terça-feira, junho 22, 2021

A dialética nova dos velhos esquerdistas

  No Domingo, o historiador do regime como está, Fernando Rosas, escreveu um artigo no Público a tentar demonstrar através da dialética que o estudo académico de Nuno Palma era uma farsa.




Como "tese" daquele Palma, aprontou a ideia que "se bem entendeu" era a de o Estado Novo ser um regime político indefensável mas ainda assim ter conseguido progressos económicos e sociais sem paralelo anteriormente, atingindo uma notável convergência com a Europa ocidental. Em complemento, a ideia que o Estado Novo era sinónimo de atraso não passaria de uma falsidade, organizada pela esquerda de sempre para esconder os fracassos do costume que duram há décadas. 

Convoca o grande académico Pacheco Pereira, também historiador e doutorado honoris causa pelo ISCTE, para lhe acalentar a ideia que pretende contestar através da antítese que apresenta a seguir: não se deve separar o regime do Estado Novo das suas políticas económicas e dizer bem de umas é dizer bem de tal regime execrável, logo politicamente impraticável.

Como antítese mais aprimorada apresenta a ideia que afinal o desenvolvimento económico do Estado Novo foi um logro, medíocre até 1945 e sustentada pela ditadura. No pós-guerra e até aos anos setenta, a evolução económica fez-se à custa da ausência de democracia, da justiça social e sem "sustentabilidade". O Estado corporativo favoreceu uma oligarquia de capitalistas que protegeu da concorrrência e tudo à custa de violência política anti-democrática. "Condicionamento industrial", "proteccionismo pautal", "cartel corporativo" e "guerra colonial" com uma "acção central da polícia política" são os ingredientes da antítese.  

Não vou discutir números e teses ou antíteses que aliás me parecem bem estúpidas porque não são antítese alguma, mas apenas tergiversações políticas que não desmentem a tese de forma alguma.

O que vou discutir é bem mais simples e que nunca ninguém o faz a estes estarolas que escrevem à esquerda como se fossem donos da verdade histórica e que confirmam precisamente a  tese do referido Nuno Palma: a esquerda construiu um discurso falso acerca do Estado Novo e as suas realizações económicas e sociais.

O modelo do Estado Novo, inicialmente de corporativismo foi evoluindo ao longo das décadas e em 1973 era um "Estado Social" em que aquelas ideias expostas na "antítese" não eram já válidas ou pelo menos tinham evoluído num plano de complexidade económica em que a iniciativa privada tinha primazia. 

Para apresentar uma ideia básica, simples e documentada apresento aqui um recorte do Semanário de 18.4.1984 em que se dá um retrato muito diverso da borrada escrita pelo historiador Rosas:



Tirando isto é preciso dizer outra coisa: que modelo económico defendiam os mencionados Pacheco Pereira e Fernando Rosas, em 1973? 

É preciso dizer? É, porque tal constitui a antítese perfeita do que dizem e escrevem: defendem a democracia e foram anti-democratas, adeptos do totalitarismo comunista maoista e como teoria económica nem vale a pena dizer o que pretendiam para o nosso país e que em parte conseguiram em 1974-75: um sistema que conduziu a três bancarrotas sucessivas, estagnação económica e atraso de décadas relativamente à Europa que só não é maior porque nos transformamos nos pedintes da Uniâo Europeia e devemos as penas aos pássaros. 

O Estado Novo e o Estado Social que se lhe seguiu não foram nada disto e politicamente é preciso que se diga que em 1973, não havendo democracia formal havia disto que não se fala e procura aliás ocultar, como sistematicamente faz aquele Pacheco.

O que segue são recortes da revista Observador de 1973:









Portanto não havia democracia plena, com o partido comunista e o socialista e nem sequer um social-democrata que admitisse aqueles dois como depois apareceu. Porém, com a evolução que já era visível, não demoraria muitos anos a aparecer tal regime, embora com outra configuração que não aquela que tomou em 1975 e arruinou a economia, provocando imediatamente isto: 


Em 1986, mais de dez anos depois ainda estávamos assim. E continuamos, até hoje, com o regime democrático que nem sequer é o que aqueles dois figurões queriam para o nosso país, mas escrevem agora como se fosse e afinal o que pretendiam era a democracia. Falsos como judas! E sabem que são...



E até agora tem sido isto e parece que vai continuar a ser...


Só pergunto: isto é de um país digno? Não me parece nada.  
E afinal o que defendiam politicamente como regime, os mesmíssimos dois a que se junta este, mais um historiador, neo-realista do tempo do aniki bobó, no Público de hoje?


Defendiam todos o comunismo. Um regime político sem liberdade básica para as pessoas, em que os assassínios políticos eram coisa banal e no caso da Rússia estalinista e regime chinês deveras impressionante. Defendiam a repressão policial aos opositores, com prisão e execução sumária, como acontecia nesses países. Defendiam a ausência total de liberdade de expressão que contrariasse o pensamento oficial comunista. Defendiam a abolição das práticas religiosas como "ópio do povo" e defendiam a proibição de associação e manifestação. Fernando Rosas, Pacheco Pereira e Manuel Loff defendiam isto tudo, sem problemas de consciência democrática. 

Resta saber se continuarão a defender e no caso de Rosas e Loff parece-me claro que sim. Portanto, quem é esta gente para dar lições de democracia seja a quem for e criticar o Estado Novo do modo como o fazem? 
Enfim...uns pândegos intelectuais se tal não fosse um pouco mais sério e perigoso. 



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