sexta-feira, junho 30, 2017

Sexta às 9, na RTP, o melhor programa sobre o incêndio de Pedrógão.

A RTP1, através da jornalista Sandra Felgueiras, acaba ( 22:00) de fazer uma reportagem fantástica sobre o incêndio de Pedrógão Grande. A reportagem já tinha sido anunciada mas excedeu as expectativas.
Foi ao local, falou com as pessoas certas ( só faltou falar com os pilotos dos helis ou do primeiro heli, o que continuo a pensar serem testemunhas fulcrais sobre o que se passou entre as 14:30 e as 20:00, altura em que já nem andavam no ar, por causa do fumo) falou com intervenientes directos, nas primeiras horas do incêndio ( falou mesmo com o proprietário do terreno em Escalos que viu o fogo a lavrar, ainda rasteiro e controlável mas nada fez porque "não tinha mangueiras"...embora ninguém lhe perguntasse se teria ramalhos para apagar o que aparentemente poderia ter feito), falou ainda com vários bombeiros e um nome avulta no meio desta gente toda: Augusto Arnaut, comandante dos bombeiros de Pedrógão. Ao ouvi-lo tive que sair e deixar de ouvir por momentos, porque fiquei chocado com o que o mesmo disse. Uma frase: "uma viatura e cinco homens"...

Augusto Arnaut. É preciso saber quem é. E não consigo escrever mais nada por ora porque o que ouvi deste indivíduo me incomodou seriamente.

Foi dos primeiros a insistir nas falhas do SIRESP mas o SIRESP só falhou depois das 20:00 aparentemente. Altura das mortes e quando pouco ou nada haveria a fazer a não ser o mesmo comandante ter ido cortar as estradas que manteve abertas e constituíram ratoeiras para quem morreu.

Antes dessa hora houve tempo mais que suficiente para tal tarefa primordial... e seria bom que o mesmo explicasse o que fez durante essas horas de Sábado dia 17 de Junho ( entre as 14:40 e 20:00). Disse que tinha um carro e cinco homens no terreno? Que fez com essa gente e como é que pediu mais bombeiros e quando?...E o piloto do heli que lá andou durante a tarde e  viu do ar o que se passava no terreno, a evolução do fogo e a direcção que tomava, comunicou algo com ele ou alguém da Protecção Civil? O quê?

A foto é daqui e o comandante Arnaut é o da esquerda.



 Na RTP3, depois das 23:00 um painel reunindo o responsável pela Protecção Civil ( um coronel Leitão que foi para ali tentar defender o indefensável e que confessadamente nunca pensou demitir-se porque esteve tudo bem...) e um antigo inspector de bombeiros, Miguel Antunes.
Este disse claramente o que tenho dito por aqui: dantes havia um meio aéreo que servia para coordenar o combate, dando informações sobre a evolução do incêndio e o que haveria a fazer.  No caso ninguém foi capaz de dizer que tal sucedeu em Pedrógão Grande, no Sábado 17 de Junho de 2017.              

O SIRESP não sai de cena e a culpa continua solteira

O Público de hoje continua a esgaravatar novidades sobre o incêndio trágico que ceifou pelo menos 64 vidas. Já se percebeu que o Público não pretende um esclarecimento cabal do que sucedeu na tarde de Sábado, 17 de Junho de 2017 mas apenas alimentar um casus belli com um passado recente de uma PPP negociada com governos prè-geringonça e porque lhe convém politicamente explorar tal filão.
É mais uma causa de um jornalismo abastardado por preconceitos politico-ideológicos e que é incapaz de olhar a realidade desprovida de tal filtro. É atávico, parece-me.



Não obstante, o caso SIRESP é apenas mais um dos vários negócios aparentemente ruinosos, a vários títulos, para o país e que começou em grande força num governo no qual preponderava nas Finanças uma certa Ferreira Leite, agora sempre mal-disposta contra "o Passos" e  que se revela afinal uma grande hipócrita.
Lendo o artigo do Público percebe-se que o acórdão do T.de Contas que cita para a notícia é já do passado de Dezembro de 2006 e nessa altura estava um certo José Sócrates a tratar da sua vidinha, com o aplauso geral da plateia mediática, incluindo o Público.
Talvez por isso o tratante fez o que quis, durante o tempo em que lho deixaram fazer- uma boa meia dúzia de anos, o suficiente para nos conduzir a uma bancarrota.

Um dos juízes que subscreveu o acórdão do Tde Contas foi Carlos Moreno. Em 2012 publicou um livro sobre estes assuntos e deu várias entrevistas. Não me lembro do Público se interessar muito pelo assunto, mas não fui verificar aos arquivos da época.
Porém, outros o fizeram como o i que lhe deu espaço para um artigo em 13 de Junho de 2012 ( já lá vão cinco anos):

A lei orgânica do Tribunal de Contas não lhe permite punir os responsáveis, porque só considera ilegalidades as infracções financeiras.
Quando o Tribunal de Contas (TC) descobre que o Estado ou as suas empresas gastam mal os nossos impostos ou assinam negócios ruinosos para os contribuintes, a pergunta que todos fazemos há anos é esta: “Nada acontece aos responsáveis?”
A realidade portuguesa das últimas décadas prova que a resposta é negativa, ficando impunes os casos de má gestão de dinheiros públicos.
O TC tem dedicado atenção a concursos de obras públicas, nos quais já ocorreram derrapagens financeiras de 300% ou atrasos na sua conclusão de mais de oito anos, ou em que não foi estimado o valor actual dos encargos com a manutenção e a conservação das infra-estruturas e equipamentos e por isso se transformaram em verdadeiros elefantes brancos. Todos nos lembramos dos casos dos estádios do Euro 2004, da Ponte Rainha Santa Isabel, em Coimbra, do Túnel do Terreiro do Paço, em Lisboa, ou da Casa da Música, no Porto.
O TC arrasou ainda parcerias público--privadas (PPP) por serem desastrosas para os contribuintes e insustentáveis para as gerações futuras – e logo nos recordamos dos casos da Lusoponte, das Scut, dos contentores de Alcântara ou da Metro do Sul do Tejo.
Nestas situações, e em muitos outras, o TC realiza auditorias, faz as contas e conclui que centenas ou milhares de milhões são mal gastos, porque os gestores públicos não respeitam os critérios da economia, eficiência e eficácia.
Mas a lei orgânica do TC não lhe permite punir os responsáveis, porque só considera ilegalidades as infracções financeiras. E os portugueses, atónitos, olham para tudo isto como mais uma fatalidade lusitana.
Só que não há aqui qualquer fado ou fardo que os contribuintes, no limite da exaustão fiscal, devam continuar a suportar.
O que me salta à vista é uma inexplicável falta de coerência e de vontade política do legislador de mudar as coisas.
De acordo com a lei orgânica do TC, o dispêndio de dinheiros públicos sem respeito pelos critérios da economia, da eficiência e da eficácia pode e deve ter a primazia de ser auditado e criticado por aquele tribunal.
Inexplicavelmente, aquela lei não elenca as importâncias mal gastas pelos gestores públicos como infracção financeira, punível pelo TC, com multa ou reintegração nos cofres públicos.
Isto apesar de já ter sido modificada cinco vezes pelo parlamento, a última das quais em 2012, não obstante o legislador impor, desde 1990 e até em leis de valor reforçado (Lei nº 52/2011, de 13 de Outubro), que nenhuma despesa pública pode ser autorizada ou paga sem que satisfaça o princípio da economia, eficiência e eficácia.
Os senhores deputados devem criar uma lei que permita punir exemplarmente os gestores públicos, incluindo os decisores políticos, que autorizem ou paguem despesas que não tenham “em vista a obtenção do máximo rendimento com o mínimo de dispêndio, tendo em conta a utilidade e prioridade da despesa e o acréscimo de produtividade daí decorrente” (Decreto-Lei nº 155/92, de 28 de Julho, artigo 22º nº 3).
Como a escassez dos dinheiros públicos exige. Como a credibilidade técnica e a sustentabilidade da gestão financeira pública impõem.
A culpa não pode voltar a morrer solteira em Portugal.
Carlos Moreno- Juiz Conselheiro jubilado do Tribunal de Contas. 


E também foi o mesmo jornal i que lhe deu espaço para entrevista alargada em que dizia por exemplo isto:

"Em todas as PPP que auditei há uma manifesta incompetência do sector público, e eu falo só de incompetência e desleixo, na negociação de contratos que são muito pormenorizados."

Passados cinco anos vem agora o Público chorar estas lágrimas de crocodilo sobre o leite derramado.

Carlos Moreno escrevia no tal artigo: " A culpa não pode voltar a morrer solteira em Portugal". 

António Costa foi ministro do inenarrável Sócrates quando estas coisas aconteceram e ministro responsável directo,  pelo assunto. Encarregou um tal Lacerda seu amigo ( que naturalmente é suspeito por isso mesmo) de lidar com os assuntos de Estado à lagardère, assumindo a arrogância de quem se declara sempre impoluto e acima de qualquer suspeita.
A coisa deu para o torto e já morreram pessoas, eventualmente por causa dessas trapalhadas que custaram milhões ao país que ele e outros governaram e continuam a governar.

Com a maior desfaçatez anda agora a fazer de conta que tudo isto tem pouco a ver com ele. É mais coisa da natureza, das "circunstâncias anómalas" e toda uma caterva de desculpas para conservar a virgindade politicamente himenial.
A complacência da opinião pública recolhida em sondagens dá-lhe o alento que precisa para continuar a enganar toda a gente.

A culpa vai mesmo morrer solteira, depois destes anos todos?

Quem andou sempre em cima destas jogadas foi este jornalista, tal como conta na Sábado desta semana:


Pergunta ociosa: porque é que este andou e os demais não andaram? Não tiveram fôlego, terá sido isso...

Entretanto vão aparecendo mais coisas mas o sempre-em-pé da bonacheirice não se descompõe nem o descompõem. Não querem perder  as virtualidades da Geringonça e engolem todos os sapos que aparecerem.

Quando António Costa era ministro da Administração Interna, em 2005 — e suspendeu a adjudicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) ao consórcio liderado pela Motorola –, manteve contactos com responsáveis de operadoras de telecomunicações sobre a possibilidade de relançar o concurso com novos critérios. Ao longo de meses, o Ministério da Administração Interna, onde Fernando Rocha Andrade era secretário de Estado e a atual ministra Constança Urbano de Sousa era assessora, teve contactos com responsáveis da Optimus (hoje NOS), do grupo Sonae. Mas decidiu não reabrir um novo concurso para colocar em competição as diferentes tecnologias e os respetivos preços. Nessa época, Diogo Lacerda Machado — o amigo de António Costa — era advogado da Motorola, mas este explicou ao Observador que teve um papel muito secundário no processo e nunca se relacionou diretamente com o ministério no que dizia respeito ao dossier.

A  Optimus não se comparava à Motorola que tinha o amigo Lacerda lá a fazer uma perninha. Pro bono, com certeza.

O amigo Lacerda, esse, é que está em todas a participar economicamente nestes negócios. É uma espécie de Relvas mais discreto e nem por isso menos eficaz. Impoluto e acima de qualquer suspeita. Sério, portanto. Um amigo que prezo costuma dizer que há os "sérios" e depois por aí acima, os "sérios, sérios, mesmo"...a que categoria pertencerá este Lacerda? Rir, costuma rir, tal como o amigo Costa. Espero bem é que não seja de nós todos...

 No que se refere a António Costa, e à sua renegociação do contrato, sempre que se menciona o SIRESP vem à baila — de forma recorrente — o nome de Diogo Lacerda Machado. Trata-se do “amigo” que foi secretário de Estado da Justiça e se tornou consultor especial do gabinete do primeiro-ministro para assuntos como os lesados do BES ou a reversão da privatização da TAP. Agora, entrou para a administração da transportadora aérea.
Quando o actual primeiro-ministro renegociou o contrato do SIRESP, aquele que António Costa já disse ser o seu “melhor amigo” era advogado da Motorola. Mas Lacerda Machado diz ao Observador que nunca participou nas negociações e que teve apenas um papel muito secundário no processo enquanto advogado da J.A. Pinto Ribeiro e Associados.
“Não desejando fazer declarações circunstanciadas, creio, porém, poder dizer-lhe sem quebra dos deveres deontológicos de reserva próprios dos advogados que não participei, nem tinha de participar, na negociação entre o consórcio e depois a sociedade SIRESP e o Estado no Governo de coligação PSD/CDS, como não participei na renegociação com o Governo seguinte, do PS”, afirma o advogado ao Observador através de uma declaração escrita.
Lacerda Machado sublinha que “nunca” foi esse o “âmbito” da sua intervenção profissional. De acordo com a sua explicação, servia apenas como “apoio técnico local dos advogados estrangeiros que acompanhavam e representavam a empresa estrangeira que participou no processo”. Ou seja, prestava apoio aos advogados ingleses da Motorola e à sociedade de advogados Vieira de Almeida — especializada em PPP — que trabalhava para o consórcio liderado pela Motorola.
“O consórcio e depois a empresa SIRESP, bem como os accionistas, foram bem assistidos e apoiados por outros ilustres colegas nessa negociação e renegociação em que não tive, nem tinha que ter, qualquer papel”, argumenta Lacerda Machado. “Acrescento que, esgotado esse processo inicial, nunca mais tive sequer qualquer relacionamento profissional com o assunto”.

Como se pode ver " o amigo Lacerda" ( é assim que o PS encara assuntos de Estado) não fumou. Só inalou...

quinta-feira, junho 29, 2017

Um Governo aos peidos mas sempre aplaudido

O Público de hoje esgaravata um pouco mais na floresta de enganos que está a arder. Também o Público, neste incêndio mediático tem falta de meios.

A jornalista Liliana Valente lá desencantou uns factos como muito interesse e que ficam a meio da investigação. Colocou em notícia os nomes dos responsáveis pela Protecção Civil para descobrir que o de Leiria tinha sido nomeado há pouco tempo, é advogado ( ligado ao PS, de Alcobaça)  e não percebe muito dessa poda. Aparentemente, nas horas mais críticas de Sábado, 17 de Junho, andou aos papéis, literalmente. Diz que foi ele quem pediu os primeiros meios para o incêndio. Disseram-lhe como estava o tempo no local, as condições "excepcionais" que agora falam ou teve sequer a noção do que dizia o IPMA? Não se sabe, o Público não conseguiu saber. Aliás, o advogado do PS terá logo largado a pasta que passou para o 2º comandante nacional que parece ter um currículo imbatível ( dois ou mais cursilhos de incêndios e "mecanismos comunitários de protecção civil"). Os bombeiros locais não conheciam o indivíduo e este não conhecia a zona. O comandante nacional do CONAC ( o operacional) esteve sempre em Carnaxide a comandar à distância. O Público quis saber quem mandava e a que horas "mas até ao fecho da edição não obteve resposta". Pudera!




Num apontamento sobre cronologia das mortes ocorridas lá avançou um pouco mais alvitrando dados que apontam para que as mortes na EN236-1 tenham ocorrido por volta das 21:30. Duvido muito, porque houve mortes ocorridas nas aldeias ( 20:26 em Nodeirinho, por exemplo) e algumas pessoas que morreram na EN236-1 fugiam dessas aldeias. Logo poderá ter sido antes dessa hora que tudo ocorreu.
Por outro lado, se a IC8 foi cortada muito tempo antes e algumas pessoas foram "desviadas" para a EN236-1, num sentido ou noutro ( Figueiró dos Vinhos ou Castanheira de Pera) os momentos fatais para elas ocorreram pouco depois das 19:00 ou pouco antes das 20:00. Torna-se mister ouvir pessoas que já prestaram declarações aos media e contaram o que viram na EN236-1, com os carros já queimados ou em vias de o serem. Foi esse o período mais crítico e em que terão ocorrido as mortes. Portanto, o caso do SIRESP e das comunicações interrompidas ainda carece de outra explicação que não vi ainda ser apresentada pela investigação jornalística: se o SIRESP falhou comunicações que alternativas de comunicação concreta e no momento tinham os que mandavam, mormente o residente em Carnaxide? E que fizeram?  


Depois no espaço de opinião, o Público traz uma explicação prosaica para alguns dos acontecimentos, recorrendo a uma velhíssima história que nos remete para o velhissimo jacobinismo que manieta responsáveis acéfalos: as leis que impedem o senso comum de funcionar porque foram gizadas fora da órbita do bom senso.



De quem depende a ANPC? Do Governo. De quem depende a estrura dos bombeiros? Do Governo. De quem dependa a eficácia e operacionalidade do SIRESP? Do Governo. De quem depende a GNR? Do Governo.
O que é que o Governo tem a ver com a tragédia e os 64 mortos? Aparentemente pouco ou nada...

 Mas a tragédia não teve repercussão na popularidade do governo. Segundo o i soube, os resultados dos primeiros “focus group” realizados revelam os portugueses estão a compreender a posição do primeiro-ministro e não o culpam pela falhas do Estado que redundaram em 64 mortos.

Até se dão ao luxo de encomendar e pagar um estudo relâmpago sobre a popularidade em tempo de cólera. Somos uma cambada de quê, enquanto portugueses?

Abúlicos? Não totalmente porque no concerto  em que Salvador se largou, na Terça-Feira, as pessoas colaboraram (até eu marquei o 760200200).

 No entanto parece que o Governo, mesmo que se largue em peidos ( e tem dado muitos e muitos) parece que tem sempre aplausos...e o fenómeno será o mesmo que aconteceu ao Salvador: o estado de graça que dura tempo demais porque as pessoas não querem saber de desgraças para além das naturais.

quarta-feira, junho 28, 2017

E o DN o que fez, de investigação jornalística?

O director do DN, Paulo Baldaia, anda a esticar a corda...



"A máquina de comunicação do Governo está claramente a controlar a gestão de informação, de uma forma que, quando chegar a altura de se tirarem conclusões, todos nós teremos a sensação de já saber tudo, não sabendo nada na verdade", escreve mas é um caso típico do "olhem para o que eu digo e não para o que eu faço". Arrisca o lugar com estes editoriais mas são pólvora seca.

O DN tem sido o jornal mais pobre em informação relevante sobre os incêndios. Não investigou por aí além, não mostrou garra a informar, não deu qualquer novidade e limita-se a seguir a onda.

Lendo o que o seu director escreve nem se percebe porquê. Queixa-se de falta de informação credível e relevante? Fosse para o terreno entrevistar pessoas das localidades e indagar o que se terá passado.  As pessoas sabem a que horas saíram de onde e para onde e quem as mandou seguir por ali ou por acolá e ainda se receberam informação de alguém e como, a que horas e por quem.

No fundo o que o DN não fez, queixando-se não se percebe bem de quê, foi o jornalismo puro e simples.

O Correio da Manhã cumpriu a sua missão inicial e de modo cabal. O Público lá vai esgaravatando a ver se entende o que se passou porque o director Dinis é de compreensão muito lenta. O i também se esforçou e muito.
E o DN, o que fez? Lamentou-se...
O DN devia ser o líder de informação jornalística, pelos pergaminhos da antiguidade e do arquivo. É nada e a maior parte das vezes é apenas o jornal freteiro para a "corte de Lisboa" de que faz parte o seu administrador principal ( Proença de Carvalho) que aparentemente não gosta de veleidades jornalísticas que o incomodem e às empresas em que participa.
Será por isso que Baldaia se balda?

terça-feira, junho 27, 2017

O verdadeiro problema não veio do SIRESP...

Observador:

Conclusões do relatório do SIRESP garantem que "desempenho da rede esteve à altura da complexidade do teatro das operações" e que o serviço "não teve interrupções" no incêndio de Pedrógão Grande.

Nunca me pareceu que as questões essenciais sobre os 64 mortos na tarde de Sábado, dia 17 de Junho de 2017 devessem rondar o assunto "SIRESP" por muito jeito que isso dê a alguns...

Mas a dança de cadeiras continua...

Observador:

 Os comandantes dos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pera e de Pedrógão Grande contrariam a entidade operadora do SIRESP e sublinham que “houve falhas” no sistema durante o combate ao incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande e que provocou 64 mortos.

(...)

 O comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, também garantiu à agência Lusa que “houve falhas” no Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP). “Eu já reportei a quem de direito. Passados dois dias, reportei a quem de direito”, afirmou Augusto Arnaut, depois de questionado sobre o funcionamento do SIRESP.

O mistério da cronografia desaparecida na tarde de Sábado, 17 de Junho de 2017

O sindicalista de serviço da GNR dá uma entrevista ao i de hoje:


Há algumas informações que avultam na entrevista. A GNR de Pedrógão na altura do incêndio tinha dois elementos a actuar no terreno. E um carro patrulha.  Porém, não fala na GNR-BT e não esclarece quem mandou cortar o IC8 e não o fez relativamente a outras estradas.
Diz uma coisa importante: é a Protecção Civil quem dá ordens para cortar estradas. E esclarece que houve falhas de comunicação.  Esquece-se de dizer que falhas concretas e desde quando.

O Público ajuda um pouco, na edição de hoje, ao publicar uma "timeline", agora traduzida literalmente por "fita do tempo" em vez de cronografia,  do que aconteceu às comunicações a partir das 19:45 de Sábado, dia 17 de Junho.
Entre as 14:43 e as 19:45 de Sábado continua o grande silêncio oficial acerca do quem, como, quando, onde e porquê. Um problema do jornalismo nacional, portanto. Um grande problema que os chefes de redacção resolvem com tesoura metafórica, para safar quem interessa no intelecto retorcido de certa esquerda. Uma verdadeira censura, porém inominável.
O SIRESP interessa-lhes agora sobremaneira ( e é por isso que o Público do pobre Dinis agarra as notícias): cheira-lhes a Dias Loureiro, BPN e assim. Só por isso.




segunda-feira, junho 26, 2017

Nova frente mediática no incêndio de Pedrógão...

Observador:

“Naquilo que é mais fundamental no Estado, que é garantir a segurança das pessoas, o Estado falhou e estão aqui as evidências. Depois, saber se foi inevitável ou se era evitável, se há culpa a atribuir pelo falhanço e responsabilidade, isso é outra conversa. Dez dias depois, ainda está a falhar”, começou por referir Pedro Passos Coelho. “Tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram e que não receberam o apoio psicológico que deviam. Devia haver um mecanismo para isso. Tem havido dificuldades. Ninguém me convence que não há responsabilidades. O Estado falhou e continua a falhar”, completou." 
Ao que o Observador apurou, Passos Coelho terá abordado a existência de suicídios depois de, durante a manhã, ter ouvido relatos na zona de casos que chegaram a essa situação extrema, após o desespero provocado pelos incêndios e respetivas consequências. O presidente do PSD fez visitas a Avelar, a Vila Facaia e esteve em três instituições de Pedrógão Grande: a Câmara Municipal, a Santa Casa da Misericórdia e os Bombeiros Voluntários.
 As declarações do líder social-democrata, porém, não são para já confirmadas pelos presidentes das câmaras de Castanheira de Pera nem de Pedrógão Grande — que fala em “boatos”. O padre Júlio Santos, Pároco de Pedrógão Grande, Vila Facaia e Graça, que diz ao Observador desconhecer qualquer caso. O presidente da Administração Regional de Saúde do Centro assegura que não há, até hoje,”nenhum caso de suicídio com ligação” direta à zona afetada pelo incêndio.

Vai abrir uma nova frente mediática no incêndio de Pedrógão. Basta que não se apure minimamente que alguém se tenha suicidado nas circunstâncias aludidas, para que toda a discussão sobre as causas, origem ou deficiências no combate aos incêndios e falhanços gritantes da Protecção Civil desapareçam das noticias, substituídas por ataques ao "Passos" e a este deslize e erro de percepção.

É uma questão de minutos e todas as centrais de cozinha de notícias lusas estão a laborar em pleno. Vamos assistir a algo extraordinário, ou muito me engano.
Vai começar na RTP3 com a dona Lourença, estender-se depois rapidamente à RTP1 e TVI e a TSF já arde com violência a ouvir padres e psicólogos.

Um fenómeno de "downburst" informativo, aproxima-se. Proteja-se quem puder!

ADITAMENTO: a culpa foi do Provedor da Misericórdia, candidato do PSD que acabou agora mesmo por perder as eleições locais.

Foram lestos, desta vez, em emendar a mão. Fizeram bem porque assim esvaziam a bolha que iria levar a dona Lourenço e outros ícones da informação televisiva a calcinar um Coelho em lume brando. Desta vez vão apenas gozar com o indivíduo porque já esqueceram o episódio do avião caído no combate às chamas e as várias declarações desencontradas e, essas sim, verdadeiramente dramáticas e inadmissíveis. O controlo dos danos já está em marcha.

 Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, visitou esta segunda-feira algumas das áreas afetadas pelo fogo de Pedrógão Grande, onde referiu, quando estava no quartel de bombeiros de Castanheira de Pêra, ter conhecimento de pessoas que se suicidaram por falta de apoio psicológico após a tragédia que vitimou 64 pessoas. Presidente da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, João Marques, também candidato à câmara de Pedrógão Grande pelo PSD, admite agora que deu informação errada a Passos por ter sido induzido em erro por “pessoas da freguesia”.

Se isto pode servir de lição a alguém ( e a mim já serviu no outro dia...) é para se ter muito cuidado com os factos, a verdade, os factos quase verdadeiros e as falsidades absolutas.

Há mestres na manipulação destes números mediáticos. José Sócrates, por exemplo é exímio nestes malabarismos.
Por exemplo, como escrevi que "é exímio nestes malabarismos" pega na frase e atira ao autor a imputação de um facto falso que é a de insinuar que foi ele o autor da notícia cabalística. Distorcendo uma realidade totalmente falsa e apresentando-a como verosímil, por causa da construção da frase.

E agora o próprio Passos Coelho, a pedir desculpa...parece-me que é assim que se deve fazer. Também optei por proceder desse modo, no postal em que errei por juízo precipitado. Não vejo outra forma correcta de o fazer.

Aliás, a máquina de lavagem do PS já estava em marcha acelerada.Esta que nunca perde a vergonha que não tem já saíra de espada afiada:



O PS acusou o líder do PSD de se aproveitar da tragédia dos incêndios na região Centro do país na última semana, ao associar alegados suicídios a um falhanço no apoio do Estado. “Surpreendentemente, aparece o doutor Passos Coelho a fazer um discurso que mais não é do que um aproveitamento emocional desta tragédia”, disse à agência Lusa a deputada do PS Júlia Rodrigues, afirmando que os socialistas estão “profundamente consternados e indignados” com o que foi dito hoje pelo líder social-democrata.
Antes, já a secretária-geral-adjunta, Ana Catarina Mendes, tinha escrito na sua página de Facebook que era “inqualificável” que um ex-primeiro-ministro “difunda um boato com esta gravidade”.


Evidentemente esta anomalia democrática ainda não tinha tido uma palavra para explicar o muito que tem que explicar (  e não explica porque não sente necessidade disso) a gente do PS que governa. Logo que o Passos comete uma gaffe, saem logo de garras afiadas. O sinal é evidente: não têm desculpa pelo que não fizeram. E dão também o sinal de que se criticam assim quem comete uma gaffe, aquilo de que podem e dever ser acusados deveria ser suficiente para se demitirem do Governo. Todos.
Ou não será assim?

E se nem houver pilotos para ouvir quanto ao sucedido na tarde de Sábado, 17 de Junho de 2017?

Na passada quarta-feira coloquei esta imagem do Público com um "timeline", uma cronologia de acontecimentos na tarde de Sábado, quando começou o incêndio em Escalos Fundeiros, cerca das 14:00 e poucos minutos.


Conforme se pode ler, o tenente-coronel Carlos Ramos foi questionado, durante um "briefing", acerca dos meios colocados no terreno, nas primeiras horas do incêncio. Respondeu então que não dominava tal informação porque tinha chegado depois. Porém, não lhe ocorreu perguntar a subordinados qual a razão para a escassez de meios? Ou já a sabia e preferiu dizer mais nada sobre isso?

Outro pormaior é a circunstância de a mesma Autoridade da Protecção Civil ter indicado aos media e a prova disso é a transcrição que o Público efectuou, o número de operacionais e meios no terreno, consoante os minutos da tarde de Sábado, dia 17 de Junho, iam passando. Assim pode ler-se que às 16:30 desse dia haveria no terreno cerca de 105 bombeiros 33 carros e um meio aéreo ( um helicóptero porque os meios mais pesados chegaram depois). Cerca de duas horas depois já haveria três meios aéreos no terreno ( no ar).

Terá sido mesmo assim?  A informação dos pilotos desses helis seria essencial, parece-me, nas circunstâncias concretas daquela tarde. Só eles, mesmo com o fumo e por causa disso, seriam capazes de ter uma visão global do panorama do incêndio, da sua evolução rápida e deslocação para que zona.

Só eles poderiam ter informado a Protecção Civil relativamente a tais circunstâncias e tal poderia ter sido essencial e fundamental para evitar as mortes. Bastava que tivessem informado que o fogo se aproximava perigosamente da EN236-1 ou de outras vias e que tais deveriam ser cortadas ao trânsito, a tempo de evitar o que sucedeu.

Se afinal tais pilotos nada disseram porque nem estiveram no ar, ao contrário do comunicado oficiosamente pela Protecção Civil, o que concluir?  Em primeiro lugar e se assim for, que a informação é falsa e perigosa. Em segundo lugar que de facto a Protecção Civil não teria meios para impedir o que aconteceu, a não ser em função de actuação típica e programada que obrigasse nas circunstâncias concretas a maior actuação do que a que existiu, nesse aspecto ( da protecção das pessoas das aldeias e do corte das estradas).
Quando referi, na quarta-feira que o MºPº "obviamente" não iria ouvir os pilotos, ocorreu-me que tal se deveria, para além do mais ( a investigação típica não costuma ir por aí... embora se saiba agora que felizmente a investigação não é das "típicas") ao facto de nem sequer haver pilotos para ouvir...o que cada vez mais se torna hipótese plausível e tremenda. Veremos se assim foi.

E vão aparecendo reacções avulsas e até arrojadas ( a GNR é um corpo de militares...). O sindicalista de serviço na GNR parece ser o único que pode falar e diz o que não devia dizer para defender a corporação.
A pergunta a fazer a estas pessoas é simples: se fosse um filho de um dos guardas da BT que lá esteve, no Sábado à tarde do dia 17, teria dado a indicação ao mesmo para seguir para a EN236-1? E se fosse o filho do sindicalista a ir pela via, por indicação do seu colega, o que diria agora? O mesmo que anda a dizer?
É simples, a resposta. O sindicalismo da Guarda não pode ser para isto, para defender as costas do Costa e da Guarda.

Por outro lado, afirmar que não havia informação da GNR no local é enganador: tiveram pelo menos a informação para cortar o IC8. Quem a deu? O sindicalista já sabe? Se não sabe o melhor seria estar calado.

Objectivamente, a GNR-BT, no local, depois de cortar o IC8, desviou pessoas para uma morte que foi certa para alguns. E isso sendo como é, suscita a questão de saber se poderia ter agido de outro modo ou se lhe era exigível tal conduta. Não basta dizer que não tiveram informação e que tinham pouco pessoal. A obrigação dos agentes no local era a de se certificarem que as pessoas que desviavam iriam por local seguro.Não o fizeram e é imperioso saber se tal aconteceu por atavismo ( o modo de actuação da GNR-BT pode deixar muito a desejar, em algumas situações...porque o autoritarismo gratuito e despropositado por vezes é notório e a autoridade carece de responsabilidade) ou por impreparação ou por simples estupidez ou ainda por desconhecimento e ignorância desculpáveis.
Não era apenas o gesto imperativo e por vezes estúpido de mandar seguir. A ver se aprendem alguma coisa com isto, mas duvido muito. É simples de entender: dêem maior atenção aos cidadãos. São eles quem lhe paga o rancho.

Observador:


 Falta de pessoas para fazer patrulhas, além das falhas do SIRESP. César Nogueira, presidente da Associação dos Profissionais da Guarda (APG), não tem dúvidas sobre as razões que levaram a que a fatídica Estrada Nacional (EN) 236-1 não fosse encerrada no fogo de Pedrógão Grande e detalhou essas razões numa entrevista à TSF.
 “Quem não cortou a estrada não o fez porque não tinha informação”, comentou em relação à EN236-1, onde 47 pessoas perderam a vida há pouco mais de uma semana, detalhando que em Pedrógão Grande, em Figueiró dos Vinhos e em Castanheira de Pêra existiam apenas dois homens num carro patrulha e um outro no posto.
Em relação, especificamente, a Pedrógão Grande, César Nogueira refere que aquele posto tem 15 pessoas (estavam três a trabalhar nesse dia pelas escalas, folgas e férias) e deveria ter o dobro. Ainda à TSF, o líder da APG apresenta uma “solução” apontando outro problema: metade dos 23 mil profissionais da GNR “estão em gabinetes”, em funções burocráticas ou administrativas, e fora do trabalho operacional no terreno.
Por fim, o responsável afirma que muitos militares estão indignados com alguns dos comentários feitos à atuação da GNR e com o inquérito aberto pela ministra da Administração Interna, “parecendo dar logo à partida responsabilidades aos guardas que estiveram no local”, referiu, adiantado ainda que existem militares que colocaram baixa psicológica depois da tragédia que vitimou um total de 64 pessoas.

domingo, junho 25, 2017

Afinal a Protecção Civil, no Sábado passado, mandou pessoas para a morte na EN236-1?

No tempo do fassismo, às vezes, era preciso ler coisas na imprensa estrangeira para saber novas de Portugal e do mundo em geral, mormente sobre o Leste comunista. A razão prática era a Censura em duplicado. A do regime que era Prévia e a do sistema mediático da imprensa da época quase toda enfeudada à esquerda, alguma dela comunista, como se viu logo nos dias a seguir ao 25 de Abril de 1974. Essas duas censuras cortaram muita informação que devia estar disponível. Uma acabou em 25 de Abril de 1974. A outra continua viva e actuante como se confirma por uma notícia de hoje e que abaixo se dá conta.

Dou um exemplo que vivi de perto:  em Novembro de 1973 vi esta capa nos quiosques e como ansiava em arranjar um pretexto para comprar a Time que me parecia um luxo gráfico comparado com o que havia por cá ( Observador e Vida Mundial, eram as únicas que se lhe comparavam) esportulei 17$50 na Bertrand do Porto ( rua de Santo António, quem sobe para a Batalha) e trouxe o exemplar que ainda guardo. Este:


O pretexto foi a capa com Nixon e as suas desventuras no caso Watergate que terminariam no Verão do ano seguinte com o "impeachment", antecipado por uma demissão oportuna mas já em Novembro de 73 se falava nisso.
O arranjo gráfico, o papel lustroso e os temas davam gozo folhear. A páginas tantas aparece isto que não era anunciado:


A surpresa foi grande mas não evitou que pensasse que alguém nos queria mal e neste caso os americanos da Time e alguns patriotas lusos estavam apostados em denegrir o nosso país.
Os factos relatados e mais importantes ( sublinhados no texto) acompanhavam comentários do fundador do Expresso ( nesse ano, em Janeiro) e eram conhecidos e divulgados pela Oposição Democrática, nomeadamente no Congresso que efectuaram livremente em Aveiro.

A guerra no Ultramar consumia 35 a 40% do Orçamento de Estado, a emigração era elevada e "estávamos no fundo de qualquer indicador económico conhecido". Até países do Leste Europeu nos teriam ultrapassado, dizia Balsemão, o tal grande patriota do bolso fundo, não se dando conta do logro que o comunismo lhe impingira e ele engolira de bom grado, como muitos.

Não obstante estes factos conhecidos e divulgados em modo restrito ( não se fazia muito alarde nos jornais da nossa condição de pobres na Europa) eram do domínio público e quem queria saber, sabia. A oposição Democrática sabia e dizia-o, embora os jornais onde se exprimia ( quase todos, incluindo o tal Expresso) fossem submetidos a Censura que podava certas veleidades propagandísticas dos Regos do República ou dos Ruella Ramos do Diário de Lisboa.
A revista Observador, por seu turno mostrava um panorama diferente e mais consentâneo com a nossa realidade vivida no dia a dia. Em 1973 havia sinais de evolução económica muito positiva e que asseguradamente nos teria conduzido a um nível económico melhor e muito diferente da bancarrota de 1976, dali a meros três anos e já em Democracia ( et pour cause).

Em 25 de Fevereiro de 1974 voltei a comprar a Time por causa de uma capa: Soljenitsine foi o pretexto e já tinha ouvido falar por cá do escritor  russo, perseguido pelos soviéticos comunistas. Porém, o que aqui se escrevia sobre a dissidência do mesmo e a propósito dos seus livros era muito suave e filtrado pelos censores da imprensa esquerdizante nacional, na época.

A Time contava a história a que por cá nem se dava assim tanta atenção ( o Expresso passou sobre o assunto como gata em telhado de zinco quente)  e em 1975 o livro O Arquipélado Gulag teve divulgação quase nula e pelo contrário houve uma apreensão da edição do segundo volume, saído na Bertrand em 1977, às portas da tipografia, feita pelos trabalhadores comunistas da empresa e afins. O facto diz tudo dessa gente e da democracia que apregoam...


Tudo isto para introduzir o seguinte que é motivo de preocupação.

O jornal espanhol El Mundo publicou agora esta história sobre os incêndios do fim de semana passado, particularmente o ocorrido no Sábado à tardinha:

La mesa estaba puesta y así se quedó. El humo era lejanía. El sábado 17 de junio por la tarde los Lopes da Costa hablaban de lo cotidiano... De lo precoz que era el pequeño Antonio, de seis años, jugador de rugby en el equipo sub-8 de los Belenenses en Lisboa. Era el orgullo del abuelo, el ingeniero Fausto. Como lo había sido antes su hijo Miguel, hoy reputado abogado. Al pater familias le perdía también cada jugueteo del chiquitín Joaquín, cuatro años, su otro nieto. Se llevaba bien con Mafalda, la madre, una pujante arquitecta. Fausto estaba pletórico tras reunir a buena parte de sus familias.
De rato en rato, el septuagenario salía al jardín de rosas e invitaba a todo el pueblo a venir a casa. Era día de fiesta. En la velada también estaba su segunda esposa Lucília da Costa Simões. Con ella habían promovido la integración de dos ramas familiares. Acudió también Fernando Rui, hijo de Lucília, fruto de una unión previa, con su mujer y Luis Fernando, su primogénito de cinco años. Los chiquitines corrían frenéticos, imparables, en plenitud. Se preparaban para una opípara velada en el palacete, ubicado en la calle que tiene el nombre del abuelo, el profesor Antonio Lopes da Costa. Sonó el teléfono. Respondió Miguel. Y decidieron huir de Várzeas con lo puesto.
Era una llamada de Protección Civil. Le recomendaban que cogieran sus coches y desalojaran el área. Cogieron los tres vehículos que tenían en el garaje y se fueron raudos. Los abuelos en uno. En otro, Miguel, Mafalda, Antonio y Joaquín. En el tercero, Fernando con los suyos. Fueron en dirección a la carretera EN236. El punto de encuentro adonde huyeron los pobladores de Pobrais, Várzeas y Nodeirinho, equidistantes en ese orden. Como la residencia de los Lopes da Costa quedaba cerca de la carretera, llegaron prestos al infierno. Quedaron encerrados en una trampa de troncos quemados, de hojas que caían como luciérnagas mortales..
Eduardo, su vecino, conoce a Fausto desde el colegio. Tiene la punta de la nariz quemada, la camiseta manchada de tierra, está encorvado de cansancio. Le enseñamos la foto familiar del hijo de Miguel, de unos amigos que le buscaban por Facebook. Comprueba que es él, que estaba en la reunión. "No sé qué más decir". Y desde su porche dirige la vista en dirección a la casa de su ex compañero de clases. "Era mi amigo de toda la vida. Siempre le gustó vivir aquí", dice. Don Fausto era querido en el pueblo. Su familia había sido influyente desde que tienen memoria en la zona de Pedrógão Grande, la villa matriz donde todo aconteció.

Este pormenor da notícia carece de explicação dos que mandam na Protecção Civil e que o Ministério Público pode e deve indagar:

Sonó el teléfono. Respondió Miguel. Y decidieron huir de Várzeas con lo puesto.
Era una llamada de Protección Civil. Le recomendaban que cogieran sus coches y desalojaran el área. Cogieron los tres vehículos que tenían en el garaje y se fueron raudos. Los abuelos en uno. En otro, Miguel, Mafalda, Antonio y Joaquín. En el tercero, Fernando con los suyos. Fueron en dirección a la carretera EN236. El punto de encuentro adonde huyeron los pobladores de Pobrais, Várzeas y Nodeirinho, equidistantes en ese orden. Como la residencia de los Lopes da Costa quedaba cerca de la carretera, llegaron prestos al infierno. Quedaron encerrados en una trampa de troncos quemados, de hojas que caían como luciérnagas mortales.

Até agora e que se saiba ninguém mencionou este facto que a ser verdadeiro é mesmo grave: foi a Protecção Civil quem enviou aquelas pessoas para a morte. Não foi a GNR na IC8 que cortou, ainda não se sabe a mando de quem e exactamente quando e porquê.

Tal como no passado distante, estas notícias e factos são conhecidos mas não de todos e têm que ser os jornais estrangeiros a contá-los...se não ficamos sem os conhecer.

O El Mundo vai ser o coveiro político do Costa? Assim seja, se for caso disso.

Tanto falaram no diabo que ele apareceu...e a ministra é "resiliente".

Observador:

Em entrevista ao Diário de Notícias/TSF, gravada na última sexta-feira (horas antes de ser conhecido o relatório da Proteção Civil que dava conta de uma falência grave do SIRESP que se prolongou por quatro dias) e publicada este domingo, a ministra da Administração Interna admite retirar consequências das investigações à operação em Pedrógão Grande que estão em curso. “Tiraremos as devidas ilações e eu tirarei naturalmente as devidas ilações”, diz Constança Urbano de Sousa.
A ministra fala de uma “grande tragédia” mas recusa retirar “conclusões precipitadas” sobre as investigações em curso. E ressalva: “Neste momento, eu acho que é muito prematuro estar aqui a seguir pelo caminho que é fácil, era o caminho mais fácil a seguir, ia satisfazer uma certa apetência que alguns têm pelo sangue, se quisermos. Mas ia resolver algum problema pergunto-lhe a si eu agora?

Esta senhora percebe zero sobre princípios políticos democráticos tal como são amplamente proclamados...para os outros e sempre que lhes interessa. Responsabilidade política, responsabilidade objectiva, pudor, senso é tudo arrasado em argumentos patéticos e "resilientes".

Só por isso devia sair. Nem precisa de saber mais nada de relatório algum. Um cargo político exerce-se para servir um país mas não deve ser "resiliente" a vicissitudes que o colocam objectivamente em causa. 
O país não precisa de gente desta, na política.

Entretanto no CM de hoje, "ridendo castigat mores":



sábado, junho 24, 2017

As catástrofes "fassistas" que matam mais branco

Perante a dimensão da catástrofe do fim- de-semana passado certa inteligentsia de esquerda que protege a geringonça governativa procura comparações com outras catástrofes mais antigas e lá vai ter ao passado do "fassismo" que é sempre o de maior conforto nessa avareza cognitiva.

Na revista Visão desta semana lá aparece o antifassista de serviço ( são muitos nessa revista) Luís Almeida Martins a dar conta em relato pessoal de uma catástrofe natural ocorrida em 25 de Novembro de 1967 na área de Lisboa.


O articulista antifassista  socorre-se da memória pessoal e apresenta capas do Diário de Lisboa ( disponíveis na hemeroteca da fundação Mário Soares) e titula "surdina para 500 mortos", informando que "a ditadura teve que reconhecer que centenas de pessoas perderam a vida nas cheias de 1967", deixando suposto que as vítimas eram por si mesmas avessas ao regime que no entender antifassista pretendia submergi-las nas ondas da Censura.

A estupidez do raciocínio explana-se por si mesma no artigo em que o antifassista acusa o antigo regime de pretender esconder estas catástrofes: no dia seguinte de manhã, ou seja 26 de Novembro os jornais ( Diário de Notícas e Século)  "contavam, mas de forma tanto quanto possível contida. Falava-se de muitos mortos. Dezenas. Centenas. A Censura não podia, de qualquer modo negar a evidência. À tarde. o Diário de Lisboa era mais objectivo do que o Diário de Notícias e o Século."
Os jornais da manhã fizeram-se durante a noite da catástrofe mas o antifassista já queria informação a rodos logo pelas sete horas da matina e que só não foi possível por causa da Censura...mas à tarde já era possível saber mais. Enfim!

Se este Martins antifassista lesse e consultasse outros meios de informação teria talvez mais senso nos comentários mas não lhe seria possível vituperar o regime e a Censura o que seria uma uma frustração.

Assim, haverá que recorrer a outras fontes para saber o que aconteceu na informação a propósito da catastrofe.

Um livro antifassista também, editado em 2006 pela Bertrand ( Portugal século XX, de Joaquim Vieira)  mostrava imagens da catástrofe tal como publicadas na época e a imagem da capa da revista Século Ilustrado.
As imagens são eloquentes e mostram por si o que estes antifassistas primitivos pretendem esconder: que em 1967 a Censura tinha outro recorte e função que não o que lhe querem atribuir à outrance. E que as imagens então publicadas hoje em dia, neste antifassismo militante, seriam impossíveis. Vá lá explicarem isso...!


Para além da catástrofe de Novembro de 1967 outras são citadas pelo antifassista. Uma de 1966, num incêndio em Sintra, em que morreram 25 militares ( na altura combatiam incêndios, sem problemas burocráticos de maior...) e ainda o terramoto de 1969.


Esqueceu-se o antifassista destes caso singulares, também mostrados na imprensa da época:


Até quando teremos estes relatos tendenciosos, maliciosos e falsos? Até quando continuarão o livre curso na imprensa portuguesa actual? Os media portugueses actuais estão inundados de "fake news", de "demagogia cognitiva"  em que aparentemente alimentam uma imagem auto-construída e falsa em si mesma: a de o regime de Salazar e Caetano ser fascista, em primeiro lugar. E em segundo, de ser aquilo que nunca foi: uma opressão constante e permanente, totalitária, a usos, costumes e modos de viver populares. O regime anterior, nesse aspecto era mais liberal e livre do que o actual, por muito que lhes custe a aceitar.
A permanente guerrilha cultural e gramsciana a que se entregaram de alma e coração de há 43 anos a esta parte não encontra grande resistência, é certo. Mas a verdade acabará por se impor, uma vez que não é possível enganar toda a gente durante o tempo todo.

Esta atitude recorrente não se distingue muito da falsificação fotográfica praticada pelos soviéticos quando apagavam literalmente figuras que deixavam de ser benquistas do regime. E sabemos como isso acabou.

O incêndio da Informação

Vale a pena ler os jornais de hoje sobre os incêndios do fim-de-semana passado. Os artigos são interessantes, as opiniões quase unânimes ( quem manda falhou por incompetência e desleixo) e há histórias de quem viveu o horror da tarde e noite de Sábado passado.

Para além disso há relato de alguns factos necessariamente conexos a uma explicação para o que se passou na realidade.

Porém, a qualidade dos escritos não é toda igual nem a qualidade é geral. O Sol é uma decepção, nesse aspecto e nada tem de especialmente relevante para  informar leitores que procurem explicações para além do que se vai sabendo. O destaque vai, aliás, para a opinião escrita em duas páginas de reportagem com "bombeiros e populares" que acreditam ter o incêndio uma origem criminosa, particularmente nos reacendimentos.
Sobre o ponto fulcral- as mortes na EN236-1 pouco de novidade ou relevância.

O Correio da Manhã continua o registo de maior atenção aos dramas humanos das vítimas e tem o testemunho de mais uma sobrevivente do inferno naquela estrada nacional. É pena que não tenha sido perguntado o circunstancialismo típico do jornalismo: quem, o quê, como, quando e onde. Faltou o quando, relativamente à hora e o onde relativamente ao ponto de entrada na EN236-1. A testemunha diz que aguentou 4 horas dentro de uma carrinha de peixe, refrigerada, juntamente com outras pessoas que conseguiu resgatar no caminho e que quando passou, "vi um enorme túnel de fogo mas já não conseguia recuar. Avancei e, quase em visibilidade, embati nas valetas, nos raisl e nos carros que ardiam no meio da estrada. Não vi ninguém mas imagino que estivessem pessoas lá dento e o que atormenta é que se calhar atropelei pessoas sem querer." 

Obviamente terão sido estes os minutos fulcrais dos factos ocorridos na EN236-1 e era preciso saber a que horas tal ocorreu. O jornal não perguntou...

O Público, esse, anda aos papéis, literalmente. O seu director diz que ninguém ainda sabe de nada sobre o que aconteceu na EN236-1. A testemunha do CM sabe alguma coisa...mas o Público não perguntou a ninguém que lá passou para tentar saber mais. É pena e o artigo de David Dinis é um retrato de impotência informativa e incompetência profissional.


Por outro lado olhando já para o rescaldo do incêndio foi pedir opinião em "folha A4" a um antigo governante do PSD que elencou algumas medidas que julga essenciais a tomar, chorando agora sobre o leite derramado.


A surpresa do fim-de-semana é o Expresso. Uma edição magnífica, para guardar e com relatos e opiniões de grande proveito. Tem a melhor análise, de conjunto, sobre o que se passou e traz informação nova e relevante para se entender o ocorrido na EN236-1. O pequeno artigo de Amadeu Araújo ( vou estar atento ao que escreverá a seguir...) dá um retrato de uma situação caótica e porventura próxima da realidade imaginável e comprovável. O testemunho de um bombeiro local , Augusto Arnaut, comandante dos bombeiros de Pedrógão, desmente factos relatados por "quem manda", nomeadamente os relativos ao número de bombeiros disponíveis desde o primeiro momento e os meios utilizados.  Os factos são esmagadores e denotam a suprema incompetência e negligência associada de quem manda.

Aqui está um bom guia para o Ministério Público no terreno, seguir:


A opinião de Henrique Raposo merece destaque porque a de Miguel Sousa Tavares é sectária demais: quase toda a responsabilidade é alijada  para o governo anterior. Sobre o inefável Lacerda, nem uma palavra...


Em tudo isto aparece um fait-divers que diz mais do que muitos sinais: a ministra Constança apareceu no local em sapatos de ténis ou de correr...
Não poderia haver melhor metáfora para a incompetência: um dress code errado por erro de percepção.

No final, o retrato de quem manda e dos responsáveis por esta tragédia. Já todos lavaram  as mãos...porque se agarram aos lugares como lapas.



Entretanto, torna-se necessário ouvir em investigação, este indivíduo que terá sido uma das primeiras testemunhas do início do incêndio: diz que não viu ou ouviu qualquer trovoada seca e que tal não seria possível e que por isso mesmo ficou chocado com o anúncio da descoberta da origem do incêndio.
Espera-se por isso da investigação a humildade suficiente para reconhecer eventuais erros e precipitações de análise ( a atribuição da origem do incêndio a um raio de trovoada seca). Cuidado é preciso e humildade ainda mais...
As nódoas caem no melhor pano e a melhor política não é tentar apagá-las com silêncio.

sexta-feira, junho 23, 2017

Subir as paradas...à custa de noticias falsas.

 O jornal espanhol El Mundo publicou notícias sobre os incêndios que queimaram a reputação política de alguns, com queimaduras ainda escondidas sob a gaze dos media nacionais, escrevendo isto:

A desastrosa gestão da tragédia pode pôr fim à carreira política de António Costa”. Assim começa um artigo do jornal madrileno sobre os incêndios em Portugal e o de Pedrógão Grande em particular, onde combatem 80 bombeiros espanhóis, apoiados por dois aviões Canadair enviados pelo país vizinho. O “El Mundo” fala ainda num “aluvião” de criticas ao primeiro-ministro e à ministra da Administração Interna, pela descoordenação no combate às chamas

Como o El Mundo não é um blog qualquer, a quem poucos ligam ou dão importância, o atrevimento em colocar em causa a actuação política do geringonço nº 1, no caso concreto, provocou logo tremideira cujas ondas de choque ainda se farão sentir nos próximos dias.

E por isso já saíram à liça os mastins de protecção que se encarregam agora de ladrar ao jornal madrileno. Assim, subindo a parada das apostas na manutenção dos geringonços, sem demissões à vista:

 Sapo24:
O Sindicato dos Jornalistas divulgou hoje um comunicado acerca da polémica nascida nas redes sociais e blogues e noticiada em alguns meios de comunicação social acerca da cobertura pelo jornal espanhol dos incêndios em Portugal, nomeadamente sobre as implicações políticas, e a existência do jornalista Sebastião Pereira, que assinava as reportagens do El Mundo.
O Sindicato diz que contactou em Portugal a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, que confirmou não haver registo do nome Sebastião Pereira, e também a publicação espanhola, que informou de que se trata de um profissional que já conhece e que assinou as peças noticiosas com pseudónimo.
"Nada fizemos de errado, recorremos a um jornalista que utiliza pseudónimo e que já conhecemos bem”, disse Silvia Román, responsável pela secção de Internacional, citada pelo Sindicato de Jornalistas.
Segundo a estrutura representativa dos jornalistas portugueses sindicalizados, a editora de Internacional rejeitou “dizer há quanto tempo conhecem o referido jornalista” e acrescentou que já recebeu imensos contactos de Portugal por causa da cobertura dos incêndios, o que não lhe aconteceu em mais de 20 anos de trabalho naquela secção.
"Parem de me atacar no Twitter! Parem de me enviar emails! Parem de tentar telefonar-me! Em 22 anos nesta secção nunca me aconteceu algo assim, nem nos casos da Venezuela ou da Turquia!", afirmou, ainda segundo o Sindicato dos Jornalistas.
O Sindicato dos Jornalistas termina o comunicado a informar que contactou também os sindicatos espanhóis a pedir cooperação para esclarecer este assunto.

Sobre o papel dos jornalistas no relato destes factos e acontecimentos, o jornalista Miguel Pinheiro, no Observador, pensa o seguinte:

  A obrigação de um jornalista (e não uso a palavra “obrigação” de forma leve) é mostrar aquilo que vê — mesmo aquilo que às vezes outros preferiam que não víssemos ou aquilo que nós próprios, em certas alturas, preferíamos não ver.

Com que então a obrigação do jornalista é mostrar aquilo que vê?! Tomara que fosse, porque sempre me pareceu ser mostrar aquilo que outros podem estar interessados em ver. Tal como refere o sociólogo citado num postal anterior. E é aí que ocorre a demagogia cognitiva, como o mesmo também refere: a vontade em dar a informação que coincida com a representação que se faz daquilo que seja a  procura de informação.
Quando o jornalista se deixa levar por esse conceito está próximo do "facto alternativo" referido pelos apoiantes de Trump: na cerimónia de investidura de presidente, estariam mais pessoas do que aquelas que foram mostradas pelas imagens de tv.
Tal como no funeral de Mário Soares, o contrário também sucedeu...ou seja, os jornalistas não mostraram o que viam mas o que julgavam que o povo espectador de tv gostaria de ver: um mundo de gente que não existiu. El Mundo...

O jornalismo em Portugal é essencialmente o da "verdade a que temos direito"; não é necessariamente aquilo que o jornalista vê, sente e pressente. A "verdade a que temos direito" é definida por estruturas oligárquicas, políticas, empresariais e mediáticas. São poucas pessoas e sempre as mesmas de há uns anos a esta parte. Quem manda pode.  E o jornalismo obedece fazendo de conta que relata aquilo que se vê...

Em Portugal, dizia ontem Nuno Garoupa numa tv, não há sociedade civil. Há o Estado e os partidos. Porque raio o jornalismo nacional deveria ser uma excepção neste panorama?

O Correio da Manhã e o Observador e sei lá que mais que é quase nada mais? Pois sim. Nem chegm a ser andorinhas para nova primavera. São apenas cucos que procuram chocar os ovos em ninhos que outros já fizeram. Nem podem arriscar muito porque o capital é volátil e os "ventos da História" não estão para modas. 

O verdadeiro, o falso e o quase-verdadeiro

Nem de propósito, à hora de almoço, pouco tempo antes de colocar o postal que antecede, enebriado pela convicção de que se tratava de um scoop, comprei uma revista francesa no quiosque,  com o título Papiers. E um dos temas: O verdadeiro, o falso e o quase-verdadeiro.

Se tivesse lido o artigo talvez pensasse duas vezes antes de publicar o postal. Assim, inês é morta.

Mas vale a pena reflectir sobre os perigos da precipitação de raciocínio, o erro e a falsidade inerente a conjecturas falsas. É isso aliás que nos ensina melhor o livro de Umberto Eco, O Nome da Rosa. É preciso muito cuidado com a aparência da verdade porque por vezes anda ao lado da mentira, ou até tende a sobrepor-se-lhe.
Nestes casos de investigação de factos e realidades é preciso atender aos pormenores e conjugar todos os factores plausíveis e possíveis e mesmo assim propícios ao erro. Só um grande exercício de  humildade pode ultrapassar essa tentação.

A internet ao mesmo tempo que nos dá uma quantidade fabulosa de informação traz-nos também uma carrada de desinformação e erro. E é preciso mesmo bastante atenção para não cairmos na ilusão do real, afinal decepcionante e desvirtuado.

No artigo aparece um dos intervenientes- Gérald Bonner a dizer, citando dois psicólogos que somos "avaros cognitivos" ou seja tendemos a procurar uma forma de conforto relativamente à verdade que procuramos transmitir  de modo a coincidir com a representação que fazemos daquilo que será a procura de informação. E pela conquista da atenção de quem lê.
Aqui não procuro tal coisa, mas não estou alheio a tentar comunicar o que me impressiona, como um modo de conforto relativamente à verdade.

Há por isso um perigo em quem leia o que aqui se escreve. Estejam atentos! Não acreditem em tudo e questionem tudo. Procurarei fazer o mesmo porque sou o principal interessado nesse "conforto".


Um escândalo inominável? Nao...foi no Domingo

Estas imagens do YouTube mostram aparentemente os carros da comitiva  em que seguiria o Primeiro-Ministro António Costa a passarem no IC8 no último Sábado ( errado, foi no Domingo), ainda a horas de se ver bem o dia.
Como se vê, o trânsito estava cortado à plebe..e nesse momento,( no dia anterior)  morriam pessoas na EN236 por causa destes cortes de estrada para deixar passar quem manda...
 Ainda se soubesse mandar bem!...



Perante o erro de indicação da data não faz sentido indicar demissão alguma, neste caso, mas apenas pedir desculpa a eventuais leitores desprevenidos, pela precipitação da publicação.

Como dizia o povo, "as cadelas apressadas parem crias cegas"...e é bem verdade.

ADITAMENTO:

Pessoas que prezo  alvitraram em conselho amigo a conveniência em retirar este postal. Não o farei para que se veja que o erro na internet deve ser corrigido, imediatamente, o que só é possível aqui.  Nos jornais ou mesmo redacções de notícias de televisão e rádio é mais difícil e moroso.  O caso do avião auto-tanque que caiu e afinal não caiu é um exemplo.
Por outro lado depois de cometido um erro destes não se apaga tal coisa assim, safando os vestígios da publicação. Quem fez isso e lamentavelmente foi um certo Vital Moreira, logo que leu um certo acórdão sobre um arguido excelentíssimo no caso Casa Pia, há uns bons dez anos, para cima. Leu à pressa ou leram-lhe à pressa os considerandos vertidos no proémio do acórdão da Relação que libertou Paulo Pedroso e o lente Vital colocou na sua loca infecta da Causa o veneno contra as autoridades judiciárias que tinham cometido o erro de prender o correlegionário que afinal estava inocente como uma pomba branca.
Fatal! O proémio era a transcrição da motivação de recurso do visado e não o teor da decisão que não dizia o que o lente dizia que dizia.

Quando deu conta do erro apagou à pressa e foi pior a emenda que o soneto porque tinham ficado registos atrás e o rabo felpudo do gato não ficou escondido de todo. Não quero fazer a mesma figura.


Sinais interiores de pobreza

A antiga directora do Público ( entre 2009 e 2016) Bárbara Reis está "reformada" na escrita opinativa no mesmo jornal.

Hoje estende este artigo sobre sinais exteriores de riqueza que estão associados a corrupção e "ninguém faz nada".



O caso singular retratado diz respeito a um antigo ajudante de Santana Lopes ( claro) , também presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis precisamente durante o tempo em que aquela foi directora do jornal diário da Sonae.
Toda a crónica gira à volta de um carro de luxo emprestado ao agora arguido Loureiro por empresário amigo e que a cronista critica por ser dádiva superior ao limite da  "mera cortesia".

Subjacente, no artigo, está a corrupção e a ausência de luta adequada mormente através da sindicância de certos sinais exteriores de riqueza.

Ao ler a crónica lembrei-me logo disto, que a TVI reportou em  2010:


Em qualquer país civilizado esta notícia que dava conta da preferência de um primeiro-ministro em funções por uma loja de "apparel" de luxo no estrangeiro e com o nome próprio na montra, seguido do cargo público exercido, daria pano para mangas de reportagem e inquérito no Parlamento se os media lhe "pegassem". O Público nunca "pegou".

Em 30.3.2013 o Correio da Manhã que a antiga directora do Público deve julgar um "pasquim" , divulgou esta notícia:
 

Um mês e meio depois de ter saído da liderança do Governo, José Sócrates comprou um Mercedes-Benz classe S 250 CDI em primeira mão, no valor de 95 mil euros, que continua em seu nome, apurou o CM. Anteontem à noite, porém, o ex-primeiro-ministro deixou o carro de luxo com o motorista e apresentou-se na RTP, para a sua primeira entrevista desde que regressou de Paris, ao volante de um Volskwagen Golf alugado. Sócrates adquiriu o Mercedes, novo, em Agosto de 2011 - pouco depois de ter sido derrotado nas eleições de 5 de Junho e de ter saído do Governo no dia 21 do mesmo mês. Mas na RTP, quarta--feira, afirmou: "A primeira coisa que fiz quando saí de primeiro-ministro foi pedir ao meu banco um empréstimo para ir viver um ano para Paris, sem nenhuma responsabilidade ao nível profissional." O ex-líder do PS não referiu, porém, ter contraído qualquer empréstimo para comprar um classe S por 95 mil euros.

E acompanhou com foto do local e do modelo:


Um mês e meio depois de ter saído da liderança do Governo, José Sócrates comprou um Mercedes-Benz classe S 250 CDI em primeira mão, no valor de 95 mil euros, que continua em seu nome, apurou o CM. Anteontem à noite, porém, o ex-primeiro-ministro deixou o carro de luxo com o motorista e apresentou-se na RTP, para a sua primeira entrevista desde que regressou de Paris, ao volante de um Volskwagen Golf alugado. Sócrates adquiriu o Mercedes, novo, em agosto de 2011 - pouco depois de ter sido derrotado nas eleições de 5 de junho e de ter saído do Governo no dia 21 do mesmo mês. Mas na RTP, quarta--feira, afirmou: "A primeira coisa que fiz quando saí de primeiro-ministro foi pedir ao meu banco um empréstimo para ir viver um ano para Paris, sem nenhuma responsabilidade ao nível profissional." O ex-líder do PS não referiu, porém, ter contraído qualquer empréstimo para comprar um classe S por 95 mil euros.

Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/saiba-tudo-sobre-o-carro-de-luxo-que-socrates-comprou
Em qualquer país civilizado estas notícias seriam replicadas por jornais como o Público, que lhe "pegariam" para questionar os visados sobre os factos. O Público de Bárbara Reis nunca "pegou".

Teriam evitado o que se passou tempos depois, com o espalhafato mediático da prisão de um antigo primeiro ministro à saída de um aeroporto e que este tipo de jornalismo asséptico tanto criticou depois? Provavelmente. De qualquer modo seria assim que o jornalismo serviria a democracia e não a oligarquia, como o Público sempre fez, tendencial e partidariamente, o que se torna ainda mais vergonhoso.  Uma prova disso está precisamente no artigo de hoje: o visado não é do partido afecto.

Bastaria que o jornal dirigido então por esta Bárbara Reis, "pegasse" no assunto.

O Público não pegou. E Bárbara Reis era a directora. E não foi por falta de informação e comentários, na época.  Pode por isso ir dar banho ao cão se é  que o tem.
O que revela com isto são os seus  sinais interiores de pobreza, afinal.

O Público activista e relapso