CM de hoje:
O que estas notícias revelam é algo extraordinário. O presidente de Angola concede uma entrevista a um jornal americano onde revela ter apurado através de uma instituição designada Serviço Nacional de Recuperação de Activos (!) que o Estado angolano foi defraudado durante anos a fio por indivíduos ligados às instituições mais altas do mesmo Estado, ou seja a própria presidência do Estado.
A maior fatia das "fraudes" imputou-as a actividades na empresa estatal Sonangol, esclarecendo que mais de 11 mil milhões de euros foram "desviados", "voaram", de tal empresa para bolsos e contas privadas dos respectivos administradores, em prejuízo do Estado angolano.
A principal acusada neste requisitório é a antiga presidente da empresa, Isabel dos Santos, a princesa, filha do presidente José Eduardo dos Santos. Os generais "Kopelipa e Dino" também são "arguidos" de tais factos momentosos, num processo relacionado com desvio de fundos.
Segundo se noticia e já foi tornado público anteriormente, o actual PGR angolano, Pitta Grós, veio a Portugal pedir a cooperação da PGR para resolver tais situações.
O que é que isto expõe, claramente e sem qualquer dúvida porque é o próprio presidente de Angola quem o diz e denuncia? Que Angola foi um estado corrupto, onde mandavam corruptos que se apoderaram indevidamente de muito dinheiro que pertencia ao Estado angolano.
Tal clareza na denúncia esbarra porém em escolhos de monta e um deles, porventura o maior é a circunstância de muitos dos negócios ou "desvios" de dinheiro agora denunciados terem o aval e concordância legal do próprio presidente da República, o mesmo José Eduardo dos Santos.
Por outro lado torna-se muito suspeito quanto à verdade material de tais factos a circunstância de o actual presidente de Angola ser precisamente um dos beneficiários do presidente anterior, estar rodeado de pessoas ligadas ainda ao presidente anterior e ainda mais: o seu chefe de gabinete é suspeito de ser um dos "corruptos" mais importantes, na definição que é dada pelo próprio presidente.
Edeltrudes Costa, o "Nandinho", cuja actividade é assim descrita por órgãos de informação angolanos cujo jornalismo até devia fazer inveja, pela clareza e objectividade, aos expressos cá do burgo, um reino de faz-de-conta em favor dos patrões de vário e de alto coturno e submissos a interesses espúrios- não denunciam complots de apaniguados do sistema, não identificaram jornalistas que recebera maquias do BES, que conhecem bem, etc etc.
Com a saída de JES, em 2017, o novo PR João Lourenço (JL) recuperou-o para chefiar o seu gabinete. A relação de ambos é familiar: Edeltrudes Costa é pai de uma filha da Administradora Executiva do BAI, Inokcelina Ben’áfrica Santos, sobrinha da primeira-dama Ana Dias Lourenço, de que são padrinhos o actual casal presidencial.Edeltrudes Costa é actualmente tido como o mais influente membro do regime – há quem o chame “o novo Kopelipa”, uma alcunha que o irrita.
Mantém relações próximas com o ex-ministro do Interior, Ângelo de Barros Veiga Tavares, cujo luxuoso “resort” no Kikuxi, arredores de Luanda, frequenta habitualmente. É também o protetor do ministro da Energia e Águas João Baptista Borges, cujas famílias (através das esposas) partilham negócios em comum no sector da Energia.
Outros dos seus homens de confiança são o secretário de Estado do Comércio, Amadeu Leitão Nunes e o jurista Arnito José Agostinho, nomeado em 2018, como PCA do Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM).
Marcy Lopes, do MAT, é também próximo de Edeltrudes Costa, que terá influenciado sobremaneira a sua escolha. São ainda conhecidas ligações de Edeltrudes Costa com o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Pedro de Azevedo.
A sua influência, incluindo na colocação de quadros da sua confiança no aparelho do Estado, está também patente na SODIAM, onde tem como homem de confiança José das Neves Gonçalves Silva, o único administrador que sobreviveu da anterior gestão.
Tal como JES, João Lourenço mantém inabalável confiança em Edeltrudes Costa, ignorando informações de que a sua rede tinha participado de um esquema paralelo de venda de diamantes em Antuérpia, envolvendo o Serviço de Inteligência Externa (SIE).
Para não melindrar o PR, as chefias do SIE e do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado (SISE) passaram a ignorar quaisquer actos de corrupção ou irregularidades que envolvam Edeltrudes Costa.
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