Afinal numa ronda pelos livros disponíveis por cá a propósito do filósofo prussiano de Koenigsberg que viveu 60 anos e nunca saiu da sua terra natal, descobri mais uns tantos para além do meu livro de Filosofia do liceu, da autoria de um "licenciado em Ciências Filosóficas" no tempo antigo do fassismo, J. Bonifácio Ribeiro e ainda um professor do Instituto Comercial, José da Silva.
O manual que era um compêndio destinado aos alunos do 6º e 7º anos do Liceu, procurava resumir as matérias de Filosofia que os alunos desse tempo dos anos setenta tinham que aprender e começava pela pergunta sacramental sobre o que era a Filosofia, historiando as diversas etapas históricas da Antiguidade ao tempo moderno de então.
Portanto, nos critérios educativos desse tempo em que o ensino não era apenas um lugar para aquisição de "competências", foi considerado tal manual como adequado a tal formação e por isso mesmo digno de apreço didático e que julgo não ser de menosprezar de modo simplista e leviano.
Portanto foi por aí que aprendi o que é básico na filosofia, particularmente na história das ideias, com incursão breve nas teorias de cada um dos filósofos elencados.
Já em postal anterior resumi o que era tal introdução com referência a Kant, nomeadamente na Teoria do Conhecimento e particularmente no seu Criticismo, através da menção a duas obras fundamentais: a Crítica da razão pura, a Crítica da razão prática e também com a Crítica do juízo.
No postal anterior em que se resumiu o que aqueles autores do manual disseram sobre Kant, com amostra das páginas do livro que não deixam mentir, menciona-se que "se a metafísica é inacessível á razão teórica, a razão prática admite-a como um postulado ( ou seja como proposição indemonstrável) da moral. "
Todas as noções acerca da filosofia Kantiana foram então extraídas de tal manual, por não ter procurado outras fontes para tal.
Por isso algo alarmado fiquei logo que li ser tal manual potencial campo fértil de asneira e erro. Se tal fosse verdadeiro, seria dramático para a minha formação incipiente na matéria e resumida a tais lições escolares.
Por isso pesquisei nos livros arrumados e descobri mais quatro. Estes:
Edição do original de Bertrand Russell, de 1946, da Routledge Classics, de 2004:
Edição de Almedina de 2012, de Freitas do Amaral:
Edição do Público de 2008:
Edição Gulbenlkian de 2013
Ora estes quatro volumes, incluindo a edição da obra original da Crítica da Razão Pura, um calhamaço de mais de 600 páginas, difíceis de ler ( o próprio Kant o reconheceu em carta ao amigo Marcus Herz que era de ") pouco cuidado na forma e e em tudo o que respeita à fácil intelecção do leitor", dão-me a satisfação intelectual de considerar que o volume do Bonifácio e Silva parece-me escorreito e sem asneiras.
Outra coisa nem seria de esperar mas enfim, assustei-me. Pensei que estava tudo errado...
Portanto tudo o que escrevi a propósito do assunto fica com remissão para aí, apontando ainda o seguinte que me parece ter interesse.
Em primeiro lugar pela respectiva concisão algumas páginas das 14 dedicadas a Kant, da obra de Bertrand Russell, considerada imprescindível como material de divulgação.
É aqui que se explica a ideia de Kant sobre a existência de Deus, arrasando toda a tentativa intelectual de comprovar a Sua existência e reservando para a Crítica da Razão Prática os motivos pelos quais acredita que são diversos.
É nesta parte que Russell escreve que Kant entende que a lei moral exige justiça i.e. felicidade proporcional à virtude e por isso só a Providência o poderá garantir. E é também aqui que se explica o conceito de imperativo categórico.
Para além deste há o resumo de Freitas do Amaral que em poucas páginas diz o que o Bonifácio também diz:
Em vez de ter a leitura do calhamaço da obra original da Crítica da Razão pura, o livro do Público, uma edição aliás da Planeta Agostini, traz excertos das obras mais importantes, incluindo a Crítica da Razão Prática e exposição sobre o "imperativo categórico" e outros temas.
E as páginas da Crítica da Razão Prática que interessam:
Antes disto o que tinha lido sobre Kant era mais do género divulgação em revistas franceses, como a Magazine Littéraire de Janeiro de 2011 e que abordava o tema da Moral.
Para terminar, a revista francesa Philosophie, de Junho de 2016 celebrava 10 anos e cem números. Tinha surgido na Primavera de 2006 e alguns em França julgavam que não teria futuro depois dos dois primeiros números consagrados a Nietzsche e Platão. Enganaram-se porque a revista ainda se publica e está cada vez melhor. O último número é sobre as questões identitárias.
Na capa da edição comemorativa formulava-se a pergunta fatal:
Não dava resposta a tal questão mas formulava meia dúzia de perguntas à guisa de resposta incerta. A última: