No Domingo, o historiador do regime como está, Fernando Rosas, escreveu um artigo no Público a tentar demonstrar através da dialética que o estudo académico de Nuno Palma era uma farsa.
Como "tese" daquele Palma, aprontou a ideia que "se bem entendeu" era a de o Estado Novo ser um regime político indefensável mas ainda assim ter conseguido progressos económicos e sociais sem paralelo anteriormente, atingindo uma notável convergência com a Europa ocidental. Em complemento, a ideia que o Estado Novo era sinónimo de atraso não passaria de uma falsidade, organizada pela esquerda de sempre para esconder os fracassos do costume que duram há décadas.
Convoca o grande académico Pacheco Pereira, também historiador e doutorado honoris causa pelo ISCTE, para lhe acalentar a ideia que pretende contestar através da antítese que apresenta a seguir: não se deve separar o regime do Estado Novo das suas políticas económicas e dizer bem de umas é dizer bem de tal regime execrável, logo politicamente impraticável.
Como antítese mais aprimorada apresenta a ideia que afinal o desenvolvimento económico do Estado Novo foi um logro, medíocre até 1945 e sustentada pela ditadura. No pós-guerra e até aos anos setenta, a evolução económica fez-se à custa da ausência de democracia, da justiça social e sem "sustentabilidade". O Estado corporativo favoreceu uma oligarquia de capitalistas que protegeu da concorrrência e tudo à custa de violência política anti-democrática. "Condicionamento industrial", "proteccionismo pautal", "cartel corporativo" e "guerra colonial" com uma "acção central da polícia política" são os ingredientes da antítese.
Não vou discutir números e teses ou antíteses que aliás me parecem bem estúpidas porque não são antítese alguma, mas apenas tergiversações políticas que não desmentem a tese de forma alguma.
O que vou discutir é bem mais simples e que nunca ninguém o faz a estes estarolas que escrevem à esquerda como se fossem donos da verdade histórica e que confirmam precisamente a tese do referido Nuno Palma: a esquerda construiu um discurso falso acerca do Estado Novo e as suas realizações económicas e sociais.
O modelo do Estado Novo, inicialmente de corporativismo foi evoluindo ao longo das décadas e em 1973 era um "Estado Social" em que aquelas ideias expostas na "antítese" não eram já válidas ou pelo menos tinham evoluído num plano de complexidade económica em que a iniciativa privada tinha primazia.
Para apresentar uma ideia básica, simples e documentada apresento aqui um recorte do Semanário de 18.4.1984 em que se dá um retrato muito diverso da borrada escrita pelo historiador Rosas:
Tirando isto é preciso dizer outra coisa: que modelo económico defendiam os mencionados Pacheco Pereira e Fernando Rosas, em 1973?
É preciso dizer? É, porque tal constitui a antítese perfeita do que dizem e escrevem: defendem a democracia e foram anti-democratas, adeptos do totalitarismo comunista maoista e como teoria económica nem vale a pena dizer o que pretendiam para o nosso país e que em parte conseguiram em 1974-75: um sistema que conduziu a três bancarrotas sucessivas, estagnação económica e atraso de décadas relativamente à Europa que só não é maior porque nos transformamos nos pedintes da Uniâo Europeia e devemos as penas aos pássaros.
O Estado Novo e o Estado Social que se lhe seguiu não foram nada disto e politicamente é preciso que se diga que em 1973, não havendo democracia formal havia disto que não se fala e procura aliás ocultar, como sistematicamente faz aquele Pacheco.
O que segue são recortes da revista Observador de 1973:
Só pergunto: isto é de um país digno? Não me parece nada.
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