Há 40 anos, assim pela Primavera, saiu um lp de música cantada em português que se chama "ar de rock", com minúsculas e tudo, tal como o nome do seu autor, Rui Veloso.
O disco promovia-se com um single, o tema Chico Fininho, que mexia um rock animado por um trio de músicos que além do autor musical era ritmado por um Ramon Galarza e um Zé Nabo. Os dois apareceram ontem num programa da tv com o apresentador Vasco Palmeirim, chamado Alta Fidelidade e que foi consagrado a José Cid. Programa que se aconselha ver...e espero que o Palmeirim, que me parece ter bom gosto musical, convide Rui Veloso para uma sessão do mesmo género, acompanhado pelo José Fortes e pelo António Pinho e já agora por outro que também esteve no primeiro programa, Tó Zé Brito que aparece referenciado neste LP como tendo emprestado a Ovation. Espero que ele conte a história da Ovation, uma guitarra americana que em meados dos anos setenta quase todos os artistas usavam em palco e que entretanto desapareceu de gravações. E com alguma razão porque tem um som demasiado delicodoce e sintético.
Para além disso as letras das onze ( euh...nove, porque duas- Miuda fora de mim e Donzela Diesel- são da autoria de António Avelar Pinho) músicas eram da autoria de outro português do Porto, apresentado na capa interior do disco singelo, de impressão gráfica bastante fraca, como Carlos Tê. E outro autor de excepção, António Pinho ( o da Banda do Casaco) , produziu o artefacto, gravado em Portugal por José Fortes, o especialista das teclas de mesas de mistura sonora.
Quando ouvia o Chico Fininho no rádio que nessa altura passava muitas vezes, não achava assim muita piada, nem mesmo pela relativa inovação de palavras portuguesas musicadas em tom de rock a imitar "power trio", à la Cream.
Gostava mesmo era de ouvir os temas "slow", as baladas como Bairro do Oriente ou Sei de uma camponesa e principalmente Saiu para a rua. Ainda hoje é assim.
Na altura em que o disco saiu escutava principalmente o programa Dois Pontos, no FM estéreo do programa 4, que era assim, conforme se noticiava no Sete de 18.6.1980:
O Dois Pontos foi a minha escola de formação musical básica na música anglo-americana que ainda hoje aprecio.
Portanto, Rui Veloso de Ar de Rock, quando apareceu foi muito bem vindo porque assimilava alguns estilos e sonoridades desse tipo de música, ainda por cima cantada em português e com "letras" de grande qualidade.
Não admira que no panorama relativamente pobre da música nacional da época tenham aparecido alguns dos melhores na produção desse disco, como António Pinho e que transformaram o produto musical numa das obras de referência da música popular de expressão portuguesa, imitadora daquela, particularmente dos blues e country. .
Também no capítulo da divulgação e publicidade na época quase tudo passava pelo rádio e exposição em fm.
Na imprensa da altura não me lembra ( e aliás não encontro) de ver uma só referência publicitária ao disco, com imagem da capa, por exemplo. E no entanto o disco vendeu dezenas de milhar de cópias.
Para tal exposição por escrito tive de esperar alguns meses e ler no jornal Sete, de 17.9.1980, logo depois do Verão, uma crónica recenseadora, de página inteira assinada pelo especialista de jazz ( "cinco minutos de jazz), José Duarte, um comunista que foi esperar Álvaro Cunhal ao aeroporto quando este chegou a Portugal vindo de Praga ou Paris.
A prová-lo esta imagem do Expresso:
Depois disto o indivíduo colou-se a outros revolucionários de pacotilha ( como ele...). Flama de 17.5.1974:
O texto deste José Duarte agradou-me na altura e ainda agora é um bom texto crítico ao disco, embora discorde das comparações de certos temas com os de alguns artistas portugueses de então, como Paulo de Carvalho ou Fernando Tordo.
Logo em 1980 o disco foi considerado como um dos melhores do ano, a par de outros que ainda hoje são referências de qualidade na música popular:
A partir daí, Rui Veloso firmou-se como um dos artistas mais importantes desse género musical, em Portugal, num ano que viu também surgir estes, igualmente do Porto e que cantavam também em português, no mesmo estilo rock:
Igualmente do Porto surgiriam nos anos seguintes obras musicadas por outro grupo, os Jafumega.
Na época, o Sete de 24 de Dezembro de 1980 dava conta de algum fastio de Rui Veloso, apesar do sucesso e debaixo do peso de "não poder fracassar":
O período de expectativa só terminou com "um café e um bagaço", já no final de 1981.
O Sete de 8.12.1981 deu conta disso com um desenho de um António Jorge Gonçalves, então com 17 anos. Que será feito do artista?
Na altura em que gravou o disco Rui Veloso ouviria música assim, ( foto tirada da net): Amplificador "receiver" de final dos anos setenta ( poderia ser um Scott...) e gira-discos cuja marca não consigo identificar, eventualmente japonês e da mesma marca do "receiver" ( Sansui? Não, afinal é mesmo um Thorens, cujo modelo desconheço, embora talvez da série 160, o que se alcança pelo logotipo do caixote que sustenta o amplificador. O braço será um TP e a célula talvez uma Shure).
Quanto a audição, na ausência de colunas visíveis, notam-se uns auscultadores da Sennheiser, julgo que os 414. E os discos nem são muitos...
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