidade e da nossa soberania. Procurou-se então afirmar clara e robustamente a Fé presente e a Gloria passada, como então se disse.
É isto apenas uma obra de propaganda política ou uma representação cultural do maior relevo, envolvendo todo o povo numa Nação como a nossa?
Qual é a nossa maior obra da Literatura? Qualquer araújo da primária o sabe: Os Lusíadas. Também serão uma obra de propaganda?
No livro do finais do século XIX e que serviu até bem dentro do século XX ( a minha edição é a 14ª...), Manual Encyclopedico para uso das escolas de instrucção primaria, do Conselheiro Achilles Monteverde, dizia-se assim de Camões: "Príncipe dos poetas portugueses, a quem a língua portuguesa deve as suas maiores belezas e a nação a sua glória" .
Enfim, este desgraçado, com este tipo de atitudes solertes o que pretende, de facto? Mostrar-se rebelde e inconformista? Enfim, novamente.
Alguns recortes de época para nos situarmos no tempo então vivido, o tal de "conformismo e obediência".
Em 1de Setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polónia e começou a II Guerra Mundial. O SI de 23 de Setembro mostrava na capa como fora:
O editorial de Guedes de Amorim mostrava bem o sentimento geral da geração ainda jovem, perante o que viria aí: o que o povo em geral queria paz e foi isso que não teve durante vários anos, naquela época. O espectro da guerra pairava nos espíritos dos jovens, cujos pais tinham assistido a uma guerra mundial mortífera e sem precedentes. O articulista escreve que "O Século XX não tem deixado viver a minha geração". E vinha aí outra guerra que então nem se calculava o custo e que seria ainda mais pesado que o da Primeira.
Salazar era nessa altura uma garantia de paz, não de conformismo.
Em Junho de 1940, já com a Guerra em plena actividade destruidora, a Celebração dos nossos feitos históricos era mais que razoável e estimável. Não era propaganda para entreter conformistas.
Em Fevereiro de 1942, a França caíra nas mãos dos alemães e a Século Ilustrado de 14 de Fevereiro mostrava assim, com uma capa em que destacava as eleições do presidente da República, Carmona, então reeleito.
Por outro lado, na mesma edição dava-se conta que os franceses resistiram como puderam...mas não chegou.
O que fez então Salazar, perante o espectro da Guerra? Tentou evitar que nos envolvêssemos...
Em Fevereiro de 1942, logo após a queda da França, foi falar com Franco, à Espanha, como mostra esta edição do S.I. de 21 de Fevereiro desse ano. [Está errada a data da "queda de França" que ocorrera em 1940. Este relato de Amadeu de Freitas é publicado nesta edição da revista que é de 14 de Fevereiro de 1942. Não fui verificar e dei por assente que o jornalismo de então era tão rápido como o de hoje...de resto pouco altera o que escrevi quanto a Salazar e à sua atitude perante a guerra]
Salazar saiu poucas vezes de Portugal, esta foi uma delas e talvez a mais importante:
Depois disto tudo continuar a vincar o carácter "obediente" no sentido de submisso e "conformista" no sentido de não rebelde, ao povo português de então, é no mínimo miopia histórica. Uma receita de coelho guisado, com rabanetes e especiarias em vez da tradicional.
O típico "dar uma no cravo, outro na ferradura", esta personagem...
ResponderEliminarUm longínquo pudor, uma imensa cobardia face à cartilha vigente...
Rabanetes precisava ele...
ResponderEliminareheheh
Muito tosco com a mania que é "progressista". Um "progressista de Direita" e Historiador das coisas da "Reacção".
":O))))))
Um oportunista, em suma.
ResponderEliminarNeste país oportunidade rima com esquerda. O antifassismo nunca fechou portas.
ResponderEliminar“Obedientes” éramos na última vez em que merecemos o nome de nação independente, segundo o António José Saraiva.
ResponderEliminarAgora comemos, calamos e damos a pata quando Bruxelas ou Berlim mandam, mas somos rebeldes, modernos e insubmissos. Deve ser isso.
O que se passa é que este palerma não sabe definir o que foi o tempo do Estado Novo, não compreende as idiossincrasias e depois inventa assim umas ideias modernaças a fazer de conta que percebeu.
ResponderEliminarÉ das coisas mais deprimentes que se podem ler.
E como lhe deram a carta branca nos jornais, porque em terra de cegos quem tem o olho vesgo ainda é rei, estamos sujeitos isto.
ResponderEliminarA Salazar e a outros portugueses da epoca devemos isto: a Peninsula Iberica nao participou na Segunda Guerra. Se o Franco se envolve o teatro da guerra poderia ser desviado para a Peninsula Iberica, e Portugal seria entao obrigado a entrar! So por isto nunca deveriam ter mudado o nome a ponte. E por que motivo a casa onde nasceu nao e um museu? Por que motivo nao se publicam regularmente os seus textos e entrevistas? Por que motivo quando se estuda o Estado Novo os alunos nao leem as fontes? Se o Regime fosse assim tao mau teria estado na fundacao da NATO ou da EFTA? Organizacoes que os comunistas rejeitam como o Diabo foge da cruz...
ResponderEliminarEntao a Exposicao do Mundo Portugues era uma encenacao...
ResponderEliminarMuito bem...
E a feijoada na ponte Vasco da Gama, o que foi?
E o que foi a Expo 98? E o Euro? Dizia-se que o turismo explodiria... ficou tudo na mesma e quem faz o turismo explodir? A Ryanair, Airbnb, Easy Jet, Tripadvisor, a instabilidade nos paises muculmanos ou um sec. de Estado do CDS odiado pela Esquerda, Adolfo Mesquita Nunes.
Qual foi o preco do novo-riquismo provinciano das encenacoes do regime abrileiro?
O motivo para essas omissões?
ResponderEliminarÉ simples quanto a mim: deram a palavra ao PCP e o PCP fez o que quis dela e estabeleceu o código de linguagem desde os primeiros dias do 25 de Abril de 1974.
E ninguém, depois disso, teve a coragem de publicamente e com expressão de poder, dizer que o rei vai nu.
É só isso, quanto a mim. Posso estar por aqui a dizer isto há anos e anos que a mim ninguém liga.
Mas a outros que o poderiam e deveriam fazer, como é o caso do actual presidente da República não lhes perdoo tal omissão.
Um dia destes, numa daquelas entrevistas "de fundo", ainda vamos descobrir que o presidente da república que temos é antifassista desde pequenino…
ResponderEliminarBom post
ResponderEliminartenho quase 87
ResponderEliminarlembro-me da guerra civil espanhola
o meu Prof fundador da Opus contou cenas que viveu
verdadeira crueldade
dizia-se depois da entrega da porcaria dos açores
que Herr Adolf enviaria Franco tomar conta disto
Franco tina inicialmente Guarda Moura
assisti casualmente em 49 ao regresso de Carmona depois de comício no Porto.
aquela loucura e mar de gente não podia ser encenação
como as perguntas a antónio das mortes em Aveiro ou o 44 no CCB
disseram que se foi mais uma edmundics
«Este palerma não sabe definir o que foi o tempo do Estado Novo, não compreende as idiossincrasias e depois inventa.»
ResponderEliminarCuido que a frase resume muito bem e se aplica à geral.
Completa-se na doutrinação pela lingua de pau dos comunistas e aqui estamos: duas ou três gerações de nabos.
No 5.º centenário da chegada dos portugueses à Índia ouviu-se falar de Vasco na ponte da feijoada. Mas foi só. A gama da propaganda teria de ser, naturalmente, outra que não de pendor heróico nacionalista. Ou não haveria ordem de os mandaremos de turno se porem com obras de pontes ou tachos de feijoada, sequer.
ResponderEliminarMandaretes de turno.
ResponderEliminarAnais às avessas duma guerra civil latente:
ResponderEliminar1937, Julho: atentado à bomba contra Salazar.
1936, Setembro: revolta dos barcos.
... Julho, Guerra Civil em Espanha.
1935, Setembro: golpe de reviralhistas e nacional-sindicalistas contra o governo.
1934, Janeiro: intentona revolucionária na Marinha Grande, Barreiro, Seixal.
1933, Outubro: revolta militar em Bragança.
1931, Agosto: revolta militar reviralhistas em Lisboa.
... Abril, Maio: revoltas militares na Madeira, Açores e Guiné.
1930, Junho: desmantelada uma conspiração para derrubar o governo.
1928, Julho: revolta de Caçadores 7 em Lisboa e levantamentos militares e civis noutras cidades.
1927, Fevereiro: revolta reviralhista do Porto e em Lisboa.
1926, Setembro: rebeliões do reviralho republicano em Chaves e em Lisboa.
Depois da balbúrdia da 1.ª República, contem-me histórias de carochinhas conformistas e carneiradas obedientes.
O inconformismo é o novo conformismo, ahahah!
ResponderEliminar"Em Fevereiro de 1942, logo após a queda da França, foi falar com Franco, à Espanha, como mostra esta edição do S.I...."
ResponderEliminarSó que a França caiu em Junho de 1940 - 20 meses antes. E, por outro lado, em Fevereiro de 1942, já Franco se encontrara previamente com Hitler (Outubro de 1940) e com Mussolini (Fevereiro de 1941). Se se pretende insinuar que esses encontros de alto nível fossem expressões de uma diplomacia astuta, então há que concluir que Salazar andou a reboque dos acontecimentos.
Bem observado… eu já tinha achado esse 1942 muito estranho, nessa altura está o rumo dos acontecimentos prestes a mudar para pior para os alemães — os americanos entraram dois meses antes. A França e países baixos duraram pouco mais de um mês.
ResponderEliminarTão a reboque que até já se tinha assinado o Tratado de Amizade e Não-Agressão Luso-Espanhol, cuja ausência teria permitido a qualquer das partes entrar no conflito sem arrastar a outra - o que levaria fatalmente a que entrassem as duas.
ResponderEliminarO Presidente do Conselho poderá ter visitado Franco apenas em 1942, mas havia outro Franco, irmão desse, que era Embaixador de Espanha em Portugal desde 1938...
Outros tempos, em que não era preciso um ministro para inaugurar um caminho de cabras ou mesmo uma barragem...
A. Teixeira: tem razão e já rectifiquei. Obrigado.
ResponderEliminarAinda queria dizer outra coisa: Que conversa é a de os franceses combateram com galhardia, a França bateu-se… etc? Aquilo foi um fiasco monumental em toda a linha (incluindo a Maginot…). E eram considerados a maior potência militar da época.
ResponderEliminar"The French Army was mobilised on 1 September 1939: about 5,000,000 reservists were to be added to the standing army of 900,000 men."
"The defeat of this powerful army in a mere six weeks in 1940 stands as one of the most remarkable military campaigns in history."
Acho um jornalismo muito fraco e sobretudo muito pouco fassista! É preciso avisar a malta anti-fassista!
Isso não foi bem assim. Os franceses bateram-se bem, mas não estavam minimamente preparados. É preciso não esquecer que a entrada na guerra foi pela porta do cavalo. Isto é, foi uma coisa muito pouco democrática e, alguns dizem, eventualmente fora da legalidade vigente.
ResponderEliminarNão tira valor militar nenhum aos alemães, evidentemente.
Já agora, é conveniente lembrar que os comunistas franceses foram colaboracionistas nazis dedicados até à entrada na guerra da URSS.
Vale a pena ver esta conferência de Roger Holeindre:
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=neoUrMkSWlI
Muja, só vi agora. Vou tentar dar uma olhada.
ResponderEliminarMas essa do bateram-se bem, quer-se dizer: seis semanas. Afundaram a sua própria esquadra, entre outros feitos! Não admira que da França nunca mais se tivesse visto nada. Ficaram traumatizados coitados. La culture française, toda empenada. Culminou num Modiano… mediano, na melhor das hipóteses.
Se por acaso se tivessem batido mal, aquilo tinha-se resolvido num fim de semana prolongado, entre pratos de moules! Ah ouais.
Não foram só os franceses que afundaram a própria esquadra. Os ingleses também ajudaram, em Mers el Québir.
ResponderEliminarVeja o Holeindre que ele explica.
Explica como foi o exército francês regular, dito colaboracionista, que se bateu realmente pela libertação - e não os "resistentes" comunistas ou os fictícios soldados de de Gaulle.