Dei-me ao cuidado de ver o primeiro episódio desta pequena série de produção nacional sobre o tema em causa: escândalos na banca em investigação jornalística.
O genérico e os primeiros planos agradaram-me, mas durou muito pouco tempo a sensação. Logo que apareceram as personagens principais o desconsolo instalou-se gradualmente até chegar a uma conclusão preliminar e com grande probabilidade em se tornar definitiva, mal surjam os próximos episódios.
O protagonista, um suposto inspector da PJ aparece a dedilhar uma guitarra eléctrica em casa, com sonoridades a la David Crosby do tempo em que não se lembrava do nome, ou assim, vagueando por alguns acordes tangidos de efeitos de pedal. Percebe-se que é o hobby do bravo inspector que completa o par com outro desiludido, mostrando-se ambos a conversar sobre "eles", os que os não deixam investigar certas matérias e os condicionam e orientam para questões de lana caprina.
Supostamente, uma personagem de polícia judiciária portuguesa numa séria de produção nacional, deveria merecer pelo menos tanta credibilidade como os inspectores do FBI que entram pela casa dentro, nos écrans de tv dos canais por cabo. Não é o caso. Este inspector já aparece estilizado e o actor que lhe dá forma de personagem não tem categoria para convencer o espectador do papel que lhe incumbiram. Fala como nas novelas mais pífias, em diálogos ainda mais pindéricos mas a armar ao sofisticado. Não convence.
As cenas de convívio na casa dos ricos, banqueiros e quejandos, parecem saídas do tempo de há 50 anos, na quinta de Antenor Patiño, com a distância devida, medida nos fatos e toilletes das madames. Fake mais fake só em cenas kitsch.
A realização cujos primeiros planos prometiam uma série à la Jean Jacques Annaud (realizador da magnífica séria que passa no canal ACM acerca da "a verdade sobre o caso Harry Québert" que sigo religiosamente aos Domingos à noite e acaba amanhã) deixa logo a desejar tudo nos planos seguintes, na mostra de armas ( parece um fétiche dos filmes e séries nacionais, mostrarem armas...), na sincopada montagem sem jeito e principalmente na escolha dos actores, confrangedores, na sua maioria.
O argumento, esse, dava pano para mangas a quem soubesse costurar. Aqui, no caso é só remendos em cima de roupa velha que são os estafados argumentos sobre assuntos nacionais e contemporâneos. A série ainda consegue ser pior do que a que tem passado sobre as 3 mulheres dos anos sessenta ( Vera Lagoa, Natália Correia e Snu Abecassis) o que não é dizer pouco.
Até custa ver aquilo. Nunca estive numa redacção de jornal, mas a que lá apareceu ontem é ridícula. Quem é o director que serviu de inspiração para aquilo que se viu?
Percebe-se que o "engenheiro" do banco bpc seja o caído em desgraça Jardim Gonçalves; percebe-se que haja por lá um Berardo qualquer de opereta que cai à piscina ou seja lá o que for. Percebe-se que o primeiro-ministro seja uma sucedâneo de José Sócrates misturado com outro qualquer menos carismático. Percebe-se que o assunto principal é o da tomado do poder do bcp pelo grupo que Santos Ferreira encabeçou e manipulou o banco público, em favor de alguém, dono disto tudo.
Percebe-se tudo isso, embora mal. O que não se percebe é o enredo da narrativa de uma qualidade que acho abaixo de cão.
Uma oportunidade perdida de mostrar em narrativa ficcionada o que é a realidade da corrupção bancária em Portugal associada ao jornalismo de fretes e à luta de alguns, poucos, jornalistas, para fugir à rotina dos diários de notícias, ecos e demais diários económicos.
Em resumo: não consigo detectar na séria estreada um único ponto que me apeteça gabar e louvar pela qualidade demonstrada.
Para mim é das séries mais medíocres que me foi dado ver, pelo primeiro episódio. Talvez melhore no segundo, mas duvido.
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