Este artigo de Helena Garrido, a antiga esquerdista radical tornada cronista de costumes económicos é o exemplo concreto de um elenco de casos de corrupção que se tornam virtualmente impuníveis como tal.
Estou convencido que isto só subsiste em Portugal porque as pessoas em geral ignoram estes fenómenos e acabam por achar que são normais e fazem parte da "política". Passados mais de 40 anos de regime democrático, os portugueses estão em geral mais analfabetos nestas matérias do que antes do 25 de Abril de 74...
No final do artigo a autora fala da perplexidade em não aparecer, ainda, um partido populista, em Portugal.
Perante este caldo de cultura, se uma boa parte dos analfabetos funcionais forem deste modo alfabetizados não demorará muito porque o combustível já existe: a inveja atávica dos tugas.
Observador:
O tempo passa e há já quem tenha caído com o peso das suas dívidas
durante a crise e já se tenha levantado ou reduzido o seu nível de vida.
Se é esse o seu caso é porque não devia centenas de milhões de euros,
não estava integrado na rede do poder ou não pertencia a nenhum grande
clube de futebol. Para esses, que deviam centenas de milhões de euros,
os bancos não têm meios para os obrigar a pagar ou a falir e os mais
diversos poderes defendem-nos com o sigilo bancário, ao mesmo tempo que
se apresentam como defensores dos desfavorecidos. Nunca como hoje se
teve um discurso e se actuou de forma oposta ao que se diz.
Porque
não conseguem os bancos que os grandes devedores lhes paguem? Estão
protegidos por contratos jurídicos invioláveis, argumenta-se. Ou nada
têm nas empresas que eram suas e que, em muitos casos, desnataram. Ou
nada têm em nome pessoal como aconteceu por exemplo com Nuno
Vasconcellos da Ongoing que só tinha uma mota de águaquando o BCP finalmente resolveu executar a sua dívida de 9,7 milhões de euros.
Bem
vindos pois a um país onde os grandes devedores conseguem continuar a
dever sem que nada lhes aconteça enquanto outros, os pequeninos, pelo
menos alguns, já tiveram tempo para pagar o que devem e reconstruir as
suas vidas. Ou estão ainda a pagar caro os erros que cometeram.
Bem
vindos a um país onde um banqueiro pode receber uma liberalidade de um
cliente sem que nada lhe aconteça, para além de estar enredado em
processos judiciais. Ou ao país em que um banqueiro pode conseguir
financiamento para empresas do grupo da família, enganando gananciosos
ou analfabetos, sem que nada lhe aconteça. Ou antes, o que lhe acontece é
o Estado substitui-lo como credor.
Bem vindos a um país onde
modestas pessoas, muitas iletradas e info-excluídas, ficam sem uma
agência bancária a poucos quilómetros do sítio isolado onde vivem porque
houve homens integrados nas redes do poder que não pagaram o que deviam
ao banco do Estado que, por sua vez, concedeu esse crédito por
orientações políticas, amiguismo ou critérios duvidosos que estão a ser
avaliados pela justiça.
Bem vindos ao reino em que alguns homens,
que abriram portas financeiras ou jurídicas para outros homens acederem a
centenas de milhões de crédito que lhes dava o estatuto de banqueiros
ou empresários, continuam a com poder para ditar as regras que do reino.
Bem
vindos ao reino onde se leva à miséria quem deve milhares à banca ou se
processa sem dó nem piedade quem deve centenas ao fisco e protege-se, a
coberto do sigilo bancário, quem deve centenas de milhões e tem nas
costas a responsabilidade do dinheiro que alguns bancos precisaram,
nomeadamente a CGD.
Bem vindos ao reino que, numa luta sem quartel
pela sua auto preservação, defende-se o sigilo bancário como se fosse
um valor absoluto, indiferente à necessidade de apurar responsabilidades
que podem mudar mentalidades e atacar o coração de uma elite rentista
que condena o povo ao subdesenvolvimento.
Bem vindos ao reino da
impunidade, ao reino em que a elite responsável ou cúmplice do problema
dos bancos vai armadilhando a justiça com falta de meios e assim se vai
preservando.
Bem vindos, enfim, a um reino que devia ser de uma fantasia de terror.
Quando
se diz que não há uma única pessoa responsabilizada pelo que se passou
na banca portuguesa é dizer pouco. Porque além de não existirem
responsáveis pela concessão de crédito sem a devida avaliação de risco
ou com critérios duvidosos – porque é disso que se trata e não de
eventos inesperados que geraram incumprimento -, há igualmente grandes
devedores que se podem dar ao luxo de continuara dever e, no limite, a
fingirem que são empresários porque são protegidos pelo “sigilo
bancário”.
Como se tudo isto não bastasse está criada em alguns bancos a ideia de adiar ainda mais a limpeza do malparado, opondo-se à proposta da iniciativa da Alemanha e da França de obrigar a uma redução para 5% da carteira de crédito. E ouvimos da Associação Portuguesa de Bancos exactamente os mesmos argumentos
usados para convencer a troika a não aplicar em Portugal a solução de
limpeza geral usada na Irlanda – e que a CGD acabou por adoptar no seu
último aumento de capital. Estamos à espera de uma nova crise para
termos ainda de gastar mais dinheiro a salvar bancos? (Atenção que a
salvação dos bancos é uma expressão lata para dizer que estamos a
salvar, e bem, depósitos. Mas esta solução que considero ser a que tem
menos custos para a economia não pode ser o caminho para
desresponsabilizar quem fez uma gestão danosa e perdoar grandes
devedores).
Quem assim reina frequentou as mesmas escolas ou
colégios, as mesmas faculdades, concentra-se basicamente em Lisboa, é um
grupo de amigos e conhecidos que troca cumplicidades e favores. Um
grupo transversal aos partidos que vai expurgando quem a ele não
pertence ou se atreve a tentar mudar esta elite que controla o poder a
seu favor, mesmo com discursos de defesa do povo. Este reino da
impunidade terá um dia consequências graves. Por tudo isto mas também
pelo que temos assistido nos últimos tempos, resta-nos estar gratos por
não termos ainda em Portugal um partido populista de tipo autoritário em
Portugal.
Não haverá por aqui incompetência do Fisco? Digo isto porque, os prejuízos resultantes de créditos incobráveis só eram aceites como “custos” pelo Fisco se, em relação ao devedor, houvesse sentença judicial decretando a falência, ou coisa parecida que atestasse a impossibilidade de cobrança do valor em causa.
ResponderEliminarE assim sendo, e creio que ainda assim é, os Bancos teriam, obrigatoriamente, de publicitar os seus devedores incumpridores, movendo-lhes acções judiciais que, naturalmente, eram levadas ao conhecimento público.
Será que, com estas novas designações dadas aos prejuízos, e adoptadas pela Banca, chamando aos "calotes" imparidades, o Fisco deixou de exigir que as empresas (os Bancos) processassem judicialmente os seus devedores relapsos? Se assim for, os funcionários do Fisco são coniventes com esta bandalheira.
Queria escrever rapaces e saiu relapsos. Desculpem.
ResponderEliminarJá existe um partido populista. Afinal o que é o BE? O que me espanta é não existir um partido Tradicionalista...
ResponderEliminarAs elites do Estado Novo não se conheciam uns aos outros? Trocavam favores deste tipo?
ResponderEliminar"Se assim for, os funcionários do Fisco são coniventes com esta bandalheira."
ResponderEliminarÉ essa a essência da corrupção semântica. A linguagem corrupta. Imparidades em vez de calotes é algo que só certos professores universitários conseguem criar.
A corrupção tem sede nas faculdades de Direito.
Li no outro dia uma notícia que me escapou de comentar sobre um jurisconsulto universitário, de Coimbra que inventou uma teoria para safar ladrões de casaca como estes. No caso, o Banco de Portugal comprou-lhe o parecer, mas quem pagou foi o beneficiário.
ResponderEliminarÉ esta canalha que tem que ser denunciada. E às imparidades devem chamar-lhes calotes.
Essa corrupção semântica não existia no Estado Novo. Uma dívida era uma dívida, não era uma imparidade. E falava-se português, não o linguarejar economiquês e anglicano.
ResponderEliminarEsses mega empréstimos foram feitos quando? Quem estava no poder? Quem apoiava estas políticas? Onde andam agora?
ResponderEliminarQuem andou ai por volta de 2010 a assinar manifestos a pedir tgvs da vida? O BE e o PCP que diziam? Como andAm por aí como se nada fosse, como se não estivessem estado lá? Por menos não desapareceu o PS dos gregos e dos franceses? Não perdeu o psoe quase metade do eleitorado? Quem andou a assinar manifestos Portugal patrioteiros com Sócrates no poder? Promovidos pelo jornal do bergs... um dos que dava a cara pela fossA foi meu professor...
Por que motivo a imprensa não recupera este fundo do baú recente, agora que andam por aí aassobiar para o lado como se nada se tivesse passado?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAs mentiras agora são inverdades...
ResponderEliminarhuumm...boa ideia. Tenho cá esses artigos todos, recortados. E catalogados por mês e ano. Basta ir às pastas...
ResponderEliminarHouve um manifesto patrioteiro promovido pelo Expresso... estava o tal no poder. Seria útil recordar quem deu a cara. Um foi meu professor... ah ah e também quem assinou manifesto a pedir tgv ou aeroporto novo...
ResponderEliminarHouve uma pessoa que saltou logo fora. O professor Campos e Cunha...foi dos poucos que esteve lá, saiu logo e disse que o rei ia nu.
ResponderEliminarPor onde andavam Vieira da Silva, Galamba, Costa, Marcelo, Catarina Martins ou Jerónimo nesses anos? O que diziam e apoiavam?
ResponderEliminarQuem vai criar Novo partido primeiro? Santana ou Sócrates? Ahah
ResponderEliminarMas... há algum partido em Portugal que não seja populista?
ResponderEliminarA pergunta é sem rasteira...
https://novoadamastor.blogspot.com/2018/07/processo-m-alegre-vs-brandao-f.html
ResponderEliminarmuja disse...
ResponderEliminarMas... há algum partido em Portugal que não seja populista?
Tirou-me as palavras da boca. Quanto a partidos autoritários, o BE e o PCP são exatamente o quê?
A Helena Garrido dá umas no cravo e outras na ferradura.
« Tenho cá esses artigos todos, recortados. E catalogados por mês e ano. Basta ir às pastas... »
ResponderEliminarespero que inclua não só alguns artista do ps, pc e be, mas também rio e o entertainer
como dizia um boticário braselêro
«-estou aqui como espectorante»
O Jose é, digamos assim para ser simpático, pouco entendido em matérias econômicas.
ResponderEliminarConsequentemente diz que imparidades e dividas é a mesma coisa.
Mas não é.
Dívidas não preciso de explicar.
Em termos simplórios, para cérebro de José perceber, Imparidades são diferenças entre o valor dos activos a preços correntes e o valor dos mesmos aquando da sua aquisição.
Por exemplo, se comprar o José pelo preço que ele pensa que vale e o vender pelo preço que ele realmente vale, gera-se uma imparidade gigantesca.
Rb
Imparidade não é necessariamente uma divida. É um estado de perda potencial.
ResponderEliminarAntigamente, no tempo do estado novo, não se registavam imparidades. Hoje as regras da UE obrigam a registar imparidades. E bem. A perda potencial deve estar refletida em balanço.
Para o cérebro do José conseguir perceber melhor. Se comprou uma casa por 100 há dois anos e ela hoje vale 80, não há dívida alguma. Mas há uma imparidade de 20.
Em suma, não fale do que não sabe.
Rb
"Em suma, não fale do que não sabe".
ResponderEliminarEste Ricciardi, ponde-se em bicos de pé, veio cagar sentenças, armando-se em especialista em economia, apresentando uma definição para as imparidades dos Bancos, como se estes se dedicassem unicamente à compra e venda de "activos", esquecendo-se que o que estava em causa a publicação, pela Banca, dos grandes devedores incumpridores, como devia ser feito e é feito para os pequenos devedores ao Fisco que, por dá cá aquela palha, são logo ameaçados de penhoras.
O que aqui defendi é que os Bancos cumpram o estabelecido sobre a matéria, rejeitando as imparidades, para efeitos fiscais que não cumpram a letra e o espírito das leis, nomeadamente os estabelecido no Código do IRC, a saber:
Só são considerados como créditos de cobrança duvidosa, quando estejam reunidos os requisitos constantes do artigo 36.º do CIRC, de entre os quais, os seguintes:
• A existência de processo especial de recuperação de empresas e proteção de credores ou processo de execução, falência ou insolvência;
• Os créditos tenham sido reclamados judicialmente;
• Os créditos estejam em mora há mais de seis meses e existam provas de diligências para o seu recebimento.
A questão é esta: por que razão não são divulgados os nomes desses caloteiros, que originaram um tão elevado valor de imparidades que, todos nós, estamos a pagar com os nossos impostos? Só para defender certos senhores, é o que me parece.
É bom saber de que lado estão os Ricciardis.
Eu digo de imediato qual é o lado, oh Tiro ao Alvo.
ResponderEliminarPor principio os bancos não devem divulgar informação ao público em geral alguma acerca do quer que seja. Ponto.
Porem, todo o principio tem excepções. Se o estado (os contribuintes) emprestou dinheiro a certos bancos e se há desconfiança séria (judicialmente apurada) de que haja, ou tenha havido, credito concedido em moldes desonestos, devem ser informados os contribuintes dos nomes daqueles que beneficiaram do credito e daqueles que o concederam.
Imparidades, porém, não tem nada a ver com isto.
Rb
"imparidades, porém, não tem nada a ver com isto".
ResponderEliminarE teima a criatura.
Toda a gente sabe que os Bancos assumiram enormes prejuízos resultantes de imparidades respeitantes a operações de crédito que concederam e que não foram liquidadas a tempo e horas, valores que, por força da lei, só podem ser considerados, pelo Fisco, como custos normais do exercício de actividade, numa das condições que acima referi.
Ora, se a Banca cumprisse a lei e instaurasse processos judiciais contra os seus (grandes) clientes incumpridores, os nomes desses clientes passavam a ser conhecidos publicamente e a comunicação social, sem grande trabalho, poderia e deveria divulgá-los. Mas há sempre quem não queira que assim se faça, em nome do sigilo bancário que, como é fácil de entender, não estaria em causa. O que está em causa é a não perseguição judicial de clientes caloteiros que, não sei bem porquê, têm sempre gente a defendê-los, muitas vezes gente que se diz preocupada com os mais desfavorecidos, mas que, facilmente fecha os olhos, sempre que estão envolvidas empresas públicas ou políticos da sua cor.
Tirinho, vc também desconhece o que é uma imparidade. Leia acima e percebe.
ResponderEliminarImparidade é uma desvalorização potencial dum activo registada num certo momento.
Se quiser, uma imparidade pode muito bem ser um bom motivo para justificar o credito malparado.
Porqur?
Porque há situações que não são antecipaveis. Se fossem eramos deuses. Quer dizer, um banco pode ter emprestado bem, com todo o cuidado, o dinheiro a alguém e entretanto ter acontecido um fenomeno que fez falir a mutuária do empréstimo. Na crise de 2008 aconteceu isso a muitas empresas. Por essa razão o malparado disparou para 14%. Milhares de empresas tinham projectos em curso que colapsaram. Na construção isso muito visível.
Em suma, quebrar o.sigilo bancário do deve ocorrer depois de haver motivos sérios para tal. Deve ser a justiça e não vc a definir se há razoes para o quebrar ou não. Cada caso é um.caso. Não podemos meter tudo no mesmo saco. Ele pode haver razoes naturais para o incumprimento como pode haver razoes criminais. Não cabe a si ou mim decidir isso. Cabe aos tribunais.
ASSIM, o sigilo deve permanecer ate ordens judiciais em contrario.
Rb
Não há pior do que o cego que não quer ver.
ResponderEliminarQue mais havemos de pedir a quem escreve económico com acento circunflexo? O Ricciardi não é de cá, escreve à brasileira e pensa que a definição que deu não serve para o sistema financeiro. O homem embicou com o sigilo bancário, que julga ser a tábua de salvação para não serem conhecidos os nomes dos responsáveis pela situação dramática em que vive a Banca portuguesa, tanto os nomes dos gestores bancários corruptos ou incompetentes, como os nomes dos maganões que se apoderaram de milhões e milhões, que sacaram de Bancos que estão a ser salvos com dinheiros do Estado, nomeadamente da CGD, tudo com a conivência de uma mão cheia de políticos, alguns dos quais deviam estar na cadeia a fazer companhia aos corruptos. O resto é treta.