terça-feira, janeiro 30, 2024

O essencial e o acessório na investigação criminal

 O director da PJ está agora ( 14:40) a dar em directo nas tv´s a explicação, em conferência de imprensa,  para a utilização de meios pouco usuais na operação judiciária que decorreu na Madeira, há dias. Disse que foram emitidos cento e sete mandados de busca a cumprir na Madeira. Disse que esta prática é usual em países estrangeiros e que a utilização de meios como os que foram usados se afigura normal, necessária e adequada, com o que concordo. 

Aqui, melhor explicado:


De resto, esta pequena nota de Eduardo Dâmaso no CM de hoje, mostra bem o essencial, separado do acessório. 


Os comentários, a partir de hoje ficam bloqueados porque não tolero determinados comportamentos que me ofendem e tudo tem o seu limite. 

E quanto ao blog estou a pensar em colocá-lo em banho maria até me desinteressar do assunto. Tenho mais que fazer e por isso só em caso de desejo fortuito regressarei para me disciplinar em entender certas coisas que me ocorram e careçam de atenção escrita. 

domingo, janeiro 28, 2024

Dr. Cunha Rodrigues, presumo?

Cunha Rodrigues, há vinte anos afastado das lides judiciárias na PGR e há cerca de dez, das lides como juiz na Comunidade Europeia, jubilado e recatado no lar, decidiu falar publicamente sobre um assunto judiciário esta semana. 

Foi assim:



Confesso que ao ler estas coisas, esta semana, fiquei perplexo. Um antigo PGR, ciente das questões mais candentes com a corrupção em Portugal, sabedor de muitos fenómenos associados, mesmo alguns que não chegaram à barra dos tribunais, espanta-se e indigna-se com uma operação judiciária que envolveu duas centenas de polícias, alguns magistrados e demais logística operacional num caso de corrupção, na ilha da Madeira. 

Sabendo que a ilha não possui meios autónomos, judiciários, para proceder a diligências processuais tidas por necessárias, urgentes e adequadas ( nem Cunha Rodrigues questiona tal coisa...) qual o espanto de ter de se enviar gente do continente para cumprir as tarefas que de outro modo não o poderiam ser? Houve casos no Continente que já envolveram um número de operacionais idêntico e não se ouviu um murmúrio de Cunha Rodrigues e muito menos a questionar o funcionamento das instituições democráticas. 

A questão incidental da habitual violação de segredo de justiça só pode espantar quem não fizer o paralelo com o que sucedeu na operação "Influencer" em que a PJ não participou e em que não houve qualquer violação de segredo de justiça, como agora. Porém, seria demasiado estulto pensar que uma operação com este vulto logístico, envolvendo centenas de agentes e operacionais não fosse conhecida antecipadamente pelos media. Só por ingenuidade tal pode suceder. 

Portanto, o problema não será esse, mas outro. Qual? Confesso a minha perplexidade aumentada. Não seria oportuno, urgente, adequada e proporcional tal operação? E que sabe Cunha Rodrigues sobre isso que outros não saibam? Não me parece que saiba mais ou melhor.

O que me parece é que o dr. Cunha Rodrigues, por qualquer ordem de razões, pessoais inclusivé,  e respeitáveis por isso mesmo, não está na posse plena das suas antigas faculdades de clarividência e autoridade intelectual e que me fizeram admirar o seu percurso na PGR, apesar de tudo o que ocorreu e que esta posição de agora não apaga. 

Tenho até a certeza que perante os factos em curso e já expostos, o PGR Cunha Rodrigues teria mesmo apoiado tal operação. Daí a minha perplexidade. 

Assim, resta ao dr. Cunha Rodrigues explicar melhor o seu pensamento a propósito deste assunto tendo em atenção este aspecto, mostrado por um jornalista, Eduardo Dâmaso, no CM de hoje:


O que se passa na Madeira e em lugares pequenos como o Portugal dos partidos políticos de poder e autarquias associadas é um fenómeno semelhante ao da mafia italiana do tempo da cosa nostra e que o escritor Leonardo Siascia descreve magistralmente num livrinho agora saído ( em reedição, pela Bertrand) e que estou a ler: O dia da Coruja. Em Portugal só falta a violência associada ao uso da lupara e outros artifícios. Mas somos um país de brandos costumes, não somos? A violência exerce-se de outro modo: ostracizando e obrigando à falência quem ousa opor-se ao modelo e o denuncia...

Cunha Rodrigues, um leitor atento e informado, admirador em tempos de Edgar Morin, tem muito a dizer sobre isto e bem gostaria que o fizesse, para ilustração de quem além do mais o admira intelectualmente e até como pessoa.

O que é para si a corrupção que pode e deve ser combatida pelos poderes públicos do Ministério Público português da actualidade, dr. Cunha Rodrigues?

Acha que fenómenos como os da Madeira e o que se passa na generalidades das autarquias nacionais, com sinais de uma corrupção avassaladora, evidente mas legalmente protegida por leis e regulamentos, não se devem combater judiciariamente? 

Esta é para mim a questão do momento. Alguém saberá dar uma resposta satisfatória? Poderíamos começar pelo fenómeno Rui Rio que arrogante e impante de medo oculto fez pouco do poder judiciário que irrompeu pela sua casa adentro para tentar recolher indícios da prática de crimes, associados ao exercício do poder político abusador, desvalorizando regras que jurou respeitar e sabendo que implicavam a prática criminosa, se violadas.

Não deveria ser assim?! O MºPº deverá ficar quieto, mudo e inactivo processualmente perante estes fenómenos? Deverá fazer o que a lei ( ainda) não lhe permite que é o exercício de oportunidade e portanto escolher os crimes que decide combater?

São estas questões que muito gostaria de ver o dr. Cunha Rodrigues responder...


quinta-feira, janeiro 25, 2024

Ivo Rosa mais uma vez em questão...

 Observador:



Não! Não é o sistema de justiça que está em causa: é apenas um juiz, chamado Ivo Rosa, cujas decisões em determinados processos, quase todas anuladas por tribunais superiores, têm causado mais prejuizo e dano à Justiça do que todos os juízes portugueses no seu conjunto. 

O CSM não quer ver isto que é claro e evidente, pelo que é legítimo perguntar porquê e obter uma resposta satisfatória. Não chega dizer que o poder jurisdicional é insindicável em sede de inspecção e apreciação de mérito. Não chega. Afinal, deram-lhe "Muito Bom"! E promoveram-no. 

Torna-se necessário uma averiguação interna e externa, independente e competente ao que sucedeu na última dúzia de anos, no CSM, a propósito deste caso. 


O contentinho do Público

 O director do Público escreve hoje este artigo sobre o estado da nação:


Como se pode ler, o contentinho do Público olha para o copo meio-cheio no que se refere ao progresso económico e social do nosso país nos últimos anos. "Hoje Portugal está em melhor estado do que há dez anos. Ou 20. Ou 30"!, afiança o "jornalista". 

É percepção dele, jornalista formado em não sei quê e que sustenta a afirmação com estatísticas avulsas sobre os números do desemprego, da balança externa e até dos índices de percepção da corrupção!

Escusado será acenar-lhe com números diversos, opiniões distintas, particularmente a de um Nuno Palma que estudou o assunto e escreveu um ensaio recente sobre o mesmo. A opinião deste jornalista é firme: com este PS vamos lá, porque estamos no caminho certo!

Bastar-lhe-ia ir ali ao lado, a Espanha, para ver a diferença económica entre nós e os espanhóis, por exemplo. Mas não há pior cego que o que se recusa a ver e prefere estar contentinho com o que tem.

Qual o perigo que nos espreita? É só um: o fantasma da extrema-direita que avança por essa Europa fora e por cá tem o seu representante bem identificado: o Chega. É esse o único para a nossa excelente democracia, cuja diversidade de opinião é representada neste pequeno artigo do jornalista: unanimismo em torno de um projecto socialista de um PS que se pretende manter no poder e não contará por isso com o "jornalista" para contrariar tal desiderato. Ao contrário do Chega que pretende destruir o regime democrático e que segundo o jornalista apresenta o país à beira de um abismo que o jornalista entrevê nas fímbrias de um discurso oculto mas prenhe de significado extremista. 

Quanto ao Bloco de Esquerda? Viva o velho! Que venha para o saudável convívio democrático porque desse lado extremista não virá qualquer perigo...

Se o jornalista lesse o programa do BE e as declarações do seu papa negro, um certo Francisco Louçã que em 2009 tinha estes pensamentos estruturados e explícitos, talvez devesse reflectir melhor se não seria preferível distância deste totalitário em potência:

"Numa esquerda socialista. (...) Para nós o socialismo é a rejeição de um modelo assente na desigualdade social e na exploração, e é ao mesmo tempo uma rejeição do que foi o modelo da União Soviética ou é o modelo da China. Não podemos aceitar que um projecto socialista seja menos democrático que a "democracia burguesa" ou rejeite o sistema pluripartidário. Não pode haver socialismo com um partido político único, não pode haver socialismo com uma polícia política, não pode haver socialismo com censura. O que se passa na China, desse ponto de vista, é assustador para a esquerda. (...) Agora, a "esquerda socialista" refere-se mais à história da confrontação, ou de alternativa ao capitalismo existente. Por isso o socialismo é, para nós, uma contra-afirmação de um projecto distinto. Mas, nesse sentido, só pode ser uma estrutura democrática."

O que dizia Louçã em 2005 a este propósito? Isto:

"O BE é um movimento socialista ( diferenciado da noção social-democrata, entenda-se-nota minha) e desse ponto de vista pretende uma revolução profunda na sociedade portuguesa. O socialismo é uma crítica profunda que pretende substituir o capitalismo por uma forma de democracia social. A diferença é que o socialismo foi visto, por causa da experiência soviética, como a estatização de todas as relações sociais. E isso é inaceitável. Uma é que os meios de produção fundamentais e de regulação da vida económica sejam democratizados ( atenção que o termo não tem equivalente semântico no ocidente e significa colectivização-nota minha) em igualdade de oportunidade pelas pessoas. Outra é que a arte, a cultura e as escolhas de vida possam ser impostas por um Estado ( é esta a denúncia mais grave contra as posições ideológicas do PCP). (...) É preciso partir muita pedra e em Portugal é difícil. Custa mas temos de o fazer com convicção."

O comunista Jerónimo de Sousa e, 2008 definia assim o Bloco de Esquerda:   "é um partido social-democratizante disfarçado por um radicalismo verbal esquerdizante, caindo muitas vezes no anti-comunismo".

Para o jornalista Manuel Carvalho o perigo vem todo do Chega...

Abre os olhos, pá!



terça-feira, janeiro 23, 2024

Saudades da democracia à la Sócrates

 A jornalista Fernanda Câncio  justifica o que ganha no DN com artigos como este, no jornal de hoje:


O estribilho é sempre o mesmo: a miséria da ditadura não se compara com a abundância democrática, obra dos modernos fautores da política, incluindo o PS há décadas no poder democrático. 

Portanto, a comparação faz-se entre a miséria social, o desemprego, a doença, a velhice e tudo o que é assimilado à "ditadura" em contraponto com a evolução e progresso social garantidos em regime democrático, para evidenciar a excelência de um regime relativamente ao outro.

O sofisma é deste jornalismo de capoeira, em que o cocoricocó é assumido pelos arautos eleitos e cacarejado por estas jornalistas de pena vistosa.

"Alguém se recorda de como era o sistema de segurança social da ditadura"?; "Alguém sabe como viviam, de que viviam, os velhos que já não podiam trabalhar?"; "Alguém sequer pergunta o que sucedia a quem perdia o emprego"? - são perguntas retóricas que se respondem a si mesmas, com a força comparativa de um passado hediondo porque de "ditadura" e por isso com tais problemas inerentes e indiscutíveis para quem estudou Comunicação Social em três anos.

E tudo se modificou, como por encanto, com a "política", ou seja a "democracia" que a ditadura não conhecia tal coisa, era apenas hedionda e basta como definição.

Será escusado mostrar que Portugal não surgiu com a "ditadura" de Salazar. Antes dela, existiu a democracia dos jacobinos, republicados e laicos, da estirpe ideológica da jornalista, com governos sucessivos, inoperantes e com os problemas elencados exacerbados pela "política", ou seja "os velhos que já não podiam trabalhar", os que perdiam o emprego e com o sistema de segurança social inexistente. 

Será escusado mostrar, academicamente e não em artigos manhosos de jornalismo de comunicação social instantânea, que afinal, as causas do atraso de Portugal não residem na ditadura mas noutro fenómeno que  um certo Nuno Palma explica no seu novo livro, deste anos, mostrando as tais causas que  são outras: o ouro do Brasil, Marquês de Pombal e os fundos comunitários são os principais responsáveis. Já Salazar dinamizou o país como poucos.

Ou seja, a "ditadura" dinamizou Portugal como mais ninguém o fez posteriormente do mesmo modo, ao mesmo ritmo e com a mesma coerência e independência. É isso que este jornalismo de comunicação social instantânea nunca perceberá e por isso vive de mitos. 

Por exemplo, o do analfabetismo: Na primeira metade do século XVIII, Portugal ainda não estava atrasado a nível educativo, mas no final desse século já estava. Isso não pode surpreender, pois quase todas as escolas do país foram fechadas por Pombal, sem qualquer alternativa a ser posta no terreno em substituição do que foi destruído. Não é possível compreender porque é que Portugal entrou no século XX com 75% de analfabetos, ou porque é que o nível de capital humano, e em particular, de literacia financeira do nosso país é ainda hoje tão baixo, sem se conhecer este contexto.

Quanto às reformas da "política" versus "ditadura" também se diz isto, do tempo dos jacobinos, pais ideológicos do pensamento da jornalista : Um país com contas públicas estabilizadas pode ser um país sem quaisquer perspectivas de crescimento ou convergência. É isso que caracterizou a fase final da Primeira República. Compreender isto nos nossos dias é simples, já que também é a mesma situação que caracterizou os Governos de António Costa: contas certas, mas sem qualquer capacidade de implementar reformas que fizessem o país avançar, pelo contrário.

E a explicação continua, mostrando que não foi a ditadura que parou o progresso, mas sim a "política": 

Portugal parou de convergir por uma década a partir do 25 de Abril. Os motivos são evidentes: o PREC, a reforma agrária, as nacionalizações, as fugas de capital, a excessiva intervenção do Estado em certos setores da economia – nada disto foi um ambiente favorável ao crescimento económico, tendo sido necessárias intervenções do FMI em 1977 e 1983. A partir de meados dos anos 80, graças a reformas que então aconteceram, a convergência foi retomada. Mas foi outra vez travada a partir do final do século XX. Estamos atualmente a caminhar para nos tornarmos o país mais pobre da União Europeia.

E como é que este jornalismo de comunicação social instantânea e ignorante prospera? Também há resposta contundente para tal, do mesmo Nuno Palma:

No livro cito estudos internacionais que mostram isso mesmo. Note que no país existe um partido dominante, há décadas no poder, a não ser durante períodos curtos e excecionais. Para além disso, infelizmente, a censura em Portugal está viva e de boa saúde. Não é, evidentemente, a censura prévia do lápis azul como no Estado Novo. É antes uma censura do século XXI, menos violenta mas mais subtil: as pessoas sabem que as represálias para as suas carreiras profissionais existem, por isso autocensuram-se. Não é por acaso que são pessoas com empregos fora de Portugal quem mais frequentemente e com mais veemência criticam de forma independente a gravidade do que se passa no país. Muitas das críticas que aparecem nas redes sociais são feitas de forma anónima. Pedi a alguns académicos mediáticos de esquerda moderada, que trabalham em Portugal, com que normalmente eu me dava bem, um blurb para a contracapa do livro. Três recusaram-se, inventando desculpas. Compreendo os seus motivos, que não querem assumir: receiam a turba, gostam de manter a popularidade, ou pelo menos de manter a paz nas suas vidas pessoais. Ganham dinheiro ao escrever para os jornais e seria aborrecido perder essas benesses, ou ter chatices com colegas nas universidades em que trabalham. Vendem-se por pouco. Penso que é mais isso do que cegueira ideológica, porque deve ser evidente para qualquer pessoa que o meu livro trata de assuntos que estão acima das divisões políticas corriqueiras da espuma. Podiam ter mais coragem para enfrentar o tribalismo, mas enfim. No país que existe, quem está sente muitas vezes que precisa seguir a lógica dominante. Convém não ser incomodado. Em suma, as represálias existem nos nossos dias, e censura também, tendo poucos a integridade necessária para enfrentar as ‘verdades’ estabelecidas, por pouco ou nenhum fundamento científico que possam ter.

Quanto ao caso particular da jornalista em causa, uma sem vergonha pelo que adiante se verá, hoje no Observador, Luís Rosa apresenta uma ideia clara e que todos perceberam já como uma expressão da realidade do que se tem passado em Portugal, com a "política":



Esta jornalista com curso rápido é das que acompanhou de perto, casa e pucarinho e férias pagas, o inenarrável José Sócrates, capaz de proezas destas: empréstimos vultuosos, da ordem dos milhões de euros, sem contabilidade, sem prazo de devolução e sem preocupação alguma! E a jornalista diz que não sabia...e que até julgava que o dinheiro aparecia do nada, vindo de um mítico cofre materno...ou de amigos! Nem quando percebeu o logro a jornalista se deixou apanhar pela ingenuidade manhosa. Continuou como se nada fosse com ela! 
E sabemos como foi porque em 2017 foi exposto o grande buraco da mentira e da falsidade:


Se a jornalista do buraco arranjar um único exemplo que seja no tempo da ditadura e de uma pinderiquice maior que a exposta, merecia um lugar na "política"! 

Há pessoas que não percebo como não têm vergonha alguma depois de se saberem certas coisas...

domingo, janeiro 21, 2024

Cunhas para todo o gosto

 O director do Público Manuel Carvalho, escreve hoje no jornal um artigo de quatro páginas com as fotos em grande formato para ampliar espaço, sobre o fenómeno das cunhas. 

No início ainda temi o habitual exercício de tiro ao fassismo, por causa de um livrinho recente de um jornalista-voyeur que descobriu na correspondência de Salazar, reunida e agora decifrada como "um regime paternalista e autoritário gera condições ideiais para a prosperidade da mesma". Cunha, entenda-se. 

O artigo não passa ao lado de tal petisco mas não se circunscreve a tal exercício, aliás habitual no Público. No fim, para repenicar a ideia feita, o jornalista formado em não sei quê, escreve que " É neste jogo de segredos, sombras e interesses próprios que se vai amarrando o país aos velhos tempos dos caciques ou do salazarismo que continuam na base do atraso".  Isso depois de ter aprendido que o fenómeno já tivera expressão em Gil Vicente e ouvir da boca do especialista que sempre foi coisa atávica ao portuguesismo de sempre, incluindo o sec. XIX, a primeira República e por aí fora, até aos dias de hoje. Não obstante, o epicentro calha-lhe sempre no sítio do costume: o do seu facciocismo que coincide sempre com o atávico antifassismo.

A "cunha" estende-se, pois, muito para além disso e o jornalista formado em não sei quê foi buscar um especialista, como é de rigueur nestes artigos do Público, no caso um tal João Ribeiro-Bidaoui, sociólogo e também jurista ( porta-voz do PS de Seguro)  que descobri tratar-se deste indivíduo, especialista em cunhas e compadrios, com tratados a preceito e pelo menos não provirá do ISCTE. Mas nunca se sabe, nestas coisas...

Não li o livro-tratado que se propõe fazer a "anatomia da cunha" e por isso pronuncio-me sobre as tiradas expressas neste artigo. A primeira é sobre uma aparente perplexidade: não há ninguém interessado em estudar o fenómeno em Portugal. E qual a razão, para este afoito a tal proeza inédita?  Pois será a "natureza da sociologia portuguesa"..."mais estruturalista", tendente a "enquadrar tudo numa onda mais colectivista". Particularmente reduzida ao tempo de Salazar, diria eu.

Outro especialista-instantâneo destes assuntos é o celebérrimo e ilustrérrimo professor de filosofia ou história do ensino secundário, agora prémio Vasco Graça-Moura que aliás foi seu amigo, o nosso sobejamente conhecido Pacheco Pereira. 

O palpite dele é mais panóptico: "não tenho dúvida em afirmar que quem não dá um papel central na história social portuguesa à cunha não conhece Portugal". Pacheco dixit! Pacheco conhece Portugal como  a história de Álvaro Cunhal: através de relatos alheios. Escolhidos e seleccionados a preceito

Qual a ideia do sociólogo-jurista para definir "cunha"? Simples de expor na sua operacionalidade: serve para "cuidar do outro, para contrariar as injustiças do sistema, para ignorar princípios de igualdade num contexto privado, para fazer favores que desgastem regras tidas como injustas, para fazer dinheiro ou ser reconhecido mais depressa, para ajudar quem não deve ser discriminado pela sua filiação, ou para respeitar regras de fraternidade". Neste último caso poderia esclarecer melhor, escrevendo Maçonarias. O resto toda a gente sabe e sempre soube, não sendo necessário qualquer sociólogo para o explicar.

Pacheco Pereira, perspicaz como sempre, aliás estonteante, aduz: "beneficia quem pede, mas reforça o poder de quem concretiza o pedido". " a cunha é uma parte importante das carreiras políticas: um jovem de uma jota ganha uma secção e depois entra num jogo de trade-off. Ou seja, fica com conhecimentos pessoais, cria redes de influência e troca favores para subir na escala do poder.

Até estas ideias aparecerem ninguém tinha percebido o que era uma cunha. Bem ditos sejam! 

Comparando com o tempo do fassismo poderia dizer-se que nessa altura só havia aprendizes. Os profissionais com todo o gabarito estão aí, aqui e agora! 

Continuando a análise sociológica, anti-estruturalista do tal Bidaoui, pode aprender-se que " a noção de cunha é uma forma de produzir justiça social, permitindo que os poderosos ajudem os outros através de favores, justificando assim a perpetuação de uma sociedade estratificada e estática, é um mecanismo que leva à normalização da sua prática. Tivéssemos o mesmo grau de intolerância com os que nos são próximos, e a corrupção desapareceria do dia para a noite. Neste sentido, a ideia de inevitabilidade do compadrio não pode estar desligada de uma certa cobardia face ao mundo que nos rodeia".

Conjugando estas ideias com aqueloutras acerca da explicação do fenómeno, como modo de reposição de uma certa justiça social, fica sem se saber se afinal o sistema e o fenómeno não estarão amplamente justificados. Afinal as cunhas não são simplesmente meios de atingir uma maior justiça social? Não é isso que pretendem os políticos e quem neles vota? 

 E mais uma explicação sociológica, anti-estruturalista, para a cunha: "as pessoas vivem no oficioso justamente porque desqualificam o oficial, ou seja, as políticas e acções do Estado democrático"

E até o especialista-instantâneo, o bravo Pacheco concorda: "muitas vezes o recursos aos favores resulta apenas da constatação que, perante os obstáculos da administração pública, não há outras formas de resolver o problema"! 

E afinal qual é a informação mais relevante do artigo? Talvez esta, no final e depois de todos os lugares-comuns expostos: no estrangeiro, por exemplo na Holanda, nos sites de várias empresas as ofertas de emprego para funções de liderança eram sempre superiores às que existiam em Portugal para o mesmo género de cargos. Aqui reservam-se para quem merece. E até os concursos-públicos ajudam, com os curricula certinhos...

Aqui destinam-se este tipo de cargos, como os deste  casal-maravilhaMiguel Prata Roque e Inês Vieira da Silva Ferreira Leite

Ele, já tem vários poisos, incluindo no komentariado "independente" da TVI; ela, já plenamente professora-doutora, vigia activamente o movimento disciplinar dos juízes no CSM, por conta do PS que a nomeou para lá e lutando feroz e radicalmente pelo movimento feminista que a anima, segundo dizem. 

Como se pode ver este o carreirismo fulgurante que se passou com o casal-maravilha é fruto de um mero acaso e de um procedimento normalíssimo de concorrência académica e profissional . 

Comparando com o tempo do fassismo poderia dizer-se que nessa altura só havia aprendizes. Os profissionais com todo o gabarito estão aí, aqui e agora! 





O que irá acontecer, por exemplo ao casal-maravilha, se o PS perder as eleições? Pois, irão ocupar as cátedras de onde nunca deveriam ter saído: as da irrelevância. 

E outras cunhas virão, se preciso for!

Sobre o fenómeno das mesmas, fica aqui uma referência a um postal com mais de dez anos, ilustrado com esta entrevista que exprime o mesmo ponto de vista alcançado na tese de doutoramento do sociólogo-jurista:


O artigo é da revista Sábado de 14.6.2007 e a "tese central" é a ideia exposta na entrevista que equivale à do sociólogo: a cunha é o que é e nada se poderá fazer porque nunca ninguém o conseguiu fazer, por ser impossível. Aliás, até se pode justificar ao tentar compreender o seu modo de funcionamento e a sua função social.

O sociólogo poderia ter-se dedicado a outro tema, em vez deste: por exemplo tentar perceber como é que o ISCTE chegou onde chegou, ao ponto de ter uma inenarrável directora, ou presidenta ou lá o que é que foi professora primária e nunca passou mentalmente daí, apesar de ter sido ministra!  

quinta-feira, janeiro 18, 2024

A Crise na Imprensa

 Este artigo no Público de hoje dá um retrato do estado do jornalismo nacional: praticamente todo falido, sem activos que sustentem o passivo e sem perspectivas optimistas. 

Há um pouco mais de 5000 profissionais e a média salarial é baixa, 1225 euros por mês. 

No artigo apresentam-se várias razões para a crise menos uma: a mediocridade jornalística ambiente, fruto da deficiente formação intelectual dos profissionais.

Há um iluminado que é um artista conhecido chamado Luís Delgado, sempre pronto a fretes políticos e que propõe a receita mais cretina: estender à comunicação social em geral uma taxa semelhante à audiovisual.

Os cinco mil jornalistas passavam a ser funcionários públicos encapotados no subsídio estatal provindo do bolso dos contribuintes e ficariam para sempre sovieticamente felizes numa igualdade aplainada a preceito e ultrapassada pelos truques usados na RTP e RDP: os cargos dirigentes receberiam um suplemente, eventualmente superior ao ordenado fixo que duraria o tempo da "comissão de serviço". Todos adelinos farias!, é esse o desejo do Delgado com o seu neurónio próprio.

O presidente do Sindicato está preocupado com "o jornalismo livre". Como se o seguimento acrítico do politicamente correcto, da ideologia woke imposta pelo socialismo ou a repartição da sociedade entre "esquerda" e "direita" com distinção dos termos definida pelos próprios e que exclui à partida a legitimidade da "direita", confundindo-a automaticamente com uma extrema-direita sempre que se torna ameaçadora da hegemonia. 

O jornalismo em Portugal, na generalidade daqueles 5000 profissionais conforma-se com estes parâmetros porque em caso contrário simplesmente deixa de ter emprego. Mesmo de um pouco mais de mil euros. 

É este o panorama nacional para que este jornalismo contribuiu com uma quota-parte muitíssimo importante, tendo feito o mal e agora a caramunha. 




Quanto ao decano do jornalismo politicamente correcto, Francisco Pinto Balsemão, fundador do Expresso, há anos na corda bamba das contas maquilhadas para fugir à falência, diz que "os media podem ser um bom negócio"...

Poder poderiam, mas o Tal&Qual de ontem mostrava outro panorama da sua Impresa: falida! Um bom negócio...pelos vistos. Os jornalistas da Impresa? Os maiores, particularmente os que saltam de canal em canal para fugirem ao "suplemento" temporário, ou seja o pizzo imposto pelo Estado à RTP.


O maior deles? Bernardo Ferrão! Um artista do polígrafo. Podia analisar a situação à Impresa e mostrar que o Tal&Qual afinal será inveja e má-língua, uma vez que com a corda na garganta andam eles, desde o começo da aventura com o "espalha-brasas" Fafe. Afinfa-lhe, ó Ferrão!







domingo, janeiro 14, 2024

Chega de manipulação mediática!

 Na convenção do Chega que decorre em Viana do Castelo, um delegado à mesma, ontem, proferiu uma frase que alimentou a avidez sensacionalista de cada repórter que se preze. Só hoje vi o ar de indisfarçável deleite de um jornalista, um tal Ramos, formado na madrassa RTP dos bons velhos tempos de há trinta anos e que abandonou a casa, trocando-a pela TVI,  por "estar farto de estar bem "( sic, salvo seja).

O palerma nem deu conta de que a novidade era notícia morta e apresentou-a como a revelação, em silêncio de comentário mas atitude eloquente, apresentando o tal militante como isso mesmo, um "fascista", ou seja um proscrito e portanto a prova que o Chega é partido afecto a tais proscritos. Nunca o palerma se lembraria de tal atitude perante alguém que surgisse a revelar que era "comunista", sem qualquer ironia, o que revela o nível de lavagem cerebral que já atingiu as meninges ressequidas por propaganda.

É por estas e por outras que as feiquenius e outras habilidade de propaganda esquerdista tem rédea solta nos media, particularmente em todas as tv´s portuguesas da actualidade. Na verdade não precisamos de mais de uma televisão, uma vez que são todas cópia umas das outras...







A falta de jeito para comunicar do desgraçado militante não deveria ser pretexto para atirar a matar ao dito e ao Chega, logo que os media tomaram conhecimento do verdadeiro sentido da expressão. 

No entanto fizeram ouvidos de mercador porque a frase assassina estava lá. E não era feique...

Feique foi a notícia de que não se arrependem nem pedem desculpa e muito menos o palerma do João Ramos que deveria ser suspenso para aprender mais regras do jornalismo e não enganar as pessoas de boa-fé.

Aliás tudo isto tem uma fonte onde esta gente dos ramos e ramos do jornalismo caseiro foi beber: a ideologia comunista. 

Logo após o golpe do 25 de Abril a revistinha do Porto, Mundo da Canção, um cóio de comunistas como Correia da Fonseca, logo em Maio de 1974 comentou a carta de um cidadão revoltado com o rumo que as coisas estavam a tomar em Portugal e em breve iriam dar no PREC.

O texto poderia ser escrito hoje pelo Ramos ou outro ignorante qualquer formatado na ideologia que veio a prevalecer.


Na altura lembro-me de ler isto e ficar estupefacto com a linguagem nova, uma novilíngua até então desconhecida em Portugal que estes jornalistas serventuários de tal propaganda adoptaram como sendo a sua, sem alternativa. Fascismo, passou a ser deste esta altura a palavra maldita e actualmente suplantada apenas pela palavra "racismo", também adoptada de modo acrítico por estes imbecis.

O problema é que ninguém desde o início disparou directo ao partido comunista e também ao socialista denunciando a manipulação de conceitos que só aproveitam aos mesmos e distorcem toda a realidade.

Todos se acobardaram e até enfileiraram no discurso feique, consabidamente falso, vindo de outras paragens mas que por lá nunca teve aceitação. 

Em Portugal teve sempre aceitação e um ogre político como Álvaro Cunhal é ainda hoje colocado num pedestal superior ao de Salazar para tais salafrários que nunca tiveram desculpa para ignorarem os gulags, as execuções em massa, máxime em genocídio como na Ucrânia pela fome e pela repressão política e de direitos individuais dos cidadãos nesses países que essa gente queria à viva força imitar.

Ontem a filha do terrorista que lhe herdou a ideologia até disse que A. Ventura dava um bom "Staline"( sic). É preciso ter lata! Ou manipular ignorantes como são os adeptos da seita.

Não há volta a dar, a não ser disparar pólvora seca como estes postais.

O que ainda diverte um pouco é ler estas coisas de um perfeito émulo do Ramos, da mesmíssima escola, o inefável e poliglota Adelino Faria:


Recebe do erário público para fazer destas figuras quando não faz das outras.

sábado, janeiro 13, 2024

Outra ideia maluca para a Global Media

 Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto acha que as autarquias devem subsidiar jornais. Porquê? Os "independentes que o apoiam, explicam aqui, mas de modo patético e insindicado:

  “O Estado português detém e participa em grupos de comunicação social que dão repetidas provas de autonomia e independência editorial perante os poderes instituídos”, referem os independentes, lembrando que as consequências do processo de despedimento coletivo no GMG “seriam demasiado ruinosas para o jornalismo”.


A ideia é tão maluca que só quem pretende comer papas na cabeça dos outros não entende o que Alberto Gonçalves escreve sobre o mesmo assunto, no Observador:

 



Só mesmo por manifesta má-fé ou outro motivo qualquer que me escapa é que alguém pode argumentar que o jornalismo subsidiado pelo poder político será independente e isento e talhado para a sua função principal: sindicar esse mesmo poder. 

sexta-feira, janeiro 12, 2024

A ideia "maluca" para a Global Media já foi tentada antes...

 Miguel Esteves Cardoso no Público tentou descobrir a pólvora para o problema da crise na Golbal Media: os jornalistas saem e formam uma espécie de sociedade em comandita ou cooperativa, embora as despesas fiquem todas a cargo do Estado. 


Para MEC os jornalistas formariam "uma sociedade" e o Estado contrataria a mesma para produzir informação, seria o proprietário mas " partir de um certo número de vendas as receitas seriam distribuídas pelos trabalhadores, ou seja pelos sócios. Sol na eira e chuva no nabal...

Devo lembrar que estas ideias peregrinas sem sequência possível porque utópicas e dependentes de variáveis incontroláveis, já foram tentadas antes, com o aparecimento de um "jornal de jornalistas", embora sem respaldo do Estado. 

Em Maio de 1975, a crise dos jornais e imprensa portuguesa em geral, na sequência de nacionalizações dos bancos que detinham os jornais, ocasionaram o aparecimento deste semanário:


As ideias fantásticas produzidas pelos jornalistas assentavam todas numa premissa: Portugal rumo ao socialismo e sob o manto diáfano do MFA. Em Novembro desse ano viu-se como seria e o que poderia ter acontecido ao O Jornal se o socialismo a sério tivesse ganho a partida.

Quatro anos depois, em Maio de 1979,  faziam um balanço:


 


O jornal durou cerca de vinte anos e faliu sem apelo nem agravo, originando o aparecimento da revista Visão, que ainda existe com praticamente o mesmo enquadramento ideológico e igualmente falida, sustentada pela carolice de empurrar dívidas para a frente e quem vier atrás que feche a porta. 

Ao longo dessas duas décadas O Jornal sempre deu uma visão da sociedade portuguesa em geral pautada pela ideologia prevalecente e comum a todos os "sócios", o esquerdismo em geral seja democrático ou cripto-democrático. 

 A propaganda permanente contra o regime anterior assumia laivos de obsessão, tal como hoje. Em 2 de  Fevereiro de 1979 a situação económica do país, governado em socialismo era de miséria permanente:


E o fassismo era o responsável...ainda hoje o discurso socialista é assim.


Nessa altura um líder de "direita", o democrata-cristão, "rigorosamente ao centro", Adelino Amaro da Costa afiançava que  nunca faria alianças com o PSD.


Obviamente meses depois acabou por fazer, porque os portugueses acreditaram num verdadeiro projecto (AD) de mudança para Portugal, ainda sob as amarras de uma Constituição pró-comunista, gizada principalmente por uma luminária social-democrata, o prof. Jorge Miranda que tinha mais de socialista do que social-democrata ( et pour cause foi escolhido para redigir o manual que punha explicitamente Portugal a caminho da "sociedade sem classes". Nunca se incomodou com isso porque contava que ninguém ligasse tal enormidade e estupidez. Mas continuaram as nacionalizações de mais de 60% da Economia, que permitiu a maior corrupção política nas nomeações de conselhos de gestão para as empresas nacionalizadas, todas falidas pouco tempo depois. 

Durante esses anos o jornal nunca inflectiu a posição esquerdista e nas eleições de finais de 1979, o Vital que já conhecemos por ter dado a pirueta, em 1989, na 25ª hora da queda do Muro, aconchegando-se a um PS e terminando nos abraços a um inenarrável José Sócrates que encomiou e putativamente ajudou ou escreveu mesmo um livro publicado com o nome daquele. Para este visionário dos Grilos, o país, se a AD ganhasse teria graves conflitos sociais. 

Muito fruto das ideias fulgurantes desta inteligência estonteante que sabe sempre onde se aninhar, foi o descalabro...embora O Jornal tudo fizesse para que a AD fosse derrotada.

Um ano depois, ressabiado, o semanário publicou esta capa:


Portanto só com este pequeno exemplo está-se mesmo a ver onde os jornalistas em "sociedade" subsidiada pelo Estado, iria descobrir uma independência ideológica que nunca tiveram nem permitem que outras correntes ideológicas que contestem este socialismo tenham direito de cidadania na expressão pública. 

Nunca souberam ser isentos nem independentes; nunca souberam sindicar o Estado socialista, antes pelo contrário e iriam agora descobrir tal efeito...

Não é uma ideia maluca: é apenas ridícula.

Entretanto apareceram novas ideias malucas. Uma é de um empresário de Ponte de Lima, disposto a "investir", ou seja torrar um maquia importante num jornal de referência que se desvirtuou no hábito de cuspir na sopa dos donos. Ou seja, na defesa de um socialismo que ataca o capitalismo sempre que a ocasião se proporciona e defende o dono verdadeiro que julga ter: esse socialismo wokista e degenerado.

Força, Diogo! Torra o que é teu...mas deves presumir que vais perder à grande e à francesa.


quinta-feira, janeiro 11, 2024

Arnaldo Trindade ao serviço do esquerdismo antifassista...

 O Público do passado dia 9 de Janeiro 2024 consagrou duas páginas ao obituário ao proprietário da etiqueta Orfeu que lançou em 1956 e durou algumas décadas. 



Quem ler as duas páginas dos artigos assinados por Mário Lopes e José Alberto Lemos, se pouco ou nada souber sobre o decesso, ficará com a ideia que o mesmo foi um militante antifassista de primeira-linha, empenhado em promover os cantores de intervenção desde o início da época das baladas, passando pelos discos de José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco ou Adriano Correia de Oliveira, esses sim destacados activistas no antifassismo militante e de extrema-esquerda. 

Quem consultar no Discogs a lista dos discos editados pela Orfeu repara na versatilidade e diversidade, com artistas de várias tendências. Os acima indicados são apenas uma pequena minoria que aliás nem deveria alimentar economicamente a editora. Essa ou outra...embora agora se queixem muito da censura e coisa e tal. 

Arnaldo Trindade, fruto da sua educação e cultura não afinava pelo diapasão político do regime, mas não consta que tenha sido incomodado por algum acto "subversivo" por causa disso. Como muita gente em Portugal convivia com o regime e pactuava com a censura sem grandes episódios de revolta. Uma anedota típica é mesmo contada pelo articulista José Alberto Lemos, quando o disco single da dupla Jane Birkin/Serge Gainsbourg, Je t´aime, moi non plus, um disco com sonoridade verdadeira tórrida mesmo para os critérios da actualidade, foi colocado à venda no escaparate da loja de S.º Catarina, no Porto. O agente policial chegou lá para apreender toda a edição, mas recuou: levou cinco exemplares e recomendou ao dono que escondesse os restantes. É preciso dizer que este disco foi proibido em Itália e noutros países, sem censura explícita e institucionalizada. Isto em 1969, como noticiava a revista Mundo Moderno:


"Editou tudo o que era do reviralho, escreve J.A.L. e sendo relativamente verdade,  faltam vários que gravaram noutras editoras então existentes. Fausto e Sérgio Godinho ou José Mário Branco, não editaram os tais discos do tempo de reviralho que aliás nunca o foram porque são discos que pouco oy nada têm de panfletário e foram editados por outras editoras e vendidos publicamente, bem como reproduzidos no rádio, com excepção do primeiro disco de Fausto que foi gravado na Philips,em 1970 na Holanda e se tornou um disco raríssimo porque nunca foi reeditado. A excepção a discos verdadeiramente de reviralho foram os primeiros de Luís Cília, mas não foram publicados antes de 1974. 

Quanto a José Afonso o próprio Arnaldo Trindade explicou numa entrevista em três partes, concedida a João Carlos Callixto, no programa Gramofone, na Antena um, aliás disponível em podcast que começou a gravar o artista desde a altura em que foi proibida pela censura a edição de Os Vampiros que é um ep de 1963, editado por outra etiqueta concorrente, a Rapsódia, aliás a trabalhar no mesmo meio musical que Arnaldo Trindade também explorava. 

No entanto, o primeiro disco de José Afonso editado pela Orfeu é este que aparece editado pela etiqueta Ofir, em 1974...o que não é explicado na entrevista. O primeiro disco Orfeu é de 1969, Menina dos Olhos tristes, aqui numa edição capciosa. 

Arnaldo Trindade, aliás considera José Cid o seu artista preferido e que só editou a partir de meados dos anos setenta e que elogia extensamente na entrevista a João Carlos Callixto.

José Cid é uma espécie de Jeff Lynn português, com talento melódico incrível e capaz de compor belíssimas canções populares.

No primeiro episódio da entrevista citada, Arnaldo Trindade fala do Conjunto António Mafra que editou desde o início dos anos sessenta,  poderia ser um dos grandes grupos portugueses com destaque internacional porque foram ouvidos por Ed Sullivan, o divulgador dos Beatles na América e que se prestou a fazer o mesmo ao Conjunto depois de os ouvir, neste disco provavelmente. 

O Conjunto António Mafra, a meu ver é um dos maiores grupos musicais da música popular em Portugal, desde todos os tempos. A música de José Afonso é belíssima, sem dúvida em algumas composições, mas a dos Mafras é sublime na sintetização do folclore, costumes de época, humor e retrato de um modus vivendi que pouco ou nada tem a ver com estas reescritas da história pregressa à luz de um antifassismo recorrente, em alternativa que se possa ler em qualquer lado. 

O contributo de Arnaldo Trindade para a música popular portuguesa poderia ter sido infinitamente maior se tivesse apoiado a aventura americana dos Mafras, frustrada porque os mesmos eram apenas músicos amadores. 

De há uns anos para cá colecciono os discos originais do grupo, muito esquecidos e que se vendem por dois ou três euros. Música para mim, sublime no estilo e que ultrapassa Quim Barreiros, também artista Orfeu, por todos os lados menos por um: na brejeirice despudorada e que alimenta o burgesso local, como o inenarrável cómico Rocha o conseguiu fazer. 


Esta forma de olhar e descrever a música popular portuguesa, tal como o Público o fez e actualmente é unânime em todos os media, tem uma explicação: aculturação acrítica a uma esquerda que desde há décadas têm o monopólio da comunicação sobre estes assuntos, juntamente com os artistas destacados, aliás sempre os mesmos e cujos discos se venderam sempre cada vez menos após o 25 de Abril de 1974, tal como Arnaldo Trindade refere. 

A melhor explicação para o fenómeno pode ser esta apresentada, involuntariamente, por Eduardo Raposo num livrinho de 2000.




O fenómeno é transversal a todas as manifestações mediáticas sobre cultura que enviesam sempre para a ideologia pervasiva que se foi instalando ao longo de décadas e carece agora, sempre de interpretação em todos os escritos porque são sempre redutores de uma realidade que não era apenas a apresentada. 
 O título pacóvio do artigo de José Alberto Lemos, sobre o provincianismo nacional é desmentido por uma realidade que para quem a viveu não poder obter concordância com tal asserção. 
Como exemplo singelo, nas modas apresento o caso dos Porfírios...
De resto todos os livros supostamente proibidos pela Censura, obtinham-se com relativa facilidade, tal como o disco da Jane Birkin denota.
Quem ler os dois artigos, aliás nota contradições em que os autores nem reparam, como seja a de Arnaldo Trindade ter efectivamente censurado um disco de José Afonso, já no pós-Abril, por ser demasiado panfletário. 
Nem sei a que disco se refere uma vez que não há discos de José Afonso gravados noutras editoras, na mesma época, pelo menos lp´s, o que permite a interpretação que "amochou", embora admita que possa ser este, editado pela LUAR, uma fantasia estúpida demais para poder realizar-se algum dia em Portugal, mas ainda ouvido hoje em dia nas sedes do Bloco, provavelmente. 
Afinal, era Arnaldo Trindade quem lhe pagava o salário, mensalmente. Era o seu patrão, contra cuja classe cantava em algumas letras, como era o caso daquele e doutros do PREC. 

Um dia destes, se a pachorra me ajudar e o tempo sobrar um pouco mais, vou organizar um podcast, com imagem e som, para mostrar estas coisas de modo mais dinâmico. À semelhança do que fazem os da Vinyl Community nos EUA...
Assim Deus me ajude...

Vitalino, o Vital dos pequeninos do PS.

 Vitalino Canas, professor auxiliar de Direito, advogado nas horas disponíveis, antigo candidato a juiz do TC, depois de aí ter sido assessor, amigo chegado a José Sócrates ( está na foto de um jantar comemorativo aquando da libertação deste pelo juiz Rui Rangel) escreveu este artigo no Público de ontem, em que defende abertamente a impunidade de um primeiro-ministro enquanto governante relativamente a um putativo crime de prevaricação através de um acto legislativo manhoso.


Raciocínio simples para um jurista de quico na crista: o decreto-lei aprovado em Conselho de Ministros, no exercício da função  legislativa, sujeito a promulgação pelo PR, passou em demasiados crivos para poder ser imputado ao primeiro-ministro o crime de prevaricação na origem do diploma. 

Vitalino puxa dos galões constitucionais para escrever que tal não será possível uma vez que "o processo legislativo dentro do Governo está sujeito a trâmites e formalidades decorrentes da Constituição e do Regimento do Conselho de Ministros" e só posteriormente será possível refazer tal percurso já com alterações eventualmente produzidas ao longo do mesmo, em negociações com a entidade que promulgará, ou seja o presidente da República e até pode suceder que o diploma final seja diverso do aprovado em Conselho de Ministros. 

O argumento substancial de Vitalino é que " a produção de um decreto-lei insere-se  no exercício da competência legislativa do Governo e a função legislativa é soberana, suprema, que se exerce livremente, apenas limitada pela Constituição". Daí, conclui Vitalino, a única censura dirigida a tal processo é apenas a sua desarmonia com a Constituição. " Se houver benefício para alguém, por exemplo, pode haver violação do princípio constitucional da igualdade. Nada mais e a sua sindicância apenas pertencerá aos tribunais, mormente ao Constitucional. 

E seguindo o fio condutor brilhante e até ofuscante pergunta a putativos alunos como é que será possível investigar criminalmente por prevaricação, um órgão de poder político, como é o Conselho de Ministros? E acrescenta mesmo: como é que um membro de tal órgão, como será o caso do primeiro-ministro,  poder ser investigado por tal crime se faz parte de um órgão legislativo colegial? 

A esta última julgo que o próprio Vitalino responde ao elucidar que um diploma que sai aprovado de um Conselho de Ministros pode muito bem ser modificado ao longo do percurso entre tal efeito e respectiva promulgação, sem ser submetido novamente à apreciação do órgão legistativo colectivo. É uma forma de legislar esconsa, oculta e que poderá originar malfeitorias, como já sucedeu no passado no tempo das amnistias ou de certos perdões fiscais orientados por advogados de Aveiro na AR. Não digo nomes mas um deles tinha voz de trovão e era do PS. Já morreu, não gostava do Portas, fumava charutos e um dia chamou-lhe um nome destinado ao armário.

Além disso o diploma em causa, mesmo aprovado com a inserção malandra, ou seja criminosa, estaria ferido de inconstitucionalidade orgância porque desvirtuaria o sentido original da autorização legislativa concedida ao Governo pela AR. Isso mesmo com interpretações manhosas do próprio TC.

Mas nem é isso que verdadeiramente importa porque o que releva parece mais isto: 

O crime de prevaricação, imputável a António Costa está aqui bem à mostra e muito bem escondidinho no artigo de Vitalino:

Constitui crime de prevaricação a situação em que um titular de cargo político, contra o direito, conduzir ou decidir um processo em que intervém, no âmbito das suas funções, com o objetivo de, por essa forma, prejudicar ou beneficiar alguém. A pena prevista é a de prisão, de dois a oito anos, e este crime encontra-se definido no artigo 11.º da Lei n.º 34/87, de 16 de julho (regula os crimes de responsabilidade dos titulares de cargos políticos).

Não é o órgão legislativo colectivo que pode cometer o crime, mas um titular de um cargo político, como é António Costa que conduz ou decide um processo em que intervêm e dessa forma prejudica ou beneficia alguém. Este benefício privado é essencial e deve suplantar o interesse público que também pode justificar leis malandras, tornando-as inconstitucionais, mas fora do âmbito criminal. É esta a única safa de António Costa e pelo que li dos relatos da Influencer a defesa dos entalados vai ter que ser muito criativa para sustentar a ingenuidade deste primeiro-manhoso em só pensar no interesse público...

Há um acórdão da Relação de Évora que é mais explícito:

1 - O dolo no crime de prevaricação de titular de cargo político, como se alcança das expressões «conscientemente» e «com intenção de» utilizadas no artº 11 da Lei 34/87 de 16/07, faz com que se conclua que o elemento subjectivo é aqui formado pela consciência de que se está a actuar contra direito, assim se actuando com o objectivo de prejudicar ou beneficiar outrem.

2 – Agir contra direito é, na sua essência, no quadro específico dos crimes praticados por titulares de cargos políticos, violar as normas legais positivas, materiais ou processuais, que vinculam quem tem de decidir.

3 - Nos casos em que sejam admissíveis várias soluções jurídicas para uma determinada questão, não existe prevaricação desde que a decisão tomada se possa incluir no âmbito do juridicamente defensáve
l.

Portanto, os alunos do professor Vitalino, aqui na pele de um Vital dos pequeninos do PS, claro, já lhe poderão responder, sugerindo-lhe que lei direito penal.

E quanto aos facto, há os que João Miguel Tavares elenca na crónica de hoje do Público:



segunda-feira, janeiro 08, 2024

CMTV: o mal e a caramunha do l´arroseur arrosé

 A CMTV numa ânsia incontrolável de dominar audiências, através de um sensacionalismo por vezes indecoroso,  divulgou um video que apanhou nas "redes sociais" e foi enganada. 

A história




O estilo de televisão e informação da CMTV atinge muitas vezes a raia do inadmissível através da exploração despudorada de muitos dramas humanos que nada justifica, sendo paradigmático o caso Mónica, uma desgraçada que desapareceu há meses e que a CMTV explora todos os dias através de notícias, algumas delas provenientes da mais grave violação de segredo de justiça, com antigos elementos da PJ a comentar sem qualquer prurido pormenores das investigações policiais, mormente o teor de escutas telefónicas, apontando claramente o dedo a presumido(s)culpado(s).

Vendo-se ludibriada nesse exercício histérico de informação à la ratinho do tempo antigo do Brasil, vai processar quem lhes pôs a careca à mostra, com tiradas deste género: "há gente que, por falha de informação, se diverte à custa das angústias e preocupação dos outros". E chama ao autor do logro algo que "em psiquiatria tem um nome", num gratuito exercício de insulto.

A notícia, acrescenta que o canal não confirmou a veracidade do video e mesmo assim publicou-o.

É de rir. A reacção é de chorar. Também a rir.