sábado, setembro 07, 2024

O Ministério Público é criticado há 30 anos...e sempre pelos mesmos.

 A indivídua que foi directora do Público e agora escreve no jornal quando lhe apetece, publicou um artigo de página a zurzir na PGR Lucília Gago e no Ministério Público por antonomásia. Bárbara Reis é o nome, sinónimo de sectarismo, ignorância e arrogância, misturadas em doses similares.

Hoje a vítima é a actual PGR Lucília Gago porque...sim. Porque se dignou dizer publicamente que o primeiro-ministro António Costa era suspeito de malfeitorias num processo e por isso se desgraçou perante estas sumidades do sectarismo ideológico de esquerda, no caso socialista. 

O motivo próximo do escrito é o discurso da actual PGR na última intervenção pública antes da ida à A.R. em que referiu existir actualmente um "súbito e muito recente interesse que a actividade do Ministério Público aparenta hoje despertar". E ainda que seja de "lamentar que esse súbito interesse muito recentemente manifestado não haja há mais tempo eclodido". 

O ponto de interrogação da indivídua surge à palavra "what" por ter detectado em tais declarações um desconhecimento do historial de contestação ao Ministério Público ao longo dos anos...apresentando como prova o estudo de 2017 sobre os "40 anos de políticas de justiça em Portugal" que então amadrinhou como apresentadora e pouco depois de ter saído da direcção do jornal Público. 

Vejamos: 

A história do Ministério Público e a sua génese já foi contada por aqui, em diversas ocasiões. Uma das intervenções mais importantes quanto ao papel definidor da função do MºPº foi indicado pelo advogado Germano Marques da Silva em 2003, em entrevista ao O Diabo:

E o professor-advogado Germano Marques da Silva, dizia em 28 .10.2003 ao mesmo jornal, no rescaldo da prisão e libertação do então arguido Paulo Pedroso, no caso Casa Pia, algo que anda muito esquecido no MºPº, como o prova este parecer-directiva: "O MºPº como órgão de administração da justiça não deve procurar fundamentalmente a acusação mas procurar a verdade  e por isso tem de fazer a investigação também a favor do arguido". 

Sempre houve ao longo das décadas um interesse na actividade do Ministério Público e em certas ocasiões tal atingiu o paroxismo da crítica mais acerba como foi no tempo do processo dos hemofílicos que envolveu Leonor Beleza e que até teve direito a um livro do seu advogado Proença de Carvalho, um dos sempiternos críticos da instituição tal como ela funciona. 

Não é de agora todo o rol de entalados a tecer críticas e a mostrarem o lado cabalístico das investigações que os consomem e seria simplesmente estulto entender que a actual PGR não sabe disso, pelo que é mesmo estultícia da indivídua escrever isso mesmo. 

O que releva agora não é isso, mas outra coisa: o manifesto dos 50 mais uns tantos, não é a sequência de intervenções críticas a que o Ministério Público sempre esteve sujeito e que todos os PGR sofreram na pele profissional, sem excepções, sempre que atingiram o núcleo duro dos partidos de poder, seja o PSD seja principalmente o PS e que estas indivíduas estão sempre prontas a carregar a cruz e a tomar as dores, todas as dores, por razões que só as mesmas entenderão, mas não é difícil de adivinhar. 

O que a actual PGR disse foi outra coisa distinta: 

Durante todo o mandato da PGR tudo se passou em silêncio quanto a manifestos críticos da actuação do MºPº, seja no crime, no cível no comércio ou no administrativo, pelo menos com a violência mediática que agora se manifesta. 

Só agora, quando um outro primeiro-ministro do PS, no caso António Costa,  foi incomodado é que surgiram subitamente, em coro, aliás bem afinado e com solistas a preceito  acompanhados das coristas de perna alçada e a voz baritonal do komentário avulso e uniformizado nas tv´s as críticas à actuação deste Ministério Público de sempre e que sempre foi alvo de críticas. 

Subitamente, recente e de surpresa, como disse a PGR. 

A única palavra com que não concordo é a "surpresa", porque de facto esta gente de que esta indivídua faz parte, já não deveria surpreender nada nem ninguém, porque são sempre os mesmos...como aliás a indivídua acaba por reconhecer. 

E isto não acontece há 50 anos como a mesma pretende mas cerca de 30 mais coisa menos coisa. Sempre que o PS esteve no poder, na realidade, houve destas farsas. E irão continuar.

Sempre que está em jogo a política aparecem sempre  os cornetins e corneteiros, as trompas e os trompeteiros desta autêntica fantarra mediática. 

Esta indivídua pertence ao grupo dos pífaros. Perdão, pífios,

quinta-feira, agosto 22, 2024

As despesas da presidência da República

 O Tal & Qual da semana passada publicou esta primeira página com o respectivo desenvolvimento, sobre os gastos do presidente da República e das suas "casas" oficiais:




Esta semana, encolhidinha no interior do jornal aparece esta explicação dos visados:


Ora bem. Em nenhuma destas despesas é dado conta destoutra que a mim me se me tornou absolutamente inacreditável e que aqui publiquei em 2022, sendo certo que o processo em causa já terminou em 2023, sem se saber quanto é que o Estado gastou com os advogados da assistente, presidência da República...

O que então me deixou perplexo foi esta notícia da Sábado de então ( 13.4.2022) e que então comentei assim:

 Sábado de hoje:  


Por causa do julgamento de um antigo funcionário público, acusado pelo MºPº de vários crimes relacionados com peças artísticas do museu da presidência da República, esta entidade constituiu-se assistente no processo. 

Assistente, no caso, significa que passou a "ajudar" processualmente o MºPº no processo. Como este se refere a um crime público, investigado exclusivamente pelo MºPº e polícias, tal ajuda será eventualmente de pequena relevância. Não fica esclarecido no artigo mas resumir-se-á a uma dedução de pedido cível, em nome do Estado ( presidência da República) o que aliás deveria ser incumbência do próprio MºPº, no final da acusação e nos termos do artº 75º do C.P.P. 

Tal pedido acompanharia o procedimento criminal e em caso de procedência conduziria à condenação do arguido no pagamento da importância respectiva, aliás já liquidada: € 7 800,00, segundo a revista e valor que o MºPº pretende seja revertido a favor do Estado. 

Ainda assim, a "presidência da República" constituiu-se assistente, o que não deixa de ser bizarro, na medida em que o Estado se constitui assistente, sendo o Estado representado pelo MºPº, estatutaria e processualmente. 

Segundo a revista, tal entidade pública, ou seja a "Presidência da República",  contratou serviços jurídicos de um escritório de advocacia, no caso a Sérvulo&Associados que já cobrou cerca de 163 mil euros pelos serviços prestados à conta de tal constituição de assistente! E que seriam totalmente dispensáveis no caso, uma vez que o MºPº tinha o dever de representar os interesses em causa, o que nem se afigura difícil ou juridicamente complicado. Tudo isto, se for verdade, é simplesmente inacreditável! Escandaloso, mesmo!

A responsabilidade de contratar serviços deste género competirá à Secretaria-Geral da presidência, cujo sítio é omisso na indicação de responsáveis. É tudo anónimo...mas é sabido indirectamente através das "notícias" do sítio. E segundo esta notícia, a actual responsável pertence aos "quadros" da Inspecção-Geral de Finanças. 

O MºPº tem obrigação de abrir um inquérito para averiguar o que fez a Sérvulo para cobrar uma importância que é superior a vinte vezes o valor do pedido de perdimento a favor do mesmo Estado, deduzido pelo MºPº, por causa do peculato e outros crimes imputados ao antigo funcionário. 

Repito a pergunta que então fiz: "Como é que isto foi possível?!" E porque é que o Tal & Qual nem se deu conta disto?

terça-feira, agosto 13, 2024

O capitalismo português foi decapitado há 50 anos...

 A propósito de um livro de Luciano Amaral acerca do grupo CUF e do "império industrial desenvolvido por Alfredo da Silva", o jornal Público deu à estampa um artigo em que fazia a recensão de tal livro e titulava que o peso de tal grupo no PIB antes de 25 de Abril era de quase quatro Autoeuropas.

O artigo e o choque dos factos não demoveram os antifassistas de criticarem o artigo por estar a promover e branquear o regime anterior, de Salazar/Caetano, sempre com os mesmos argumentos: a economia de então funcionava com condicionamento industrial e na base de monopólios e concessões do Estado aos grupos económicos como a CUF e o grupo Champalimaud e cada grupo tinha um ou mais bancos para se financiar.

Como não sou economista suficientemente esclarecido para arrasar tais argumentos que aliás me parecem da habitual capoeira antifassista, deixo a opinião de outros, para se ver onde chega o sectarismo socialista e comunista que nacionalizou esses grupos em Março de 1975, incluindo os bancos e seguros, com a ideia de tornar Portugal um país a caminho do socialismo e da sociedade sem classes, o que aliás fizeram inscrever na Constituição de 1976 como um desiderato a atingir e só o esbateram mais de uma década depois e de muitas discussões de permeio. Para o PCP o desiderato continua o mesmo de sempre, sem uma vírgula a tirar ou pôr.

O artigo do Público suscitou reacções de reaccionários socialo-comunistas e o Provedor do Leitor, sempre muito solícito a tais demandas, destacou a de um leitor que contestou o tom do artigo, indignando-se com o "panegírico da ditadura disfarçada de história económica".

É este:


O tema tem sido recorrente neste blog ao longo dos anos e por isso, a fim de atalhar razões e colocar os pontos nos ii de quem na altura foi directamente visado vou republicar um postal de 2018, sobre Champalimaud que afinal responde de algum modo às críticas que então lhe foram dirigidas, ainda antes das nacionalizações, por um sábio que inspirou os trotskistas e o BE em particular na figura de Louçã, o frade laico desta seita. João Martins Pereira, era o tal sábio, já me esquecia e trabalhou para os ditos patrões, cuspindo sempre na sopa...

O postal é de 19-3-2018 por ocasião do centenário de Champalimaud. O que vem lá poderia ser escrito a propósito do grupo CUF....

Faz cem anos que nasceu António Champalimaud, um dos nossos maiores industriais de sempre. Se não fosse o Diário de Notícias nem me ocorria, apesar de ontem, na tv, Paulo Portas ter passado todo um programa a evocar a figura do industrial que se notabilizou na indústria dos cimentos e na siderurgia que  fundou, em Portugal, no tempo de Salazar.
Em 25 de Abril de 1974 estava entre a meia dúzia de pessoas mais ricas da Europa. Logo a seguir perdeu tudo o que tinha em Portugal e foi para o Brasil, onde recomeçou a actividade e quando morreu, legou centenas de milhões de euros para a Fundação que tem o seu nome.

Já houve quem lhe fizesse uma biografia que vale a pena ler, mas está esgotada, segundo penso.

 Não há em Portugal, nos últimos cem anos, nesse campo, ninguém que se lhe compare.

Ainda assim estranhei a capa do DN de hoje:


Demasiada celebração para esta efeméride que mais nenhum outro jornal notou assim. Pensando bem não admira:Champalimaud foi o patrono de Proença de Carvalho que domina o jornal. Logo...ou mandou fazer a capa ou apreciará o  frete .

O artigo, aliás, é  farto em citações deste personagem, o que mostra logo de onde veio a ideia:



Ainda assim é justa e merecida a homenagem, não fosse a circunstância de o porem logo a nascer em 19 de Março quando terá sido a 18...
 Melhor seria porém, escreverem sobre a circunstância de o terem enxotado daqui para fora, em 1975 e principalmente sobre quem foram os mentores da estupidez: o PS e o PCP que ajudaram a nacionalizar as empresas que lhe pertenciam e dali a um ano, se tanto puseram Portugal neste estado:


A questão é muito simples de enunciar e estes recortes elucidam quem tem dúvidas:

O Expresso de  20 de Dezembro de 1975 pretendia mistificar o que se tornou claro nos anos a seguir: os comunistas e principalmente os socialistas, os verdadeiros gestores das nacionalizações eram uns nabos, assim sem mais ademanes. Estragaram em poucos meses o que Champalimaud teria melhorado no mesmo espaço de tempo. Parece isto tão claro que até dói pensar nestes miseráveis que têm nome posto. Em primeiro lugar, Mário Soares e depois, claro, Álvaro Cunhal.


Como pensavam estes miseráveis? Simples de mostrar: com inveja enraizada  nos genes políticos. Como isso é característica humana alastrou a milhões de portugueses, até hoje:

E como é que esses miseráveis queriam fazer para mostrarem que eram competentes? Assim:


Quem é que sabe disto melhor que ninguém e sabe que é mesmo assim? O actual presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O que fez o indivíduo enquanto jornalista do Expresso no tempo do PREC? Alinhou com os miseráveis. Sempre.

Nesse tempo os miseráveis aludidos ( Mário Soares, Álvaro Cunhal e as forças políticas que suportavam ) tinham um discurso de ruptura com o capitalismo ao modo que Champalimaud o entendia e a História mostrou que estava certo.
Em finais de 1974 prepararam o plano para destruir a indústria portuguesa, até hoje:




 Havia um finório que foi empregado de um deles, desses capitalistas e se tornou o guru do actual Bloco de Esquerda, João Martins Pereira, e que armado em intelectual da Economia pretendia dar lições a Champalimaud.

O que escreveu então na Vida Mundial de Dezembro de 1974 é muito elucidativo do pensamento destes miseráveis, entre os quais se inclui um certo Eugénio Rosa que ainda anda por aí:






Chamo miseráveis a estes indivíduos porque sempre viveram com a miséria alheia como mote para se tornarem "ricos", um ou outro literalmente e os demais, politicamente. Assim sucedeu e a "geringonça" que temos é o resultado desta miséria e destes miseráveis.

Enquanto estes miseráveis conseguiram arruinar o país em dois tempos de dois anos de má gestão, Champalimaud, em 1968 e enquanto banqueiro, actividade que nem era a da sua eleição fazia isto, em cujo postal incluí uma publicidade ao BP&SM, alusiva ao dia do pai, de 18.5. 1974:



O primeiro "multibanco", segundo uma publicidade de 4 de Outubro de 1968, na Vida Mundial:


 E uma publicidade de 1967, tirada daqui,  ao "autobanco" do BPSM de Champalimaud:


Que respondem a isto os miseráveis que ainda andam por aí, aos milhões? Nada, nem vergonha têm do que fizeram...

quinta-feira, agosto 08, 2024

Garcia Pereira, o burro velho totalitário

 O advogado Garcia Pereira que ganha bem a vida a representar interesses privados junto dos tribunais, deu uma entrevista ao Público de hoje onde confessa claramente o seu credo pessoal e político: anti-democrático de sempre, ditatorial e totalitário. Defende a revolução proletária como meio de atingir o poder político e repôr o equilíbrio social que contesta existir. 
Quanto ao Ministério Público, neste contexto, o que diz é apenas ridículo e afinal coerente, por um motivo bem simples: no sistema político que defende, totalitário e ditatorial, o Ministério Público nunca poderia ser um qualquer poder dentro do Estado ou um "estado dento do estado" porque se confundiria com o Estado totalitário. Seria a longa manus do poder do Partido que representa os "proletários" tal como definidos pelos kamaradas marxistas-leninistas-maoistas. Seria afinal o Estado e não apenas um dos poderes do Estado. É claríssimo como conceito mas o jornalista entrevistador achou por bem nem sequer o questionar sobre a contradição aparente ou a coerência exposta.

É a estas personagens de opereta trágico-cómica que os media portugueses ainda vão dando destaque desproporcionado ao valor intelectual que representam e principalmente ao significado real das suas opões políticas, claramente de extrema-esquerda, sempre bem vindas em jornais como o Público. 

Num Estado de Direito que se pretende democrático um Ministério Público que defenda a legalidade enquanto tal e portanto que considere os cidadãos iguais perante a mesma é simplesmente uma afronta. Como o mesmo refere, é "um Estado dentro do Estado". Nem mais!

O que Garcia Pereira defende é um Ministério Público amarrado e submisso às ordens de um partido totalitário, sem qualquer veleidade de independência ou autonomia. Compreende-se tudo interpretando aquela confissão...fascista, como efectivamente é Garcia Pereira, embora de esquerda. Um totalitário que ideologicamente deveria merecer tanto ou mais desprezo que os nazis ou fascistas italianos da primeira metade do séc. XX. 

Em Portugal não é assim por motivos esconsos, ínvios e no fundo ignorantes e complacentes deste jornalismo lamentável. 

Ecce homo!





Garcia Pereira não é sensível a argumentos como estes, de Eduardo Dâmaso, sobre o Ministério Público em Portugal, mas a razão porque o não é difere daqueles que criticam o poder do Ministério Público e que E.Dâmaso denuncia. 




As razões de Garcia Pereira são mais estúpidas que manhosas; mais absurdas e insustentáveis que as daqueles. São razões de burro velho que nada esqueceu na vida e nada aprendeu durante a vida. A não ser as que o kamarada Arnaldo Matos lhe chimpava na cara: as de um aburguesado, traidor da classe que diz defender em nome de ideias totalitárias que proclama porque lhe é impossível mudar para outras. E agora é tarde...

O que espanta é ter espaço mediático como vai tendo, capitalizando mais valias do tempo em que este jornalismo de capoeira tinha os seus galos a cantar a Internacional...

sexta-feira, julho 19, 2024

O MºPº segundo Cunha Rodrigues

 No Público de ontem, Cunha Rodrigues, o antigo PGR, volta a acentuar aspectos que merecem atenção no campo mais vasto da Justiça e particularmente no Ministério Público. 



É um espírito lúcido este que aqui se revela, surpreendente, para quem durante tanto tempo esteve ausente das discussões sobre o tema. Nos últimos tempos soma já diversas intervenções e só ficamos a ganhar com isso, porque Cunha Rodrigues tem uma visão da Justiça e dos magistrados que me parece globalmente correcta, apesar de um ou outro aspecto discutível. 

Essencialmente pretende regressar a um modelo de controlo hierárquico que actualmente se encontra ultrapassado pela lei aprovada e que limita tal intervenção. Actualmente, segundo Cunha Rodrigues, "não há o poder de dar instruções na base do Ministério Público"...mas subsiste a directiva 4 que nem se torna empecilho a tal efeito. 
Cunha Rodrigues reivindica um poder da hierarquia poder dar instruções ( ordens?) ao Ministério Público de base, sempre que tal se justifique e não apenas nos termos da lei de processo penal com as limitações conhecidas ( no fim do inquérito ou durante o mesmo, com a respectiva avocação pelo imediato superior hierárquico. Mas percebe-se uma crítica à reforma que instituiu a dispersão de poderes hierárquicos pelos Coordenadores de Comarca, pelos directores aqui e ali e pelas procuradorias-regionais. Dantes não era assim porque havia procuradores e abaixo dos mesmos, na cadeia hierárquica os "delegados" que passaram a "procuradores adjuntos". Os procuradores tinham um poder hierárquico efectivo de dar instruções com algumas condicionantes mas menos que actualmente e a coisa funcionava. Cunha Rodrigues até disse numa entrevista ao Observador que nunca avocou nenhum inquérito...
Portanto se há um problema nesta área, o regresso ao passado será a melhor solução? Por outro lado, a propósito da imagem da justiça é certeiro em dizer que a mesma revela uma tendência mediática para a réplica de críticas acéfalas e ignorantes.
Depois entra no caminho pedregoso das críticas ao modo como se fazem inquéritos actualmente, estando há muito tempo afastado da dinâmica própria e da rotina introduzida. Escutas a mais? Cunha Rodrigues acha que sim, sem dizer onde e como...
Enfim, sobre os cidadãos que exercem na política tem uma posição curiosa: São iguais como pessoas, não são iguais como cidadãos...o que suscita logo a questão de saber em que qualidade podem ou devem ou terão sido investigados. 
Um político com suspeitas fortes de corrupção ou tráfico de influências ou prevaricações de outra ordem é uma pessoa ou um cidadão? 
"Exercendo funções públicas, funções de muito melindre que têm de ser protegidas" a frase poderia ter sido dita por...Salazar, Marcello Caetano um dos seus ministros da Justiça de então. Antunes Varela, por exemplo. E pela lei que protegia tais pessoas ( ou cidadãos?) com a garantia administrativa de só poderem ser investigadas quando largassem o posto...
Curioso...


quarta-feira, julho 17, 2024

Cunha Rodrigues continua em boa forma intelectual

 Uma excelente entrevista do antigo PGR Cunha Rodrigues ao Observador em que aborda os principais problemas da justiça, com a inteligência e saber que lhe são reconhecidos e a milhas de distância dos komentadeiros da opinião mediática ignorante. 

As soluções apresentadas são interessantes e no fim estraga tudo: comparando o que se passou nos anos noventa em Portugal, mormente com o processo de Macau, com o que aconteceu na Itália em que "a direita e a extrema-direita" veio a aproveitar os processos então instaurados contra certos políticos [por exemplo do PSI, acabando com tal partido-nota minha]. Cunha Rodrigues sempre foi de esquerda e entende que a direita e "extrema-direita", seja lá isso o que for que não é sequer definido, mas apenas intuído num processo manhoso de definição,  não têm direito de cidadania democrática, é o que se conclui...o que é pena.

No entanto, toda a entrevista ao longo de quase uma hora merece audição ou leitura. No Observador.



quinta-feira, julho 11, 2024

O Ministério Público a la carte

 Há fregueses na sociedade portuguesa que pretendem um Ministério Público à medida dos seus conceitos e anseios, alguns legítimos e outros menos que isso porque esconsos e fáceis de adivinhar. Entre os fregueses Sócrates, Isaltino de Morais ou mesmo Ferro Rodrigues e Rui Rio há uma diferença entre eles...porque uns querem detergente que limpe bem e outros bacalhau para servir a quem lhes basta. 

Alguns dos que não gostam do modelo actual ou pelo menos do seu funcionamento, decidiram subscrever um manifesto a propor discussão e mudança, realçando o ponto particular da liderança da instituição se processar de modo diverso da que actualmente tem sido regra e apontando circunstâncias perturbadoras relativamente ao funcionamento da mesma se modificar quanto a regime de escutas, investigações a políticos e actuações pontuais que definem como abusos, apesar da lei as prever e a mesma ter sido aplicada sem crítica ou anulação pelas autoridades de controlo judiciário, os juízes.

No manifesto há gente de todos os quadrantes e formação, incluindo antigos magistrados como Fernando Negrão, novos que poderiam lá figurar como a magistrada Maria José Fernandes [Eleutério é outra e peço desculpa pela confusão] políticos como Rui Rio ou gente da estirpe de Maria Lurdes Rodrigues, com percurso político e profissional conhecido nos governos de José Sócrates. 

Todos criticam o MºPº actual, particularmente a actual PGR, Lucília Gago por ser a cabeça da instituição, sem alguns conhecerem sequer os limites do seu poder hierárquico. 

Ontem, um advogado associado ao tempo de Rui Rio como líder do PSD, Coelho Lima numa entrevista ao Público [ao DN] tecia considerações sobre a PGR que suscitam sérias reservas acerca da boa fé com o que o fez. A mais grave é que a mesma revelou na entrevista à RTP uma insensibilidade social [ "absoluta alienação social" ipsis verbis e uma frase absolutamente palerma a meu ver]]e que punha em causa a democracia. 

Pelo contrário outros comentadores entendem que a entrevista foi boa e que esclareceu o que havia a esclarecer, constituindo um exercício de defesa da instituição, com a resposta concreta a quem a atacou, mormente aqueles. 

Neste número, aliás reduzido, está Eduardo Dâmaso que na Sábado de hoje volta ao tema:


Porém, não é preciso ir mais longe do que algumas páginas depois, para ler a opinião em crónica de outra advogada, Leonor Caldeira a sustentar que tem havido abusos e excessos na actuação do MºPº em alguns casos, particularmente no caso Galamba, investigado durante anos e com escutas telefónicas de permeio.


Procurei em vão saber a opinião do cronista residente Pacheco Pereira sobre o assunto e verifico que não tem opinião que se escreva porque dedica as duas páginas ao tema magno da situação política em França, como se fosse um connoisseur. Não passei de algumas linhas dispersas.  

Temos por isso um problema de saber se o Ministério Público que temos funciona bem, porque não haja dúvida que assim vai continuar a actuar por uma simples razão: foi treinado ao longo das últimas décadas para tal, com a formação académica recebida, a formação profissional incutida e a rotina imbuída. 

As chefias actuais do MºPº saíram todas desse caldo de cultura que se gerou principalmente no CEJ desde meados dos anos oitenta. Todos os dirigentes intermédios da instituição, como os directores de departamentos de investigação penal e coordenação e ainda os procuradores regionais, passaram pelo CEJ e receberam a formação que têm como magistrados. A experiência profissional foram-na conseguindo através de intervenção em processos que não se distingue do que actualmente fazem os procuradores e inspeccionados em tal actuação, tendo recebido notação de elevado mérito, por procederem como procederam e que aliás se considera modelar. 

Não é por acaso que circula um abaixo-assinado entre procuradores do MºPº que já conseguiu obter quase metade dos elementos do MºPº  ( e quase todos o poderiam fazer) a repudiar o teor do manifesto dos 50 mais uns tantos. Todos se mostram solidários com o modo como o actual MºPºactua e deveria entender-se porquê, uma vez que há razões para tal. 

E é por aí que se deveria começar a questionar o modelo se alguém o quiser fazer, porque não é a mudança de titular na PGR que vai alterar seja o que for. 

O recente falecimento da antiga PGR Joana Marques Vidal e o panegírico à sua volta não é suficientemente objectivo para reconhecer o seguinte: JMV também era um produto desse CEJ e dessa formação e a sua actuação no cargo não difere assim tanto da actuação da actual PGR, a não ser em pormenores de estilo pessoal que passam pelo interesse directo no desenrolar de certas operações judiciárias como foi o caso notório da Operação Marquês e nem sequer se distingue pela particular habilidade de comunicação.  A propósito da mesma basta ler ver e ouvir as intervenções do principal arguido, José Sócrates, quanto ao papel do MºPº e assim de JMV para perceber que o diapasão não é assim tão desafinado relativamente ao que se usa agora para com Lucília Gago. As críticas são ainda mais severas e contundentes, aliás.

A famigerada comunicação da PGR encontra-se seriamente limitada por um dever legal de reserva levado muito a sério pelos magistrados que temem, justificadamente, a intervenção dos conselhos superiores sempre que tal dever é posto em causa, por dá cá aquela palha ou por mera revindita, acicatada pelos media ao serviço de um jornalismo de causas ou fretes variados, incluindo o sensacionalismo interesseiro. Que o diga o magistrado Carlos Alexandre...e no caso do MºPº o medo é o melhor amigo da classe.

Portanto vamos lá ao princípio e no início era o CEJ instituído no dealbar da década de oitenta e dirigido por magistrados de uma velha guarda que tinha passado por um Ministério Público vestibular da carreira judicial e que percebiam a essência da sua actuação através de tal experiência, num tempo em que os crimes não tinham a dimensão política ou social dos actuais e se resumiam quanto a relevância mediática e social,  em qualidade e gravidade a crimes de sangue e um ou outro crime de tráfico de droga, aliás cada vez mais frequente nesses anos iniciais, para além do contrabando, implicando já certos poderes de facto na sociedade portuguesa ( caso do Aveiro Connection, por exemplo).

Assim, pergunta-se desde já e de chofre: o CEJ preparou nos anos oitenta ou noventa os seus magistrados para investigarem eficazmente crimes imputáveis a elites político-administrativas? A resposta é variável...e basta lembrar o caso da Universidade Moderna e depois da Independente para o expôr.

Tal resposta sucintamente é...não. O CEJ não preparou suficientemente os magistrados para tal porque não tinha que preparar. O que o CEJ poderia fazer e aparentemente nunca fez, directamente ou através dos formadores iniciais na carreira da magistratura seria incutir nos formandos uma educação pessoal que muitos não têm e nunca tiveram e  um espírito mais aberto à sociedade, mais consentâneo com a realidade actual, diversa daquela que viveram os magistrados formado no passado de há mais de cinquenta anos e em que um advogado para se dirigir ao juiz em audiência de julgamento para solicitar autorização em intervir, ainda dizia "com a devida vénia" ( data venia) ou que permite que um juiz titular de órgão de soberania se comporte como titular da sua soberania pessoal em saber que não pode ser responsabilizado por qualquer dislate mesmo em audiência e seja atreito ao exercício de um autoritarismo inadmissível. E ainda há muitos desses magistrados porque é impossível controlar tal exercício a quem se diz independente e irresponsável. Se fosse um inspector que participasse em audiências de julgamento aí outro galo cantaria e surgiria todo o sentido de dever e responsabilidade e mais urbanidade exigíveis a todos os magistrados, ou a qualquer interveniente processual. A única entidade que os juízes temem a valer é o CSM e o conjunto dos seus inspectores, eles mesmos formados na mesmíssima escola do que vem de trás toca-se para a frente. 

Os magistrados do MºPº nem sequer padecem desse mal endógeno, o do autoritarismo gratuito e sem sem consequências, mas ainda assim imputam-lhes o mal colectivo de assim procederem como corporação. 

Este é um aspecto relevantíssimo que ressuma do manifesto dos 50 mais uns tantos e que apenas denota o mal estar no mundo da justiça, por causa dos abusos. 

E que abusos serão esses, em concreto e segundo o manifesto? Afinal o de aplicarem a lei processual, neste caso penal, segundo o que aprenderam e lhes ensinaram e por isso são controlados em inspecções. Lei essa que foi aprovada pelo poder legislativo-executivo que vai aprimorando ao longo dos anos e outras tantas revisões a sua conformação segundo as queixas singulares de entalados, geralmente da classe dirigente política e do poder de facto e segundo os processos em que se vêem envolvidos, numa denegação prática da igualdade de todos perante a lei.

É abuso constituir alguém arguido logo que contra a pessoa haja uma queixa fundada? É abuso ordenar e organizar buscas domiciliárias sempre que se entenda que possam ser frutíferas na recolha de elementos documentais para a instrução de um processo? É abuso proceder a escutas telefónicas, durante mais ou menos tempo para se tentar entender o grau de participação de suspeitos ou arguidos na prática de crimes? Não, não é e nunca o foi se as regras processuais para tal forem cumpridas.

Então o que incomoda os preocupados do manifesto? Enfim, que um dia lhes bata à porta o infortúnio das diligências aludidas. E que pretendem afinal os mesmos? Limitar tais poderes e de tal modo que se tornem residuais e inúteis no final de contas. Quem não deve não teme e quem se mete na política actua de modo diverso dos magistrados, como se tem visto no resultado de tais escutas. Pode mesmo dizer-se que no ambiente político o regabofe ou a displicência entre "amigos" e compadres ou correligionários que anda a par da corrupção mais chã,  é moeda corrente e de troca entre tais pessoas que tendo o poder político por terem sido eleitos não compreendem nem aceitam que se possa sindicar esse à-vontade e a actuação que pode violar as regras de direito que eles mesmos instituíram. Para os outros, preferencialmente da oposição.

Esse é o aspecto mais negro das preocupações dos "manifestantes". Outro porém, que lhe subjaz e que subscreveria, nem sequer é expresso: precisamos de uma magistratura ( juízes e mp) algo diferente, mas no seu todo e com uma formação adequada a uma função que alguns magistrados nunca interiorizaram verdadeiramente ou se deixaram corromper pela rotina e pela embriaguês da perseguição próxima da policial ou do entendimento exclusivamente à charge do processo penal. 

Essa crítica, tenho-a feito aqui ao longo dos anos e continuo a fazer. 

Do que precisamos é de outro CEJ, com outra direcção e com outros formadores...e isso não vai ser fácil de encontrar porque não os há em quantidade suficiente e o "que vem de trás, toca-se para a frente".