Enternecedor artigo do professor de direito penal, Rui Pereira, antigo ministro da Administração Interna, socialista moderado e casado com a professora de direito penal Fernanda Palma.
Rui Pereira é um comentador residente no CMTV, escrevendo estas pequenas crónicas sobre assuntos diversos, no jornal.
Como comentador de tv foi desde o início um achado e uma mais valia nesse género de comentário. Sabe do que fala e diz coisas com interesse, não propalando asneiras como alguns o fazem, sem consequências ( um tal Hernâni, também na tv...).
Não obstante, Rui Pereira é um colaborador interessado da CMTV que receberá boa maquia por isso. E nessa qualidade tem feito algumas figuras que me parecem tristes e explico porquê.
Neste caso tipicamente de fait-divers, relativo ao assassínio de um indivíduo, cuja autoria foi imputada à própria mulher e amante, o assunto deveria ter-se esgotado numa nota de pé de página de jornal ou de referência sumária numa notícia de tv, se tanto.
Então para quê o espaço mediático de horas e horas de tv em "prime time", com debates, directos, "exclusivos", violações de segredo de justiça, colaborações escondidas com autoridades judiciárias ou policiais, etc etc? E tudo durante meses e meses e com a complacência, colaboração activa e interessada de Rui Pereira?
Há só uma palavra para esclarecer e não é bonita neste contexto: dinheiro. Nem é preciso dizer mais, pelo que mais palavras serão desnecessárias.
Rui Pereira não sente vergonha da sua prestação? E ainda escreve coisas como esta, hoje no CM?
Dando assim eco à notícia de primeira página...
Vejamos:
Este caso, segundo Rui Pereira refere-se a um "julgamento seguido com paixão pelo público". "Seguido com paixão"?! Rui Pereira acredita mesmo nisto que escreveu?
Seguido com paixão pelo CM, talvez, mas com o enfado do público também como hipótese. Que interessa às pessoas em geral que o marido da Rosa Grilo tenha sido assassinado por esta? Qual a relevância desta Rosa Grilo ou do marido assassinado ou das circunstâncias do caso, para o público em geral? Nenhuma, absolutamente nenhuma.
Logo, o interesse e a paixão induzidas no público de modo manhoso pelo CM tem a ver apenas com uma coisa: dinheiro. Audiências que procuram ver e saber coisas sobre temas mórbidos, tétricos ou perversos.
É disto que Rui Pereira se gaba? De participar numa espaço mediático em que estes valores são promovidos, sem outro interesse que não o do dinheiro?
Isto é populismo e do pior...
Dito isto, outro caso que o CM também relatou, precipitando-se nas primeiras notícias e escrevendo asneiras mais de um dia depois dos factos, omitindo outras circunstâncias relevantes e já aqui elencadas merece atenção.
O caso do jovem assassinado no Campo Grande na noite de 28 de Setembro suscitou, esse sim, interesse público pelo mistério inicial de que se rodeou, mormente quanto a motivações e modo de execução do crime e depois pelas circunstâncias que se foram conhecendo.
De modo absolutamente eficiente, competente e profissional, a PJ resolveu o mistério em poucos dias.
O CM depois das asneiras publicou as fotos dos suspeitos, sem mais. Nada disse sobre o meio, as pessoas e as circunstâncias de tais suspeitos, embora tal fosse relevante para a notícia. Não no aspecto que motivou a omissão, ou seja, o medo de serem acusados de racistas e xenófobos, mas simplesmente por respeito à verdade dos factos.
Foi o que fez agora o Sol, com grande qualidade jornalística. Leia-se o artigo e compare-se com o jornalismo do Correio da Manhã e da vergonha que aquele Rui Pereira aparentemente não sente, por motivos eventualmente inconfessáveis. Mas perora sobre populismo, ai isso perora...
Felícia Cabrita ( confesso que só agora fui ver quem escreveu o artigo porque me parecia ter sido outro jornalista...) sobre as circunstâncias dos suspeitos apenas escreveu que "frequentam escolas profissionais onde raras vezes aparecem. As aulas provocam-lhes aborrecimentos e é nos assaltos e rixas que encontram o jogo mais apropriado para passar o tempo".
Enfim, este naco de prosa vale o que vale e pouco, a meu ver. Mas, pelo menos, dá um certo retrato da emergência da cultura de gang e da criminalidade juvenil associada a vários factores, aliás não elencados mas percebidos ou até subentendidos. E ocultos em muitas notícias, como a do CM.
Bastaria que a jornalista do pente-fino do Correio da Manhã fosse ao local e inquirisse algumas pessoas que conhecem os jovens guineenses, sobre quem são, filhos de quem e com quem andam. E como são na tal escola profissional...mas isso ela nunca fará. Seria racismo e xenofobia...
Além disso escreveu a jornalista que eram "filhos de emigrantes guineenses que procuraram sem êxito uma segunda oportunidade, os três acabaram por crescer nos bairros sociais da linha de Sintra". Em poucas linhas um programa que tem sido mostrado em várias situações do género e suscita a atenção das pessoas que aí vivem e se preocupam com estes "fait-divers".
A sobriedade do relato esconde uma objectividade que seria necessária e só é omitida por razões de medo, a meu ver: o de escrever algo que possa interpretar-se como ressumando a racismo ou xenofobia. Daí as pinças no tratamento do assunto e o cuidado nos rodeios. Hipocrisia, a meu ver.
Daí o medo de fugir ao politicamente correcto.
Ainda assim, magnífico artigo na narrativa e descrição de factos, em modo jornalístico-literário. Gostei.
Como gostei muito deste pequeno apontamento de um Guilherme Valente que não conheço e que retrata o Chega exactamente do modo como vejo tal partido e que aflige a esquerda radical e não só.
O Chega aparece por causa daquele jornalismo de medrosos, hipócritas e interesseiros, verdadeiros patronos das fake news e precursores dos verdadeiros populistas, como é, tristemente diga-se, o caso de Rui Pereira.
Sobre o aparecimento do Chega há uma achega no mesmo jornal, de hoje, embora indirecta:
Quando as pessoas responsáveis pelos media tentam esconder a realidade esta entrar-lhes-á pela porta dentro, mais cedo ou mais tarde...e da pior maneira.
Último exemplo da omissão censória do Correio da Manhã, hoje no jornal:
Falta aqui a palavra fatal que explica muitas coisas: o crime em si, o absurdo de um casamento prometido entre uma jovem de 13 anos e um de 17; as "famílias" que se unem para lavar a afronta e a desonra, muito ao modo mafioso do sul de Itália, etc etc.
Tudo isto é percebido pelo autor da notícia, o jornalista Nelson Rodrigues. Mas é omitido completamente, por medo, presumivelmente.
Se escrevesse a palavra "ciganos" talvez um palerma qualquer do BE ou das brigadas do politicamente correcto lhe viessem cobrar a afronta jornalística. E no entanto escreveria a mais pura das verdades, que assim omitiu.
Teria algum mal escrever que estes factos ocorreram num ambiente social entre famílias ciganas? Nenhum, aparentemente, se tivermos em conta que a etnia cigana é portuguesa, radicada aqui há tanto ou mais tempo que outros portugueses. Mas enfim...
Estamos nisto...
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